Comecei a semana passada indo ao Rio de Janeiro, numa missão de trabalho, para participar de mais uma rodada de discussões no bojo do projeto Integra Brasil, promovido pelo Centro das Indústrias do Ceará – CIC e que teve lugar na sede do Banco do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. A pauta central do encontro teve como objetivo colher opiniões de empresários, representantes de governo e estrangeiros a respeito do Nordeste, na atualidade. Por lá passaram executivos de empresas brasileiras de sucesso e que atuam no Nordeste, executivos do Governo Brasileiro, membros da Academia e representantes de entidades Internacionais.
Foi contagiante ver os executivos da Agrícola Famosa, da Cosmética Boticário e dos Magazines Luiza falarem dos respectivos projetos no Nordeste e nos frutos que colhem. O primeiro, atuando no interior do Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, é hoje o maior produtor mundial de melão (variadas espécies), maior exportador nacional do produto e, cheio de entusiasmo, bendizer o Sol da região, que lhe proporciona colher frutos dos mais saborosos e que atendem aos paladares mais exigentes dos Estados Unidos, Europa e Oriente. O representante d’O Boticário, por sua vez, revelou-se satisfeitíssimo com o desempenho da sua marca no Nordeste, presente em milhares pontos de venda, inclusive nas mais simples localidades. Com uma grande central de distribuição na Bahia, a marca vem fazendo a cabeça dos nordestinos, com produtos ecologicamente corretos e de fama internacional, O Boticário é maior produtor do gênero no país e o nono no ranking mundial. No final do bloco de depoimentos empresariais, Dona Luiza, fundadora e presidente dos Magazines Luiza, discorreu, com brilho e muita energia, sobre sua satisfação de haver entrado no mercado nordestino, após comprar a rede de varejo Lojas Maia, originária da Paraíba. Pelo que disse está vendendo “adoidado” nas praças onde se instalou. Fez menção aos Programas Minha Casa, Minha Vida e ao complementar Minha Casa mais Bonita, sob a tutela do Governo Federal, que vem expandido de modo impressionante suas vendas na Região. Colecionei muitos números dessas empresas, mas, resolvi não incluir, propositalmente, neste artigo para, ao contrário disso, manifestar-me preocupado com a seguinte linha de pensamento: embora entendendo que o Nordeste tem que ser visto como um mercado em expansão, graças principalmente à política de inclusão social, com a Bolsa Família, Bolsa Gás, programa de habitação popular e respectivo aparelhamento doméstico, entre outros, por que os empresários locais não têm tido oportunidades de crescer? Não é intrigante? Bancos regionais, não existem mais. As grandes redes de supermercados desapareceram com o passar dos tempos, sendo tragadas, inclusive, por grupos estrangeiros. A Ypióca não é mais dos cearenses. D. Luiza veio com todo gás (ela parece ser cheia disso) e numa lapada certeira “matou” a grife das Lojas Maia. Um advogado de visão empresarial fechou a banca de advocacia no interior paulista e se meteu no meio da aridez do interior potiguar e com pequeno investimento inicial implantou a maior produtora de melão do mundo, graças a uma moderna tecnologia da irrigação. Não satisfeito somente com o melão, diversificou e já produz banana, maracujá, melancia e, pasmem, produz aspargo da mais alta qualidade.
Fica claro que falta aos empresários regionais a competência de quebrar paradigmas de produção tradicional, deixando espaços que só são vistos pelos empreendedores alienígenas. Preservar até morrer as tradições culturais, o renitente padrão da empresa familiar, alimentar o temor de arriscar num contexto econômico moderno e não saber recorrer aos programas de incentivos governamentais, que terminam favorecendo quem vem de longe, parecem ser o padrão do empresariado regional. Um agressivo programa de incentivo ao empreendedorismo para mudar essa “psicologia” da inércia cairia bem sobre os esses protagonistas de negócios. Sobremodo nas novas gerações. Que os coordenadores e promotores do Integra Brasil estejam atentos a este viés.
O restante da rodada de discussões no BNDES ainda contemplou momento para os representantes do Governo que, como de se esperar, desdobraram-se para “vender o peixe” de Dona Dilma. Patéticos os que se referiram às obras de infraestrutura, como se tudo estivesse em franco progresso. Patéticos porque pareciam ser desinformados. Sem comentários.
Por fim, no espaço reservado aos depoimentos estrangeiros, o destaque ficou com o Professor Ignacy Sachs, um estudioso da questão nordestina, que causou certo impacto ao não trazer (aparentemente) um discurso preparado e, ao invés disso, jogar na cara da plateia uma pergunta contundente: “como está a reforma agrária do Nordeste?” Imaginem a surpresa de todos. Houve um silencio sepulcral... Seguido de alguns poucos comentários sem bons argumentos. Esta foi a Pauta Nordeste, no Rio de Janeiro, em 19 de agosto de 2013.
NOTA: O Blogueiro participou do evento como representante do
Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Mecânicas de Pernambuco (SIMMEPE) e do
Centro das Indústrias de Pernambuco (CIEPE)