Por sete
anos estive fora do carnaval no Recife. Este ano, por recomendação médica,
permaneci por aqui. Não sai de casa, mas, fiquei de olho na TV assistindo de
“camarote” o que se desenrolava na cidade, em Olinda e no resto do Brasil.
Raros foram os momentos que me tocaram. Pode ser coisa da idade ou decepção com
o que restou da nossa folia já que o carnaval do Recife foi desvirtuado, virou
um grande negócio, sobretudo para os chamados “atravessadores” que atuam
indiscriminadamente e sem ética junto às autoridades de plantão, que igualmente
são parte interessada em altas negociatas.
O bom carnaval de rua que prosperou nos anos 90 foi explorado de forma adversa e o que era bom se transformou numa avalanche de insegurança. Os que se arriscam no ímpeto da folia estão sujeitos a sofrer violências das mais diversas. A camarotização é o melhor testemunho desse processo. Ora, o gostoso é cair na folia, sem medo de ser feliz, brincar os quatro dias e lamentar a chegada da quarta feira de cinzas. Agora, meter-se num camarote (já passei por isto) disputar espaço pra ver “a banda passar” é desvirtuar a folia gostosa e relaxada. Há blocos que não se arriscam a entrar no miolo da atual festa. Isto é lamentável.
Se isto ocorre no Recife, lá em Olinda a coisa ficou mais difícil. Não ouvi falar, nas reportagens que assisti, sobre os desfiles de Pitombeiras e Elefante, dois blocos de alegoria tradicionais. Lembro que num passado não muito distante isto era a maior atração da velha Marim dos Caetés. Desfilavam tranquilos e a repercussão era garantida. Hoje, não. A cidade foi invadida por foliões escrachados cujo objetivo é beber, beber até cair e “brincar” agredindo os foliões autênticos com gestos e atitudes obcenas. Este ano, uma turista italiana fotografa, desejando documentar a folia, arriscou ir a Olinda no sábado à tarde – recomendei essa hora por ser supostamente mais tranquilo depois do arrastão da manhã no Galo do Recife – e não passou mais de meia hora. Mal entrou na cidade, ficou abismada com o comportamento de alguns ao assistir surpresa uma agressão a uma jovem que reagiu a abordagem de um folião afoito. Não acreditou, também, ao ver os muros da História pernambucana servindo se urinóis. Apressada, pediu ajuda a um policial que a acompanhou até onde conseguir um taxi. Coitada, imaginou coisa parecida com o carnaval em Veneza.
Entre as poucas coisas que me tocaram, lembro-me da saída do calunga “O Homem da Meia Noite” em Olinda. Naquilo vi a tenacidade de um grupo de olindenses que se orgulha de preservar uma tradição e realizar um autentico carnaval pernambucano. Infelizmente não sai mais acompanhado de carros alegóricos por conta da massa humana que se espreme no bairro de Guadalupe a espera da saída, a meia-noite do sábado. É impressionante aquela multidão. É preciso ser corajoso, ter resistência e muita vontade para entrar naquela onda.
Uma coisa ficou clara para mim, nas minhas apreciações: o carnaval do Recife virou uma sucessão de shows de bandas e artistas de fora. A multidão não faz outra coisa senão postar-se de pé, diante de um palco de colorido atrativo e assistir o desfilar de cantores contratados a “peso de ouro”. E neste item é exatamente que reside minha critica maior. Há alguns anos me surpreendo com essas contratações absurdas, em detrimento aos valores locais. Se perguntarmos a alguém, no meio da multidão no Marco Zero do Recife, vamos descobrir que o interesse maior é assistir a apresentação de algum artista de fora. Aqui pra nós, é uma lástima esta nova cultura local. Vai para o carnaval do Recife para ver J. Quest, Rappa e um tal de Johnny Hooker, que não sei de onde saiu. Aliás, soube que este último é recifense e já coleciona alguns prêmios de interpretação e composição. O nome é ridículo, o gênero musical não tem nada a ver com nosso carnaval e, para completar, apresenta indumentárias pra lá de duvidosas, mesmo sendo carnaval.
Quer ver outra coisa? Conversei com uma conhecida que foi ao Bal Masquê do clube Internacional só para ver Ivete Sangalo e Claudia Leite juntas. Ou seja, o tradicional baile recifense, o mais antigo do Brasil, virou um show de cantoras baianas. Veja se na Bahia chamam cantores pernambucanos para animar a folia. De jeito nenhum!
Minha última observação: percebi que o carnaval de rua no Rio e em São Paulo pegou de vez. Amigos paulistas foram explícitos em me dizer que já não precisam vir ao Recife e Olinda para curtir um bom carnaval de rua. Pura verdade!
Cada vez mais estou decepcionado com essa nova cultura local. Que carnaval é este?
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.
O bom carnaval de rua que prosperou nos anos 90 foi explorado de forma adversa e o que era bom se transformou numa avalanche de insegurança. Os que se arriscam no ímpeto da folia estão sujeitos a sofrer violências das mais diversas. A camarotização é o melhor testemunho desse processo. Ora, o gostoso é cair na folia, sem medo de ser feliz, brincar os quatro dias e lamentar a chegada da quarta feira de cinzas. Agora, meter-se num camarote (já passei por isto) disputar espaço pra ver “a banda passar” é desvirtuar a folia gostosa e relaxada. Há blocos que não se arriscam a entrar no miolo da atual festa. Isto é lamentável.
Se isto ocorre no Recife, lá em Olinda a coisa ficou mais difícil. Não ouvi falar, nas reportagens que assisti, sobre os desfiles de Pitombeiras e Elefante, dois blocos de alegoria tradicionais. Lembro que num passado não muito distante isto era a maior atração da velha Marim dos Caetés. Desfilavam tranquilos e a repercussão era garantida. Hoje, não. A cidade foi invadida por foliões escrachados cujo objetivo é beber, beber até cair e “brincar” agredindo os foliões autênticos com gestos e atitudes obcenas. Este ano, uma turista italiana fotografa, desejando documentar a folia, arriscou ir a Olinda no sábado à tarde – recomendei essa hora por ser supostamente mais tranquilo depois do arrastão da manhã no Galo do Recife – e não passou mais de meia hora. Mal entrou na cidade, ficou abismada com o comportamento de alguns ao assistir surpresa uma agressão a uma jovem que reagiu a abordagem de um folião afoito. Não acreditou, também, ao ver os muros da História pernambucana servindo se urinóis. Apressada, pediu ajuda a um policial que a acompanhou até onde conseguir um taxi. Coitada, imaginou coisa parecida com o carnaval em Veneza.
Entre as poucas coisas que me tocaram, lembro-me da saída do calunga “O Homem da Meia Noite” em Olinda. Naquilo vi a tenacidade de um grupo de olindenses que se orgulha de preservar uma tradição e realizar um autentico carnaval pernambucano. Infelizmente não sai mais acompanhado de carros alegóricos por conta da massa humana que se espreme no bairro de Guadalupe a espera da saída, a meia-noite do sábado. É impressionante aquela multidão. É preciso ser corajoso, ter resistência e muita vontade para entrar naquela onda.
Uma coisa ficou clara para mim, nas minhas apreciações: o carnaval do Recife virou uma sucessão de shows de bandas e artistas de fora. A multidão não faz outra coisa senão postar-se de pé, diante de um palco de colorido atrativo e assistir o desfilar de cantores contratados a “peso de ouro”. E neste item é exatamente que reside minha critica maior. Há alguns anos me surpreendo com essas contratações absurdas, em detrimento aos valores locais. Se perguntarmos a alguém, no meio da multidão no Marco Zero do Recife, vamos descobrir que o interesse maior é assistir a apresentação de algum artista de fora. Aqui pra nós, é uma lástima esta nova cultura local. Vai para o carnaval do Recife para ver J. Quest, Rappa e um tal de Johnny Hooker, que não sei de onde saiu. Aliás, soube que este último é recifense e já coleciona alguns prêmios de interpretação e composição. O nome é ridículo, o gênero musical não tem nada a ver com nosso carnaval e, para completar, apresenta indumentárias pra lá de duvidosas, mesmo sendo carnaval.
Quer ver outra coisa? Conversei com uma conhecida que foi ao Bal Masquê do clube Internacional só para ver Ivete Sangalo e Claudia Leite juntas. Ou seja, o tradicional baile recifense, o mais antigo do Brasil, virou um show de cantoras baianas. Veja se na Bahia chamam cantores pernambucanos para animar a folia. De jeito nenhum!
Minha última observação: percebi que o carnaval de rua no Rio e em São Paulo pegou de vez. Amigos paulistas foram explícitos em me dizer que já não precisam vir ao Recife e Olinda para curtir um bom carnaval de rua. Pura verdade!
Cada vez mais estou decepcionado com essa nova cultura local. Que carnaval é este?
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.