terça-feira, 27 de julho de 2021

Voto Impresso?

Venho acompanhando com curiosidade e certa apreensão a discussão, no Congresso Nacional, da Proposta de Emenda Constitucional – PEC- 0135/2019 que visa à instituição do Voto Impresso ou Voto Auditável. Indiscutivelmente tem sido mais um “delicioso” objeto de “bate-boca” e outra oportunidade para as manifestações extremistas do atual momento politico nacional. Direita e Esquerda se desdobram no exercício de defender, em nome de A ou B, as respectivas posições ideológicas em torno de uma questão que é, sobretudo, normativa/administrativa e que exige, sim, uma análise equilibrada, democrática e, especialmente, republicana. Pessoalmente e sem alimentar qualquer paixão pelo tema espero tão somente que, ao fim do processo, seja tomada a mais correta e mais justa possível para segurança do futuro da República. Por outro lado, acho imprudente para quem defende ou quem condena por, simplesmente, defender ou condenar conforme as posições conjunturais partidárias. Entre os opositores da proposta de Emenda destacam-se os que a combata de frente devido a defesa do Capitão Bolsonaro e suas justificativas polticamente exacerbadas e de forma desarrumada que lhe é peculiar. Abstraindo, no entanto, essa exacerbação do Presidente, seria prudente, aos parlamentares encarregados da analise, explorarem a fundo as reais vantagens ou desvantagens de adoção da medida para toda e qualquer corrente partidária e principios ideológicos. Ora, meu Deus, o que custa termos segurança num escrutínio eleitoral? Quem discorda disso, o faz sem melhor conhecimento de causa e sem recordar das lambanças que foram praticadas ao longo da História deste país.
Antes de prosseguir, porém, devo confessar meu entusiasmo e admiração pela Urna Eleitoral Eletrônica que se utiliza no Brasil. Sinto, inclusive, orgulho de ver meu país dando exemplo de realizar processos eleitorais rápidos e aceitos pelo eleitorado. Comparado com o que vimos recentemente nos Estados Unidos nosso modelo é algo formidável. Mas, seja lá de quem tenha sido a ideia que se transformou na PEC 0135/2019 o que se objetiva é a segurança final de um pleito. É nisto que se deve concentrar a discussão, entendendo que se trata de uma questão de ordem nacional. Outra coisa que deve ser exposta ao eleitorado como um todo é o fato de que não se trata de retroceder à época da cédula de votação, na qual o eleitor assinalava, de próprio punho com um X o nome do seu candidato, dobrava a folha e depositava numa urna disponível na sessão. Há milhões de pessoas que imaginam ser esta a intenção. Ao invés disto, o que se propõe é que após o eleitor sufragar seu voto eletronicamente receba uma espécie de recibo que registre seu voto e que deve ser depositado numa urna física. A justificativa é de se contar com mais um elemento de segurança numa eventual auditagem/recontagem. Naturalmente que se trata de um processo que exige ser estudado tecnicamente e passando, sobretudo, pela fase de verificação de absoluta segurança no sistema como hoje vigente. Equipes de diferentes correntes políticas devem ser envolvidas na busca de um equilíbrio de pareceres técnicos que venham gerar segurança no momento de escrutínio.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Pobre Nação Rica

Tenho evitado discorrer, aqui no Blog, sobre temas políticos, muito embora a potencial produção de pautas seja em alta escala. Naturalmente que, em não sendo um repórter investigativo ou daqueles que buscam dar furos de informação, resta-me tão somente comentar passagens selecionadas do dia-a-dia da vida politica nacional. Além de cômodo, já é o bastante para um Blog cujos propósitos são bem modestos. Os grandes furos e as noticias bombásticas ficam por conta da insaciável sede da grande imprensa. Por excesso de revolta, abro um espaço neste fim de semana, para tecer comentário a respeito do absurdo orçamento proposto na proxima LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), pelo Congresso Nacional, na 5ª. Feira (15.07.21), com vistas ao item denominado de Fundo Eleitoral, “carinhosamente” chamado de Fundão, para cobrir os custos das campanhas eleitorais de 2022. É acintoso. Impressionantes R$ 5,7 Bilhões estão sendo propostos para entrar no Orçamento da União de 2022, com o intuito de custear a grande “farra” eleitoral do ano. Contas feitas, isto significa um aumento de 185% em relação ao que foi destinado nas eleições municipais de 2020, R$ 2,0 Bilhões. Em 2018 o Fundão foi três vezes menor. “Apenas” R$ 1,8 Bilhão. Tudo bem que, hoje, seja legal a formação deste fundo. Mas, tenha dó... Vejamos, pelo amor de Deus, a procedência dessa grana. Para refrescar a memória lembro que, anteriormente, os candidatos tinham que se virar em arranjar grana para custear suas próprias campanhas. Recorriam principalemnte aos chamados financiamentos empresariais, com óbvias promessas de facilitar a tramitação de instrumentos legais benéficos aos interesses futuros do “contribuinte”. Era um campo de ilimitada corrupção. E, sendo eleito, o sujeito já assumia com o “rabo preso”. Com a nova ordem da proibição desse tipo de financiamento, pelo Supremo Tribunal Federal - STF, em 2015, adveio a criação do Fundão e a conta terminou sobrando para o cidadão comum. Neste caso, toca-me dizer que "se correr o bicho pega e se ficar o parlamentar come”.
É estarrecedor constatar que nossos representantes no Congresso Nacional avançam com descomunal voracidade nos cofres da Nação, enquanto esta se desdobra, à custa de muito suor e sangue, contribuindo como pode com o bolo financeiro do grande Condomínio Nacional. Dói, ao mesmo tempo, ver o brasileiro comum assistindo ao crescente aumento do desemprego, sentindo a dor, o temor e as perdas provocadas pelo ambiente de pandemia da Covid-19, assistir ao desempenho de um Ministério da Saúde tumultuado, de mão-em-mão, e terminar sujeito a viver de irrisório auxilio emergencial. Somente neste 2021 são mais de 45 milhões de pessoas recebendo o auxilio num valor médio de R$ 250,00. Mais duro ainda é, noutra ponta, observar que alguns Ministérios têm, hoje, orçamentos menores do que esse famigerado Fundão projetado. Ministério do Meio-Ambiente, o que trata de controlar as queimadas da Amazônia e do Pantanal, é um destes, com a dotação insuficiente de R$ 5,3 Bilhões. Tem também o Ministério da Cidadania, para o qual só foi proposta uma cotinha de R$ 1,8 Bilhão. Fundão grande e mal empregado. Muito dessa dinheirama vai servir para comprar votos. Revolta ou não? É desalentador viver numa Pobre Nação Rica, onde uma casta de privilegiado avança num pedaço de bolo cada vez maior. NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Preito de Gratidão

Ela chegou de mansinho e, inicialmente, tinha tudo para não atender as exigências e o regime doméstico da casa. Chegou sem referências expressas. “Analfabeta, Sonia? Você acha que vai dar certo?” Alertei. Fiquei mais preocupado ao descobrir que portava uma prótese ocular no lado esquerdo. “Meu Deus, será que ela consegue?” Contudo, nossas necessidades daquele momento precipitou a contratação dos serviços domésticos daquela criatura, carente de emprego, que se ofereceu na portaria do nosso prédio. A Patroa resolveu fazer uma experiência. Uma das exigências era de dormir no emprego com óbvio direito a uma folga semanal. Acertos das duas partes e passamos a contar com uma nova secretária doméstica. Decorria o mês de novembro do ano de 1998. Depois da primeira folga semanal volta ela afirmando “acontece que sou amigada e meu homem exige que eu durma em casa toda noite”. “Ah, então a Senhora é casada?” Perguntei. “Não Senhor! Quem casa é canário. A gente pobre se amiga. Casamento é coisa de gente rica.” Percebi nessa hora, que a disposta Iracema (47 anos de idade) deu o recado direto de como era sua personalidade, sua vida e como resolvia suas questões pessoais. Sem outra razão que fosse, decidimos seguir e contratá-la. Carteira assinada, INSS em dia, além de passagens diárias de transportes. Com pouco tempo mostrou-se disposta e capaz de dar conta do recado, não obstante ser caolha e analfabeta. Ganhou a confiança da casa e se tornou figura fundamental na vida de uma família cujos membros trabalhavam e estudavam. Sentiu-se, com alguma rapidez, a Senhora do pedaço. Todos saiam logo cedo e ela se sentia dona da casa. Tinha uma coisa crucial: atendia os telefonemas e por ser analfabeta não anotava recados. “Ligou uma mulé que quer falar com o Senhor!” Perguntei, “e o nome dela?” “Ela disse mas, esqueci”. Era uma graça. Nessa pisada, terminou ficando 23 anos às nossas ordens. Hoje lamentamos porque ela foi derrotada pela Covid-19, em abril passado. Fará muita falta. Dificilmente encontraremos uma figura leal, disposta e amiga como ela foi. Faço, portanto, um preito de gratidão a uma figura que viu nossos filhos se tornarem adultos e ganharem o mundo. Viajamos ao redor do planeta e ela dava conta do serviço. Com tempo contado, aposentou-se oficialmente, mas, continuou no batente. Vivia relativamente bem. Tinha sua rendinha mensal, equipava aos poucos a casinha que ganhou e ajudava aos filhos, filhas netos e bisnetos. No fim da vida estava retirada em casa por conta da pandemia. Seguramente, por sua audácia natural, num vacilo foi colhida fatalmente pelo vírus maligno, quando ainda nutria muitos projetos de vida.Foto a seguir junto com o filho Wellingto, na comemoração do aniversario em 2018.
Naturalmente que nossa convivência nem sempre era um mar de rosas. Relacionamento humano não é fácil. Principalmente nas condições dela. “Patrão sempre quer ter razão!” Dizia por qualquer motivo. Sem dúvidas era voluntariosa, birrenta, malcriada e cheia de vontades. Mas, tinha duas qualidades que superavam quaisquer desses defeitos: generosidade e solidariedade que se manifestavam, sempre que oportuno, de modo formidável. Ao longo dos anos, tornou-se meu elo de conhecimentos sociológicos entre a vida dos privilegiados, na qual vivo, e a sociedade periférica que habita às franjas da metrópole. Ela vivia, inicialmente, numa habitação subnormal numa comunidade de invasores, à beira do Canal do Arruda (Recife) e, nos últimos tempos, conseguiu um popular apartamento próprio doado pela Prefeitura do Recife como recompensa pela desapropriação do casebre que construiu e retirado do caminho para dar passagem a uma nova avenida. Foram momentos inesquecíveis de convivência com essa figura que se tornou quase parte da família. Na sua simplicidade e certa inocência, ignorância para alguns, saia-se com tiradas hilárias e que não posso esquecer. Jamais me esquecerei de um certo 28 de fevereiro, quando fui pagar seu salario e ela muito espantada me disse: “Ôxe, tá me adiantando-me este mês? Hoje inda é dia 28?” Lembrando-a que era fevereiro, escutei a mais incrível resposta: “Eita, diminuíram o mês agora, foi?” Garantiu-me que nunca avisaram pra ela que fevereiro só tinha 28 dias. Pasmo com aquele nível de conhecimento, fiquei imaginando que muitos outros passam pela mesma situação. Outra vez, chegou mais tarde para o trabalho por conta da passagem de um lobisomem durante a noite anterior, uma sexta-feira, pela região onde ela morava. Ficou de vigia para o bicho não entrar na casa dela e agarrar as duas netas que estavam com ela. Foi tema de um post aqui no Blog. Teve que levar as netas para um lugar seguro ao amanhecer. Noutra ocasião, aprontou-me uma boa (virou piada!) quando jogou fora metade dos queijos que preparei para uma noite de queijos e vinhos. “Mas, o Sinhô nem reparou que comprou metade dos queijos estragados. Tavam podre!”. Como explicar que o queijo gorgonzola era algo fino, caro e saboroso para aquela criatura cuidadosa na limpeza da geladeira? Tomei o prejuízo e a decepção na hora da degustação com os convidados. Pior, porém, foi no dia que chegou se lamentando de severa dor de cabeça, embora houvesse tomado “dois cachetes de navagina”. Fez-me dar boas risadas. Ficava impressionada como eu conseguia assistir ao noticiário da CNN Internacional com aqueles locutores falando “ingrês”. Adorava assistir ao programa de Jô Soares que ela chamava de João Soares. Fã também de Tony Ramos que ela chamava de Antônio Ramos. Ah! Foram muitas passagens engraçadas. E pensar que a Covid me pregou essa peça sem nenhuma graça. Vai com Deus Dona Iracema. Terei muitas saudades.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Cemitério Virtual?

Tem sido curioso, além de macabro, a maneira como o Facebook vem anunciando constantemente o transcurso de aniversários de pessoas amigas já falecidas. Fico cabreiro quando isso ocorre, resisto obviamente em postar um voto de parabéns e termino desejando um descanso em paz. Suponho que os familiares dos falecidos ainda não encontraram uma forma de apagar a página/perfil do falecido ou, por outro lado, prefiram “manter a presença” do extinto ou extinta numa espécie de plano de imortalidade digital. Nestes tempos modernos tudo é possível. Esta semana ocorreram-me pelo menos três avisos, com a prosaica recomendação de “ajude a fulano ou fulana a comemorar hoje seu aniversário”.
Mais curioso talvez, e não muito raro, é ver sair publicado numa coluna social dos jornais locais nomes de pessoas falecidas entre os aniversariantes do dia. Inclusive de pessoas que já tiveram registrados seus falecimentos na mesma coluna social. Querendo ser gentil e tolerante com os profissionais de imprensa, prefiro acreditar que a veloz dinâmica do dia-a-dia tem sido responsável por situações bizarras como estas. Vai vwr que como tudo é processado no espaço cibernético essas coisas terminam passando despercebidas. Paciência. Da minha parte já recomendei aos familiares buscarem o meio de deletar meus perfis virtuais logo que Papai do Céu me chame para prestação de contas. Eis aí, até que eu saiba melhor, uma questão ainda não resolvida no mundo em que a informação prolifera e se revela como fundamental para o giro das máquinas sócio-politico-econômicas. É um verdadeiro cemitério virtual. Outro dia fiquei sabendo do caso de um falecido cujo perfil virtual mantido foi clonado e o hacker desavisado pedia, em tom de desespero, ajuda financeira para tratamento de saúde. Naturalmente que se tornou hilário para o Grupo de listados entre os relacionados com o morto. Cá pra nós, tem coisa mais ridícula do que isto? O cidadão morto, cremado e cinzas ao mar sendo usado por canalhas internautas. Se meu pai fosse vivo diria que isto é o fim dos tempos. “Ôxe! Morreu e ainda pede dinheiro? Deve estar planejando uma fuga do inferno”.

domingo, 4 de julho de 2021

Narrativas Perversas

A natureza do humano é, inequivocamente, algo complexo de ser compreendida num primeiro lance. Os psicólogos que afirmem melhor. É impressionante como existem criaturas que, com surpreendentes facilidades e astúcias, são capazes de complicar algo que já vem se mostrando caótico e desesperador. Mais do que isto, são capazes de manipular grupos sociais ou veículos de comunicação. As chamadas fake-news são os exemplos concretos. As sociedades do mundo inteiro, incluindo a brasileira, são, com frequência, vitimas de cabeças perversas, hoje se aproveitando da moderna comunicação instantânea propiciada pela rede mundial de internet, disseminando falsos informes e notas, supostamente verídicas e oficiais, pondo em pânico meio mundo. No Brasil esta prática tem sido contumaz e usada, até mesmo, por importantes veículos de comunicação, tidos como honestos, nas diferentes modalidades disponíveis. Resulta que não tem sido fácil para o cidadão comum acompanhar os noticiários, sem que não experimente alguma pontada de dúvida. Naturalmente que o ambiente politico do hoje país dividido, entre extremos ideológicos, tem contribuído para essa parafernália dentro da pandemia do Covid-19. Contudo é assustador ver veículos de comunicação outrora confiáveis embarcando nessa onda do que chamo de narrativas perversas. Esta semana que passou um tradicional e dos mais importantes veículos de comunicação do país, a Folha de São Paulo, estampou de forma alarmante a noticia de que doses de vacina Oxford/Astrazenica contra a Covi-19 e com data de validade vencida teriam sido aplicadas em inúmeros locais do país criando um clima de insegurança em 26 mil pessoas. Nada mais assustador para aqueles que se sentiam seguros conforme o processo nacional de imunização.
Naturalmente que teria sido uma bela prestação de serviço à sociedade caso a coisa houvesse sido comprovada e bem apurada. Ocorre que a pressa por cometer um “furo de noticia”, nos dias atuais, se torna uma compulsão nunca dantes experimentada. E foi certamente o caso dessa noticia bombástica. Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais mobilizaram-se para averiguar e, até o momento (04.07.21), nada foi comprovado. A explicação plausível é de que registros defasados de aplicações efetuadas e válidas hajam contribuído para a notícia indesejada. Faltou profissionalismo no agente de imprensa e, consequentemente, no veículo noticioso que resultou num imenso desserviço à Nação neste ambiente por demais hostil. A proposito do caso acredito ser pertinente registrar um trecho da excelente carta encaminhada ao Ombudsman da Folha de São Paulo, assinada pela médica infectologista paranaense, Dra. Flávia Trench (CRM 12550-PR), afirmando “acho próximo ao impossível ter ocorrido o que a noticia relata, já que um dos profissionais de saúde mais obcecados com lotes, validade, doses e checagens é justamente o profissional de sala de vacina e entendo ser muito pouco prováveis doses vencidas em tantos municípios diferentes”. Bom, a meu ver o melhor do argumento da Dra. Trench é o que diz respeito aos “tantos municípios diferentes”. Acredito que isto explica bem a questão do delay de registros municipais. É bem mais logico entender que caso houvesse ocorrido a distribuição de um lote vencido, este teria ido para, apenas, uma única localidade. Este foi apenas o exemplo que mais chama a atenção neste momento. Contudo, a disseminação de narrativas perversas se multiplica país afora, espalhando a insegurança e o receio por receber o antivírus administrado pelo PNI - Plano Nacional de Imunização e atrapalhando o processo de vacinação da população acarretando, inclusive, o surgimento de novas variantes, como só ocorre num ambiente de pandemia.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...