A presença
de primitivos habitantes na região do Agreste Central de Pernambuco, de modo
particular no município do Brejo da Madre de Deus, é coisa que ouço falar em
família desde que eu ainda vivia minha primeira infância. Em Fazenda Nova, onde moravam meus ancestrais maternos e era meu destino favorito nas férias
escolares, este assunto era frequente. A história relatada pelos antigos moradores
e caçadores da região dava conta de que havia existido tribos indígenas
habitando a região do Brejo.
Naquela época não me passava pela cabeça a ideia de ir aos mencionados locais – eu pelava de medo – e nem imaginava que se tratava de coisas pré-históricas. Mas, o tempo passou, a idade da razão fez-me entender melhor os fatos e, agora, que atingi uma curva fechada do meu tempo de validade, agucei a curiosidade indo sem medo, conhecer a famosa área da qual fugi “como o diabo foge da cruz” nos ontem da vida.
No passado fim de semana, tive a chance de conhecer o Sítio Arqueológico da Furna do Estrago, nos arredores da cidade do Brejo da Madre de Deus (PE), onde existem preciosos registros da passagem dessa gente primitiva. Fiquei surpreso ao saber que Arqueólogos, Pesquisadores e Historiadores, que estudam a área, estimam que os primeiros indivíduos estiveram por ali há 11.000 anos! 11.000, gente! Cá pra nós, é um bocado de tempo! Uma segunda leva passou por lá há, aproximadamente, 8.000 anos e, por fim, um terceiro grupo há 2.000 anos.
O local que fomos conhecer serviu, há milênios, de abrigo temporário para essas tribos, durante a Era Glacial, quando a Terra estava coberta de gelo. Somente o terceiro contingente de aborígenes teve condições de migrar para as regiões ribeirinhas locais que se formaram, após o fim da glaciação. Foram estes, justamente, que deixaram os mais concretos vestígios das suas formas de vida, hoje preservados graças a uma iniciativa de um grupo de estudiosos cientistas e alunos da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, onde, aliás, é mantido um museu com preciosas relíquias.
Confesso a emoção que senti ao lembrar-me da época de infância quando tremia de medo daquelas histórias. As viagens frequentes entre Fazenda Nova e Brejo da Madre de Deus eram para mim, em certo trecho, um suplicio devido ao temor que alimentava de sermos surpreendidos por uma emboscada indígena.
Hoje, com visão efetiva do que de fato aconteceu por ali milênios passados, a situação é permeada de fascínio e muita curiosidade. O acesso ao local é relativamente fácil. A partir dos arredores da cidade do Brejo da Madre de Deus, o visitante empreende uma subida íngreme nas encostas da serra da Boa Vista, também conhecida como Serra do Estrago, até atingir a Furna do Estrago onde os arqueólogos descobriram um cemitério indígena. Para os que desejem visitar o local, aconselha-se a ajuda do guia local, o Senhor Tadeu Tavares de Souza, (Vide foto a seguir), que conhece cada
palmo de terra do local e é proprietário de um sítio, que serve de porta de entrada para o Parque. No inicio da trilha é possível admirar um roçado verdejante, onde Tadeu mantém sua cultura de subsistência (milho, feijão, jerimum, mandioca etc.) e dez cabeças de bovinos, numa demonstração de vida atual e dinâmica. Com poucos metros de distancia tudo passa a ser História. A vegetação da Caatinga passa a dominar, o solo arenoso e pedregoso acidentado exige maior atenção e um crescente plano inclinado denuncia que estamos subindo a Serra. Respiramos fundo, seguramos melhor as pisadas e, aos poucos, alcançamos uma espécie de pátio amplo, debaixo de um arvoredo frondoso (uma árvore fincada nas rochas chama atenção – vide foto) onde os indígenas mantinham uma espécie de praça, com toscos bancos de granito, onde supostamente se reunião para trabalho e lazer. Vide foto a seguir. O ambiente arejado ali alcançado, sugere uma breve parada para refrescar, embora que ainda não seja o ponto final.
Um pouco mais de subida e eis que se chega ao ponto objetivo da trilha: a Furna que serviu de abrigo durante a Era Glacial e há 2.000 anos serviu de cemitério daquela gente primitiva. Escavando o local nossos arqueólogos encontraram esqueletos de adultos e crianças (sessenta ao todo) em bom estado de conservação e, junto a esses, peças de adornos pessoais dos mortos e instrumentos de defesa, como tacapes.
O ponto alto da visita, que encanta o visitante, fica por conta de uma série de pinturas rupestres, que testemunham de modo vibrante traços da cultura dessa gente que nos antecedeu. Admirável a forma como estão preservadas. Eles utilizavam material de origem vegetal e mineral. De coloração ocre, devido a origem do material utilizado (minério de ferro), as figuras contrastam com o cinza-grafite do granito que serviu de tela. As imagens são de figuras humanas, de animais ou simplesmente geométricas. Ver aquilo mexe com o sentimento humano do visitante e induz a um relacionamento concreto com o passado.
É sempre bom fazer uma trilha nessas plagas brejenses. É um Pernambuco pouco conhecido e carente de divulgação.
Nessas horas, sinto orgulho de ser pernambucano. Orgulho dos meus antecedentes. E aí, não dá para alimentar dúvidas... Tenho sangue indígena nas minhas veias. Que maravilha.
A seguir, fotos do nosso grupo na descida da serra.
NOTA: Fotos das autorias do Blogueiro e de Lúcia Santos, integrante do grupo de visitantes.
Naquela época não me passava pela cabeça a ideia de ir aos mencionados locais – eu pelava de medo – e nem imaginava que se tratava de coisas pré-históricas. Mas, o tempo passou, a idade da razão fez-me entender melhor os fatos e, agora, que atingi uma curva fechada do meu tempo de validade, agucei a curiosidade indo sem medo, conhecer a famosa área da qual fugi “como o diabo foge da cruz” nos ontem da vida.
No passado fim de semana, tive a chance de conhecer o Sítio Arqueológico da Furna do Estrago, nos arredores da cidade do Brejo da Madre de Deus (PE), onde existem preciosos registros da passagem dessa gente primitiva. Fiquei surpreso ao saber que Arqueólogos, Pesquisadores e Historiadores, que estudam a área, estimam que os primeiros indivíduos estiveram por ali há 11.000 anos! 11.000, gente! Cá pra nós, é um bocado de tempo! Uma segunda leva passou por lá há, aproximadamente, 8.000 anos e, por fim, um terceiro grupo há 2.000 anos.
O local que fomos conhecer serviu, há milênios, de abrigo temporário para essas tribos, durante a Era Glacial, quando a Terra estava coberta de gelo. Somente o terceiro contingente de aborígenes teve condições de migrar para as regiões ribeirinhas locais que se formaram, após o fim da glaciação. Foram estes, justamente, que deixaram os mais concretos vestígios das suas formas de vida, hoje preservados graças a uma iniciativa de um grupo de estudiosos cientistas e alunos da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, onde, aliás, é mantido um museu com preciosas relíquias.
Confesso a emoção que senti ao lembrar-me da época de infância quando tremia de medo daquelas histórias. As viagens frequentes entre Fazenda Nova e Brejo da Madre de Deus eram para mim, em certo trecho, um suplicio devido ao temor que alimentava de sermos surpreendidos por uma emboscada indígena.
Hoje, com visão efetiva do que de fato aconteceu por ali milênios passados, a situação é permeada de fascínio e muita curiosidade. O acesso ao local é relativamente fácil. A partir dos arredores da cidade do Brejo da Madre de Deus, o visitante empreende uma subida íngreme nas encostas da serra da Boa Vista, também conhecida como Serra do Estrago, até atingir a Furna do Estrago onde os arqueólogos descobriram um cemitério indígena. Para os que desejem visitar o local, aconselha-se a ajuda do guia local, o Senhor Tadeu Tavares de Souza, (Vide foto a seguir), que conhece cada
palmo de terra do local e é proprietário de um sítio, que serve de porta de entrada para o Parque. No inicio da trilha é possível admirar um roçado verdejante, onde Tadeu mantém sua cultura de subsistência (milho, feijão, jerimum, mandioca etc.) e dez cabeças de bovinos, numa demonstração de vida atual e dinâmica. Com poucos metros de distancia tudo passa a ser História. A vegetação da Caatinga passa a dominar, o solo arenoso e pedregoso acidentado exige maior atenção e um crescente plano inclinado denuncia que estamos subindo a Serra. Respiramos fundo, seguramos melhor as pisadas e, aos poucos, alcançamos uma espécie de pátio amplo, debaixo de um arvoredo frondoso (uma árvore fincada nas rochas chama atenção – vide foto) onde os indígenas mantinham uma espécie de praça, com toscos bancos de granito, onde supostamente se reunião para trabalho e lazer. Vide foto a seguir. O ambiente arejado ali alcançado, sugere uma breve parada para refrescar, embora que ainda não seja o ponto final.
Um pouco mais de subida e eis que se chega ao ponto objetivo da trilha: a Furna que serviu de abrigo durante a Era Glacial e há 2.000 anos serviu de cemitério daquela gente primitiva. Escavando o local nossos arqueólogos encontraram esqueletos de adultos e crianças (sessenta ao todo) em bom estado de conservação e, junto a esses, peças de adornos pessoais dos mortos e instrumentos de defesa, como tacapes.
O ponto alto da visita, que encanta o visitante, fica por conta de uma série de pinturas rupestres, que testemunham de modo vibrante traços da cultura dessa gente que nos antecedeu. Admirável a forma como estão preservadas. Eles utilizavam material de origem vegetal e mineral. De coloração ocre, devido a origem do material utilizado (minério de ferro), as figuras contrastam com o cinza-grafite do granito que serviu de tela. As imagens são de figuras humanas, de animais ou simplesmente geométricas. Ver aquilo mexe com o sentimento humano do visitante e induz a um relacionamento concreto com o passado.
É sempre bom fazer uma trilha nessas plagas brejenses. É um Pernambuco pouco conhecido e carente de divulgação.
Nessas horas, sinto orgulho de ser pernambucano. Orgulho dos meus antecedentes. E aí, não dá para alimentar dúvidas... Tenho sangue indígena nas minhas veias. Que maravilha.
A seguir, fotos do nosso grupo na descida da serra.
NOTA: Fotos das autorias do Blogueiro e de Lúcia Santos, integrante do grupo de visitantes.