Tenho
visto com muita frequência mensagens e discursos de políticos candidatos a
cargos eletivos, analistas políticos e socioeconômicos, acadêmicos, e, por fim,
cidadãos e cidadãs comuns, pregando um rompimento urgente com o ciclo político tradicional,
com a velha política clientelista e carcomida pela corrupção endêmica que
existe neste país. Principalmente no momento atual quando se intensifica a
campanha eleitoral.
Não
tenho dúvidas e concordo com esta ideia, quase popular. E, penso que é nessas horas que o
país sofre pela falta de uma sonhada reforma política que trouxesse mudanças e
contribuíssem com esse tipo de movimento cidadão. Mas, cadê coragem e
responsabilidade dos nossos recentes mandatários? Ao invés disso estão sempre preocupados
em se manter no poder esquecendo os clamores da Nação.
Confesso
e creio que todos percebem, às claras, que estamos diante de uma quimera. Ora,
meu Deus, não se quebra uma tradição de hora pra outra. E não vai ser um pleito
eleitoral tão insólito, como este próximo, que vai “furar a velha bolha”. Basta
que se observe a busca frenética dos poderosos chefes de “feudos” políticos que
buscam se perpetuar, com candidatos a cargos, em níveis diferentes, para
membros da própria família. Conheço inúmeros casos em Pernambuco e Brasil afora. E aí, cabe
uma pergunta: como quebrar esta tradição? Aliás, esta cultura maléfica? Trata-se sem duvida de um colossal desafio
para a sociedade brasileira. Nestes dias recebi, pela rede social, um panfleto
eletrônico que foca nesta quimera. Um dia, quem sabe, chegaremos la...
A
propósito do tema tradição recebi, também nestes dias de calorosos debates políticos, um texto bem
estruturada e instigante de um pensador amigo, o Padre Sergio Absalão, que – sem
que se referisse à questão politica nacional – e, sim à problemática de
romper com uma tradição cultural, transcrevo, a seguir:“Na verdade, esse modo de pensar não
passa de um contra-senso por dois motivos: primeiro, porque só é possível
conceber um ideal de ruptura na medida em que permanece o modelo em relação ao
qual se pretende romper. Ora, se a herança do passado deixasse de existir, se
fosse completamente desconstruída e substituída deixa de ter sentido toda e
qualquer pretensão de rompimento, simplesmente porque não se teria com o que
romper. Sendo assim, sempre haverá algo que precede e se sucede ininterruptamente.
Ao lado deste motivo acrescenta-se um segundo que diz respeito ao passado.
Quando o sentir e o pensar “moderno” falam em “rompimento” ou em “desconstrução”
está se referindo ao passado. Mas seria possível anular o passado? Não. Não é
possível. Não é possível porque o passado jamais passa e não passa porque nunca
se completa, mas se renova incessantemente.”. Tremenda e profunda reflexão
a meu ver.
Então,
como e quando nos livraremos dessa situação? Não será certamente dessa vez. E
basta examinar os candidatos inscritos para o próximo pleito e tentar calcular o peso desses que pregam o rompimento – em termos de poder
eleitoral e de filiação partidária – relacionando-os ao grande bloco de
candidatos conservadores. Certamente vamos constatar que tradição, herança e continuidade são
os referenciais que dominam o processo pelo qual estamos passando.
Outra
vez, cabe a recomendação de exercer um voto consciente. Mude se tiver coragem.
Toda mudança produz sua dor. Mas, há dores que valem ser sofridas.
NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.