sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Atirando no pé

Como somente ocorre, a semana que finda transcorreu com altos e baixos no nosso, sempre dinâmico, meio político. O clima de caçar bruxas não para e a sociedade se vê diante de um quadro sempre renovado de fuxicos e descontrole.
Aqui, bem perto, no vale do Capibaribe (Recife), pegou fogo a briga fratricida no seio da família Arraes, com disputas espúrias pela manutenção do poder sendo travadas em cima de dois espólios: o do Velho Arraes e o do neto Eduardo Campos. A briga é feia e promete muitos episódios negativos no plano político local. Os podres serão descobertos e os pernambucanos ficarão sabendo o porquê de tanto desandar e da tragédia que assola os principais domínios sociais do estado.
Em Brasília as coisas são, também, sempre muito dinâmicas e quase sempre inusitadas. Nesta semana que termina foi a vez do Ministro da Economia, Paulo Guedes, atirar sem dó nos pés. Ele que sempre se mostra comedido, ao contrário do Capitão-Chefe, além de muito antenado nos planos das reformas e sustentação econômica do país, saiu-se com duas pérolas de inesquecíveis sabores. Primeiro, considerou que o funcionário público é uma classe de parasitas e, depois, considerou que o valor sobrelevado que a moeda norte-americana atingiu recentemente é justa e tolerável. E justificou sua tese com um disparate, pra lá de inconveniente, ao afirmar que um Dólar barato proporcionou viagens até de empregada doméstica à Disneylandia. Infeliz todo.

Até empregada doméstica vai para Disneylândia!
De uma só vez mexeu com duas classes profissionais sempre mobilizadas a se defender de modos audaz e combativo. Isto sem falar que assanhou as oposições sempre em busca de uma chance de atacar. “Quem diz o quer ouve o que não quer”, já dizia minha avó. E foi o que ocorreu com o Ministro.
Ora, meu Deus, como pode um cidadão, que tem o poder de uma pasta tão importante como a dele, se achar com o direito de julgar ao bel prazer integrantes de duas camadas sociais imprescindíveis ao bom funcionamento da sociedade? São essenciais, sobretudo, pela nobreza dos serviços que prestam. Quando não se pensa duas vezes no que vai dizer termina assim... 
Pensando bem, por que uma empregada doméstica, por exemplo, não pode ir ao Mundo de Disney nos Estados Unidos? Depende, naturalmente, das condições que encontra e da vontade que tenha. Lembro de um amigo que levou a dele porque precisava de apoio durante uma viagem com a família. Conseguiu, com boa justificativa, visto de entrada (por 30 dias) e a serviçal foi, lá, viu e voltou. Por que não? E outras motivações podem muito bem existir.  Já os “parasitas” do serviço publico se exaltaram com razão, sobretudo aqueles que vivem  sujeitos à insegurança física pessoal, de saúde, entre outras. São abnegados que cumprem com dificuldades seus papéis muitas vezes não reconhecidos.
De todo modo, sem querer justificar a infeliz fala do Ministro, é verdade que existem parasitas e são aqueles que vivem buscando brechas para escapar do trabalho, exigindo contracheque no fim do mês, sem desconto. Mas, generalizar não dá. Fui funcionário publico e conheci alguns parasitas infiltrados no meio dos que laboravam. Rigor se faz necessário, sim. O problema, espero, seja resolvido na desejada reforma administrativa que farão rolar muitas águas às margens do Paranoá.
Para fechar a semana houve o encontro de Lula com Francisco. Foi um Deus nos acuda. Choveu criticas ao Papa. Católicos revoltados e críticos fervorosos do ex-presidente não se conformam. A oposição festejou o encontro e garante que Francisco cumulou Lula de absolvição de todos os pecados que cometeu. A fé abala montanhas e o ser humano é ótimo! Confesso que sou fã de carteirinha do Papa argentino e considero que, uma vez mais, agiu cristãmente ao conceder espaço ao condenado pela justiça brasileira. Jesus agiu de igual forma aos nos deixar seu legado: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”, está lá no evangelho! Se essa audiência assumiu forte conteúdo político, Francisco não quis dar importância.
Ainda bem que está chegando o carnaval e como isto é "coisa muito séria" por aqui, o povão vai cair na folia e esquecer essas baboseiras de cada dia. Imagino que quando passar o reinado de Momo e o ano começar de verdade passaremos por novos episódios emocionantes. Sendo assim, bom carnaval!

NOTA: Foto obtida no Google Imagens.                      

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Economia Infectada

É muito comum ouvirmos dizer: “saúde é fundamental porque o resto a gente corre atrás”. Parece que, além de ser uma verdade, a ideia se aplica em diferentes domínios e de forma tangível, haja vistas para essa avassaladora onda que ameaça a saúde mundial, centrada na China, com o coronavírus (nCov-2019).  
Observemos que diante da dimensão que se revelou o surto chinês, com características pandêmicas, é fatal que se rebata sobre todos os setores de atividades daquele país e provoque profundas consequências para o restante do mundo. Pânico às populações nos cinco continentes. Contração das atividades econômicas internacionais e, enfim, um quadro econômico infectado. Que a economia chinesa vai encolher, ninguém duvida.
A situação já não era das melhores para o ritmo de crescimento do país e se agravam ainda mais as tensões que eles sustentam contra os Estados Unidos. Repercussões são sentidas nos mercados mundiais. Bolsas caem e Dólar americano se valoriza de modo fácil ao redor do planeta. São as chamadas fortes dores da economia globalizada.
Ora, a China, berço da crise, é a segunda maior economia do mundo. Produtora em massa de ilimitado número de bens de consumo, intermediários e finais, inclusive automobilística, vê-se na contingência de parar tudo e cuidar de tratar da saúde da população com rígidas medidas protecionistas. Fábricas, comércio, escolas, transportes do diferentes modais, tudo parado. Um mundo congelado e voltado somente para tratamento dos atingidos pelo vírus.
Pátio de uma fabrica de automóveis em Wuhan
Considerando o volume populacional do “continente” chinês estamos diante de um quadro inusitado e inesperado. A própria cidade de Wuhan, onde o vírus foi detectado e se espalhou, ao contrario do que muitos imaginávamos, é uma metrópole de 12 milhões de habitantes, grande conglomerado industrial, capital da província central de Hubei e nona cidade mais populosa do país. A construção recente de hospitais de dimensões gigantescas e em tempo recorde dão ideia da grandeza dessa cidade. Historicamente Wuhan teve um papel de liderança  importante quando da derrubada do Império, em 1927, tirando do poder o último imperador da Dinastia Quing e estabelecida a Republica Popular da China.
Vista noturna de Wuhan.
Como a paralização é geral, para o bem da população local e mundial, as atividades econômicas sofrerão um forte debaque em nível mundial. Os chineses se tornaram fornecedores mundiais de todo tipo de produtos, dos mais corriqueiros aos mais sofisticados, levando a que a grande maioria dos mercados, mundo afora, confiasse no abastecimento chinês, agora suspenso. Por outro lado, países produtores de commodities, como o Brasil, tomados como supridores de, entre outros itens, minério de ferro, soja, carnes bovina e de frango veem-se  impedidos de abordar portos e aeroportos chineses, também paralisados, com vistas a barrar a disseminação do vírus mortal. Ou seja, a China virou um país sitiado. Com uma população de mais um bilhão e uma economia tão dinâmica era tudo que não se esperava. Quem saiu antes da eclosão do surto pode ter levado a moléstia sem perceber. E houve casos. Segundo se noticia, já faleceram mais de 700 e aproximadamente 32 mil pessoas, na China e outros países, já estão infectados.
Diante de quadro tão assustar é de se esperar, não apenas uma grave emergência mundial de saúde publica, mas também uma acentuada queda nas atividades econômicas mundiais. O clima é de muita expectativa. Indiscutivelmente, a economia foi infectada.
Estejamos atentos e esperemos que esse coranavírus seja controlado, não atinja os pobres e desestruturados países africanos e nem chegue por nossas bandas. E isso só o tempo dirá.    

NOTA: Foto obtida no Google Imagens  

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Fracasso Anunciado

Tenho ouvido, nesses últimos dias, muitas críticas aos organizadores do carnaval do Recife. Faltam incentivos às legítimas e tradicionais manifestações culturais locais. Bailes que animavam o período pré-carnavalesco estão sendo cancelados, concursos de músicas carnavalescas foram esquecidos pelas entidades de fomento à cultura e o carnaval recifense virou um repetido e cansado festival de ritmos variados, muitos deles sem qualquer relação com as origens carnavalescas pernambucanas. Não foi por falta de aviso! Neste humilde espaço, tratei deste assunto com tons críticos desde que vi ser anunciado um tal de Carnaval Multicultural, durante o governo municipal petista. Era, como comentado depois, uma forma de encobrir as manobras comerciais e “arrecadatórias” que acredito rolem até hoje. Trouxeram e continuam trazendo artistas de fora em detrimento dos locais, a preço de ouro e garantindo as “vantagens” por fora. Nessa onda espúria vi até exibições de tango no Cais da Alfândega. Nada contra o tango, nem o rock, o axé ou o carimbó, mas, fazer desses ritmos base do carnaval do Recife! Francamente. Vá à Bahia e veja o que ocorre. Preservação dos valores locais!     
Numa clara conseqüência dessa incompetência cultural, lamento ao notar que as novas gerações não sabem o significado do frevo ou do maracatu. Aliás, detestam esses gêneros de música. Não tardará muito e serão lembranças do passado. Por mais que se entenda que os tempos mudaram e novas idéias e novas formas criativas aparecem é inadmissível que uma ação orquestrada por profissionais desqualificados e alienados, no comando das entidades culturais promotoras, prestem um desserviço social que vem aniquilando o que de precioso foi construído no passado. O fracasso de hoje foi, portanto, um coisa anunciada.  
Observe-se que o que norteia, atualmente, as programações carnavalescas do Recife é pautar valores artísticos de fora, na esteira do sucesso nacional, em lugar da valorosa prata da casa. São interpretes de ritmos alienígenas para iludir os alienados pernambucanos ao som de pagodes, funks, sertanejos, sertanejos universitários, axés, carimbós e rock da pesada, entre outros. Frevo que é bom e pernambucano aparece, quase pra fazer favor e à margem da programação oficial. Pior do que isto é ver que o público assiste tudo de pé numa aglomeração quase sem entusiasmo para pular ou dançar. Portanto, não passa de um festival de músicas e ritmos diversificados. Quem quiser que aprove. 
Multidão parada assistindo a um show carnavalesco no Marco Zero
A salvação do carnaval recifense vem sendo o desfile do Bloco de Máscaras Galo da Madrugada, feliz iniciativa de tradicionais foliões, arrastando no sábado de carnaval uma incalculável multidão pelo centro do Recife. Em moldes atuais o Galo vem honrando as tradições pernambucanas e divulgando o nosso carnaval. Aqui e acolá correndo riscos ao escorregar, também, na leviana ideia de trazer “axeseira” e “carimbozeira”. Mas, Spok responde a altura e mexe com o público. Também, depois do desfile do sábado, quem pode deixa a cidade porque já não encontra nada mais atrativo. Os velhos desfiles de blocos populares – frevo, maracatus e caboclinhos – não despertam mais interesse do público, seja pela pobreza que apresentam e a pouca importância que recebem das autoridades (in)competentes. Faltam apoios da Prefeitura, do Estado e da iniciativa privada. Os grandes patrocinadores comerciais, que podiam aportar recursos, mantêm-se ao largo. E quando o fazem é por meio de algum candidato a cargo eletivo. Aí já viu. Melhor nem comentar.
Fora o Galo, outras poucas agremiações são sustentadas por grupo de famílias da classe média, com poder próprio de bancar fantasias, músicos e flabelos fazendo um carnaval privado, quase sempre em ambientes restritos, relembrando os velhos carnavais, casos dos Bloco da Saudade e Bloco das Flores.
Bloco da Saudade tentando salvar a tradição local 
Muito bem! Mas, resta o Carnaval de Olinda. Bom, este é um capitulo a parte. Tem características anárquicas bem próprias, onde o deboche, a gandaia e a libertinagem dão seus tons. Agrada em cheio a turma jovem que encontra espaço para extravasar seus recalques, mágoas e traumas, além de expungir seus fantasmas. Não falta quem goste!   

NOTA: Fotos obtidas no Google imagens

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...