terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Mensagem de Paz

Prezadas/os leitoras e leitores,
Logo mais estaremos comemorando o Natal da Cristandade e a entrada de um Novo Ano. Antecipo-me com costumeira mensagem, fazendo coincidir à temporada de férias, a partir do próximo fim de semana, e prometendo voltar nos meados de janeiro com as postagens semanais. 2021 foi, indiscutivelmente, um ano difícil. Tivemos que administrar estresses diversos, na grande maioria decorrente da terrível pandemia que nos assaltou há quase dois anos. Perdemos familiares e amigos, lutamos contra o vírus e suas consequências e, por cima disso tudo, ainda passamos a conviver coletivamente com abalos políticos e econômicos. Para os mais jovens uma lição para o resto da vida e aos mais avançados na idade um desgaste lamentável com a dose amarga de tempo perdido. O mundo sofreu e ainda sofre nessa esteira interminável de dissabores. Contudo, a velha filosofia de que a “esperança é a última que morre” volta às nossas mentes, sobretudo nessa época do advento, ocasião em que o espirito de luz e confraternização acende com maior brilho, nas mentes dos que creem num amanhã promissor. Vivamos este tempo com muita fé e banhados por esse brilho. Alimentemos a esperança para que ela esteja sempre viva. Com este espirito, agradeço sensibilizado a todos e todas que me acompanharam durante este ano que finda, nos quatro quadrantes do mundo. Foi prazeroso constatar que fui seguido por leitores e leitoras localizados numa diagonal ligando o Alaska e a Terra do Fogo, nos Andes e nos Alpes, nas encostas do Himalaia e dos Urais. Na fria Sibéria, nos mares do Sul, no Mediterrâneo e no Oceano Indico, nas queridas Austrália e Nova Zelãndia, além, naturalmente, dos meus compatriotas espalhados da Amazônia ao cabo Branco e entre o Oiapoque e o Chuí. Durante esta jornada anual, explorei temas que me pareceram interessantes ao meu publico e tentei, particularmente, acertar nos meus posicionamentos sociais e políticos. Para aqueles que me tomaram como formador de opinião, meus especiais agradecimentos. Desse modo, aceitem minha Mensagem de Paz, desejando um Feliz Natal e Augurando um 2022 repleto de sossego e felizes realizações pessoais e coletivas.

sábado, 4 de dezembro de 2021

O dilema de decidir

Decidir por algo ou por alguém é, indiscutivelmente, um dos maiores desafios do ser humano. E quando uma decisão depende de alguém de poder, com concretas influências – positivas ou negativas – na vida de uma coletividade o desafio se revela muito mais expressivo. As guerras, as relações internacionais nas vertentes políticas e econômicas, as calamidades decorrentes das “revoltas” da natureza, as disparidades socioeconômicas, enfim as relações humanas de modo geral exigem tomadas de decisões quase sempre estressantes. É por aí que a humanidade vem passando historicamente, com frequentes episódios e, particularmente, os constatados neste tempo de pandemia. Tenho acompanhado atentamente as démarches sobre as decisões dos governantes locais quanto à realização de eventos, sempre grandiosos, por ocasião da passagem do ano e do carnaval que se aproximam.
Naturalmente que há um jogo de interesses, velho conhecido da sociedade, que provoca o grande dilema deste momento. E, em se tratando de ano de eleições, qualquer episódio dessa natureza provoca um tremor ilimitado nas campanhas eleitorais, colocando candidatos num quadrado limitado. Eu não gostaria de vestir a pele de nenhum desses detentores do poder de decidir. Imaginemos o dilema de lidar com duas correntes antagônicas e em relativo desespero: por um lado, há os que desejam a comemoração monumental de cada ocasião, na busca de faturar com sua produção ou prestação de serviço, alegando ser a “tábua de salvação” que resta para atenuar o momento de baque econômico. Por outro, os cientistas e os defensores da saúde pública aconselham cancelamento sumário dos festejos. Está difícil provar à sociedade que a pandemia não terminou. O desejado convívio com o vírus e a esperança de um tempo de endemia ainda são coisas distantes de virar realidade. Segundo os especialistas do assunto, as possibilidades de novas variantes e repetição de surtos continuam evidentes haja vista ao ocorrido na semana passada, com o surgimento da variante ômicron, que já se manifestou nos cinco continentes. A vida continua e precisamos vivê-la. É verdade. Mas, tenho pra mim, que não será a mesma dantes. O propalado novo normal, tantas vezes negado, pode se revelar de modo lento e, no mundo moderno, por pelo menos dez anos. É um tempo provável de recuperação, similar ao que ocorreu na pandemia da gripe espanhola que tomou muito tempo para ser esquecida. Neste momento, por fim, resta ao Blogueiro ratificar o apelo da semana passada para que o dilema de decidir tenda a considerar as referências científicas vigentes e que a sociedade viva em segurança sanitária nos próximos tempos. Parece ser o caminho adequado. Enquanto isto, vacinas, cuidados pessoais (máscara e asseio) e consciência coletiva sejam cumpridos na risca. E, dos nossos poderes decisórios esperamos coragem e pulso para o bem geral.

sábado, 27 de novembro de 2021

Água Gelada na Fervura

O mundo tentando esquentar a retomada da vida e uma nova onda do vírus ameaça o processo. Ômicron é a novidade da semana. Uma nova variante identificada na África do Sul e com suspeitas de casos pelos demais continentes. É o que chamo de “agua gelada na fervura”. Um amigo prefere dizer que “botaram água na cerveja do carnaval”. Além de ser uma descoberta inesperada e desagradável é, também, mais um sinal de que nem tão cedo vamos nos livrar dessa peste. A coisa parece tomar força na Europa, em plena estação do frio e das nevascas, onde países que aparentemente tinha a coisa controlada, com bons percentuais de vacinas aplicadas, já se mobilizam para retomar as medidas de precauções. Alemanha (passando pelo pior momento da pandemia), Holanda, Itália, Áustria e França são países onde a 4ª onda já se faz presente. Noticias atualizadas (27.11.21) pela Agencia Reuters, Italia, Alemanha e Reino Unido já registram casos com a nova variante. Em Milão, um passageiro procedente de Moçambique testou positivo para esta nova variante. Mau sinal. O virus vai se espalhar rapido.
No último dia da semana, os pregões das bolsas de valores, do mundo inteiro, reagiram de modo negativo e os negócios caíram vertiginosamente em quase todas as praças, sob o pavor dos efeitos danosos na economia. No Brasil o índice Bovespa caiu 3,39%, fechando a semana no prejuízo. Numa sintomática decisão do Governo Brasileiro, coisa que surpreende devido ao histórico recente, as fronteiras do País estarão fechadas a seis países do sul da África (África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbabue), onde o ômicron já é detectado. Ao mesmo tempo, o mais surpreende, aqui no Brasil, são as providencias contrárias como se tudo fosse passado e a pandemia seja uma página virada. Não se fala noutra coisa – a exceção das costumeiras trapalhadas políticas – a não ser dos preparativos para as festas de réveillon e carnaval. O Rio de Janeiro prepara um grande desfile de escolas e os ingressos para as arquibancadas se esgotaram no primeiro dia de vendas. São Paulo, também. Ora, se não houvesse ocorrido o carnaval de 2020 a nossa história seria outra. Mas, não. Há organizações como a do “O Galo da Madrugada”, maior bloco de rua do mundo (!), aqui do Recife, já escolheu tema (Viva a Vida, Viva o Frevo), monta suas alegorias e marca ensaios. Entidades de classe médica e científicas, locais e nacionais, já se manifestam oficialmente contrárias, alertando para os altos riscos de uma recidiva da pandemia. Conforme as noticias veiculadas pelos meios de comunicação, a vacinação tem sido um sucesso no país. A população tem sido receptiva, ao contrário de muitos países lá fora. Contudo, os especialistas sugerem a manutenção dos cuidados, uso de máscaras e assepsia das mãos com álcool. E avisam: é cedo para abrir de vez. Assustador é também saber da hipótese de que as vacinas hoje administradas venham a ser ineficazes para o tal do ômicron. Mesmo dando o desconto do sensacionalismo da imprensa é de se ficar atento com os próximos dias. Afinal, não esqueçamos de que o vírus original continua sendo pouco conhecido, as vacinas são ainda emergenciais e... Bom, que o futuro ainda é incerto. Diante deste quadro e desta modesta plataforma, cabe um apelo para que as autoridades “reinantes” usem do bom senso e decidam pelo melhor e, sobretudo, pensando na população. Pelo menos desta vez. NOTA: Charge de NANDO MOTA obtido no Google.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Talentos Encantados

Nestes tempos sombrios da pandemia, a tristeza parece ainda mais triste do que sempre foi. Além do recolhimento forçado venho contabilizando perdas dolorosas de pessoas queridíssimas, inclusive uma irmã, resultando num vazio d´alma difícil de preencher. Dizem ser sentimento de quem muito vive. Mas que é um coisinha difícil de ser vivida, isto é indiscutível. Certa feita, conversando com a grande Dama do teatro pernambucano – Geninha da Rosa Borges – ao completar seus 90 anos, ouvi dela uma assertiva que guardo e, foi não foi, recordo. Segundo ela, “envelhecer pode ser mesmo uma dádiva divina... Contudo, é duro ver partir para a eternidade muita gente querida... dói muito.” De fato, ainda que um pouco distante dos 90, começo a sentir o peso dessa verdade. Gente iluminada, cabeças brilhantes, talentos singulares se encantam deixando-me (deixando-nos) para trás. Muitos partem sem tempo dar um “até logo”. Dias recentes perdi amigos talentosos e verdadeiros ícones da cultura local. Primeiro, em setembro, foi a partida do exímio violonista e compositor Henrique Annes; logo depois, no mês de outubro, foi a vez do grande Maestro Rafael Garcia e, na ultima semana de outubro, o compositor e meu grande amigo do peito, Severino Luís de Araújo, a quem dedico o espaço do Blog neste fim-de-semana. O clima é de luto no cenário musical pernambucano. Foram três perdas lamentáveis. É numa hora dessas que me ponho a questionar o velho ditado do “ninguém é insubstituível”. Conheci Araújo nos idos dos anos 70, quando casando com a minha dileta colega sudeniana, Adelina Freitas de Araújo. Vivíamos os áureos tempos dos combates à pobreza nordestina. Ele no Condepe, depois na Codevasf e nós (eu e Adelina) na velha SUDENE, a verdadeira. Éramos, na realidade, três jovens economistas envolvidos pela missão de desenvolver o Nordeste.
De origem humilde, na Paraíba, Araújo veio, ainda menino, com os pais e irmãos, para ganhar a vida em Pernambuco. Deu certo para a família e para o menino da Vila de Araçá (atual município de Mari) se tornando homem de destaque na Terra de Nabuco. Inquieto, experiente profissional e bem relacionado, Severino Araújo ganhou o mundo e terminou atuando com louvor em inúmeras frentes profissionais nos poderes executivo e legislativo nacional. Mas o profissional atuante trazia na veia outra rara habilidade voltada ao domínio poético-musical, sobre a qual prefiro destacar. Não mais importante do que as demais habilidades, mas, seguramente, a que mais estreitou nossa amizade. Acompanhei a vitoriosa vida desse compositor, desde sua estreia triunfante com o frevo-canção “Morena Azeite” (1984), a grande campeã do IV Frevança (Festival de Frevo e Maracatu), promovido pela Rede Globo de Televisão. Foi a primeira grande vitória na condição de autor de um frevo. Depois dessa vitória, sustentada pela voz do saudoso cantor pernambucano Expedito Baracho, outras inúmeras se seguiram em Pernambuco e na Paraíba. Não tardou muito e o nome do nosso amigo se notabilizou Brasil afora. Muitos famosos disputaram interpretar suas composições, entre os quais: Claudionor Germano (rei do Frevo), Ivanildo Silva, este interpretando “Sem Você Eu me Dano”, composição campeã, no V Frevança, Guadalupe, Valéria Moraes, Cristina Amaral. Por sorte, Araújo contou com arranjadores de mãos-cheias como José Menezes, Ademir Araújo e Duda. Enfim, foi uma sequencia elástica de sucessos musicais entremeados de contos e belos sonetos, revelando, sempre, um ser de extrema sensibilidade e muito humanismo. Mas, como sendo pouco, Severino Araújo enveredou, com igual sucesso e nas últimas estações da vida, pela popular arte da Cantiga de Cordel. Como sempre dedicou tempo e talento compondo verdadeiros poemas depois publicados no livro “A Vida não É Cor-de-Rosa” (2019), onde, por felicidade, deixou sua autobiografia para os que gozaram da sua convivência alegre e gentil. A propósito, sendo hoje, 19 de Novembro, o dia do cantador/cordelista, conforme lembra o Imortal José Paulo Cavalcanti (Jornal do Comercio, 19/11/210), torna-se oportuno homenagear Severino Luís de Araújo, um talento encantado no último 27 de outubro, com um belo cordel da sua autoria: Muita tolerância e fé/ Pratiquei na minha vida/ Bati em todas as portas/ Fui em frente na corrida/ Tenho orgulho do que fiz/ Sonhando em ser feliz/ Todos me deram guarida. NOTA: Foto obtida no Facebook

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Economia Criativa

Ando colocando a cara no mundo tentando, com todos os cuidados, voltar ao normal. É curiosos como essa coisa de ficar “dendecasa” vicia. A internet facilita demais as coisas da vida e o cidadão chega a perder o “desembaraço” costumeiro de cair na rua, ir ao supermercado, ao shopping e outros lugares comuns. Preguiça ou a idade? Tenho achado que o transito está pior. Parece que todo mundo resolveu sair de vez. Até a cidade parece outra. Fico na dúvida: sou eu somente ou todo mundo sente essa estranheza? Bom, deixa pra lá... o assunto de hoje é outro. Como ia falando, tenho colocado a cara no mundo e, neste fim de semana passado, circulei em restaurantes e bares da vida. Mais do que isso, a convite do meu filho e minha nora, fizemos, com minha esposa, uma escapada pela zona da mata de Pernambuco indo à cidadezinha de Tracunhaém (formigueiro em tupi-guarani) localizada a 80km do Recife, com a intenção de ver de perto a produção de cerâmica utilitária e figurativa da cidade. O local é berço de muitos ceramistas famosos, com famas nacional e internacional. Até ja foi cenário de novela da Rede Globo de televisão (Coração Alado, com Tarcísio Meira no papel principal).
Uma boa rodovia federal (BR-403) nos leva praticamente até lá. Paisagens exuberantes da Mata Atlantica e dos canaviais pernambucanos para encher a vista de quem passa. A cidade é bem pequena, com menos de 15 mil habitantes e o IDH gira em torno de 0,650. É, certamente, uma taxa mediana. Acredito que a proximidade da Região Metropolitana do Recife facilita a vida daquela gente que pode não ser tão difícil. Apesar disso, circulando pelas suas ruas estreitas, altos e baixos, poucas praças, os sinais regionais de pobreza chegam a ser visíveis. Mesmo assim é de se enaltecer as inteligências e habilidades artístico-culturais de um povo que soube capitalizar as chances de desenvolver o que se chama, modernamente, de economia criativa, com base na arte da cerâmica de terracota (barro cru ou queimado) que terminou projetando a cidade no resto do Brasil e no Mundo.
Mestres da mão-no-barro se tornaram famosos e fizeram história deixando um legado que vem sendo preservado com orgulho e muita criatividade por uma gente hospitaleira. Entre esses se destacam: Zezinho, Nuca, Dona Nóca, Mestre Zuza, Maria de Nuca, entre vários outros. É formidável admirar de perto as formas cerâmicas que são boladas pelas calejadas dos artesãos locais e perceber a pegada de uma gente que se dedica, de corpo e alma, numa forma lúdica de viver e economicamente efetiva para seu digno sustento
Um traço marcante na arte cerâmica de Tracunhaém ficou “imortalizado” pelas mãos de Nuca (falecido em 2015) e seus discípulos (foto logo acima), que é o Leão Cacheado. Virou clichê de todos os documentários e afiches que se referem ao sitio cultural da cidade e, inclusive, do estado de Pernambuco. Seus trabalhos já foram expostos no exterior e seus leões cacheados estão pontificando em praças públicas, como no Primeiro Jardim, da praia de Boa Viagem, no Recife, e no Jardim do Sitio de Burle Max, no Rio de janeiro. Foi uma bela escapada, no fim de semana, e uma boa oportunidade de observar de perto um exemplo de economia criativa. Sugiro que visite Tracunhaém para ver um Pernambuco raiz. NOTA: As fotos ilustrativas são da autoria do Blogueiro.

domingo, 31 de outubro de 2021

Uma vaca magra no telhado

O Outubro que hoje termina, propalado como o mês rosa em alerta ao câncer de mama pode ter sido um sucesso como campanha, mas, não foi nada cor de rosa para o domínio político-econômico nacional. Ao contrário, foi permeado de agitações muito pouco benéficas para a família brasileira. O fim da CPI da Covid, no Senado, depois de muitas idas e vindas, deu, na minha humilde opinião, um tom de incerteza quanto aos avanços do Estado brasileiro e instalou uma bolha de expectativas que promete rolar, por tempo igualmente longo, nos palanques eleitorais que serão montados a partir dos primeiros meses de 2022. Aliás, para quem considera que existem palanques de 2018 ainda de pé, verá sê-los remontados com mesmos coloridos. Haja emoções. Outro quiproquó politico de outubro gira em torno da discussão da PEC dos Precatórios que rola no Congresso Nacional. É um nó que eu chamo de “nó federal”. Uma série de despesas-filhotes será gerada com a aprovação da dita cuja. Além de postergar ou parcelar pagamentos dos precatórios (dívidas do Governo, por decisão judicial, a pessoas físicas e jurídicas), a fabulosa soma – da ordem de Bilhões de Reais – será destinada a cobertura do pagamentos do Auxilio Brasil de R$ 400,00 (substituto do Bolsa Família), emendas parlamentares (verbas que deputados abocanham para aplicar nos seus redutos eleitorais), sustentar o Fundo Eleitoral (estão querendo R$ 5,0 Bilhões) para financiar a campanha eleitoral de 2022, entre outras perfumarias. Triste do cidadão ou pessoa jurídica que esteja contando em receber um precatório. Muitos negócios podem estar ameaçados de ir “ladeira abaixo”. E nunca são poucos. Já se fala que o dinheiro não vai dar para cobrir essas “singelas” despesas.
Pior de tudo é que, como a grana já é curta, uma vaca pode, facilmente, “subir no telhado” e furar o Teto de Gastos. Pense numa bronca. É a situação mais indesejada possivel. Este dispositivo, criado pela Emenda Constitucional 95 (2018) instituiu um Novo Regime Fiscal que limitou os gastos do Governo ao mesmo valor de cada exercício anterior, corrigido apenas pelo índice oficial de inflação. Foi um sucesso de imediato por garantir ampla credibilidade ao Governo, nos mercados doméstico e internacional. Contudo, valendo-se da prerrogativa prevista, na mesma Emenda, de propor uma Lei Complementar permitindo furar o Teto, o Governo Bolsonaro (Paulo Guedes de corpo e alma) luta agora para aprovar essa possibilidade. Pura panaceia, que pode virar um desastre. Desmoraliza a ideia do controle de gastos, provoca uma alta da inflação que já vem assanhada, o Banco central vai ser obrigado a aumentar, ainda mais, a taxa de juros, a dívida do Governo vai inflar e a vaca vai ficar fazendo finca-pé. Isto sem falar nos exógenos e inoportunos fatores, como dólar apreciado e produtos básicos importados a preços altíssimos. E o povão a chorar. Agitando esse tubo de remédios paliativos, tudo leva a crer que teremos um ano de 2022 de muita dureza. Para não dizer que a coisa foi preta de tudo, acabo de ver que neste Outubro foi o mês de menor numero de mortes devido a Covid, desde abril de 2020. Eis, então, um dado cor de rosa! Curioso, aliás, é observar que a turma está confiante e se esbaldando com esse resultado e com o avanço da vacinação. Porém, abramos os olhos. A coisa ainda não acabou. Afrouxar as medidas de precauções de modo tão abrupto pode ser perigoso. Abolir máscaras, encher estádios de futebol, liberar lotações completas dos bares, restaurantes e grandes shows, entre outras atividades ainda causam temores. Calma minha gente, o bicho continua solto por aí. Por fim, no apagar das luzes do mês, duas noticias internacionais e que mexem com o Brasil são destaques: a Cúpula do Clima, aberta, neste dia 31, em Glasgow, e o fiasco, segundo noticiam, da reunião do G20, em Roma. Embora alimentando esperanças quanto aos debates, na Escócia, sou cético e meio desencantado com esses convescotes de lideres mundiais. Vejo muita alegoria e pouca evolução. Prefiro ficar de olho na vaca em cima do telhado. NOTA: Foto obtida no Google Imagens. Foto de vaca que subiu num telhado de casa na Suiça. Subiu e desceu sozinha.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Adiós Garcia

O mundo cultural de Pernambuco, em particular o mundo da música erudita, fecha esta semana com um desfalque de um exímio talento, dado ao encantamento do maestro Rafael Garcia. Uma lacuna que temo ser difícil de preencher. O virtuoso maestro perdeu a dura batalha para um câncer devastador, aos 77 anos, no último dia 12, provocando lágrimas que se derramam pelas encostas dos Andes chilenos e desaguam no vale do Capibaribe. Olhando por um “retrovisor” lembro vivamente de episodio marcante na minha carreira de executivo: parece que foi ontem, embora decorresse o ano de 1997, quando recebi no meu gabinete de trabalho, na antiga SUDENE, uma Senhora entusiasmada falando-me dum projeto de expressiva envergadura para difundir, entre nós nordestinos, a cultura e difusão da música clássica. Buscava apoio financeiro. Naquela época exercíamos o cargo de Coordenador de Cooperação Internacional do organismo regional. “Como o Senhor é responsável pela gestão das relações internacionais desta Entidade, acredito que bati na porta certa”. Foi o que ouvimos, como cartão de visita, da renomada pianista pernambucana Ana Lucia Altino Garcia. Surpreso com aquela rara demanda, fiz ver que os sinuosos caminhos da burocracia governamental não permitiriam um atendimento de imediato como desejado. Contudo, sem perder tempo, fiz questão de ouvir o que ela tinha para justificar seu pedido. Foi ali que ouvi falar, pela primeira vez, no nome de Rafael Garcia. Era curioso como ela se entusiasmava ao sublinhar que se tratava do seu marido, um talentoso músico e grande maestro, e que, juntos, resolveram montar um programa para revolucionar o meio musical do Recife. Para me sensibilizar frisava sempre que se tratava de um projeto de caráter internacional. Eles já vinham de belas experiências internacionais e até declinavam convites tentadores fora das nossas fronteiras. Coisa inusitada por estas bandas e, sobretudo, naquele tempo. Sem que houvesse uma rubrica orçamentária para atender ao pedido, resolvi, em caráter pessoal, “vestir a camisa” daquela iniciativa e tratei de identificar formas de apoio. Lembro que sugeri a busca de ajudas nas iniciativas privadas e, inclusive, indiquei empresas que poderiam fazer aportes substanciais. Deu certo! Aposentado da Agencia Regional e passando a atuar em meio à iniciativa privada vi-me mais envolvido com aquela ideia pela qual me tornei um constante admirador.
Se o entusiasmo e a garra de Ana Lucia contagiam qualquer interlocutor, não menos ocorria quando me via diante de Rafael António Garcia Saavedra. Chileno de nascença, pernambucano de coração e cidadão de direito desta terra de Nabuco, por decisão da Assembleia Legislativa local. Era encantador ver aquele homem falar de musicas e de projetos. Critico e até ácido nas suas buscas de incentivo, Rafael sabia dosar e "falar grosso" para quem devia. Assustava muitas vezes, mas, agradava o grande público fromador da consciência coletiva. Sensacional. Cumpriu um papel de fundamental importância sociocultural. Bravo Maestro! Jamais esqueceremos. O projeto do Casal Garcia tomou vulto, envolveu a família – todos amantes da boa musica e discípulos daquela formidável dupla – por inteiro e bridou o Brasil com brilhantes eventos musicais que marcam épocas nas sociedades pernambucana e brasileira. O que era uma ideia cresceu e deu origem à Virtuosi Sociedade Artística que se encarrega de promover, desde o final dos anos 90, inicialmente no Recife e depois no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades regionais inesquwcíveis festivais de musica erudita para deleite dos amantes da boa musica e como educativo para uma geração ligada aos ritmos mais modernosos. Abriram-se palcos e explodiram muitos aplausos para gaudio da sociedade.Concertos que se repetiram com iguais sucessos nas praças de Santiago, Buenos Aires e Montevideo. Tudo sob a batuta de Rafael Garcia. Faço parte da legião de admiradores desse gênio chilenbucano da musica que partiu para eternidade deixando um legado de inestimável valor cultural. Muito teríamos para ilustrar este exíguo espaço, mas, fica a sugestão para que os/as leitores/as visitem o site da Virtuosi Sociedade Artística (www.virtuosi.com.br) onde se encantarão com a obra desse estimado amigo que nos deixou. Adiós Garcia! Espero no futuro assisti-lo regendo grande sinfônica sobre belas nuvens. E, desse modo, melhor dizer Hasta Luego! Acredito e alimento a certeza de que a família Altino Garcia, à frente Ana Lucia Altino, fará jus a essa diferenciada herança e sustentará a Virtuosi para deleite das novas gerações e para difusão da musica erudita. NOTA: Foto dos arquivos da Sociedade Virtuosi.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Deletando o patrimônio cultural

Sempre fui, desde muito jovem e por questão de cultura familiar, muito ligado às artes plásticas e a Historia da Arte. Assim, como um hábito de raiz, tudo que diz respeito a esse domínio da inteligência humana chama e prende minha atenção. Tenho inclusive uma humilde coleção de obras de arte que me enche de prazer e toma meu tempo de lazer. Sempre que possível visito museus, galerias e ateliês de pintores e escultores. É, portanto, meu hobby. Nas varias chances que tive de expor-me a outras culturas, uma das primeiras coisas que procuro ver são as manifestações através das artes plásticas, das mais rudimentares às mais acadêmicas. Gostei de conhecer de perto obras de pintores e escultores famosos e de mestres desconhecidos, embora que de uma escola “certificada”, como as lavradas pelos pintores cuzqueños, do Perú, pelos quais tenho especial admiração. Registro inclusive o zelo que observo na grande maioria das vezes como os povos prezam seus patrimônios artísticos. Como já abordei noutras postagens deste Blog, acompanho com grande desaponto a maneira como boa parte do patrimônio histórico brasileiro – com destaque para as artes plásticas e arquitetônicas – vem sendo relegada a ultimo plano, pelas autoridades (in)competentes, ao ponto de deletar (usando um termo moderninho) obras seletas do nosso mundo artístico-cultural. Aqui em Pernambuco já perdemos verdadeiras joias de arte, nos diferentes planos de manifestações. O centro antigo do Recife, na sanha galopante da modernidade, perdeu suas características originais para dar lugar aos mostrengos modernosos, a partir da primeira metade do século passado. Mas, a coisa não parou por ali. Neste momento assisto, com pesar, discussões a respeito do estado de degradação e possíveis destinos de famosas obras de dois ícones da modernidade – vejam só – das artes plásticas pernambucanas: Lula Cardoso Aires (1910-1987) e Francisco Brennand (1927-2019).
O primeiro, notável pintor do século passado, deixou uma infinidade de obras em prédios públicos, assim como em coleções particulares. Neste momento, cobra-se da empresa espanhola que administra o Aeroporto Internacional do Recife, o resgate e reaposição de destaque, no novo edifício, de belas obras de Cardozo Aires, abandonadas ao relento e intemperes, no prédio descoberto da antiga estação de passageiros e constante no programa, segundo rumores, de demolição para dar lugar à ampliação do estacionamento. Imagine que a velha estação teve o telhado roubado por vândalos. Pelo amor de Deus! Onde estão as autoridades da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE) que já tombou, no passado, as referidas obras? Trata-se de magnificos paineis retratando duas manifestações culturais pernambucanas: o folclore, com destaque para o maracatu, e os ciclos econômicos brasileiros.Vide foto acima.
Já sobre o segundo artista, destaca-se o famoso mural que reproduz cenas da Batalha dos Guararapes, datado da passada década de 60, posto na lateral do Edifício Banlavoura, e por encomenda do antigo Banco da Lavoura de Minas Gerais, na esquina da Rua das Flores e Avenida Dantas Barreto no centro do Recife. Recordo que, por algum tempo, trabalhei nesse prédio e diariamente admirava a beleza daquele imenso painel cerâmico. Com a crescente degradação da região central da cidade (infeliz fenômeno comum no Brasil de hoje) a obra de Brennand foi sendo atacada por vândalos, virou mictório publico dos moradores de rua, peças foram subtraídas e agora, por pressão dos amantes da cidade e da sua cultura, a FUNDARPE com o sucessor daquele Banco discute o destino de reposição da fantástica obra. Fala-se que o Banco promete recompor e reposicionar o painel numa das suas principais agencias do Recife, provavelmente no bairro de Boa Viagem. E o centro “histórico” recifense que fique, cada vez, mais pobre. Vide foto do painel, logo acima. Desolado, junto-me, desde esta humilde plataforma, aos que lutam pela preservação da arte dos valorosos artistas que souberam legar um rico patrimônio à posteridade. NOTA: As fotos ilustrações foram obtidas no Google Imagens.

sábado, 25 de setembro de 2021

E o novo normal?

Há dezoito meses, quando a pandemia da Covid-19 tomou conta do mundo e a mídia se encarregou de espalhar o medo e um “fim-de-mundo” assustador, o que se viu foi a instalação de um modo de vida nunca antes vivenciado. Trancamo-nos em casa, seguimos todos os conselhos das autoridades de saúde do planeta e, neste ambiente, todo mundo pôs-se a discutir o futuro. O termo mais comum foi resumido no que se passou a chamar de “novo normal”. Para os crentes, aquilo tudo era um sinal de Deus para que a humanidade revisse seus comportamentos pouco recomendáveis e que a vida teria que ser redesenhada com mais temor às coisas divinas. Já para cientistas, o planeta estava cobrando moderação no tratamento e generosidade com a natureza. Ao mesmo tempo, os dedicados às ciências sociais, incluindo historiadores, o mundo havia chegado ao limite das disparidades socioeconômicas que revelavam de modo severo as grandes diferenças entre povos, culturas e nações. Grandes países, como China, Brasil e Estados Unidos – onde a pandemia castigou de modo expressivo – tiveram tudo isso muito visível e, por vezes, estarrecedor. Ocorre que o imaginário (inteligência?) humano é sempre fértil e capaz de desenhar projetos dos mais simples aos mais absurdos. Dessas incontáveis elucubrações, surgiram ideais das mais diversas. Ouvi de muita gente coisas do tipo: “nunca mais vamos viver em grandes agrupamentos”, “shows e jogos em estádios vão se acabar”, “nem em família vamos poder confraternizar como antes”, “esse vírus nunca mais vai desaparecer”, “viajar e se expor às culturas estrangeiras será coisa do passado”, “vamos ter que usar máscara o resto da vida!” e por aí foram surgindo muitas outras opiniões.
A verdade que se esboça, contudo, é que o tal do novo normal já começa a dar sinais de que a humanidade ou, pelo menos, as sociedades mais destacadas já começam a recuperar os seus hábitos de vida, embora que adotando os cuidados ainda necessários porque a pandemia ainda não passou. As vacinas contra a Covid vêm dando respostas positivas e a esperança de tempos tranquilos se mostra, cada vez mais, provável. Sendo assim, viva a Inteligência humana e o progresso da Ciência. Mas, cabe uma observação e, suponho, que indiscutível: a Pandemia deu chances a que a modernidade digital – que já vinha se instalando aos poucos – acelerasse sua presença no mundo social, politico e dos negócios, provocando uma revolução nas relações humanas não imaginadas, antes de 2020. Por conta disso, sou daqueles que consideram que o século 21 começou agora. É impressionante como, nesses dezoito meses passados, soluções fantásticas foram descobertas na onda ilimitada do ciberespaço. Home-Office, comércio on-line, comemorações das mais diversas pelas populares redes sociais, surgimento de especialistas em realizar negócios na rede digital (digital-influenciador), EAD (Ensino à Distancia), shows ao vivo pelas redes, congressos e seminários, reuniões de cúpulas governamentais e, enfim, uma enormidade de outras soluções que somente a Internet é capaz de proporcionar. São soluções que podem parecer provisórias, até porque a forma presencial não cairá de uso tão cedo, mas as novas descobertas serão usadas por muitos. Acredito que o mundo viverá um modo hibrido de comunicação social por muito tempo. Na esteira dessas descobertas muitas outras coisas desenharam ou consolidaram um novo normal de vida. Refiro-me às possibilidades que se abriram a pessoas que resolveram adotar, em definitivo, soluções como as acima enumeradas e procuraram viver afastadas dos grandes e conturbados centros urbanos, megalópoles sobretudo, inseguros, poluídos e de trânsitos trepidantes. Seria isso tudo um novo normal?
Cabe registrar, para terminar este post, que o combate à Pandemia está sendo incapaz de, simultaneamente, reduzir as disparidades socioeconômicas do planeta. Trata-se de um longo processo a ser perpetrado. Ainda será um grande desafio pela frente e, o pior, motivo gerador de novas pandemias, tão graves e tão indesejadas para a humanidade. Lembrando os conselhos de Yuval Noah Harari, vamos ter que praticar uma politica intensa de solidariedade mundial para que as futuras gerações estejam livres dessas duras calamidades. NOTA: As fotos ilustrativas foram colhidas no Google Imagens.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Recristianização

Sou uma pessoa que não pode se queixar da vida quanto ao aspecto de viajar, conhecer o mundo e se expor à culturas diferentes, inclusive algumas exóticas. Tive oportunidades de rodar o mundo e já “bati ponto” nos cinco grandes continentes. Tanto por motivos de interesses pessoais, quanto por razões profissionais. Vi gente de gostos e modos de vida estranhos, nada comparáveis aos nossos ocidentais. Vi gente que come coisas repugnantes vestem-se a uma moda inadequada ao tempo e ao próprio clima, cultuam seres inacreditáveis e rendem louvores a divindades bem distintas das nossas, apesar de que, concluo ser o Deus de cada um o mesmo e único tido como o Ser Supremo e criador dos céus e terras. Jesus Cristo, Buda, Krishna, Maomé e Abraão são, provavelmente, os messias (ungidos de Deus) mais populares ao redor do planeta. Todos passaram com mensagens, dogmas e princípios baseados num mesmo Deus. Devido à colonização cristã, que nos tocou receber, incorremos sempre no equivoco de que somos os certos e que Cristo, nosso Messias, deve ser tido como o único. E ai vale mais o dogma (indiscutível) da Santíssima Trindade. Não é assim que pensam muitos outros milhões de humanos. O importante considerar, finalemente, é que ter uma crença, seguir uma religião e acreditar num ser supremo faz parte e determina características culturais especiais num povo. Vi coisas bem diferentes na África e na Ásia, continentes nos quais as diversidades culturais resultam numa miscelânea de hábitos, cores, crenças e atitudes. Não posso esquecer jamais, quando, de visita ao Japão, observei pessoas venerando as mais diversas coisas que, para minha cabeça, não fazia o menor sentido espiritual. De onde vinha o referencial religioso daquela gente? Falo, neste exemplo especifico, dos seguidores da religião Xintoista. Trata-se de uma crença, que surgiu naquele país, formada por uma série de lendas e mitos que se referem à origem do mundo. É uma religião baseada no respeito e culto da natureza. É uma crença panteísta, o que quer dizer que Deus se encontra em todo e qualquer elemento sobre a face da Terra. Dessa forma vi pessoas adorando uma árvore, uma pedra, um animal, uma fonte de água entre muitas outras coisas. Vamos e venhamos, para mim católico de raiz, tinha que achar se tratar de uma coisa rara. Além disso, e ao mesmo tempo, os mesmos xintoístas rendiam glorias ao Buda. Vi budas por todo lado. Bom, se eu for falar de outros cultos que vi mundo afora, termino fugindo do tema pautado para hoje. Explico: vi com certo júbilo uma noticia que se espalhou, pelo mundo ocidental, dando contas de que na Hungria as escolas primárias passam por um processo de “recristianização”. Por iniciativa do governo daquele país escolas públicas, com aquiescência da população, foram entregues a ordens religiosas que, com cuidados devidos e estratégias bem discutidas, tratam de dosar os princípios cristãos na grade curricular formal. Vide foto a seguir de crianças sendo educadas e resgatando os principios morais e religiosos cristãos. Causou muita estranheza para muitos quando o ano escolar foi aberto num templo cristão restaurado. Por feliz coincidência, o Papa Francisco, na sua primeira viagem após cirurgia, em julho passado, esteve em Budapest e celebrou para milhões de fiéis. Dali ele se dirigiu à Eslováquia. É o que vem sendo denominado e recristianização, particularmente o catolicismo, numa banda de mundo, onde o regime socialista soviético “imperou” entre 1922 e 1991, no leste europeu. A Hungria e a Eslováquia estiveram sob esse fracassado jugo.
A propósito dessa alvissareira noticia e recordando uma viagem que fiz, em 2010, à República Checa, ex-integrante daquela infeliz União, notei na bela aprazível cidade de Praga, inúmeros edificios com traços arquitetônicos, nitidamente, de caráteres religiosos e, naquela ocasião, servindo de hotéis, hospedaria, teatros, museus, escolas públicas, entre outras finalidades. Eram antigas igrejas, mosteiros, catedrais, e similares que haviam sido fechados pelos soviéticos, época em que falar em Deus e Cristo era coisa proibida pelo Estado. Pouca coisa resistiu ao que era determinado e lá se mantinha com essas desviadas funções. Por sorte cheguei a visitar a Basílica do Menino Jesus de Praga, uma das poucas abertas. A foto a seguir é do antigo Mosteiro e Catedral de São Vito, em Praga.
Já nossa guia em Praga, uma jovem checa de seus vinte anos, falando português com sotaque lusitano, me explicava com tranquilidade e segurança, que não acreditava em Deus, que Cristo foi uma invenção da nobreza antiga e que os papas eram pessoas comuns interessados em "acumular grana" que podiam tirar dos ricos e que tudo não passava de politica e sede de poder. Surpreso com tudo aquilo e entendo que a doce mocinha era o fruto de um regime de punhos de aço e, indiscutivelmente, ignóbil, nem dei continuidade ao papo e tratei de indagar sobre a História e as atrações turísticas da cidade. Comentando sobre essa experiência com uma amiga panamenha que estudou na França, na década de 70, e esteve na Rússia contou-me que foi a uma discoteca em Moscou que funcionava numa antiga e secular igreja católica. Não preciso dizer mais nada. Desejo que essa “recristianização” do leste europeu progrida e que tenhamos um mundo mais espiritualizado, mais culto e humano. Deus existe. Cristo reina. NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Sombrero Mexicano

Esta foi a terceira versão que tentei redigir meu post semanal. Foi um processo dificil, embora a riqueza de pautas. Quando conseguia engatar uma marcha acelerada era obrigado a parar e recorrer a uma à ré, para reanalisar o ambiente. Comparo esta semana politica a uma das minhas antigas idas ao parque de diversões e ficar perplexo diante dos equipamentos diversionais disponíveis: trem fantasma, roda gigante, carrossel de cavalinhos, autopista... Nessa minha elucubração imaginei ver-me naquele carrossel chamado (pelo menos por aqui) de Sombrero Mexicano. Aquele que gira ultrarrápido levando o passageiro, dependurado numa cadeirinha, a girar sem chance de focar num ou noutro objeto parado ao redor. Vide foto a seguir. Ocasiões que enxergava alguma coisa e, de repente, outra contrária e inesperada. Resumindo: o Brasil está semelhante a um Sombrero Mexicano. Apesar de uma navegação imaginária, sinto tonturas até agora. Tive náuseas, entrei em estresse, sofri junto com metade da Nação devido ao clima de expectativa, inseguraça, tensão coletiva. Nesse clima, recordo que em 2018, decidi votar pela recuperação da Nação amada e exausta devido às administrações que a vilipendiaram por longo tempo. Não foi uma escolha fácil. Concluida as apurações percebi, sem muito esforço e de pronto, haver saído das urnas um resultado que produziu uma Nação dividida. Até aí, nada estranho em se tratando de uma democracia viva e pulsante.Confesso que bateu-me algumas duvidas e tratei desse tema aqui no Blog, em 28/10/18 Vide: http://gbrazileiro.blogspot.com/2018/10/e-agora-capitao.html
Extravagante, contudo, é que, com o passar do tempo, o que se observa é a exacerbação de correntes antagônicas que, indiscutivelmente, não se revelam preparadas para viver num regime democrático. Todo mundo se acha no direito de mandar. A bordo do Sombrero Mexicano, quando é possível, só enxergo rompantes de aspirantes a ditadores, postados em cada banda (poderes?) da sociedade, em detrimento da real Nação castigada pelo abandono, pobreza crescente, pandemia, inflação e economia cambaleante. Muitos falam, poucos se entendem e multidões sobram às franjas da sociedade. Finalizando, arrisco uma pergunta: até quando o direito de governar será desrespeitado mediante o resultado final das urnas? Quando eleito, pelo voto popular, o cidadão – bom ou ruim – passa a ser o Presidente de todos. E esses todos devem respeitar e pugnar para contribuir respeitosamente pelo bem geral. Se a conclusão for a de se tratar de um inepto no poder executivo que o tirem da cadeira presidencial. Mas, que seja tirado através do voto popular nas urnas. Simples e democrático. Chega dessa banalização do dispositivo do impeachement. Por favor. O país não suporta esse sacolejo ilimitado. E quando este país deixará de ser um sombrero mexicano? NOTA: Foto obtida no Google Imagens.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Pindorama à deriva

Está impossível suportar. Assustador. Notícias alarmantes dão contas de que a Nau Pindorama parece haver perdido o rumo, embora “ao som do mar e à luz do céu profundo”. Os boletins recebidos chegam, a cada dia, mais preocupantes. Já se sabe que o comandante, com claros sinais de sofrer da síndrome da incontinência verbal, não perde uma chance de agitar os passageiros e, ao que se percebe, se diverte girando o leme com impressionantes guinadas. Muitos se divertem como se montados num moderno brinquedo de um parque de diversões. Outros se apavoram e tentam reações “salvadoras”. Nesse quadro de navegação conturbada, muitos “subalternos” hierarquicamente, ousam querer, com “braço forte” tomar o comando. Ninguém se entende na “terra mais garrida” e os passageiros se mostram, cada vez mais, inquietos agarrados aos paus de bandeiras verde-amarelas e vermelhas, aos berros. Vômitos verbais, desaforos e desespero são características nessa rota. Todo mundo fala alto e ninguém escuta a principal mensagem. As ondas se mostram cada vez mais altas. Uma metade dos passageiros na proa e a outra na popa ameaçando se engalfinharem a qualquer momento. Qualquer semelhança com o “florão da América” não é coincidência. É pura verdade.
Mas, por felicidade há crédulos descendentes de Noé e Cabral postados esperançosos, “às margens plácidas” da Terra de Santa Cruz, clamando por paz e concórdia. Que Deus os escute. Pindorama está muito desgastada. Pode estourar o casco e provocar um desastre indesejado. Que os céus soprem ventos alísios, comum nessas regiões tropicais, trazendo umidade e chuvinhas capazes de mitigar o calor que esquenta a Nau e ameaça incêndios. NOTA: A charge ilustrativa foi colhida no Google Iamgens

domingo, 22 de agosto de 2021

Sem energia tudo para

Enquanto os homens aqui em baixo se pegam ardentemente ao poder, com CPI, pedidos de impeachments, vacinação contra Covid-19 e campanhas eleitorais antecipadas, São Pedro, lá de cima, vem fechando as comportas celestiais e deixando os reservatórios d´água de Pindorama à mingua. E os homens de Brasília estão pouco se ligando no rolo que isso pode causar, deixando o país, que se orgulha de ser um dos maiores produtores de energia hidroelétrica do mundo, com as mãos na cabeça dando tratos para não cair num apagão. Fontes ligadas às autoridades do setor elétrico estimam que em novembro próximo a coisa venha ficar preta. E, sem energia, tudo para. Os primeiros sinais de uma possível crise já aparecem nas faturas mensais da conta de luz, com a indesejável sobretaxa da bandeira vermelha. Usinas termoelétricas estão sendo acionadas para suprir a demanda e encarecendo o produto. Segundo boletins diários do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) que vem alertando o problema, avisa que a fonte hidráulica de energia do país gira ao redor de apenas 40%. Ora, é assustador, lembrando que as estações de chuvas – que se alternam por regiões – nos nascedouros dos principais cursos fluviais estão distantes de ocorrer. Segundo a mesma agencia operadora, a energia que chega aos consumidores tem origem nas geradoras termoelétricas que já vêm respondendo por cerca de 30% nos meses recentes. Restam as energias geradas pelas chamadas fontes limpas: solar e eólica. Mas estas não garantem muito quando faltam sol e ventos.
Lembro que as mudanças climáticas, assunto tratado no post deste Blog na semana passada, também são apontadas como responsáveis por essa situação caótica dos nossos reservatórios. Pior é que há cidades que já padecem de abastecimento d´água para o consumo humano. Em São Paulo, a maior cidade do país está ameaçada de sofrer um racionamento radical a exemplo de como vivenciaram em 2014. O sistema Cantareira (Foto a seguir)trabalha com níveis abaixo do exigido pela demanda daquela Grande Metropole.
Por outro lado, quem não se lembra do Apagão de 2001, no país inteiro? Aquilo foi um sufoco sem tamanho. Ninguém esperava por aquela situação. A falta de cuidados e planejamento adequado deixou o Governo FHC de “calças curtas” no final do seu mandato. O Setor Indústria sentiu forte aquela pancada e foi obrigada a investir - sem haver programado - em geradores próprios. Resultado desse imbróglio é que logo surgem os que defendem à construção de novas termoelétricas, para que haja sustentação do sistema. Mas, será esta a solução mais plausível? As experiências externas não servem de modelo? A proposito de outras soluções, lembro-me da recente conversa que tive, ao Vivo (Batendo Papo com GB), com o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear, o engenheiro pernambucano, Carlos Henrique Mariz, que garante ser “a geração de energia nuclear a mais adequada para o caso brasileiro tanto pela segurança que hoje se adota ao processo quanto à constância da produção”. Segundo entendi, o Brasil progrediu pouco nessa área: tem duas usinas em pleno funcionamento (Angra 1 e 2), outra em construção (Angra 3) e um projeto para ser instalado no sertão nordestino, em principio, no município de Itacuruba (Pernambuco). Sobre este projeto no Nordeste, Mariz considera que “é importante para essa região a construção de uma central nuclear devido ao retorno garantido, em termos socioeconômicos. Some-se a necessidade de energia de base e as excelentes condições técnicas e de localização do sitio nuclear de Itacuruba”. O Projeto vem sendo amplamente discutido e tem gerado controvérsias envolvendo ambientalistas, grupos étnicos da área escolhida e agentes governamentais. Em matéria publicada na edição de O Globo (21.08.21) a questão foi levantada e revela uma sociedade cética e preocupada com o futuro. Ocorre que Itacuruba tem uma história triste por ser hoje um reassentamento após um projeto de barragem da Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF na sua antiga localização, distante 10 km. Trata-se, na verdade, de uma população traumatizada. A possível usina nuclear poderá até mudar a trajetória histórica e revigorar a cidade hoje deprimida, proporcionando boa geração de emprego e renda. Mas, muitas dúvidas têm sido levantadas e carecem de bom trato. O projeto promete ser vultoso e capaz de superar as atuais produções de Angra do Reis. Enfim, o fato concreto é que o Brasil precisa ter um plano competitivo e garantidor de geração de energia elétrica capaz de atender a crescente demanda. E os Governos são os responsáveis por cumprir essa missão. NOTA: Fotos ilustrativas obtidas no Google Imagens

domingo, 15 de agosto de 2021

Sinais do Tempo

É curioso como o recifense vem reclamando, ultimamente, da baixa temperatura que se experimenta na cidade, neste inverno de 2021. Termômetros marcando repetidamente 20 ou 21 Graus Centigrados é coisa rara nessas bandas. É frio para uma cidade tropical. Por outro lado, é curioso também, ver o noticiário da TV dando conta de que na região da Sicília, na Itália, os termômetros marcaram em dias desta semana a inusitada temperatura de 46,8 Graus Centigrados provocando incêndios devastadores. É verão no hemisfério Norte. Na Califórnia, nos Estados Unidos, grandes extensões são igualmente devoradas pelo fogo que surge de mopdo espontâneo. No verão do ano passado, a Austrália ardeu em chamas resultando em florestas e fauna detonadas, naquele país. Outra curiosidade recente e rara, também, foi nevar em muitas cidades das serras gaúchas e catarinense, no sul do Brasil. Algo estranho, indiscutivelmente, vem ocorrendo no nosso meio ambiente. Pelo visto são concretos sinais de que o tempo vem mudando gradativamente em todo o planeta. Recordo que não é de hoje que se fala no aquecimento global e nas mudanças climáticas que se esperam diante de ataques humanos ao meio ambiente. Alguns se mostram incrédulos. Muitos alertam para um futuro traumático. Estudos mais acurados se multiplicam e vêm revelando resultados pouco animadores. A partir dos anos 80 e 90 do século passado os clamores tornaram-se mais intensos e geraram cúpulas mundiais para debater seriamente o fenômeno. Recordo da Rio-92, Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que resultou num documento firmado por 179 países (Rio de Janeiro, 14/06/1992) que se tornou em instrumento de planejamento visando ao desenvolvimento sustentável. Entre outras importantes propostas do documento destacam-se: Mudança dos padrões de consumo; Proteção da atmosfera; Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões; Manejo de ecossistemas frágeis; A luta contra a desertificação e a seca e Manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos.
A este evento seguiu-se outro importante realizado em Kyoto, no Japão, promovido também pelas Nações Unidas e centrado na discussão especifica de conter as emissões de gases de efeito estufa no mundo inteiro, considerado como o grande vilão da história. E mais recente, veio a celebração do famoso Acordo de Paris, (12/12/2015) cujo objetivo foi substituir o protocolo de Kyoto e reforçando a ideias da redução do aquecimento global. A questão foi discutida por representantes de 195 países e entrou em vigor em 04 de novembro de 2016. 147 países ratificaram o acordo e o Brasil está entre estes. O referencial disso tudo são estudos, já publicados, dando contas de que os oceanos e a atmosfera esquentaram, ao longo dos tempos, causado pelas massivas emissões de gases de efeito estufa. Os maiores responsáveis são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento das florestas. Ora, estes dois elementos são os responsáveis diretos pela renovação do oxigênio. Sem este não se vive. Daí a luta pelo desenvolvimento sustentável aliando a tríade: social, econômico e ambiental. Como era de se esperar, todos esses acordos e tratados são objeto de debates políticos acalorados, mormente o fato de que muitos países se mostram céticos e alguns pouco dispostos em aderir às severas cláusulas que encerram o Acordo. Certamente que ainda existem sérias dúvidas quanto às reais práticas propostas por nações grandes emissoras de gases. A China e os Estados Unidos são sempre as grandes dúvidas. Em 01/06/2017, o estapafúrdio presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, anunciou que seu país abandonava o Acordo, gerando uma grande revolta ao meio. Por sorte, o sucessor, Biden, ao assumir decidiu ao contrario. O Brasil, por exemplo, ao ratificar o Acordo se comprometeu reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030. A referência de comparação foram os níveis de 2005. Eis, então, um dos maiores desafios da humanidade para este século 21. Que haja uma união de esforços e que cada um de nós contribua para a salvação do planeta e o bem-estar mundial. Enquanto isto, nós recifenses, vamos curtir as baixas do termômetro. Bom frio! NOTA: Foto obtida no Google Imagens.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Luta Insana pelo Poder

Chega a ser desanimador. A cada dia surge uma novidade preocupante no ambiente politico nacional. A luta pelo Poder tem sido insana. A briga renhida entre os Poderes da Republica vem desgastando o cidadão comum e pondo em risco a estabilidade nacional. Dói observar que foram anos de luta na busca de uma tranquilidade político-econômica que, de repente, vai se esvaindo em consequência de uma alternância de poder nem sempre bem posta. O tecido social já se encontra puído ao extremo e a sensação é de que pode rasgar num átimo. Aos que experimentam o avanço dos tempos e sendo carregado pela roda viva da vida, como no meu caso, testemunhar o clima de cisões entre os poderes, além de desgastante é lastimavelmente desanimador. O episodio de hoje (05.08.21), com bate-bocas entre o Executivo e o Judiciário representa uma legitima crise institucional. Uma “guerrinha” declarada. O país virou um circo de rinhas politicas. Daquelas que põem em posição vulnerável qualquer jovem democracia. Deus nos salve.
Recordo que venho de uma geração na qual se escutava frequentemente a promessa de um prodigioso futuro. O famoso País do Futuro, à época, em construção. Os mais velhos se vangloriavam pelo feito de estarem estruturando uma nação vigorosa e vibrante que nos legariam. O Brasil que à custa de sangue e suor foi levantado pode hoje não suportar tantas desavenças e inúmeros dos atuais desencontros. O são cidadão brasileiro roga pelo restabelecimento da ordem a começar pelo desmonte dos palanques eleitorais, nunca desmontados desde 2018. Chega de insanidades nas hostes politicas. Chega de impeachements de mandatários. Chega de desmonte e remontes. As lideranças públicas precisam procurar os caminhos da união. O Brasil espera ansiosamente por uma vida mais equilibrada.
O mais curioso de tudo é que, num momento tão difícil para humanidade, em plena crise pandêmica, conferirmos de forma inaceitável que as preocupações dos poderosos da República Brasileira estejam voltadas com todas suas energias entregues a uma “queda de braços” na inoportuna luta pela conquista do Poder. Uma luta visivelmente insana que impede o focar na realidade cruel a qual está entregue a Nação: milhares de mortos, vitimas da Covid-19, quedas na produção global, desemprego em alta, inflação ameaçadora, desordem cultural, incêndios das memórias históricas, povo nas ruas, educação em declínio, entre outros fatores inquietantes. Não. Não foi este o Brasil que me prometeram. Pelo visto, o Circo Brasil está em chamas e carece urgente de um bombeiro salvador. NOTA: As charges ilustrativas forma obtidas no Google Imagens.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Voto Impresso?

Venho acompanhando com curiosidade e certa apreensão a discussão, no Congresso Nacional, da Proposta de Emenda Constitucional – PEC- 0135/2019 que visa à instituição do Voto Impresso ou Voto Auditável. Indiscutivelmente tem sido mais um “delicioso” objeto de “bate-boca” e outra oportunidade para as manifestações extremistas do atual momento politico nacional. Direita e Esquerda se desdobram no exercício de defender, em nome de A ou B, as respectivas posições ideológicas em torno de uma questão que é, sobretudo, normativa/administrativa e que exige, sim, uma análise equilibrada, democrática e, especialmente, republicana. Pessoalmente e sem alimentar qualquer paixão pelo tema espero tão somente que, ao fim do processo, seja tomada a mais correta e mais justa possível para segurança do futuro da República. Por outro lado, acho imprudente para quem defende ou quem condena por, simplesmente, defender ou condenar conforme as posições conjunturais partidárias. Entre os opositores da proposta de Emenda destacam-se os que a combata de frente devido a defesa do Capitão Bolsonaro e suas justificativas polticamente exacerbadas e de forma desarrumada que lhe é peculiar. Abstraindo, no entanto, essa exacerbação do Presidente, seria prudente, aos parlamentares encarregados da analise, explorarem a fundo as reais vantagens ou desvantagens de adoção da medida para toda e qualquer corrente partidária e principios ideológicos. Ora, meu Deus, o que custa termos segurança num escrutínio eleitoral? Quem discorda disso, o faz sem melhor conhecimento de causa e sem recordar das lambanças que foram praticadas ao longo da História deste país.
Antes de prosseguir, porém, devo confessar meu entusiasmo e admiração pela Urna Eleitoral Eletrônica que se utiliza no Brasil. Sinto, inclusive, orgulho de ver meu país dando exemplo de realizar processos eleitorais rápidos e aceitos pelo eleitorado. Comparado com o que vimos recentemente nos Estados Unidos nosso modelo é algo formidável. Mas, seja lá de quem tenha sido a ideia que se transformou na PEC 0135/2019 o que se objetiva é a segurança final de um pleito. É nisto que se deve concentrar a discussão, entendendo que se trata de uma questão de ordem nacional. Outra coisa que deve ser exposta ao eleitorado como um todo é o fato de que não se trata de retroceder à época da cédula de votação, na qual o eleitor assinalava, de próprio punho com um X o nome do seu candidato, dobrava a folha e depositava numa urna disponível na sessão. Há milhões de pessoas que imaginam ser esta a intenção. Ao invés disto, o que se propõe é que após o eleitor sufragar seu voto eletronicamente receba uma espécie de recibo que registre seu voto e que deve ser depositado numa urna física. A justificativa é de se contar com mais um elemento de segurança numa eventual auditagem/recontagem. Naturalmente que se trata de um processo que exige ser estudado tecnicamente e passando, sobretudo, pela fase de verificação de absoluta segurança no sistema como hoje vigente. Equipes de diferentes correntes políticas devem ser envolvidas na busca de um equilíbrio de pareceres técnicos que venham gerar segurança no momento de escrutínio.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Pobre Nação Rica

Tenho evitado discorrer, aqui no Blog, sobre temas políticos, muito embora a potencial produção de pautas seja em alta escala. Naturalmente que, em não sendo um repórter investigativo ou daqueles que buscam dar furos de informação, resta-me tão somente comentar passagens selecionadas do dia-a-dia da vida politica nacional. Além de cômodo, já é o bastante para um Blog cujos propósitos são bem modestos. Os grandes furos e as noticias bombásticas ficam por conta da insaciável sede da grande imprensa. Por excesso de revolta, abro um espaço neste fim de semana, para tecer comentário a respeito do absurdo orçamento proposto na proxima LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), pelo Congresso Nacional, na 5ª. Feira (15.07.21), com vistas ao item denominado de Fundo Eleitoral, “carinhosamente” chamado de Fundão, para cobrir os custos das campanhas eleitorais de 2022. É acintoso. Impressionantes R$ 5,7 Bilhões estão sendo propostos para entrar no Orçamento da União de 2022, com o intuito de custear a grande “farra” eleitoral do ano. Contas feitas, isto significa um aumento de 185% em relação ao que foi destinado nas eleições municipais de 2020, R$ 2,0 Bilhões. Em 2018 o Fundão foi três vezes menor. “Apenas” R$ 1,8 Bilhão. Tudo bem que, hoje, seja legal a formação deste fundo. Mas, tenha dó... Vejamos, pelo amor de Deus, a procedência dessa grana. Para refrescar a memória lembro que, anteriormente, os candidatos tinham que se virar em arranjar grana para custear suas próprias campanhas. Recorriam principalemnte aos chamados financiamentos empresariais, com óbvias promessas de facilitar a tramitação de instrumentos legais benéficos aos interesses futuros do “contribuinte”. Era um campo de ilimitada corrupção. E, sendo eleito, o sujeito já assumia com o “rabo preso”. Com a nova ordem da proibição desse tipo de financiamento, pelo Supremo Tribunal Federal - STF, em 2015, adveio a criação do Fundão e a conta terminou sobrando para o cidadão comum. Neste caso, toca-me dizer que "se correr o bicho pega e se ficar o parlamentar come”.
É estarrecedor constatar que nossos representantes no Congresso Nacional avançam com descomunal voracidade nos cofres da Nação, enquanto esta se desdobra, à custa de muito suor e sangue, contribuindo como pode com o bolo financeiro do grande Condomínio Nacional. Dói, ao mesmo tempo, ver o brasileiro comum assistindo ao crescente aumento do desemprego, sentindo a dor, o temor e as perdas provocadas pelo ambiente de pandemia da Covid-19, assistir ao desempenho de um Ministério da Saúde tumultuado, de mão-em-mão, e terminar sujeito a viver de irrisório auxilio emergencial. Somente neste 2021 são mais de 45 milhões de pessoas recebendo o auxilio num valor médio de R$ 250,00. Mais duro ainda é, noutra ponta, observar que alguns Ministérios têm, hoje, orçamentos menores do que esse famigerado Fundão projetado. Ministério do Meio-Ambiente, o que trata de controlar as queimadas da Amazônia e do Pantanal, é um destes, com a dotação insuficiente de R$ 5,3 Bilhões. Tem também o Ministério da Cidadania, para o qual só foi proposta uma cotinha de R$ 1,8 Bilhão. Fundão grande e mal empregado. Muito dessa dinheirama vai servir para comprar votos. Revolta ou não? É desalentador viver numa Pobre Nação Rica, onde uma casta de privilegiado avança num pedaço de bolo cada vez maior. NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Preito de Gratidão

Ela chegou de mansinho e, inicialmente, tinha tudo para não atender as exigências e o regime doméstico da casa. Chegou sem referências expressas. “Analfabeta, Sonia? Você acha que vai dar certo?” Alertei. Fiquei mais preocupado ao descobrir que portava uma prótese ocular no lado esquerdo. “Meu Deus, será que ela consegue?” Contudo, nossas necessidades daquele momento precipitou a contratação dos serviços domésticos daquela criatura, carente de emprego, que se ofereceu na portaria do nosso prédio. A Patroa resolveu fazer uma experiência. Uma das exigências era de dormir no emprego com óbvio direito a uma folga semanal. Acertos das duas partes e passamos a contar com uma nova secretária doméstica. Decorria o mês de novembro do ano de 1998. Depois da primeira folga semanal volta ela afirmando “acontece que sou amigada e meu homem exige que eu durma em casa toda noite”. “Ah, então a Senhora é casada?” Perguntei. “Não Senhor! Quem casa é canário. A gente pobre se amiga. Casamento é coisa de gente rica.” Percebi nessa hora, que a disposta Iracema (47 anos de idade) deu o recado direto de como era sua personalidade, sua vida e como resolvia suas questões pessoais. Sem outra razão que fosse, decidimos seguir e contratá-la. Carteira assinada, INSS em dia, além de passagens diárias de transportes. Com pouco tempo mostrou-se disposta e capaz de dar conta do recado, não obstante ser caolha e analfabeta. Ganhou a confiança da casa e se tornou figura fundamental na vida de uma família cujos membros trabalhavam e estudavam. Sentiu-se, com alguma rapidez, a Senhora do pedaço. Todos saiam logo cedo e ela se sentia dona da casa. Tinha uma coisa crucial: atendia os telefonemas e por ser analfabeta não anotava recados. “Ligou uma mulé que quer falar com o Senhor!” Perguntei, “e o nome dela?” “Ela disse mas, esqueci”. Era uma graça. Nessa pisada, terminou ficando 23 anos às nossas ordens. Hoje lamentamos porque ela foi derrotada pela Covid-19, em abril passado. Fará muita falta. Dificilmente encontraremos uma figura leal, disposta e amiga como ela foi. Faço, portanto, um preito de gratidão a uma figura que viu nossos filhos se tornarem adultos e ganharem o mundo. Viajamos ao redor do planeta e ela dava conta do serviço. Com tempo contado, aposentou-se oficialmente, mas, continuou no batente. Vivia relativamente bem. Tinha sua rendinha mensal, equipava aos poucos a casinha que ganhou e ajudava aos filhos, filhas netos e bisnetos. No fim da vida estava retirada em casa por conta da pandemia. Seguramente, por sua audácia natural, num vacilo foi colhida fatalmente pelo vírus maligno, quando ainda nutria muitos projetos de vida.Foto a seguir junto com o filho Wellingto, na comemoração do aniversario em 2018.
Naturalmente que nossa convivência nem sempre era um mar de rosas. Relacionamento humano não é fácil. Principalmente nas condições dela. “Patrão sempre quer ter razão!” Dizia por qualquer motivo. Sem dúvidas era voluntariosa, birrenta, malcriada e cheia de vontades. Mas, tinha duas qualidades que superavam quaisquer desses defeitos: generosidade e solidariedade que se manifestavam, sempre que oportuno, de modo formidável. Ao longo dos anos, tornou-se meu elo de conhecimentos sociológicos entre a vida dos privilegiados, na qual vivo, e a sociedade periférica que habita às franjas da metrópole. Ela vivia, inicialmente, numa habitação subnormal numa comunidade de invasores, à beira do Canal do Arruda (Recife) e, nos últimos tempos, conseguiu um popular apartamento próprio doado pela Prefeitura do Recife como recompensa pela desapropriação do casebre que construiu e retirado do caminho para dar passagem a uma nova avenida. Foram momentos inesquecíveis de convivência com essa figura que se tornou quase parte da família. Na sua simplicidade e certa inocência, ignorância para alguns, saia-se com tiradas hilárias e que não posso esquecer. Jamais me esquecerei de um certo 28 de fevereiro, quando fui pagar seu salario e ela muito espantada me disse: “Ôxe, tá me adiantando-me este mês? Hoje inda é dia 28?” Lembrando-a que era fevereiro, escutei a mais incrível resposta: “Eita, diminuíram o mês agora, foi?” Garantiu-me que nunca avisaram pra ela que fevereiro só tinha 28 dias. Pasmo com aquele nível de conhecimento, fiquei imaginando que muitos outros passam pela mesma situação. Outra vez, chegou mais tarde para o trabalho por conta da passagem de um lobisomem durante a noite anterior, uma sexta-feira, pela região onde ela morava. Ficou de vigia para o bicho não entrar na casa dela e agarrar as duas netas que estavam com ela. Foi tema de um post aqui no Blog. Teve que levar as netas para um lugar seguro ao amanhecer. Noutra ocasião, aprontou-me uma boa (virou piada!) quando jogou fora metade dos queijos que preparei para uma noite de queijos e vinhos. “Mas, o Sinhô nem reparou que comprou metade dos queijos estragados. Tavam podre!”. Como explicar que o queijo gorgonzola era algo fino, caro e saboroso para aquela criatura cuidadosa na limpeza da geladeira? Tomei o prejuízo e a decepção na hora da degustação com os convidados. Pior, porém, foi no dia que chegou se lamentando de severa dor de cabeça, embora houvesse tomado “dois cachetes de navagina”. Fez-me dar boas risadas. Ficava impressionada como eu conseguia assistir ao noticiário da CNN Internacional com aqueles locutores falando “ingrês”. Adorava assistir ao programa de Jô Soares que ela chamava de João Soares. Fã também de Tony Ramos que ela chamava de Antônio Ramos. Ah! Foram muitas passagens engraçadas. E pensar que a Covid me pregou essa peça sem nenhuma graça. Vai com Deus Dona Iracema. Terei muitas saudades.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Cemitério Virtual?

Tem sido curioso, além de macabro, a maneira como o Facebook vem anunciando constantemente o transcurso de aniversários de pessoas amigas já falecidas. Fico cabreiro quando isso ocorre, resisto obviamente em postar um voto de parabéns e termino desejando um descanso em paz. Suponho que os familiares dos falecidos ainda não encontraram uma forma de apagar a página/perfil do falecido ou, por outro lado, prefiram “manter a presença” do extinto ou extinta numa espécie de plano de imortalidade digital. Nestes tempos modernos tudo é possível. Esta semana ocorreram-me pelo menos três avisos, com a prosaica recomendação de “ajude a fulano ou fulana a comemorar hoje seu aniversário”.
Mais curioso talvez, e não muito raro, é ver sair publicado numa coluna social dos jornais locais nomes de pessoas falecidas entre os aniversariantes do dia. Inclusive de pessoas que já tiveram registrados seus falecimentos na mesma coluna social. Querendo ser gentil e tolerante com os profissionais de imprensa, prefiro acreditar que a veloz dinâmica do dia-a-dia tem sido responsável por situações bizarras como estas. Vai vwr que como tudo é processado no espaço cibernético essas coisas terminam passando despercebidas. Paciência. Da minha parte já recomendei aos familiares buscarem o meio de deletar meus perfis virtuais logo que Papai do Céu me chame para prestação de contas. Eis aí, até que eu saiba melhor, uma questão ainda não resolvida no mundo em que a informação prolifera e se revela como fundamental para o giro das máquinas sócio-politico-econômicas. É um verdadeiro cemitério virtual. Outro dia fiquei sabendo do caso de um falecido cujo perfil virtual mantido foi clonado e o hacker desavisado pedia, em tom de desespero, ajuda financeira para tratamento de saúde. Naturalmente que se tornou hilário para o Grupo de listados entre os relacionados com o morto. Cá pra nós, tem coisa mais ridícula do que isto? O cidadão morto, cremado e cinzas ao mar sendo usado por canalhas internautas. Se meu pai fosse vivo diria que isto é o fim dos tempos. “Ôxe! Morreu e ainda pede dinheiro? Deve estar planejando uma fuga do inferno”.

domingo, 4 de julho de 2021

Narrativas Perversas

A natureza do humano é, inequivocamente, algo complexo de ser compreendida num primeiro lance. Os psicólogos que afirmem melhor. É impressionante como existem criaturas que, com surpreendentes facilidades e astúcias, são capazes de complicar algo que já vem se mostrando caótico e desesperador. Mais do que isto, são capazes de manipular grupos sociais ou veículos de comunicação. As chamadas fake-news são os exemplos concretos. As sociedades do mundo inteiro, incluindo a brasileira, são, com frequência, vitimas de cabeças perversas, hoje se aproveitando da moderna comunicação instantânea propiciada pela rede mundial de internet, disseminando falsos informes e notas, supostamente verídicas e oficiais, pondo em pânico meio mundo. No Brasil esta prática tem sido contumaz e usada, até mesmo, por importantes veículos de comunicação, tidos como honestos, nas diferentes modalidades disponíveis. Resulta que não tem sido fácil para o cidadão comum acompanhar os noticiários, sem que não experimente alguma pontada de dúvida. Naturalmente que o ambiente politico do hoje país dividido, entre extremos ideológicos, tem contribuído para essa parafernália dentro da pandemia do Covid-19. Contudo é assustador ver veículos de comunicação outrora confiáveis embarcando nessa onda do que chamo de narrativas perversas. Esta semana que passou um tradicional e dos mais importantes veículos de comunicação do país, a Folha de São Paulo, estampou de forma alarmante a noticia de que doses de vacina Oxford/Astrazenica contra a Covi-19 e com data de validade vencida teriam sido aplicadas em inúmeros locais do país criando um clima de insegurança em 26 mil pessoas. Nada mais assustador para aqueles que se sentiam seguros conforme o processo nacional de imunização.
Naturalmente que teria sido uma bela prestação de serviço à sociedade caso a coisa houvesse sido comprovada e bem apurada. Ocorre que a pressa por cometer um “furo de noticia”, nos dias atuais, se torna uma compulsão nunca dantes experimentada. E foi certamente o caso dessa noticia bombástica. Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais mobilizaram-se para averiguar e, até o momento (04.07.21), nada foi comprovado. A explicação plausível é de que registros defasados de aplicações efetuadas e válidas hajam contribuído para a notícia indesejada. Faltou profissionalismo no agente de imprensa e, consequentemente, no veículo noticioso que resultou num imenso desserviço à Nação neste ambiente por demais hostil. A proposito do caso acredito ser pertinente registrar um trecho da excelente carta encaminhada ao Ombudsman da Folha de São Paulo, assinada pela médica infectologista paranaense, Dra. Flávia Trench (CRM 12550-PR), afirmando “acho próximo ao impossível ter ocorrido o que a noticia relata, já que um dos profissionais de saúde mais obcecados com lotes, validade, doses e checagens é justamente o profissional de sala de vacina e entendo ser muito pouco prováveis doses vencidas em tantos municípios diferentes”. Bom, a meu ver o melhor do argumento da Dra. Trench é o que diz respeito aos “tantos municípios diferentes”. Acredito que isto explica bem a questão do delay de registros municipais. É bem mais logico entender que caso houvesse ocorrido a distribuição de um lote vencido, este teria ido para, apenas, uma única localidade. Este foi apenas o exemplo que mais chama a atenção neste momento. Contudo, a disseminação de narrativas perversas se multiplica país afora, espalhando a insegurança e o receio por receber o antivírus administrado pelo PNI - Plano Nacional de Imunização e atrapalhando o processo de vacinação da população acarretando, inclusive, o surgimento de novas variantes, como só ocorre num ambiente de pandemia.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Maravilhoso Mundo Novo

Sempre e desde jovem alimento o prazer de visitar livrarias e bibliotecas pesquisando obras que sejam do meu interesse. Aliás, recordo que nos meus impulsos de consumo literário cheguei a comprar livros que terminei sem ler por falta de tempo ou pela perda simples do interesse pelo tema. Ocorre que fui incentivado logo na infância ao habito da leitura. Minha finada mãe sempre dizia “conheça o mundo através da leitura”. Aquilo ficou gravado na minha memoria até hoje. De fato “viajei” mundo afora através das boas leituras que fiz na vida. Aliás, não raramente visitei lugares com a sensação de que já os conhecia, fruto dessas minhas leituras. Durante a pandemia da Covid-19 e obrigado pela reclusão social passei a rever minhas estantes selecionando alguns livros para reler. Muitos desses tratei de separar doando, em seguida, a algumas bibliotecas de subúrbios, através dos colaboradores do meu condomínio. Ficaram, aparentemente, contentes. Mas, o mais interessante a registar, nesse tempo de viver medidas sociais restritivas, é minha adesão, quase compulsiva, de visitar as livrarias virtuais e adquirir e-books para meu deleite. Venho me esbaldando com leituras e releituras construtivas, através do iPad. Ainda em 2020, nos primórdios momentos do dendicasa li, pela terceira vez, O Príncipe, de Maquiavel. Percebi como foi interessante e como foi possível descobrir novas nuances na famosa obra relacionando-as, de forma objetiva, com situações politicas do mundo atual. Chega a ser fascinante. Outros autores antigos com os quais me reencontrei foram Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Contudo corri depressa para conhecer autores atuais e, entre esses, destaco e recomendo Yuval Noah Harari, um historiador israelense que, de forma inteligente e didática perfeita, desenhou o mundo que está por vir. Sua obra “21 Lições para o Século 21” deve ser lida por todo mundo.
Enfim, neste post de hoje a intenção é dar realce ao fato de que a Pandemia da Covid-19 acelerou as tendências de uso do mercado digital e editoras e livrarias não perderam tempo por capitalizar essa oportunidade. As vendas de e-Books e áudiolivros (outra opção formidável) que já vinha ocorrendo com crescente popularidade passaram a dar saltos mais altos e, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o crescimento das vendas no ano de 2020 foi estimado entre 50% e 100%. Isto sem falar que entre 2016 e 2019 foi constatado um avanço de 115%. É uma marca fantástica e digna de observação. Eu, pessoalmente, comemoro tudo isto e acrescento o fato de que de agora pra frente vou me livrar de um tremendo incômodo que é o de acumular livros e mantê-los a salvo das pragas comuns, tipo traças, insetos e cupins que adoram fazer suas, digamos, “leituras gastronômicas”. Fui vítima de cupins! Agora, já montei minha biblioteca virtual. Curto revê-la, vez por outra. Ao mesmo tempo, vou descartando meus velhos livros para que, quando for chamado para prestar contas ao Papai do Céu, não deixar uma herança inconveniente. No meio disso tudo é divertido ouvir de amigos e amigas que preferem ainda o livro no formato físico. Que gostam de sentir o cheirinho do papel ou da tinta da impressora, num livrinho novo em folha. Desculpem, com meus devidos respeitos, são meus amigos “dinossauros”. Vou esperá-los no Maravilhoso Mundo Novo!Já os filhotes e netinhos desses dinosauros estão tendo a vantagem de ler mais, dado ao fato de que manejam com maestria as geringonças eletrônicas modernas. Nota: A foto/ilustração foi obtida no Google Imagens.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Pura Ironia

Mesmo adotando todos os cuidados e até publicando recente post, vide http://gbrazileiro.blogspot.com/2021/06/clicando-com-cuidado.html , com recomendações profissionais precisas fui roubado pela Internet, nesta semana. Nada que me quebre financeiramente é verdade. Mas, revoltante. Desafortunadamente, não se pode viver em paz nesse mundo cibernético. O caso foi como conto a seguir: tive que solicitar uma segunda via de pagamento que atrasei por um único dia. Entrei no site do credor (Banco Safra) e de forma rápida e cheia de presteza fui atendido por um hacker fazendo-se de atendente do citado banco. Inocente, recebi do bandido uma fatura atualizada e prontamente paguei. Passados alguns dias o credor legítimo, o Safra, passa a me cobrar – de modo insistente, pouco amistoso e irritante – o pagamento em aberto. Voltei a conversar com o meu verdadeiro credor e fui informado de que eu havia sido enganado por um invasor do site oficial. Surpreso, argumentei sentir-me lesado ao navegar num site inseguro de um Banco tido como sólido. De nada valeram meus argumentos. Encurtando a história, fui notificado e ameaçado de cartório de protesto, seguido de uma cobrança absurda de multa e juros com data urgente de pagamento, incluindo até mesmo honorários advocatícios. Vejam só que loucura! Como me julgo estar numa idade tal que se eve evitar estresses paguei outra vez o que, para mim, já estava pago. Fiquei no prejuízo. Simples assim! Serviu de experiência. Amarga, claro. Localizar o culpado e adotar medidas adequadas seria outro nivel de estresse. Como se diz popularmente: “mais tem Deus pra me dar”. O que mais me causa surpresa é de que um Banco de solidez comprovada não tome os cuidados devidos de monitorar suas atividades on-line e proteger seus clientes. Imperdoável. Detalhe curioso foi que uma das atendentes afirmou-me que esse meu caso não era o primeiro e coisa semelhante vem ocorrendo frequentemente. Bom, pelo visto, não será o último. Fiquei injuriado. Se você, prezado leitor ou leitora, for cliente desse banco abra os olhos! Embora disponha de Tecnologia e Legislação não administram como devido. Questão de inteligência gerencial. Vejam vocês, os gatunos cibernéticos estão de plantão a um clique. Podem influenciar eleições, derrubar economias e governos, além de semearem discórdias na vida cotidiana. Segundo estudos recentes, nestes tempos de pandemia as chamadas Fakes News e os assaltos online aumentaram mais do que em dobro.
Segundo a Kaspersky, empresa especializada em segurança de dados, o Brasil foi, em 2020, campeão mundial em phishing (crime de enganar as pessoas para que compartilhem informações confidenciais como senhas e números de cartões de crédito). Campeonato mais bisonho! Coisa de quem vive a busca de ser sempre campeão em tudo. Ficou a frente de Portugal, França, Tunísia e Guiana Francesa, que formam o quinteto de territórios com o maior índice de roubos de dados pessoais. A coisa, no Brasil, se intensificou na ordem de 120%, nesses tempos de pandemia, catapultado pelo uso da internet em diversos propósitos, o crescimento do uso do Internet Banking (meu caso pessoal), das compras por internet e a busca de noticias sobre o Coronavírus. Fui lesado, sim. Pura ironia. NOTA: Ilustração colheida no google imagens

terça-feira, 15 de junho de 2021

Rixa Rançosa

Dois episódios recentes conseguiram jogar luzes na velha e lamentável rixa fraticida que insiste perdurar entre argentinos e brasileiros. O Presidente argentino, Alberto Fernández, Foto a seguir, numa infeliz fala, em visita oficial a Espanha, resolveu ofender brasileiros e mexicanos ao afirmar que “os brasileiros vieram da selva, os mexicanos das tribos indígenas e nós argentinos chegamos de barcos oriundos da Europa.” Nada mais danoso para as relações entre os hermanos latino-americanos. Ora, além de revelar certa ignorância sobre História das Américas, foi imperdoável para um Chefe de Estado querer se vangloriar de uma origem nada diferente das dos irmãos que ofendeu levianamente. Poucos dias antes, o argentino Papa Francisco (Foto abaixo) se saiu com outra infeliz referência aos brasileiros ao dizer, em meio a uma audiência coletiva, no Vaticano, que a Covid-19 grassa solta no Brasil por conta de “muita cachaça e pouca oração”. Até Tu Francisco! Coisa feia! Por ironia, passamos a ouvir em seguida, no noticiário internacional, que a peste recidivou severamente na Argentina e medidas cautelares mais rígidas foram adotadas. Bom, as duas personalidades porteñas viram-se obrigadas a pedir desculpa ao Brasil e aos brasileiros. Danado é que sujeiras mesmo que verbais dificilmente se apagam. Que jeito?
Curioso foi que na fala do Presidente Fernández vi uma explicação melhor para uma afirmação popular, das antigas e que ouvi desde criança, segundo que, para os argentinos “brasileiros são macaquitos”. Sempre estranhei essa coisa e até havia olvidado por bom tempo devido, inclusive, pela intimidade que construí com o meio argentino. Sim, gosto muito da Argentina. Andei por lá incontáveis vezes. Mas, honestamente, sinto-me ofendido como comum cidadão brasileiro.
É ilusão pensar que nossas diferenças se resumem às disputas de futebol e que nossos dois povos vivam em “lua-de-mel”. Na prática, não são raras as agressões e, por vezes, ofensivas entre cidadãos de ambos os lados. Muitas vezes provocam estremecimentos nos negócios – que são muitos e cheios de potencialidades – ou nas relações politicas. Um dos exemplos mais marcantes dessa “briga” se deu na final do Campeonato Mundial de Futebol, em 2014, realizado no Brasil, cuja final foi entre Argentina e Alemanha. Não obstante o trauma histórico dos 7 x 1 que amargamos dos germânicos, dias antes, o Brasil torceu pela vitória alemã num tremendo insulto aos hermanos argentinos. Aquilo me chocou e foi um episódio taxativo. Mas, devo dizer que, pessoalmente, tenho a Argentina e os argentinos num nível de alta estima. Sinto-me em casa ao desembarcar as margens do rio da Prata, ao sentar-me nos cafés de Buenos Aires e nas alturas dos Andes, quando em Bariloche. Ah! Saborear um Malbec mendocino, em Mendoza, tem sabor especial. Quantos aos porteños não alimento qualquer tipo de queixa – embora haja sofrido algum deboche, no passado – porquanto mantenho excelentes amizades. Pessoas cultas, amáveis e alheias às essas diferenças de empobrecimento cultural e continental. Lembro que como integrante de missões oficiais brasileiras, durante a montagem do Mercosul, estimulamos o espirito da boa vizinhança no sentido de fortalecer o Bloco e prepará-lo para alguns enfrentamentos que, por sinal, hoje experimentamos. Lamento que ainda perdure o ranço da disputa por um espaço no qual cabe os dois lados de modo cômodo, salutar e benéfico para as duas bandas. Finalmente, registro por oportuno e com saudades, de um estadista brasileiro que faleceu no fim-de-semana passado e que muito trabalhou pela paz e o progresso entre os dois países, o pernambucano Marco Maciel. Foi um autentico artífice do Mercosul. Vide celebre frase dele na coluna a direita, em Para Reflexão>

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...