sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

BOAS FESTAS

O ano chega ao fim, mas, antes uma pausa a calhar para festejar o tempo do Advento culminando com o Natal de Jesus. Nada mais oportuna para que aproveitemos a chance de reflexões e dar um balanço no ano que termina. Não foi um tempo dos mais fáceis. A pandemia da Covid 19 dominou, com altos e baixos, indo, voltando e sempre assustando, durante os doze meses. Começou, inclusive, o ano provocando o cancelando do carnaval brasileiro e deixando o povão sem o lenitivo anual da folia. Muitos nomes importantes partiram para a eternidade deixando a cena artístico-teatral mais pobre, entre os quais lembramos do formidável Jô Soares, da corajosa Elza Soares e da magnífica cantora Gal Costa. Em paralelo algo inesperado eclode no leste europeu quando Vlademir Putin, tirano presidente russo, resolve invadir a Ucrânia e detona uma guerra sangrenta com justificativas ainda recheadas de controvérsias e até abalando o mundo com ameaças de ataques nucleares. Para completar, no âmbito doméstico, o ano foi dominado politicamente pela eleição presidencial mais disputada da História e no “apagar das luzes” uma Copa do Mundo que passou sem que o nosso sonhado Hexacampeonato fosse viabilizado. Paciência, porque o ano acabou. O Blog do GB procurou sempre estar atento e, quando oportuno, registrando cada momento, repercutindo cada fato e comentando os mais variados episódios geradores de noticias. Num post final, então, e aproveitando o oportuno momento do balanço anual, o mais importante que resta é agradecer aos amigos e amigas, bem como aqueles que por simples interesse ou curiosidade visitaram o Blog e prestigiando-nos com seus comentários. Foram muito brasileiros e inúmeros estrangeiros que acolheram nosso convite de visita e contribuíram de modo efetivo para que chegássemos a um número de acessos que, agora, se aproxima à casa dos 1.150.000. Efetivamente, não se trata de nenhuma coisa extraordinária quando comparando com similares. Contudo, em se tratando de um espaço planejado para algo mais intimista se torna uma marca a ser festejada. Por fim, é hora de desejarmos FELIZ NATAL e um venturoso Ano Novo de 2023. Que nosso Bom Deus e a figura do Menino Jesus ilumine cada momento dos nossos leitores e leitoras. Que tenhamos um Novo Tempo mais promissor, mais Humano e repleto de Paz, Generosidade com o Planeta e mais Solidariedade entre os povos. BOAS FESTAS! Por oportuno, anunciamos que o Blog entra em recesso, prometendo voltar em meados de janeiro ou a qualquer momento que algo sugira um comentário de destaque.

domingo, 11 de dezembro de 2022

O Sonho Acabou

O que mais tenho ouvido e visto as redes sociais, nesses dias de ressaca da derrota do futebol brasileira, pela seleção da Croácia, na Copa do Catar/2022 é que “o sonho acabou”. Sonho da conquista do hexacampeonato mundial. Acho, inclusive, curioso como a coisa toma corpo e contagia negativamente a população, sobretudo a nova geração. Vi jovens garotos chorando revoltados, após as cobranças dos pênaltis fatais. Aliás, o mundo assistiu aos próprios jogadores canarinhos vertendo copiosas lágrimas ainda em campo. (Foto a seguir) Chega a ser inacreditável. Não entender que no esporte um dia se ganha e noutro se perde, parece ser coisa impossível para um brasileiro. Faz parte do jogo, meu Deus. Alguém tem que perder, para que outro ganhe.
“Ah! Mas perder em cobranças de pênaltis” é uma vergonha, ouvi de alguns após o jogo com a Croácia. São pessoas que esquecem que já fomos campeões depois de uma rodada nervosa de cobranças de penalidades máximas, em 17/07/1994. Depois de empate em zero a zero, no tempo normal e na prorrogação, com a Itália, o Brasil venceu por 3 x 2 e foi Tetracampeão Mundial. Foi um feito histórico no domínio do futebol. A equipe era fantástica sob o comando de Carlos Alberto Parreiras. Os meninos jogaram com corpo e alma. Dessa vez recente não deu. O sonho acabou ali mesmo na monumental cancha do Catar. Parecia mentira, como pareceu mentira o episódio dos 7 x 1 impostos, dentro de casa, pela seleção alemã, em 2014. Bom... o episódio recente se projetou quando, com a vitória faturada na prorrogação com um belo gol de Neymar, a moçada relaxou e deixou a Croácia empatar. Foi ali, que “a casa caiu”. Faltava pouco tempo e as cobranças de pênaltis era iminente. O resultado foi cruel, para quem esperava a grande vitória. Toró de lágrimas de norte a sul e de leste a oeste, em Pindorama. Reconheçamos que é impressionante como a cultura legada pelas gerações passadas criou essa reação, natural para muitos, mas que, no final das contas, enraizou-se no meio social criando uma espécie de síndrome da revolta coletiva do derrotado. Uma revolta que se expressa das mais diversas formas porque, uma coisa é certa, criticar e buscar os culpados é coisa rápida e simples. Fácil, fácil... e, no Brasil, ser oposição é até um bom passa-tempo. Foi o jogador tal, ou foi o treinador? Quem errou e onde errou? As criticas e os memes nas redes sociais não param de crescer e se multiplicar. O jogador Neymar Jr. e o treinador Tite estão sendo crucificados a toda hora. São criticas bem fundadas? Vale à pena avaliar. O brasileiro precisa aprender que em futebol, ou noutro esporte qualquer, saber disputar e ter competência é coisa fundamental. “Foi pra chuva, tem que se molhar”. Viver dos louros do passado pode ser inútil. Cada jogo é um jogo. E cada Copa do Mundo é uma nova oportunidade de provar a competência. Um coisa, porém, tem que ser ressaltada: vai ser cada vez mais difícil formar uma seleção brasileira como as do passado. Vamos e venhamos, há uma diferença brutal entre nossos jogadores de hoje quando comparados com os nossos craques dos anos 60, 70, 80 e 90. O que vemos atualmente são figuras vaidosas, bilionárias e repletas de interesses pessoais, incapazes de se integrar, de corpo e alma – como exige o futebol – numa equipe formada às pressas e de última hora sem os devidos treinos. O resultado é que sem espirito de equipe e dependente de um figurão, Neymar neste caso, ao qual se atribui a responsabilidade maior, a situação se complica e dá no que dá. Futebol é esporte de equipe! Como recordar é viver vale lembrar que felizes fomos como campeões, cinco vezes, graças às valorosas pernas de jovens talentos, alheios aos salários milionários que hoje são pagos e habituados a formar equipes maduras e responsáveis. Nenhum ostentava joias caras, penteados e tatuagens de gostos duvidosos, carros possantes e caros, mansões fabulosas, mulheres exuberantes, aviões particulares e nem exigiam mordomias extravagantes dos patrocinadores. Claro que existe exceções da parte de alguns, mas isto não justifica o exibicionismo aviltante de alguns. Vergonhoso. Esses dias de ressaca uma foto, exibida nas redes sociais, é emblemática (vide a seguir) que mostra a simplicidade de uma velha equipe campeã se preparando para uma Copa. Jamais, esses rapazes de hoje, se sujeitariam a isso.
Aí pergunto: como ser campeão com uma formação tão viciada em mordomias extravagantes e vaidades absurdas? Como ser campeão contando com jogadores que sequer vivem no Brasil e que pouco apego manifestam ter pela camisa verde-amarela? Está difícil. Não tem sonho que se realize. Pensando bem, não adianta sonhar. Nota: Fotos obtidas no Google Imagens e na rede social.

sábado, 3 de dezembro de 2022

A Pátria de Chuteiras.

Já se vão bons anos desde que li, o hoje clássico, “A Pátria de Chuteiras”, da autoria do meu ilustre conterrâneo Nelson Rodrigues. Ninguém soube traduzir tão bem o latejar da alma brasileira e sua relação simbiótica com o futebol. O Cara era um gênio em cima de uma Olivetti que, suponho eu, não acompanhava à altura a cascata de imagens geradas por uma mente tão arguta. Rodrigues foi, para mim, o mais brasileiro dos brasileiros ao saber expressar, com competência e amor febril, o ardor patriótico que lateja na alma dos habitantes de Pindorama face às campanhas da seleção canarinha defendendo as cores da camisa verde-amarelo. Chegou ao ápice das suas observações quando disse se tratar de uma “pátria de chuteiras”. Acho esta imagem uma ideia brilhante. Pena que teve de nos deixar antes de jornadas brilhantes do pós-tri. Rodrigues faleceu em 1980.
Bom... o homem morreu, mas as imagens que desenhou continuam vivas e repetidas com frequência. Inegavelmente, esses dias de Copa do Mundo, no Catar, fora do seu habitual calendário, veio em boa hora para acalmar a Nação recém-saída de um traumático momento politico que a dividiu e esfacelou relações das mais sólidas - dentro e fora do plano político-partidário – e, por felicidade, vem despontando como uma solução oportuna de restaurar a união e apascentar os ânimos renitentes de partidários que ainda não atentaram para o fato de que a pátria ainda calça chuteiras. De repente, o verde-amarelo e o pavilhão nacional, pouco antes bandeira partidária, “reinventa-se” como flâmula de torcedor. Em boa hora, pois, os brasileiros amarraram as chuteiras e, tal como surfando numa onda de “hexapensamentos”, desengasgam os gritos de gols, há bom tempo, acumulados. Nesta semana decisiva, o Blogueiro acompanha atento aos embates que se desenrolam nas franjas do deserto, sofrendo e torcendo a espera de reviver grandes momentos de jornadas passadas. Simbora minha gente! Calcemos nossas chuteiras e juntos vamos ao Hexa! NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens.

domingo, 27 de novembro de 2022

Deu o PIX

“Ôpa, doutor, tomei conta do seu carro! Descole aí um trocado pr´ajudar no leite das crianças”. Foi o que escutei do flanelinha diante da Farmácia, onde estacionei meu veículo e fiz uma compra. Avenida de grande movimento, aqui no Recife. “Tá ruim rapaz... estou sem trocados para te ajudar”, respondi apressado. “Ôxe, doutor, ninguém mais tem trocados, não. Por isso, eu já tenho Pix! Dinheiro trocado sumiu e, se não me cuidar, vou morrer de fome”. Voltei-me surpreso e perguntei qual a chave do Pix: CPF, CNPJ ou Celular? Sei lá... As coisas andam tão “organizadas” que surpresas podem rolar. O flanelinha não teve dúvidas e me passou um número de celular. “É seu número?” Perguntei curioso porque afinal... “Não senhor. Este número é do meu primo. Ele vai recebendo os trocados e depois me paga”. Meio duvidando perguntei qual o valor mínimo para fazer minha contribuição. Que jeito... A resposta foi imediata: “ôxe, doutor, pode ser até de Um Real. O senhor que sabe...” O mais curioso é que foram dois casos seguidos da falta de dinheiro trocado. Na Farmácia a mocinha do caixa rejeitou minha cédula de Cem Reais, por falta de troco. Pediu que o pagamento fosse realizado com cartão de crédito ou com Pix. Triste de mim se não fosse um portador dessas modernidades. Fiz um Pix na Farmácia, outro para o flanelinha, acionei meu carro e voltei dando “tratos à bola” para assimilar aqueles episódios. Sobretudo o segundo. Chegando ao sagrado recôndito do meu lar fui catar por onde andava um cofrinho plástico no qual, há anos, venho depositando moedas que recebo de trocos ao longo de muitas ocasiões. Modo de não abandonar por qualquer lado. Pesado de moedas – tem um formato de um botijão de gás de cozinha – abarrotado até a fresta de inserção dos depósitos, segurei-o como quem segura e admira algo raro e precioso. O que fazer com aquela “fortuna”? Pensativo e, sem duvidas, maravilhado com a “velocidade do andor na procissão”, acalmei minha alma e comecei a pensar no que fazer com essas raridades? Distribuo aos pedintes ou flanelinhas desprovidos de Pix? Troco por mercadorias numa farmácia? Num supermercado? Uma coleção de moedas antigas? Este é o meu dilema.
Enfim e pelo visto, antevejo que, do modo como as coisas avançam, como a moeda nacional se desvaloriza e a tecnologia da informática caminha veloz, muito em breve, serei cobrado em criptomoedas, nas farmácias e pelos flanelinhas. Que assusta, assusta. O cidadão comum e o brasileiro, particularmente, não estão preparados. Conheço muitos que ainda reagem e detestam a Internet, o telefone móvel e a automação das atividades mais banais. NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Garantia de Qualidade

Quem me conhece mais de próximo deve observar minha paixão por vinhos. É minha bebida predileta. Sobre vinhos embarco num bom sabor, numa aroma embriagante e numa história contagiante. Toda bebida tem, por trás do prazer de degustá-la, uma descrição da sua origem e a maneira como se produz. Com o vinho, além de ser rica no seu gênesis, envolve episódios sempre empolgantes e, algumas vezes, palpitantes. Já li muita coisa sobre o tema e já fiz questão de ir conferir in loco vários desses contos. Lembro-me de belas visitas a vinícolas na Europa, Chile, Argentina, Austrália, sul do Brasil e África do Sul todas com histórias formidáveis a serem lembradas. Contudo, nada me rendeu tanto prazer e acentuada dose de orgulho nas oportunidades em que visitei – nas condições de executivo de Governo ou turista – as vinícolas do Vale do São Francisco, entre os estados de Pernambuco e Bahia. Desconfiado a principio, acostumei-me ver brotando do solo árido da Caatinga nordestina as mais seletas das uvas, muitas das quais transformadas em vinhos finos, vinhos espumantes e sucos naturais de uva. Tenho, portanto, especiais motivos para falar sobre isto, neste post de hoje. O Polo Vitivinícola do Vale do São Francisco - muitas vezes lembrada como sendo a California Brasileira - que reúne uma quase dezena de vinícolas daquela região ocupa uma área de mais de 10 mil hectares localizados nos municípios pernambucanos de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista e dos baianos Casa Nova e Curaçá. Dali, fantástico registrar, sai 99% da uva de mesa exportada pelo Brasil. Outro detalhe que sempre me apraz mencionar é o fato de que o polo de produção se destaca por ser o único do mundo que consegue colher duas safras por ano. Ocasionalmente pode ocorrer até duas e meia. A história conta que tudo começou por volta dos anos 60 quando, numa decidida vontade governamental, fortes investimentos promoveram a implantação de perímetros de irrigação aproveitando as águas do rio. Dali para frente, e o que hoje se desfruta, foi uma sequência ininterrupta de passos â direção do progresso. O vinho despontou logo cedo com as uvas plantadas nas terras da Fazenda Milano e sua Vinícola Vale do São Francisco, produtora da consagrada marca Boticelli. A partir daquele ponto, a produção de vinhos se espalhou pela região sempre de modo animador. O carro-chefe da produção são os espumantes (3 milhões de litros/ano), seguidos dos chamados vinhos tranquilos (1,5 milhão de litros/ano) que podem ser consumidos a qualquer tempo e devido às características de vinhos jovens, aromáticos, frutados e com gosto do sol do nordeste. Meu entusiasmo hoje se dá em decorrência de uma histórica etapa vencida pelos produtores dessa região vitivinícola que foi a recente conquista da primeira Indicação Geográfica de Vinhos Tropicais do Planeta. Concedido pelo Instituto da Propriedade Industrial (INPI), em 1º de Novembro recente, é motivo de imenso orgulho não somente para o Vale, mas também para o Brasil por se tratar da primeira região tropical do mundo a receber tal indicação. Foi um processo demandado, a cerca de 20 anos, pelo Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), instituição privada, sem fins lucrativos que reúne produtores viticultores e vitivinícolas da região. Os referenciais que deram suporte à concessão são equivalentes aos adotados pela União Europeia, o que confere padrão de segurança e qualidade na produção regional. A previsão é que os primeiros vinhos com a Indicação de Procedência (IP) estarão no mercado a partir de 2023, depois de passarem pelas análises exigidas e pelas sessões de avaliação sensorial às cegas, etapas fundamentais para que o vinho possa receber o selo.Garantia de Qualidade, portanto. (Vide imagem do selo lá em baixo) Vamos ficar de olho nas marcas: Bianchetti, VSB, Miolo/Terranova, Garziera, Boticelli, Cereus Mandacaru, São Braz e Rio Sol.
A proposito do assunto, conversei com o empresário José Gualberto de Freitas Almeida (Boticelli), Presidente da Vinhovasf e da Valexport que manifestou seu júbilo e destacou que “este é um momento histórico e muito esperado pelos vitivinicultores da região, em especial aqueles estabelecidos no Vale do Submédio São Francisco.” Lembrou, também, que organismos como a EMBRAPA, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) desenvolveram papeis relevantes no processo de conquista do IP em questão.
A feliz conquista dessa IP de agora aponta para um novo tempo de progresso para o Vale Vitivinícola do São Francisco, bem como poderá exercer forte atração a novos investidores nacionais e estrangeiros. Bons tempos estão por vir. Brindemos com um espumante nordestino! NOTAS: Fotos obtidas no Blog de Ana Claudia Thorpe e no Google Imagens. A imagem do selo foi antecipada pela Vinhovasf.

domingo, 13 de novembro de 2022

Rouxinol Encantado

Decorria o ano de 1973. Uma inquietação coletiva dominava a sociedade brasileira, oprimida pela dureza da ditadura militar, que se mostrava cada vez mais sufocante. Sem dúvidas, foi uma época na qual vivi momentos dos mais agitados da minha juventude. Passei o ano inteiro e alguns meses seguintes vivendo em São Paulo, enquanto cursava uma pós-graduação de Economia, na USP, foco destacado de movimentos politico-culturais dos mais vibrantes da vida brasileira. Para lá corriam as mais brilhantes cabeças pensantes do país que se juntavam às lá nascidas para expressivos gritos de liberdade e protestos ao regime militar reinante, prestes a completar seus dez anos de vigência. Decidido a viver a vida e buscando a cura para uma rebordosa afetiva entreguei-me, de corpo e alma, ao desvario da paulicéa. Foi paixão a primeira vista que, aliás, alimento até hoje. Se o movimento politico dinâmico-estressante era tônico, resistente e sempre presente, o mesmo – sem a variável estressante – era de se registrar quanto a desenvoltura cultural daquela metrópole. Bom... havia uma mescla de tudo que um estudante nordestino precisava para viver uma rotina sonhada e muito desejada. Além de tudo parecer novo, era fascinante. A meu ver, outro Brasil. Menos provinciano e mais futurista. Um lugar onde tudo acontecia e determinava os rumos nacionais. Foi um tempo, por exemplo, em que eclodiam nomes cujos propósitos eram de reescrever a nova musica popular brasileira. São doces recordações em momentos de “choque” como os vividos na semana finda, com a repentina “promoção” à eternidade da musa da Tropicália dos anos 70, a notável Gal Costa.
É sobre Gal que dedico este post semanal. Maria da Graça Penna Burgos Costa, nasceu em Salvador (BA) em 26.09.1945. Desde jovem descobriu seu caminho de cantora e resultou num dos mais estrondosos sucessos da música nacional e internacional. Sua presença num palco era pura adrenalina. Essa “promoção” à eternidade deixa o mundo artístico mais pobre e carente de explicações sobre essa infausta ocorrência. Por que tão cedo...? Sem tempo para se despedir, Gracinha partiu e provocou um vazio somente preenchido ao fazermos rodar seus sucessos gravados nos diferentes aparatos eletrônicos do mundo moderno. Minha escolha foi, a proposito, pelos velhos LPs da vida de antanho. Neste momento de lamento, lembro-me agora da minha primeira visão do furacão Gal, naquele 1973, quando corri para assistir ao show de lançamento do seu revolucionário álbum Índia num teatro paulista. Não recordo qual, exatamente. Plateia lotada, ingressos disputados e oferecidos por cambistas na entrada. Consegui um bom local e pude assistir quase no gargarejo. A estrela entra e abala o público. A canção tema era a velha e muito explorada por nossos avós. Quem não conhecia de antes (pouco provável) passou a solfejá-la dia e noite a partir dali. “Índia teus cabelos nos ombros caídos/ negros como a noite que não tem luar...” Gal começou num tom baixo e quase murmurante. Na repetição da execução, subiu uma ou duas oitavas (dobro da frequência da voz) e atacou com sua possante garganta. Na poltrona, onde alojado, senti certo tremor e fiquei esperando um desafino. Puro engano... o que assisti foi algo que me levava a crer ser impossível. Não era um ser humano a cantar. Era uma voz cortante e vibrante. Aliviado com o sucesso, fechei os olhos e pensei ouvir um rouxinol cantando. Coisa admirável. Inesquecível. Desde então aprendi a ouví-la potente e capaz de fazer mágicas sonoras sem “parea”, como se diz no meu nordeste, acreditando ter fôlego e desenvoltura. Se a voz era aquele deslumbre irretocável o mise-en-scene exibido era outro ponto de destaque. Jovem e cheia e vida, Gal, aos 28 aninhos de vida, se esbaldava na plástica que ostentava. Trajando modelo audacioso e resumido, a baiana mostrava o que é que a baiana tem, de uma vez por todas. Ela capitalizava o que um corpo feminino tem de mais ousado e fascinante. Suada, ao fim do show, a testa era uma cascata umedecendo a vasta cabeleira encaracolada que, inutilmente, tentava esconder os mamilos entumecidos da musa, sintonizada eroticamente com um público em êxtase. Haja competência... Na saída do teatro comprei uma fita cassete, com as musicas da exibição, e voltei para casa ouvindo no toca-fitas do meu fuscão. Lembro que a fita ficou sendo rebobinada incontáveis vezes e aquela noite ficou gravada na minha memória, para, sem planejar, relatar nesta postagem de hoje. Detalhe: a capa do álbum Índia foi motivo de rolo com a censura da ditadura, devido ao apelo erótico da foto. O LP e o cassete eram vendidos com uma capa extra e o comprador só a retirava depois de adquirido. Fuxico grosso, à época. Vide a foto a seguir.
Gal Costa me proporcionou outros maravilhosos momentos quando assisti suas apresentações talvez mais vibrantes, dada a maturidade da mulher e da voz. Uma ocasião foi no Rio de Janeiro (Teatro dos Quatro – Shopping Gávea – 198...), oportunidade em que o vozeirão explodiu em Festa no Interior e Brasil, Mostra Tua Cara. No Recife, onde ela se apresentava com frequência, vi Gal no Teatro do Parque, numa das edições do Projeto Seis e Meia, final dos anos ´70. Além dessas musicas mais celebradas e cheias de movimentos, Gal nos presenteou com paginas musicais que marcam minha memoria de admirador da musa. Entre essas me lembro de três bem especiais: Chuva de Prata (Ed Wilson e Rinaldo Bastos) Um Dia de Domingo (gravada com Tim Maia) e Nada Mais (versão da musica Lately de Stevie Wonder). Agora, como manda a natureza, nosso Rouxinol se Encantou. Resta sua obra e sua memoria. A Internet nos ajuda com esta memoria. Clique, por exemplo, em: https://www.letras.mus.br Lá você vai buscar As quinze melhores músicas de Gal Costa, musa da Tropicália- Letras. NOTA: Foto ilustrativa colhida no Google Imagens e arquivo particular.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Passagem Árdua

Passados oito dias das eleições gerais, sobretudo para presidência da republica, volto a ativar meu papel de blogueiro para tecer poucos comentários a respeito da passagem árdua que se travou no passado recente. Indiscutivelmente, pode ter sido a eleição mais disputada que já se travou no Brasil. Pelo menos no meu simples conhecimento. Verdade se diga que, de modo absoluto, nunca havia sido registrado uma disputa tão acirrada entre as correntes rotuladas de esquerdistas e direitistas e de modo tão intenso. Num clima de democracia reinante e em tempos de sociedade cibernética abriu-se uma intensa disputa eivada de desacatos, insubordinações, depreciações pessoais brutais resultando numa divisão social como nunca antes verificada. Acrescente-se ainda que, além de uma Nação dividida e perplexa, foi flagrante e preocupante a disputa institucional nas bases administrativas da República numa luta desenfreada pelo domínio do Poder. Resumo da ópera: uma intensa guerra de narrativas contraditórias desunindo o que parecia impossível desunir, numa sociedade exaurida e saturada de tanto desandar. Uma coisa, porém, é certa e jamais será negado: foi uma prova de fogo para uma democracia ainda carente de amadurecimento. Aos que me seguem e me conhecem tenho um argumento que diz bem das minhas posições politicas: não vejo, de fato, uma verdadeira divisão entre esquerdistas e direitistas. Ao invés disso volto a enxergar a indecente e renitente luta pelo poder e por defender interesses pessoais de uma velha oligarquia – desde tempos imperiais – que tratam de garantir a acumulação da riqueza em poucas mãos e que, disfarçadamente, trata de preservar a manutenção de uma sociedade cuja base da pirâmide social é composta de pobres, “pobres de marré, marré”, que inutilmente alimentam, numa eleição como a da semana passada, o sonho de vencer na vida. Vide ilustração a seguir. Naturalmente, que os oligarcas que me refiro sequer se enquadram no alto dessa pirâmide. A esses o Imposto de Renda não aperta e suas riquezas estão bem guardadas nos bancos suiços.
Eventuais defensores dos pobres que assumem ou assumiram o Poder têm sido facilmente contaminados pela ganância da riqueza e esquecem as promessas feitas aos pobres patrícios nas enganadoras campanhas. Corruptos e mercenários se alternam no poder e nunca resolvem as deficiências sociais endêmicas e gritantes espalhados pelo “gigante pela própria natureza”. Não alimento esperanças para os próximos quatro anos. Com eles já experimento amargas lembranças nos mais distintos níveis. Pobre Brasil! NOTA: Ilustração colhida no Google Imagens.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Irresponsabilidade Profissional

As eleições do domingo passado (02.10.22) como de se esperar provocaram, no antes e no depois das urnas apuradas, uma onda interminável de discussões e opiniões das mais diversas, divergentes e exacerbadas, típicas do Brasil dividido politicamente desde 2018. Surpresas não faltaram. Vencedores (e semivencedores) comemorando, derrotados em desespero e parte significativa da sociedade incrédula diante dos resultados. Incrédula, sobretudo, em face das discrepâncias grosseiras entre os números prognosticados pelos institutos de pesquisas e a realidade saída das urnas. Em 21 estados e no Distrito Federal muitas dessas discrepâncias foram conferidas. Indiscutivelmente, as pesquisas eleitorais que antecederam ao pleito deste ano revelaram um retrato de incompetência dos vários institutos que se prestaram a um autentico desserviço à sociedade. Digno, aliás, de revolta e desprezo geral. A rigor um crime social, se é que podemos considerar assim. Afinal, a sociedade tende sempre a se pautar por esses números que são levados a publico. Nada bateu certo e todos que se habilitaram estiveram bem distantes do que na realidade se confirmou na noite do domingo. No item das diferenças percentuais entre os dois principais candidatos à Presidência da República, então, foi uma verdadeira desmoralização. Enquanto o resultado proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral cravaram numa diferença de apenas 5,23 pontos percentuais, importantes institutos de pesquisas (Ipec/Globo, Datafolha, Ipespe, entre outros) haviam calculado diferença na casa dos 14%, com margens de segurança elevadas. Mais do que isso, chegaram a prever a vitória do ex-presidente Lula no primeiro turno. Vamos e venhamos foi uma baita surpresa porque afinal, e neste caso especifico, a diferença entre 5,23 e 14% é uma coisa fora de discussão. O candidato Lula com sua militância viu-se obrigado a abortar a festa da vitória armada na Avenida Paulista, em São Paulo. E aos pesquisadores coube a desventura amargar as ácidas criticas da sociedade e, se brincar, devem ter enterrado suas caras no massapê do brejo mais próximo que acharam.
Pessoalmente confiei em alguns números apontados e dei como certo um resultado que ao final não se confirmou e, pelo contrário, andou bem distante do que esperei. Desapontado recordei que, por força do meu oficio, pautei minha trajetória profissional realizando pesquisas sérias e estudos nelas baseados que até hoje alimentam uma crença inabalável no oficio de pesquisador. Ao longo dos anos perdi a conta das pesquisas para quais tive que estabelecer termos de referências técnicas, estudar a natureza do meio a ser pesquisado, checar as estratégias de segurança, operacionalizar o levantamento da base informacional e analisá-la devidamente. Tudo com responsabilidade profissional, para servir a uma sociedade que me remunerava para tanto. Desse modo confiei cegamente no que projetaram para essa eleição de domingo. Constatar, hoje, que esses institutos de pesquisas eleitorais podem ter atuado de modo irresponsável ou blefando contra uma sociedade carente de segurança se tornou para mim numa das mais cruéis das decepções. As pesquisas das eleições majoritárias – presidente da republica, por exemplo – foram as mais expostas e são as que mais estão em discussão. Pior, contudo, deve ter sido para candidatos a cargos legislativos que alimentaram ilusões de vitórias, baseados em pesquisadores irresponsáveis, quando no final amargaram derrotas. Pagaram pela incompetência de profissionais que visaram tão somente faturar, aproveitando a oportunidade apresentada pelo mercado. As desculpas que formulam estão longe de serem assimiladas e o estrago tende a se ampliara diante das iniciativas de processos judiciais que formalizam e, até mesmo, a instauração de uma CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito, na Câmara Federal para apurar mais a fundo por onde passam os verdadeiros interesses, bem como identificando os interessados por tamanha atrocidade. No meu humilde entender, porque não sou especialista na área, foi um crime de lesa-pátria. De uma coisa estou certo: este nefasto imbróglio dificilmente será esquecido e esses irresponsáveis amargarão um profundo desprestígio no mercado de trabalho. Lembro que essa fase de pesquisas eleitorais tem seu tempo e sua ocasião. Fora esse momento de eleições os institutos de pesquisas ou os pesquisadores autônomos sobrevivem realizando pesquisas de outras naturezas, entre as quais as de opinião pública e as de mercado. Eu não teria coragem de encomendar uma pesquisa mercadológica das potencialidades do meu produto a um desses irresponsáveis. No lugar deles estaria revendo os valores profissionais da empresa e da minha equipe, as atitudes éticas e os instrumentais metodológicos. Só para começar. E para o Segundo Turno das eleições nem quero saber dos prognósticos. NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens

sábado, 1 de outubro de 2022

Noite Tenebrosa

Para quem já viveu bom tempo de vida e acompanhou episódios políticos surpreendentes e muitas vezes indesejados, ainda se surpreende e estranha o baixo nível dos quadros políticos nacionais, ao assistir a um debate televisivo como o de ontem à noite (29.09.22), no qual se confrontaram os candidatos à Presidência da Republica. A três dias do grande pleito eleitoral, quando sairão eleitos Presidente, governadores estaduais e legisladores dos níveis estadual e federal, o país parou diante das telinhas de televisão na expectativa de ver o que os candidatos prometiam e se comprometiam. Ao final do embate, em plena madrugada, restou-me a sensação de haver assistido a uma surreal película cinematográfica, mal dirigida e com personagens saídas de um manicômio. Foi uma noite tenebrosa. Pior, uma sensação de futuro incerto e assustador. Decepcionado com tanta “porcalhada” exibida recordei que, por oficio, trabalhei tenazmente, durante mais de quarenta anos, buscando contribuir para construção de um país digno e seguro para meus filhos, netos e descendentes. Resultado foi que tive uma noite mal dormida e marcada pelas incertezas que rondaram celeremente na minha mente cansada e perplexa.
Surpreendeu-me mais ainda, ao amanhecer, escutar opiniões parciais e ingênuas até, de analistas políticos ou diversos curiosos que consideram haver ocorrido sucesso num ou noutro candidato e que o episodio fortaleceu o sistema democrático hoje vigente. Ouvi elogios inclusive à presença de um candidato Padre ou um travestido de Padre sobre o qual prefiro não perder tempo tecendo comentários. Infelizmente estamos à mercê de uma geração de formadores de opinião desonestos e pouco comprometidos com as próprias responsabilidades profissionais cujas intenções parecem ser, tão somente, incutir falsas ideias nas cabeças de uma sociedade saturada de sofrer e sem esperanças de dias melhores. Destarte, é preocupante pensar ser governado por um daqueles tipos tão despreparados como os vistos, ao vivo e a cores, “rasgando sedas” e “jogando pérolas aos porcos”, mentindo sem pudor e sem medo de expor o nome do Brasil no ambiente internacional, que somente aconteceu. Quase me enfio debaixo do sofá quando uma candidata disse que existem, hoje no Brasil, 130 Milhões de crianças órfãs de pais que morreram divido à pandemia da Covid-19. Ora, meu Deus, num pais de algo em torno de 230 Milhões de habitantes essa conta tem que estar errada. O IBGE que se cuide. Outra coisa inacreditável que escutei foi de que naqueles cinco minutos de entreveros, tête-a-tête, de dois dos candidatos “três mil árvores haviam sido derrubadas na Floresta Amazônica”. Abismado, fiquei imaginando que naquela velocidade de destruição, ao amanhecer a principal noticia da imprensa seria de que a destruição da Floresta estava prestes a ser concluída. Mas, eu seria injusto em afirmar que não ocorreram propostas de governo. Apesar da danação e despautério, ocorreram sim. Mas, essas, lamentavelmente, foram prometidas por candidatos com poucas chances de vitória e, por isto mesmo, abusaram da oportunidade de jogar irresponsavelmente para o publico suas ideias, a meu ver, inexequíveis e verdadeiras quimeras. Zerar as dividas dos inadimplentes, criar um imposto único nacional, equipar todos os hospitais públicos – sem exceção – com toda sorte de equipamentos modernos, alocar médicos nos rincões mais remotos do país e transformar todas as escolas publicas do país em escolas de tempo integral foram exemplos de belas propostas declamadas. Com os devidos ajustes e exequibilidades poderiam servir de boas referencias para os que “perigam” sair vencedores. Estes, contudo, só tomaram seus tempos de uso da tribuna para se agredirem e darem demonstrações de imaturidades politica e republicana. Coisas, aliás, que certamente desconhecem pelo que proporcionaram aos, segundo estimativas publicadas, 70 Milhões de telespectadores. Neste domingo de 2 de Outubro de 2022, não nos resta outra coisa senão fazer uma opção. Que jeito... Nada garante ser uma opção acertada. Bom seria que houvesse a opção do NENHUM DESTES. Difícil, porém, seria recomeçar o processo. Mais do que nunca se exige do eleitor o cumprimento do seu mais importante papel de cidadão, que é exercer o voto e, ao menos, fortalecer a democracia. Se for verdade de que “é errando que se acerta” vamos tocar pra frente. Que noites tenebrosas como a de ontem, nunca mais se repita.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Voto Consciente

Fui cobrado por leitora do Blog para adotar um posicionamento a respeito do próximo pleito eleitoral brasileiro. Pela maneira da cobrança chego a acreditar que posso até parecer um alienado em relação às atuais démarches politicas do país ao não explorar o tema com mais efetividade neste espaço semanal. De fato, venho evitando adotar publicamente uma posição a favor de um/a ou de outro/a candidato/a e ter que mergulhar numa vibe de campanha que não é propósito deste Blog, ao menos desta vez. Ando decepcionado com tudo que vejo ultimamente. Garanto, contudo, que já fiz minhas escolhas e tenho cá minhas preocupações devido ao clima de animosidade partidária reinante, em decorrência da polarização exacerbada, bem como quanto ao resultado que emergirá das urnas. Considero que estamos diante de um expressivo desafio político. Desafio duro, até mesmo, para o regime democrático. Acrescento ainda que entre minhas preocupações, a depender do resultado final, venha a se dar o recrudescimento da disputa insana entre o bem e o mal, hoje instalada, levando o país a um estágio socioeconômico nada favorável, face as atuais demandas nacionais. A interminável luta pelo poder deteriora qualquer plano de Governo. Outra preocupação que me ocorre é observar que a grande maioria do eleitorado nunca esteve tão perplexa e, segundo alguns críticos, sem sequer ter ideia segura do número de candidatos que deve eleger esquecendo, sobretudo, das escolhas dos futuros legisladores estaduais e federais que, a meu ver, podem ser os principais atores políticos a serem escolhidos. São estes que traçam os caminhos a serem seguidos pela sociedade. Para mim são eles que mandam e desmandam. É tudo muito complexo e lamentável. Resumo da ópera: corre-se o risco de se perder mais uma oportunidade de colocar o país nos adequados trilhos da Ordem e do Progresso. Almejo que cada eleitor ou leitora tenha consciência e entenda o papel importante que desempenha e pense na coletividade. Que não venda seu voto, que saiba escolher um candidato com condições reais de representá-lo/a e lute de forma republicana pelo bem da sociedade. Posso não atender a cobrança da minha leitora, mas estou tranquilo com minha consciência. Tomara que ela também esteja. NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Fim de Uma Era

A temporada de verão do Brasil, em 1968, começou com uma grande novidade: a Rainha da Inglaterra, Elizabeth II, agendou uma visita oficial ao país. No imaginário popular essa coisa rendeu milhões de fábulas e quimeras. Aqui no Recife essa coisa se tornou um fascínio sem precedentes, inclusive porque a cidade seria o primeiro ponto de parada da Monarca britânica. Os preparativos se desdobraram meses e dias para a grande recepção que se daria à ilustre visitante, apesar das poucas horas da visita.
Quando falo de imaginário popular refiro-me ao tradicional culto aos ares de nobreza que, sem perceber e ainda hoje, povoam as cabeças plebeias dos brasileiros, desde o berço, quando os recém-nascidos são tratados como “príncipes” ou “princesas”. Essa coisa, indiscutivelmente, faz parte da cultura dos habitantes de Pindorama. E não fica por aí! A meninada cresce sempre ouvindo histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, incutindo um traço de pensamento arraigado e que se transmite por gerações de modo continuo. Todo pai orgulhoso ou toda mãe vaidosa, no Brasil, exibe seu rebento novinho com um “chegue ver meu príncipe!” ou “venha ver minha princesinha!”. Pode ser herança dos tempos do Império, também, mas que acontece assim, isso acontece. Foi nesse clima e aura ambiente que Elizabeth II aterrissou na cidade numa bela e ensolarada tarde de novembro de 1968. Já reinava por aproximadamente quinze anos. Eu já era um sujeito amadurecido, cursando uma universidade, apoiando os movimentos de oposição à ditadura militar “reinante” no país, que tendia endurecer e perseguir de maneira inclemente o cidadão que falasse em democracia. Foi justamente o ano do AI5 e o General Costa e Silva ocupava a cadeira principal da Praça dos Três Poderes, em Brasília, de modo totalmente “poderoso”. A visitante foi chamada, por muitos, de fascista e monarca decadente, sem poder qualquer e num cargo anacrônico, em pleno século 20. Lembro que quando alguém queria denigrir um politico sem prestigio ou um detentor de cargo sem poder efetivo era logo comparado à Rainha da Inglaterra, que, segundo muitos, fazia um papel decorativo.
Muito embora tudo isso, a população entrou na vibe da visita real e fez bonito para receber Sua Majestade. Aqui no Recife, o pernambucano se encheu de orgulho – coisa comum na gente da minha terra – porque a cidade estava como primeiro ponto de parada na programação de visita. Lembro, aliás, com saudades, de ver minhas irmãs mais novas cheias de entusiasmo e olhos brilhando sob a perspectiva de ver de perto a Rainha da Inglaterra. Com razão, porque afinal de contas não era qualquer um que podia ver de perto uma Rainha. Esperavam certamente uma daquelas dos contos de fadas que cresciam escutando. Alguma coisa teria de ser feita para matar os desejos das manas. Chegado o dia D, o Governo do Estado decretou feriado local e colocou todas as facilidades para que a população fosse às ruas saudar Elizabeth II. Noticiou-se, à época, que cerca de 200 mil pessoas foram receber a visitante. Bandeirinhas do Brasil e do Reino Unido em punhos, estudantes e populares não mediram esforços para ver de perto uma rainha em carne e osso, no trajeto entre a Base Aérea do Recife e o Palácio do Campo das Princesas (Eita!), sede do Governo Estadual, no Centro do Recife. Eu também fui para Avenida Boa Viagem (posicionei-me no muro do casarão de um tio) pra ver a Rainha passar. Com uma Yashica em punho documentei o Cortejo Real bem de próximo. Hoje lamento não saber onde foram parar essas fotos que bem poderiam estar ilustrando este post. Claro, que tive o cuidado de levar comigo minhas irmãs e irmãos menores para assistir ao desenrolar daquela história. Sem dúvida foi uma visita histórica e marcante na sociedade. Divertido, foi saber depois, que muitos sonhavam em ver passar uma rainha com manto, coroa e cetro. Viram passar, num carro aberto, uma Senhora com traje comum e sóbrio, ao lado do governador biônico da ocasião. “ Lá vem a Rainha!”, “cadê, cadê?!!!” “Ôxe, é aquela mulé?” “ E cadê a coroa dela?”. “Acho mais bonita e melhor ver Dona Santa, Rainha do Maracatu, no carnaval, gente!”. Que decepção ... Hoje com a noticia da morte de Elizabeth II, no 8 de setembro de 2022 recente, essa história é revisitada e se repete na mídia que não cessa de render homenagens à mais longeva monarca que se tem conhecimento. Aos 96 anos Elizabeth II deixa um legado histórico, reconheça-se, invejável. Encerrou uma Era Histórica.
Foi-se a Mulher e surge um Mito. Teve a altivez e a coragem de reinar até a última hora. Com altos e baixos não cedeu um instante sequer. Cedeu, acredito que esperneando, à fatídica Senhora Morte à qual ninguém consegue resistir. Poderia ter renunciado bem antes a favor de Charles – agora Rei Charles III – mas, não. Preferiu deixá-lo de molho. Dizem as línguas ferinas que matou de raiva, por longos anos, a hoje “Rainha” Consorte, Camila Parker Bowles, pela qual Elizabeth não nutria grandes simpatias. Aliás, em matéria de descendência e aderentes, Elizabeth II teve que amargar muitos perrengues. Marido, Irmã, filhos e netos não pouparam a velha Senhora coroada. O caso da Lady Di , naquela tumultuada relação com o atual Rei e seu acidente fatal em Paris, foi certamente o mais emblemático. Quase derrubou a popularidade da monarca. Reagindo rápido, no capítulo final da Historia de Diana, cedeu e conseguiu se equilibrar. Agora acabou. Mais de 70 anos de uma Era que chega ao fim. Escreveu uma longa História. Encerro meus comentários de hoje sem tratar dos episódios políticos que a Monarca teve de protagonizar. Seria impossível neste espaço semanal. Lembro, contudo, que o Reino Unido, onde sol nunca se punha, e a ela foi delegado, já não é o mesmo de sete décadas passadas. Encolheu consideravelmente. E Elizabeth não pode fazer muita coisa. Muito bem! Que repouse em paz. E, Rainha morta? Rei Posto! God bless the King! NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Democracia é o tema

Defender a Democracia parece ser o fado da sociedade brasileira ao longo da sua História. É inegável que motivos justos não faltam em face das investidas – algumas bem sucedidas – que já levaram o país a viver ondas de intranquilidade e perspectivas incertas. Sou de uma geração pós-guerra provavelmente a mais fustigada por ameaças desse tipo. A Guerra Fria no domínio da politica internacional, as reações regionais e locais terminaram por conduzir a sociedade internacional a severas e dolorosas lições de regimes pouco desejados. Perderam-se vidas e inteligências preciosas. No Brasil foi duro viver no denominado Estado Novo (1937-45), regime ditatorial de Getúlio Vargas, na democracia disfarçada do mesmo, nos anos 50, e no período da Ditadura Militar (1964-85). Passada a fase negra e restaurada a Democracia, a partir de 1985, com a vitória de Tancredo Neves numa eleição realizada num Colégio Eleitoral, o Brasil vem esperneando na busca de equilibrar seu regime democrático a duras penas conquistado. Campanhas e lutas intermináveis se repetem até hoje e registros históricos estão postos à disposição da sociedade por meios analíticos dos mais diversos.
Agora, na perspectiva das eleições gerais (Presidente, governadores estaduais e distrital, senadores, deputados federais e estaduais), no próximo dia 2 de outubro, novamente as forças antagônicas se mobilizam e investem acirradamente, em nome da Democracia, com propostas dirigidas, em larga escala, a um universo de sociedade perplexa e alimentando esperanças de tempos melhores. Nada disso, contudo, vem sendo apontado como possibilidades nas propostas de governo dos candidatos que se cansam de repetir suas já cansadas retóricas de campanhas. Não percebem que o interesse do cidadão comum não é comungar das suas insaciáveis sedes de poder, mas sim vislumbrar possibilidades de ocupar um lugar digno num mundo acima do que habita, onde não haja famintos, desempregados, analfabetos, idosos abandonados, preconceito racial, entre outros desvalidos. Num processo social espúrio, como só ocorre, argumentos ideológicos de Politica se multiplicam com, quase sempre, inúteis e duvidosos formatos, confundindo o menos esclarecido que, lamentavelmente, forma a grande parcela do eleitorado. Para completar o voto vira moeda de troca e é comum ser posto a leilão, nas periferias e cafundós do país, onde os mais poderosos economicamente sempre pagam melhor e sufocam candidaturas promissoras e democráticas de raiz. Pior, grande parte do eleitorado termina sem saber em quem votou porque na hora da sessão eleitoral o que importa é quanto faturou vendendo seu voto. Pesquisas oportunas mostram que uma maioria expressiva já não sabe ou não se lembra do candidato ou candidata a quem deu seu voto no pleito anterior. Resultado é que fica difícil e bem remoto pensar numa verdadeira Democracia devido à forma como o processo ocorre historicamente. Segura mais essa Brasil! NOTA: Foto obtida no Google Imagens

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Sociedade Cambeta

O titulo pode ser um exagero, mas, vai este mesmo. Os mais jovens talvez nunca tenham visto ou ouvido falar do termo cambeta. Poderão entender se, porventura, deem-se ao trabalho de ler esta postagem até o final. Vamos lá. Faz bem pouco tempo que nos surpreendemos com o vandalismo cometido por ladrões inescrupulosos contra o Parque das Esculturas, no Marco Zero do Recife, onde o artista-escultor, pernambucano, Francisco Brennand deixou uma das suas mais importantes obras, saudando a chegada do século 21. Roubaram inúmeras partes ou peças inteiras daquela monumental coleção, um orgulho para todo Pernambuco, que terminaram derretidas nas pequenas e clandestinas fundições que existem nas redondezas do Grande Recife. Uma lástima e, certamente, um golpe execrável nos meios artísticos nacionais. Polêmica instalada em torno do fato e findou numa inútil busca pelos culpados. Sociedade revoltada responsabilizando as autoridades pela falta de segurança e pela falta de zelo com o patrimônio público deu em nada. Puxa daqui e empurra para acolá o governo local arranjou verba e tratou de recuperar o Parque. Dinheiro do contribuinte, claro. Como os malfeitores ficaram anônimos e, por conseguinte, livres das penalidades cabíveis voltaram a agir, recentemente, praticando novas barbaridades e, para não variar, tendo como objetivo saquear obras históricas do Recife. Na semana passada levaram uma imensa placa de ferro fundido, instalada por mais de 100, na velha ponte Mauricio de Nassau, contendo inscrições históricas sobre a referida construção – primeira ponte urbana construída na América do Sul – que liga os bairros de Santo Antônio e do Recife. Tem sua historia sempre lembrada como a ponte do Boi Voador de Nassau. Datada do século 17 e construída pelo Conde Mauricio de Nassau, que, à época, governava o Brasil Holandês. A construção atual em concreto, não é a original, é mais ampla e melhor disposta, datada de 1917. Com estilo neoclássico abriga quatro imensas belíssimas estátuas nas cabeceiras, representando a Sabedoria, a Agricultura, a Justiça e o Comércio, produzidas em ferro-fundido, na Fundição Val d’Osne, na França. A placa roubada estava, por mais de cem anos, afixada sob a estátua da Justiça. Que ironia. Vide foto a seguir.
A coisa, porém, parece não ter fim. A semana que passou deu-se por falta o busto de ferro-fundido, também, de Frei Caneca, exposto numa praça do centro do Recife, desde 1981. Homenagem ao líder revolucionário pernambucano, ferrenho opositor do Governo Imperial, e um dos promotores da Revolução Republicana de 1817 e da Confederação do Equador. Foi fuzilado por ordem imperial em 1825, no local onde estava o busto roubado, a Praça das Cinco Pontas. Quem não se lembra do roubo da Taça Jules Rimet de Futebol, conquistada após o tricampeonato de futebol mundial da seleção brasileira? Foi roubada do Museu da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no centro do Rio de Janeiro, em 19 de dezembro de 1983, causando um forte impacto de revolta nacional. Sem que fosse resgatada, descobriu-se que os bandidos a negociaram com um comerciante de ouro argentino que a derreteu e “torrou-a nos cobres”. Teria sido uma vingança dos hermanos? Deve ter sido, isso sim, um bom negócio para os gatunos porque, afinal, eram três quilos e meio de ouro maciço! Foto logo abaixo.
O que leva um indivíduo ou uma quadrilha cometer tamanhos absurdos? Fome, maldade, falta de educação e civilidade, covardia, revolta social? Aspectos inexplicáveis, em minha opinião. Saquear um patrimônio público, apagar traços importantes da História de um povo, impunidade, falta de percentimento social, marginalidade, estraçalhar a memória pátria, negar o que de bom foi guardado como herança de uma sociedade, enfim, o que pensar dessa gentalha? Fica claro que as coisas estão sendo muito relaxadas neste país. E, mais uma vez, lembro que falta uma politica pública de Educação que ensine o que significa respeito ao próximo, civilidade, honestidade, sociedade, politica, enfim tudo aquilo que venha a formar cidadãos e sociedade sadia. A proposito, esta semana, estive num evento (Festival Virtuosi de Gravatá) e na abertura foi executado o Hino Nacional. Para minha surpresa uma grande parcela da plateia não se abalou, manteve-se sentada e parecia que escutavam uma marchinha de carnaval qualquer. Um casalzinho de namorados, ao meu lado, sorria e, acredito mesmo, que achava estranha aquela minha postura de pé e respeito ao que se ouvia. Claro, aquilo me chocou profundamente. Minha leitura do momento foi que já não se forja patriotismo e respeito aos símbolos da Pátria como no passado. Resultado está aí: nasce, a olhos nus, uma sociedade cambeta, isto é, manca, cambaleante e coxa. Pobre Brasil, ziu, ziu!

sábado, 13 de agosto de 2022

Seleção de Debochados

Além das futricas politicas rotineiras no nosso quotidiano, uma verdadeira piada de mau gosto ganhou luzes nas redes sociais, desta semana, dando conta de que a Comissão de Esporte da Câmara Federal aprovou um requerimento para criação de um grupo de trabalho destinado a acompanhar a preparação da seleção brasileira para Copa do Mundo de 2022, a se realizar no Catar entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro. Proposta de um certo Deputado baiano que atende pelo nome de José Rocha (União/BA). O parlamentar justificou sua ideia afirmando que “a imagem da seleção está em baixa e, por causa disso, o futebol brasileiro tem se afastado cada vez mais do público. Precisamos então recuperar esse esporte que, além da função social indiscutível que possui, é considerado paixão nacional”. Também pudera, depois do Mineraço de 7 x 1 impostos pela seleção alemã na Copa realizada dentro de casa! Para dar conta dessa nobre missão o grupo deve contar com o empenho de onze deputados. Um time de futebol! Me engana que eu gosto... Para reforçar sua justificativa o parlamentar arredondou que “a proposta desse Grupo de Trabalho é provocar discussões dentro deste colegiado e junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade máxima do futebol brasileiro, como parte de um conjunto de esforços para resgatar a imagem do Brasil como o país do futebol”. Nem precisava dizer, o texto da proposta foi aprovado por unanimidade. Posso imaginar, assim como qualquer brasileiro sério e honesto também, o entusiasmo dessa reunião e a disputa acirrada para a formação do Grupo. É preciso ser muito idiota para não acreditar que o objetivo do Grupo não é nada do que ficou assentado na proposta aprovada. Muito mais fácil, óbvio até, é entender que o objetivo precípuo é o de levar o Grupo ao Catar, para conferir o resulto de tão “grande esforço”, assistir de camarote aos jogos do torneio, com todas as despesas pagas por nós, os babacas contribuintes. Onze “engraçadinhos” formando uma Seleção de Debochados, nas Arábias. Imagino que aqueles que correm risco de derrota nas urnas de Outubro envidarão os maiores esforços para cumprir tão difícil missão e não perder a boquinha.
É lamentável e revoltante viver num país, pobre e lascado, onde tantas corrupções e tramoias parlamentares são cometidas impunemente e acobertadas legalmente, nas barbas do cidadão. Cidadão Eleitor que esquece tudo na hora de exercer seu papel de decisão do próprio futuro e o da Nação, nas urnas eleitorais. Por oportuno, e não querendo ser injusto nas minhas criticas, fui conferir na Legislação as atribuições da Comissão em tela e catar (desculpe o trocadilho!) uma relação entre estas e o que se desenhou para o Grupo recém-criado. Resultado é que nada me garante que haja relação entre as duas coisas, haja vistas que são atribuições da Comissão do Esporte: debater e votar os temas relativos à i) sistema desportivo nacional e sua organização; politica e plano nacional de educação física e desportiva; e ii) normas gerais sobre desporto; justiça desportiva. Não consegui identificar a rubrica orçamentária da Comissão do Esporte, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ou no Portal da Transparência (das aparências?), embora, creia que seja exígua como tem sido em casos de outras dotações e de outras comissões ou pasta administrativa. Curioso, entretanto, é ter a certeza de que comunidades situadas nos grotões do Brasil anseiam por incentivos financeiros e apoios governamentais para desenvolver atividades desportivas entre seus membros, muitos dos quais revelando potenciais habilidades e com concretas possibilidades de se tornarem estrelas nas diferentes modalidades esportivas. Infelizmente, ficam apenas no plano da ansiedade. Ao contrario disto, onze debochados parlamentares prestam-se para compor um “faz de conta” e, por fim, viajar em classe executiva, se hospedar em hotéis babilônicos de Doha, comer e beber do melhor, dispor de um carnê de ingressos à livre escolha para os jogos do troneio, fazer programas de “mil e uma noites” e, se brincar, voltar se mostrando exaustos da “farrinha” parlamentar. Haja verba para custear essa estupidez parlamentar. Tenha dó. Quisera poder votar contra todos esses debochados em outubro. Acorda Brasil! NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens / Charge da autoria de Gazo.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Salve o Negro Brasileiro

Sempre me dei muito bem convivendo com pessoas de cor negra. Acredito que tudo começou na minha infância quando meus pais decidiram matricular-me, aos sete anos, numa escola particular, muito comum à época, onde uma família de negras professoras se dedicavam ao ensino primário. Mudaram-me de um colégio de freiras, no qual pouco progredi embora haja aprendido a rezar muito e onde fiz primeira comunhão. As professoras afrodescendentes, do Externato Santos Cosme e Damião, eram enérgicas e competentes no ensino do “be-a-bá” exigido àquela época. Aluno sempre aplicado fui logo cercado de afetos, admiração e afagos por Dona D´Lourdes, minha mestra, por quase quatro anos. Aquela negra, embora sempre circunspecta, me encantava e me fez perceber os mistérios de um mundo, no qual eu vivia, em que ter pele negra transformava o individuo em cidadão de classe inferior. Quanta dignidade havia naquela família de negras professoras comandando classes cheias de alunos predominantemente de raça branca e com condições financeiras para remunerar a escola que mantinham. Belos aprendizados recebi: formal e cívico Estas reminiscências de hoje são provocadas por lastimáveis episódios que, com frequência, ainda testemunhamos, neste inicio de século 21. Nos dias recentes, aqui no Brasil, dois fatos tomaram conta da mídia e jogaram luzes sobre o renitente preconceito de cor que se vive no chamado estado democrático brasileiro. O primeiro foi o da “mulher da casa abandonada”, numa zona nobre e tradicional da cidade de São Paulo. Virou atração turística. Todo mundo queria saber quem era aquela misteriosa mulher, depois identificada como sendo uma tal de Margarida Bonetti, foragida da justiça norte-americana por manter em regime de escravidão, por 20 anos, uma empegada doméstica. A sujeita não chegou a ser julgada pela justiça americana, não foi presa e, mais do que isso, conseguiu fugir para o Brasil no ano 2000, onde se trancou até hoje no casarão que herdou. Descendente de uma família rica e poderosa da pauliceia exercia a habitual exploração de serviçais negras, tratadas historicamente como um bem de capital. A negra vitima dessa atrocidade vive ainda nos Estados Unidos gozando de cidadania e direitos civis, muito embora as restrições sociais que, como todos sabemos, ainda perduram na Terra de Tio Sam. O outro caso que ganhou espaço no noticiário e correu o mundo foi o da senhora portuguesa que tratou de modo pejorativo e desprezível os dois filhos, adotivos e negros, dos atores brasileiros Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, num restaurante de uma praia nos arredores de Lisboa, onde passam temporada. O caldo engrossou por lá e a atriz Ewbank, desempenhando seu inesperado papel de mãe vigilante e furiosa, enfrentou a agressora de modo direto e, segundo relatos, desferiu um belo tapa na agressora! A portuguesa preconceituosa foi chamada à responsabilidade e está embalada em maus lençóis. Bom, foram dois fatos ocorridos lá fora, embora que corriqueiros no Brasil de agora. Para fechar minha semana, e esta edição do Blog, fui parar no lançamento do terceiro volume da trilogia Escravidão do jornalista escritor Laurentino Gomes. Eis aí uma obra que recomendo ser lida por todos os brasileiros. O autor dedicou-se por anos a uma profunda pesquisa sobre o tema escravidão nas Américas e terminou produzindo três volumes de formidáveis relatos sobre o assombroso regime escravista nas Américas e que arrastou o Brasil ao último país a proclamar o fim da escravidão no chamado Novo Mundo, em 1888, ao contrário de países como México, Chile e Bolívia já o haviam proclamado entre 1818 e 1840. Essa tardia passagem histórica e sua difícil assimilação pela aristocracia escravista prevalecente, à época, num império de “rabo preso” a essas elites resultou na formação de uma sociedade preconceituosa e de tal forma arraigada que, até hoje, em pleno século 21, produz cenas de insanidade, desumanidade e pouco democráticas contra sua imensa população negra.
Estima-se que algo próximo a 5 Milhões de homens, mulheres e crianças foram trazidos da África para o Brasil, como escravos, entre os séculos 16 e 19. Ora meu Deus, impossível pensar que essa população não se reproduzisse e formasse essa multidão, inclusive miscigenada, que provoca tantas controvérsias sociais no atualmente. Laurentino Gomes descreve na sua trilogia uma História apaixonante, dolorosa em certos capítulos, mas, vibrante em termos de registro. Para ele, “a Historia é um instrumento para construção de uma identidade e formação de cidadania”. Concordo. A formação da cidadania brasileira deve aos afrodescendentes suas mais sólidas bases e coloridas nuances. Respeitemos e honremos essa herança. Salve o Negro Brasileiro!

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Quebra Cabeça Brasileiro

É curioso como venho encontrando, cada vez mais, pessoas que se manifestam decididas a não acompanhar o noticiário da mídia nacional dizendo-se saturadas com as avalanches de notícias dramáticas, trágicas e assustadoras veiculadas. Pior ainda, já não querem mais, particularmente, tomar conhecimento dos episódios da vida politica nacional, quase sempre conturbada. Falo de pessoas de considerável nível social. Mesmo avaliando que o dia-a-dia do país – mergulhado numa grande crise sócio-politico-econômica – não possa gerar noticias amenas, como desejadas por todos, não deixa de ser curioso e perceber se tratar de um pensamento em dimensões coletivas. Diante dessa constatação, questiono se se trata de uma postura sadia ou prejudicial sob o ponto de vista social. Ora, numa democracia o que se espera é a sustentação social politizada e bem informada. Caso contrário, nunca haverá sucesso. Na esteira dessa manifestação preocupante, muitas dessas pessoas declaram não suportar Politica. “Não tolero esse mundo politico, não vou votar e, em indo à sessão eleitoral por obrigação, darei um voto nulo ou em branco”. Alguns arredondam a aversão acrescentando que “a Politica só faz atrapalhar a vida do país”. Bom, neste caso é, a meu ver, o extremo da desinformação. Historicamente Politica é parte basilar de uma sociedade. Hoje em dia, no Brasil, o individuo, logo ao nascer e por ocasião do registro civil, já recebe um número de Certificado de Pessoa Física, o popular CPF, que, na prática, já o introduz na vida politica do país. Dali em diante, todos já sabem o que acontece no que tange aos seus direitos e deveres. Não gostar de Politica, ou não acreditar no poder dela é a forma mais rápida de contribuir para a formação de uma sociedade capenga e uma Nação sem estrutura estável. Aliás, porque, ao contrário dessa já imensa parcela social, surgem os que gostam – mesmo sem ter a noção adequada – e terminam praticando a Politica oportunista, arbitrária e maléfica que, quase sempre levam ao caos e à miséria muitas sociedades. O resultado desse quebra-cabeça, no Brasil de agora, assusta e aponta para um estado confuso e inseguro politicamente, carente, por um lado, de uma rede de comunicações honesta e livre de falsas noticias (fake-news) e, por outro, de políticos cientes e comprometidos com as demandas sociais de uma Nação sofrida e saturada pelas instabilidades socioeconômicas provocadas por irresponsáveis postos no topo do Poder. Nota: Foto ilustração obtida no Google Imagens

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Vivendo no Aperto

Como se não bastassem os efeitos devastadores da pandemia no estado da saúde mundial, o panorama internacional está, inegavelmente, bagunçado. Estamos diante de verdadeira convulsão político-econômica global, em face das mal traçadas e maltratadas decisões politicas desta calamitosa safra de lideranças mundiais. Tudo faz, mesmo, crer que o vírus da Covid19 terminou mexendo severamente nas mentes humanas, incluindo as dos que decidem os destinos do planeta. São casos surpreendentes e, sobretudo, desanimadores. Recebi pelas redes sociais uma relação de fatos recentes que confirmam a tese: as peripécias e renuncia de um descabelado Boris Johnson no Reino Unido; a fúria de Putin sobre a Ucrânia; a queda da popularidade de Joe Biden e a inflação galopante nos Estados Unidos; a economia da Alemanha patinando na eminência dos cortes de fornecimento de gás da Rússia; a escassez de matérias primas no mercado internacional; estranho e inusitado assassinato de um prócer politico japonês, entre outros não menos importantes. Neste cenário nem precisa dizer que “o pau está quebrando na cabeça dos mais fracos”. A situação se rebate de modos diferentes e cobra pesado naqueles mais pobres e que menos mandam. Os preços de combustíveis dispararam no mundo inteiro; na Venezuela – já abatida após anos de desmando da governança esquerdista – a população já come lixo ou morre de fome; na vizinha Argentina a inflação passa dos incríveis 60% em doze meses; em vários países europeus os aeroviários fazem greves e instalam verdadeiros caos nos aeroportos, em plena temporada das férias de verão; crise de mão-de-obra (não sei como!) na China, além da falta de matérias-primas e por aí vai. E o Brasil não escapa. Claro. Além da inegável crise politico-institucional reinante neste “trem-fantasma” chamado Brasil, a população vê-se às voltas com as agruras da alta taxa de desemprego, o empobrecimento das famílias e o estresse coletivo gerado pela exacerbada polarização politica na campanha eleitoral do ano. Fora tudo isto, é óbvio, que a inflação – acima de 10% no ano passado – seja o maior motivo das noites mal dormidas do cidadão comum. Uma ida ao supermercado, nesses dias recentes, tem sido um exercício de paciência na seleção de produtos com preços mais acessíveis ou nas frequentes promoções de descontos. Há produtos que, de tão altos preços, são mantidos com embalagem de segurança para evitar ações de clientes mais espertos. O preço da carne, por exemplo, é um desses produtos. Ontem, numa loja de importante rede nacional, fiquei surpreso ao observar, que peças de filé mignon bovino ofertadas são embaladas com um dispositivo de segurança, tipo “pega-ladrão”, somente retirado após registro no caixa de check-out. Vide foto a seguir. Senti um misto de constrangimento e vergonha. Mas, que jeito?
Por acaso, tomei conhecimento hoje dos resultados de uma pesquisa do Instituto FBS Pesquisa, por encomenda da SulAmerica Seguros, dando conta de que a crise da pandemia da Covid-19 abateu de forma agressiva a vida de 63% das famílias brasileiras e que precisaram reduzir gastos drasticamente. Quase metade dos pesquisados garantem viver “apertados” financeiramente. Mais do que isto, constatou-se que aproximadamente 32% da população não dispõem de renda suficiente para cobrir os custos básicos de casa. Despesas inesperadas, nem pensar. Os empréstimos bancários são demandados por quase 40% dos entrevistados e 52% desses estão com pagamentos atrasados. Também pudera, com as taxas de juros e spreads nas alturas, não poderia ser diferente. Felizes estão os banqueiros que deitam e rolam em cima da miséria dos desafortunados. São dados são bem atuais. A pesquisa foi realizada em maio passado, com duas mil entrevistas, via remota, nos vinte e sete estados brasileiros. Tudo indica que o principal vilão principal da onda inflacionária no mundo vem sendo atribuído às altas do preço do petróleo, em meio a guerra da Ucrânia. Aqui no Brasil o problema se torna mais evidente devido a uma série de outros fatores específicos resumidos no conhecido jargão do Custo Brasil. Um deles que mais se destaca, na conjuntura, é a falta de investimentos na infraestrutura do país. Problema crucial. Depender quase que exclusivamente do modal rodoviário torna a estrutura de transporte de bens e simples mercadorias sempre onerosa. Num país continental como o nosso, devido a uma equivocada decisão politica do passado, esqueceu-se de criar uma rede de transporte ferroviário, tal como existe nas grandes nações, que prestassem serviços para troca de mercadorias, matérias primas leves e pesadas, grãos e, por fim, passageiros. Por outro lado, outro modal esquecido foi o do transporte marítimo e fluvial. Com uma costa atlântica de quase 7.500 km.e uma invejável rede de vias fluviais o Brasil explora muito pouco estas vantagens. Grandes portos com terminais alfandegados, situados estrategicamente, e portos distribuidores regionais, a serviço de florescentes empresas de cabotagem a coisa seria outra. Mas, isto pode ser assunto para outra ocasião. A preocupação maior agora é sair do aperto. Tomara que medidas de politicas acertados salvem os barcos à deriva. Nota: Foto ilustrativa da autoria do Blogueiro.

sábado, 16 de julho de 2022

Três Tropeços

O Brasil assistiu nos dias recentes três episódios degradantes que retratam, de modo cruel, uma sociedade deteriorada e, pior, com limitadas perspectivas de adequado progresso. Foram coisas que para mim representam três tropeços sociais de um país que vem deixando de dar atenção devida, ao longo de décadas, aos corretos e necessários programas de desenvolvimento social. Faltam providencias e investimentos para melhorias das áreas de educação, saúde, segurança, assistência social, cidadania, habitação, urbanismo e outros correlatos que possam garantir a existência de uma sociedade minimamente digna e justa. Crianças, jovens e idosos vêm, cada vez mais, sendo penalizados para viver. Melhor dizendo, sobreviver. O primeiro tropeço que listo é o caso da garotinha de 11 anos que grávida, após estupro, teve negado o direito de realizar o aborto, por uma incompetente magistrada de plantão. O caso teve repercussão nacional e terminou sendo revisto. O Ministério Público Federal (MPF) atuou de imediato e, com bases legais, a garota foi submetida à cirurgia de interrupção da gravidez. Hoje, ela se recupera do trauma, com apoio psicológico. Sou frontalmente contra o aborto. E já fiz recentemente matéria manifestando minha posição. Contudo, não deixo de lamentar um episódio dessa ordem e trazer à roda de discussão esse possível direito. Recuperar-se-á mesmo? Mais triste fiquei quando tomei conhecimento de que o estuprador teria sido um priminho da garota com 13 anos de idade. Mais do que isto, fiquei sabendo também que eram namoradinhos! Neste caso, o caso ganha nuances bem discutíveis: teria sido estupro mesmo? Ou foi algo consentido? Certamente que se deram ao prazer de se conhecer melhor! Simples e possível nestes tempos de agora. Naturalmente que se trata de duas crianças pouco orientadas ou acompanhadas pelos cuidados dos pais ou responsáveis. Examinando arquivos sobre o caso, na Internet, deparei-me com uma infinita lista de casos semelhantes. Cheguei à conclusão (parece que tardiamente) ser muito mais comum do que se imagina estes episódios, entre crianças e membros familiares resultando em casos de gravidez indesejada. Curioso que, entre muitos casos, me impressiona o recente da garota recifense, também de 11 anos, que procurou um hospital público, grávida de oito meses, para fazer um pré-natal. Ficou grávida de um irmão de 29 anos! E, neste caso, a gravidez é de alto risco e não pode ser interrompida devido ao estágio avançado da gestação. Um irmão e de 29 anos! Esse animal, para mim, só tem de gente os olhos. Um sujeito com essa idade, agredir uma irmãzinha de 11 anos e engravidá-la é definitivamente ignóbil. Por oportuno registro que, apesar de haver no Brasil uma legislação protetora, inserida no Código Penal (Lei 12.015/2009), para amparar as vitimas de abusos sexuais, grande parte destas resistem em denunciar os agressores, por motivos dos mais diversos, tais como medo, vergonha, pressão social, burocracia, “respeito” ao membro da família ou simples ignorância. É nessa hora que se percebe a falta de uma bem montada estrutura institucional social e uma justiça mais enérgica e punitiva exemplarmente.
Abusar sexualmente de vulneráveis parece ser tolice diante da mente doentia do médico anestesista estuprador, Giovanni Quintela Bezerra, no município de São João do Meriti, estado do Rio de Janeiro. Eis aí outro tropeço social inqualificável e revoltante. É inacreditável que um profissional de saúde, desse nível nobre e superior, tenha a coragem de estuprar uma paciente anestesiada e em plena mesa de cirurgia, inserindo seu órgão genital na boca da desacordada paciente dando vazão à sua fúria animal. Asqueroso, criminoso e bandido podem ser qualificativos ainda leves para classificar um indivíduo dessa índole. Presume-se que o criminoso usava de medicamento excessivo e desnecessário para atuar de modo “tranquilo e relaxante”. A Polícia já identifica pelo menos 30 mulheres como vitimas. Preso e incomunicável o “médico” está sujeito a severas penas e obviamente cassação dos direitos profissionais. Qualquer pena estipulada ainda será pouco. O terceiro tropeço que reporto é aquele ocorrido em Foz do Iguaçu (oeste do estado do Paraná), onde, dois antidemocráticos militantes da atual campanha polarizada à presidência da Republica, travaram um duelo exacerbado, resultando na morte de um e outro ferido gravemente. O bolsonarista tresloucado provocou e o lulista reagiu, terminando por dar uma amostra da imaturidade politica que se reproduz neste país dividido politicamente. Assusta, naturalmente, porque a campanha de fato não foi deflagrada. Medidas mais severas devem ser tomadas pelas autoridades competentes para evitar outros derramamentos de sangue. Lamentavelmente, é numa dessas horas que se percebe quão verde é a democracia do país. Teremos muito que trilhar para alcançar a maturidade. Tomara que, de tropeço em tropeço, sejamos um dia o tal país do futuro conforme prometido pelos nossos ancestrais. NOTA: Foto obtida no Google Imagens

terça-feira, 12 de julho de 2022

Rio Maravilha

Há locais que, quando chego, sinto a sensação de estar em casa. O Rio de Janeiro é um desses. Estive por lá, esses dias recentes, cumprindo um compromisso social familiar, ocasião em que, por oportuno, aproveitei para rever espaços e locais por onde vivi momentos memoráveis do passado, principalmente, da minha juventude dourada e onde aprendi a sentir o Brasil de raiz. A chamada Cidade Maravilhosa (para muitos, nos dias de hoje, Cidade Perigosa) continua sendo, indiscutivelmente, a mais linda do planeta. À proposito, essa classificação deixou-me com dúvidas durante muito tempo. Mas, depois de percorrer outras inúmeras paragens nos quatro cantos do mundo, não alimento mais qualquer dúvida. Ocorre, também, que o Rio tem uma magia especial e própria do local. Acredito que sejam o quadro natural, o colorido do mar e das matas, as montanhas que o emolduram e o povo ajudam de modo definitivo. Reina sempre um clima de festa. A gente que vive por lá parece saber melhor celebrar a vida. É um quê muitas vezes inexplicável e curioso. Dessa vez fiz questão de ficar hospedado em Copacabana. Por ali, consegui rememorar a efervescência da vida carioca. Na primeira oportunidade corri para o calçadão, à beira mar, e, como tantos outros, dei uma “manera” caminhada, respirando o ar do mar, sem máscara destes tempos abomináveis de pandemia, observando o comportamento daquela sociedade que não deixa a “peteca cair” e toca pra frente uma vida como merece ser vivida. Louras, morenas, jovens e velhas, corpos apolíneos ou ex-isto, brancos e negros, crianças, cadeirantes, enchem o calçadão no horário matinal do sábado, todos a caráter, como numa cena preparada para ser exibida aos meus olhos e na forma que desejei. Ah! Meu Rio de Janeiro, como me faz bem te rever. Quanta coisa boa me fazes recordar. A Copacabana de hoje difere bastante dos dias da minha juventude. Antes não havia o calçadão. Um grande aterro foi construído nos anos 70 e uma nova cara foi dada ao bairro mais famoso do Brasil. No passado, a Avenida Atlântica tinha apenas duas faixas de rolamento. Horas do dia, conforme o rush, invertia o sentido. O que existe hoje, uma vasta extensão de praia, abriga uma miscelânea de atividades que resume o espirito carioca: bares, restaurantes, ambulantes, feira de badulaques e souvenires, artistas em plena atividade, entre outros. Não agrada a muitos. É verdade. Mas, está tudo lá fazendo a festa.
O Rio, porém, não se resume à Copacabana, claro. Por sorte tive tempo de “baixar” em outros pontos tão importantes quanto os da área praieira. Fui, inclusive, ao bairro boêmio da Lapa, levado pelo meu filho digital-influencer numa das suas coberturas. O antigo bas-fond carioca é atualmente um local divertido, colorido e cheio de atrações. Vale à pena ser visitado. Bares e restaurantes, sambões e boates para todos os gostos fazem da noite carioca aquilo que o público nativo ou visitante procura. Estivemos num dos mais movimentados, o Carioca da Gema, onde uma parcela da bateria da Mangueira se apresentava e levantava a clientela na noite de uma quinta-feira. Fomos recebidos pelos donos do pedaço e, sem dúvida, foi bem divertido. Um capitulo à parte da cidade do Rio de Janeiro está no item da gastronomia. Come-se muito bem naquela cidade. Os cardápios são dos mais variados e para todas as exigências e desejos. Dos mais simples aos mais sofisticados. Mas, indo lá, prepare a carteira. As coisas não são nada em conta. Aliás, nem vou citar nomes para não cometer uma falta. Como pobre gastei mais do que devia. Mas, não tem dinheiro que pague um prazer fora do programa e de surpresa. Sim, porque cada vez que solicitei “passar a régua de uma conta” vinha uma surpresa. Não vou esquecer-me do quanto custou um café expresso, no Forte de Copacabana. Paguei. Claro! Mas, paguei certo que me cobraram a vista panorâmica de Copacabana no fim de tarde. Deslumbrante, tudo bem. Valeu Colombo!
Para não deixar de falar de insegurança, como é comum em qualquer local do Brasil de hoje, devo dizer que circulei, com minha família e em inúmeros pontos da cidade, com razoável tranquilidade e observei que a policia local está sempre alerta e de prontidão com guarnições motorizadas. Naturalmente que por onde estivemos a situação não oferece tantos perigos, mas, pergunto: onde se circula com segurança total, aqui no Recife? Ou em São Paulo? O Rio de Janeiro seria exceção? Salve o Rio! Sempre a Cidade Maravilhosa. NOTA:1)Fotos da autoria do Blogueiro. 2) Não deixe de ler na Coluna á direita a janela Para sua Reflexão

quarta-feira, 22 de junho de 2022

QUEBRANDO O JEJUM

Após dois anos de jejum, por conta da Pandemia, o interior nordestino está acendendo fogueiras e rendendo homenagens aos santos juninos Antônio, João e Pedro. Aqui em Pernambuco o movimento é grande e por coincidir com o clima de pré-campanhas politicas os festejos se intensificam e o povão se esbalda além das medidas. Ocorre que essa “mistureba” de retorno aos folguedos cruzado com a componente politica termina gerando um incrementado caldo, a meu ver, anticultural como nunca visto pelas nossas bandas. Já faz algum tempo que observo a marginalização dos genuínos ritmos populares, originados nas raízes culturais locais. A sanfona, a zabumba e o triangulo vêm sendo esquecidos pelos conjuntos e arranjadores musicais contratados pelos organizadores dos festejos, neste caso, quase sempre, ligados às autoridades municipais. O forró autêntico, chamado pé de serra, vem se tornando coisa do passado e muito mal é lembrado nas grandes festas de locais como Caruaru (PE) e Campina Grande (PB). Não por falta de artistas defensores do ritmo, mas, por interesses outros, como os de “lavagem de dinheiro” e agrados à galera jovem. São estes que terminam por exigir valores alienígenas que, sequer domina o menor compasso emitido pelo tradicional trio de ritmistas, prestigiados no passado e comandantes dos arrasta-pés, no chão de terra-batida, até o acabar do gás do candeeiro e o dia raiar. Tudo bem... Hoje a luz é elétrica, o som pode ser propagado até o mais distante espectador e a noite se prolonga mais do que antes. Contudo, para uma questão não tem resposta: precisava esquecer as músicas de Gonzaga? As de Dominguinhos? E aplaudir as dos valores mais atuais e vivos? A situação é tão critica que esses vivos sequer são convidados a contribuir com a animação dessa retomada. Ao invés disso, os convidados têm sido “outros” que não trazem relação com a cultura local e que terminam impondo seus ritmos e suas letras musicais duvidosas a uma galera – termo modernoso para denominar a jovem guarda – crentes de que se trata da mais genuína forma de cultura popular.
Por outro lado e por oportuno, observo que seguindo essa onda de “repaginação” da cultura junina ocorreu, no passado recente, um processo radical de mudança nas danças e indumentárias das nossas tradicionais quadrilhas juninas. Nossa tradicional dança matuta se transformou num festival de danças modernas, nada relacionadas com o que vivenciamos no passado. Coreógrafos especializados, figurinistas renomados são mobilizados. Deu samba! Sim, parece mais uma ala de escola de samba, em desfile pelo carnaval. O assunto é polêmico e, correndo o risco de ser mal interpretado, considero que cometeram um equivoco irremediável. Nunca é demais para registrar que a quadrilha junina foi trazida pelos colonizadores portugueses, herdeiros das tradições inglesas e francesas. Nas suas origens a dança da quadrilha era a forma de comemorar o fim de uma colheita. Os europeus eram (e são) sempre gratos por usufruir dos frutos da terra. Uma vez por aqui, as coisas seguiram do mesmo modo. A colheita do milho, no mês de junho, a produção das iguarias com os grãos dourados e a alegria da fartura reinante induziam os agricultores a festejar. E a forma de agradecer era se reunir para dançar a quadrilha. Tudo muito romântico e salutar. As roupas e as danças seguiam moldes culturais de raízes profundas. As calças remendadas dos cavalheiros e os vestidos de babados, com aventais remetiam aos hábitos dos campos de colheita. Tudo muito brejeiro e cultural. Essa chamada repaginação em voga apagou o que de histórico foi desenhado e executado por nossos ancestrais.
Nossa “galera” jamais saberá o significado histórico das nossas festas juninas. Vão crescer e transmitir para frente algo novo e sem amarração logica ou plausível. Lamento que meus filhos e netos não tenham tido as chances que eu tive. Ficarão crendo que guitarras estridentes, “bate-estacas” e percussões de arrebentar quarteirões, além de vozes estranhas são coisas normais. Essa forma de quebrar jejum é lastimável.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...