sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O Tempo não Para


Mal percebemos e já é Natal de um ano repleto de fortes emoções e anunciando outras tantas que prometem movimentar nosso dia-a-dia do ano que se aproxima. Este 2018 entra na História de modo marcante e que, provavelmente, sugerirá frequentes revisões. Foi um ano difícil. O brasileiro comum, depois de um quente verão, ficou na expectativa de uma Copa do Mundo, na Rússia, onde a esperança de cravar um hexacampeonato verde-amarelo deu errado. Jogadores comprometidos com seus respectivos egos e equipe uma mal formada mostrou um futebol de baixa categoria que terminou frustrando a chamada Pátria de Chuteiras. De todo modo, considere-se que o conturbado ambiente politico interno contribuiu para que engolíssemos a seco a derrota no gramado russo.
Sem o Hexacampeonato, a ordem do dia que dominou a vida do brasileiro foi o clima politico. Foi um semestre no qual a coisa esquentou de tal modo que, aquela torcida única que gritou ao tempo dos raros gols e esbravejou pelas falhas da equipe canarinha, de modo uníssono, dividiu-se em duas bandas travando a mais intensa disputa eleitoral vivida no Brasil da pós-ditadura. Quiçá, em todos os tempos. Correu até sangue. A Nação, mais do que nunca, se bipartiu num duelo histórico repleto de episódios palpitantes terminando num epílogo ainda não assimilado pelos derrotados.  
Este mix de frustração e disputa politica resultou num Brasil mais mergulhado ainda numa profunda crise político-econômica e, particularmente moral. Muita sujeira foi lavada e enxaguada, enquanto outras tantas deverão passar pela mesma lavanderia, numa tentativa de limpar a vida nacional. Não vai ser fácil. Os lavadores e lavadeiras vão trabalhar como nunca antes visto.
Prejuízos são incontáveis devido a essa quadra de irresponsabilidade governamental que pontificou. Além da crise, da sujeira politica e da guerrinha instalada, não podemos esquecer, por exemplo, a destruição da História, preservada secularmente, no Museu Nacional (inicio de setembro) num incêndio que repercutiu em nível internacional. E, aqui em Pernambuco, a atitude estupida do Governo local ao não atribuir uma mínima importância à obra do escultor Abelardo da Hora que terminou indo para um especial Museu no estado da Paraíba. Foram, para mim, duas agressões à cultura nacional que jamais serão corrigidas.
Bom, outras barbaridades entrarão no rol das coisas excêntricas do ano, como a aparição de Cristo num pé de goiaba e as façanhas do tal de João de Deus. Este é o Brasil que temos, embora não queiramos.  
Como não podemos e não ficamos alheios ao conturbado clima internacional é de se registrar que o ensaio de Guerra Mundial de Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jog-un incomodou todo brasileiro de são juízo. Por sorte, selaram um pacto de paz e o mundo aplaudiu. A outra coisa preocupante tem sido a invasão de venezuelanos em Roraima (Norte do Brasil) fugindo da fome e das perversidades do ditador Nicolás Maduro. 
Agora, às vésperas do Natal do Senhor, cá estamos na expectativa de vivermos dias melhores, sem exacerbação da pobreza e mitigando a fome que reina solta nos grotões deste continente, com níveis de desemprego reduzindo, equilíbrio político-econômico, juízo para os opositores, entre outras benesses desejadas.
Como o tempo não para, o Blog do GB deseja aos seus leitores uma Feliz Noite de Natal. Que seja mais cristã do que comercial, uma noite de reconciliação, repleta de esperanças que se estendam pelo ano de 2019, para que sejamos mais felizes do que os dias vividos no ano que finda.

NOTA: Imagem obtida no Google Imagens


quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Irresponsabilidades Históricas

Aqui em Pernambuco ocorrem coisas que me deixa profundamente decepcionado com nossos governantes. Estou revoltado com a notícia de que o acervo de obras e esculturas de Abelardo da Hora, falecido em 2014, foi vendido ao Governo da Paraíba, onde vai ganhar um museu dedicado ao artista que nasceu (Tiúma-PE.) viveu e lavrou suas obras de arte aqui no estado. Quanta falta de noção cultural e irresponsabilidade com a História da Arte local. Sua vida e história se desenrolou aqui e o local mais adequado para exposição permanente da sua obra num museu seria no Recife. Falta de sensibilidade cultural desses nossos governantes. Como faz falta gente culta e com noção de Historia à frente de um governo.

Este caso, eu diria que trágica, faz-me lembrar outro que ocorreu na passada década de 70, quando a monumental coleção de arte sacra do colecionador Abelardo Rodrigues foi levada para Bahia por total irresponsabilidade do Governo de Pernambuco. Trata-se de uma das coleções mais expressivas de arte sacra que se tem conhecimento no Brasil. Quando falei monumental, não exagerei. Cheguei a conhecer, observar de perto e tocar algumas peças. Na época era aficionado em obras dessa natureza. Por sorte estive na casa dele algumas vezes e fui sempre bem recebido pela filha, Dóris. Ela sabia que eu gostava de apreciar a coleção.

Pois bem, Rodrigues (1909-71) que era Advogado, tinha como hobby, desde jovem e estimulado pelo pai, colecionar obras sacras antigas e algumas populares (foi criador do Museu do Barro, em Caruaru). Ao falecer – em consequência de um infarte provocado  por uma disputa ferrenha, com o Prefeito Augusto Lucena, defendendo a preservação da igreja do Bom Jesus dos Martírios que o prefeito decidiu demolir (e conseguiu!) para dar passagem à atual Avenida Dantas Barreto – deixou seu expressivo legado para os herdeiros. 
Fachada da Igreja dos Martírios, (século 18) demolida.  
 Sem condições adequadas para preservar o patrimônio artístico e cumprindo o desejo do colecionador, a família Rodrigues resolveu vendê-la ao Governo do Estado com a finalidade de montar um museu Abelardo Rodrigues. O governador da época, 1972, Eraldo Gueiros, fez ouvidos de mercador e, sem sensibilidade para com o tema, deixou que a oferta vazasse e chegasse aos ouvidos do governador Antonio Carlos Magalhães, da Bahia, em 1973. O governador Gueiros quis consertar o erro, fora de hora,  desapropriando o acervo e proibindo a saída da coleção do estado. Mas, foi tarde. Magalhães, famoso como sujeito "bom de briga", não perdeu essa. Após uma “batalha” judicial (chegando, inclusive, ao STF), os baianos ganharam a questão e levaram o acervo. A briga interestadual ganhou a denominação de Guerra Santa. Pernambuco perdeu feio. Foi uma lástima. Imperdoável. Irresponsabilidade Histórica do governo pernambucano. Hoje, o Museu Abelardo Rodrigues instalado em Salvador, na região do Pelourinho, é sucesso de visitação. Veja mais clicando em: https://dimusbahia.wordpress.com/museu-abelardo-rodrigues/
Uma das salas do Museu Abelardo Rodrigues, em Salvador.
Agora, vejam só, a historia se repete! A família de Abelardo da Hora ofereceu - em doação - mais de trezentas peças ao Governo do Estado. Paulo Câmara reeditou o comportamento do governador Gueiros. Percebendo a iminente perda, apenas, nomeou um representante para resolver a questão, que ofereceu um espaço (pequeno, certamente) no Museu Cais do Sertão para colocar, algumas peças. Que absurdo! Não deu outra, veio o Governo da Paraíba e negociou, sem alardes e tranquilamente, com a família do artista e lá se vai a obra de Abelardo da Hora para um museu já pronto, no vizinho estado. Francamente! Chamo isto de ignorância administrativa-cultural imperdoável. Perdemos a preciosa chance de ganhar outro museu que testemunharia os valores culturais de Pernambuco. Sinto profunda vergonha. Quer saber mais sobre o artista? Clique em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21706/abelardo-da-hora
Abelardo da Hora com uma das suas obras.
Quem fez certo foi Ricardo Brennand que, com  próprio cacife, ergueu seu próprio museu - mais deslumbrante de Pernambuco - eleito um dos mais bonitos do mundo, no Instituto Ricardo Brennand, nas terras da família, no bairro da Várzea (Oeste do Recife) reunindo joias da arte mundial. Não me canso de visitá-lo. Veja mais em: http://www.institutoricardobrennand.org.br/
Vista aérea do Instituto Ricardo Brennand
Outra coisa, que me ocorre lembrar agora, é da coleção de artesanato brasileiro (sobretudo do Nordeste) que pertence ao meu amigo e primo Carlos Augusto Lira. Tomara que o Estado saiba, um dia, preservá-la. É outra coisa de valor inestimável. Pode render um belíssimo museu. Ainda bem que, precavido, Carlos Augusto já fundou o Instituto Lira para salvaguardar seu acervo, aqui no Recife.  
Pequena amostra do acervo do Instituto Lira
É isso aí, fiquemos vigilantes porque agindo desse modo as autoridades pernambucanas, aos poucos, apagam os melhores  testemunhos da nossa história cultural e entram nela de modo negativo. Estou de olho!

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens  

sábado, 1 de dezembro de 2018

O Capibaribe que quero



Historicamente sabemos que toda grande cidade ou metrópole moderna nasceu às margens de um curso d´água. Muitas das quais num delta caudaloso. Lógico, porque não se vive sem água e, por isso, as famílias e primitivas tribos buscavam sempre essas localidades. Água para consumo humano, para produzir seus alimentos, sustentar animais e por aí vai. Bom, água é vida.
Mas, tem uma coisa, viver as margens desses cursos d´água exige cuidados que nem toda gente sabe valorizar. Em tempos de campanhas pró preservação ambiental e viajando mundo afora, sempre me admirei muito pelos modos como são tratados os cursos d´água nas cidades que visito. Minhas observações vão desde o ponto de vista ecológico, quanto no aproveitamento responsável das águas. Cidades inteligentes concentram suas bases econômicas nos rios que possuem. Aproveitam como fonte básica de produção e subsistência, como vias de transporte público de passageiros, escoamento de mercadorias e como lazer de inúmeras modalidades (canoagem, ski aquático, pesca, entre outros), além de atração turística por meio de tours fluviais panorâmicos e de eventos. Esta ultima utilização é das mais consagradas entre os viajantes. Lembro dos meus passeios pelo Sena (Paris), Douro (Porto), Hudson (Nova York), Tamisa (Londres), Tigre (Buenos Aires), Xochimilco (Cidade do México)  e noutros rios, que não me ocorrem lembrar os nomes, como em Praga, Saint Louis e Xangai. Infelizmente, no Brasil este potencial turístico ainda é muito pouco aproveitado, salvo pela Amazônia.
Passeio turístico em Xochimilco (Cidade do México) 
Estes comentários me ocorrem, hoje, após tomar conhecimento da retomada do Projeto da navegabilidade do rio Capibaribe – Projeto Rios da Gente –, aqui no Recife, que se arrasta desde 2012 ou 14, sem que desemperre. Está paralisado desde 2016.  Este rio corta a capital pernambucana no sentido oeste-leste, indo ao encontro do Beberibe que, segundo o imaginário popular local, juntos formam o Oceano Atlântico. Coisa de pernambucano megalomaníaco. Folclore à parte, falo de um curso d´água ainda pouco integrado à vida da metrópole devido à falta de visão e de investimentos das autoridades que governam a cidade ao longo dos tempos. E da  iniciativa privada, também. As tentativas dos ribeirinhos são muito tímidas e rudimentares. A proposta da Prefeitura do Recife, orçado em R$ 289,0 Milhões, é de aproveitar a bacia do rio como uma via fluvial de transporte público, em 11Km de extensão. Projetam-se barcos-ônibus partindo do limite oeste da cidade e alcançando a área central, com pelo menos cinco estações intermediárias. Além de desafogar o trânsito nas congestionadas artérias urbanas, hoje em dia, abriria espaço para uma exploração turística muito bem vinda ao setor local. A paisagem do referido trecho é bem luxuriante, com rica vegetação de manguezal e árvores seculares. 
Os bairros da Várzea, Dois Irmãos, Monteiro, Apipucos, Casa Forte, Parnamirim, Jaqueira, Ponte D´Uchoa,  Madalena e Derby, todos no trajeto projetado, são locais que no passado se prestavam para moradias da  aristocracia açucareira pernambucana, aproveitados como locais de veraneios. Imigrantes ingleses, inclusive, que chegaram ao Recife, no final do século 19 e inicio do século passado, fizeram dessas localidades pontos de moradias e lazer. 
Vista parcial do rio Capibaribe. Bairro da Madalena. 
Portanto, falo de uma região que pode contar a história da cidade, através da sua paisagem e beleza natural. Integrando este projeto some-se a urbanização das margens do rio - Projeto Parque Capibaribe - que poderá dar novas feições ao ambiente urbano recifense. Alguns pontos já se tornaram realidade como o Jardim do Baobá, às margens do rio à altura de Ponte D´Uchoa. 
Belo exemplar de Baobá no Jardim a beira do Capibaribe 
O meu amigo urbanista, Francisco Cunha, vem explicando entusiasticamente este projeto e melhor do que posso fazer neste exíguo ciberespaço. 
Animado com a promessa da Prefeitura do Recife, espero alcançar um tour noturno com jantar romântico à luz de velas e música ao vivo, num catamarã bem equipado e instalações dignas, a exemplo de muitas cidades que conheço.
Este é o Capibaribe que quero.

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens. 

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Tomando Formato


Tenho acompanhado atentamente a montagem da Equipe do Governo Bolsonaro que, aos poucos, vem tomando forma. Claro. O Brasil inteiro está atento, depois que desmontados os palanques de campanha, embora haja quem pense num terceiro turno.
À medida que são anunciados os nomes dos futuros ministros e respectivos auxiliares dá para perceber a que vem este novo Governo. Já era tempo porque, afinal, durante a Campanha só vimos e ouvimos discussões acirradas e agressões profundas e necas de propostas concretas de Governo. A ideia de reduzir o número de Ministérios vem sendo aplaudida e, particularmente, reputo como sendo uma medida mais que necessária. Atualmente existem muitos completamente inexpressivos e, sobretudo, inúteis. Cabide de empregos e, na prática, serviram apenas para alavancar o projeto de aparelhamento partidário do Estado conduzido pelo PT, durante treze anos no poder. A criação de um Ministério da Economia, englobando pastas que tratam de assuntos superpostos é uma das mais aplaudidas iniciativas. O titular escolhido para assumir a Pasta é, o que pode se dizer, mentor político-econômico do Presidente eleito e por isso vem sendo chamado de Super Ministro. Quem pode, pode. Os demais indicados parecem ser pessoas com perfis adequados ao projeto Bolsonaro. Principalmente o Juiz Sergio Moro, que pelas atribuições que vai assumir – um conglomerado de funções – pode ser tido como outro Super. Da Justiça. 
Desse jeito, as coisas tomam formatos como esperado e prometido, isto é, auxiliares diretos sem a velha e cansada estratégia do loteamento partidário. Coisa boa, sem dúvida. Presidir com o “rabo preso” deve ser complicado, para quem pretende "botar ordem" na Casa. 
Não obstante tudo isso, fico muito preocupado com o modo pelo qual está sendo tratada a questão da política externa do novo Governo. Temo que um excessivo viés ideológico, conservador e liberal, leve o país a uma senda pouco recomendável para esta área. É preciso ter em conta o fato de que se nos domínios domésticos há espaço para aplicar medidas (parcimoniosas, de preferencia!) que passem por esse viés político-conservador. Mas, o das Relações Exteriores vem se prometendo ser um expressivo desafio. Lidar com parceiros políticos e comerciais internacionais exige flexibilidade político-diplomática que não consigo enxergar, até agora. O indicado como Chanceler, diplomata de origem, vem sendo avaliado com restrições pelos críticos internos e externos. Fui procurar ver de quem se falava e não fiquei tranquilo. Mostra-se admirador extremo do presidente norte-americano, Donald Trump, que não é, nem de longe, bom modelo a ser seguido. Mas, como esse Chanceler vai ter que seguir a cartilha do que chamo Grupo de Choque, fico pensando como será por em prática idéias expressas por discursos que foram “cometidos” por membros do referido Grupo a respeito do assunto. Convém ser lembrado que o Brasil não pode ser uma autarquia no mundo atual, a exemplo do que o Trump vem tentando nos Estados Unidos. Mesmo porque não temos cacife pra tanto e limitar as relações internacionais a poucos parceiros será um equivoco irremediável. Por exemplo, dizer que o Mercosul não é prioridade, é um tremendo equivoco. Causou-me muita estranheza o modo pelo qual isto foi  anunciado. Será de difícil remendo esta potencial quebra do Tratado do Cone Sul. A ideia que o Bloco tem a Venezuela incluída não invalida este acordo. Mesmo que ainda tenha essa participação, que parece ser o óbice principal, não se justifica. O Mercosul é muito maior do que isto. Nossas relações comerciais e políticas com a Argentina, original integrante do Bloco, são de extrema importância em vários segmentos politico-cultural. Fora isto, os hermanos são importantes parceiros comerciais. E parceiros comerciais importantes merecem distinção no trato. Quanto à questão da Venezuela vejo como sendo uma coisa facilmente resolvível. Basta que a flagrante situação político-institucional adversa do nosso vizinho ao norte seja discutida no Conselho do Bloco, que poderá expulsá-lo evocando um dos principais pilares do Acordo que é a garantia de estabilidade política dos seus signatários. Ora, a Venezuela, indiscutivelmente, vive uma duríssima ditadura. Isto seria o bastante. Detalhe: A Venezuela foi incluída como membro por imposição política dos governos bolivarianos brasileiro (Lula/Dilma) e argentino (Cristina Kirchner).
Há também outro imbróglio complicado que é a dos médicos cubanos no Mais Médicos. Isto promete muitas emoções. Aguardemos.
Ouvi falar, também, de uma revisão à recente Lei de Migração que tramitou por cinco anos no Congresso Nacional e foi sancionada no ano passado. É a lei 13.455/2017. Não é ruim e segue parâmetros internacionais. Começar tudo de novo e negar compromissos firmados pode dar prejuízo. Quer saber mais? Clique em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/05/25/nova-lei-de-migracao-e-sancionada-com-vetos
Bom, o formato deste novo Governo interessa a todos nós porque vai mudar muita coisa na vida do brasileiro(a). Dei ênfase a uma área que me interessa em particular, mas, “muitas águas vão rolar sob a ponte”.
  
NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.      

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Lições de uma Campanha

Indiscutivelmente a recente campanha eleitoral no Brasil, embora muito tumultuada pela polarização exacerbada que a caracterizou, proporcionou uma série de boas lições de como se vivenciar uma Democracia. Choros e rangeres de dentes, ofensas e desafios, brigas, agressões  mortais e tudo que se pode imaginar foi posto em prática pelos contendores. No final, o eleitor, através do voto popular “bateu o martelo” e fechou a questão. Bom, são coisas somente possíveis num regime democrático. Posso deparar-me com quem discorde, mas, aos fatos ninguém pode se opor.
A campanha, além de pouco propositiva, foi provocativa e, de certo modo, traumática para boa parcela da sociedade. Um efervescente caldo de acirrados debates entornou sobre as famílias brasileiras, devido aos inúmeros fatores estruturais negativos e como ocorre em qualquer república séria. Lembro de imediato o profundo descrédito da classe política, a corrupção desenfreada, a falta de humildade e vergonha dos recentes governantes em reconhecer seus erros e os consequentes e nocivos rebatimentos sobre a população, obrigada a amargar uma recessão econômica sem precedentes, um altíssimo nível de desemprego, uma crescimento acelerado da camada marginal da sociedade, a insegurança e a falta de devidos cuidados com as áreas básicas de Saúde e Educação. São fatores mais do que relevantes. O país “pegou fogo” em meio a um debate insano e descontrolado. Acho que o rescaldo desse incêndio, por certo, vai exigir tempo e muita habilidade política dos futuros governantes. 
Afora estes aspectos já descritos, ganhou força, em meio aos debates, a verdadeira guerra cultural travada entre as forças mais conservadoras versus as que se denominam de progressistas, quanto aos costumes morais e novas formas de vida social. Debateu-se e seguramente continuará sendo debatido aquilo que projeta ser um verdadeiro ponto de inflexão nas formas e arranjos familiares, considerado por muitos como sendo inexoráveis. Querendo ser imparcial, confesso ser favorável à livre escolha dos cidadãos e cidadãs pelos seus modos de vida privada. Mas, por favor, sejam respeitadores para serem respeitados, dignos e conscientes das suas escolhas. Sim, porque há os que não têm essa necessária segurança e, por isso, não se portam dignamente.
Mas, tem uma coisa: fica difícil aderir às mudanças abruptas pregadas por indevidas cartilhas, de referencias supostamente socialistas, editadas no Brasil recente, impondo às crianças e adolescentes, em idade escolar e nas próprias escolas, uma tal de ideologia de gênero. Sinceramente, é inadmissível tamanha agressão às nossas crianças e jovens adolescentes. Conheço e já estive e convivi em países socialdemocratas, socialistas e, inclusive, alguns de regime comunista, sem perceber sinais desse tipo de agressão às crianças e jovens. Pelo contrário, observei foi muito respeito social ao próximo, escolas de cidadania e mentoras de respeito aos valores de famílias. Posso estar enganado, é claro. Mas, estou certo de que não pode ser tão estúpido quanto impuseram, recentemente, por aqui.
No meio disso tudo, algumas perguntas são inevitáveis: quem quer ser homossexual precisa de escola? Quem quer se prostituir precisa de ter orientações na idade escolar? Existem escolas de corruptos? Quem não tem respeito à família foi orientado para isto?
Nada disso! A vida leva o individuo a um desses rumos sem que precise de cartilhas ou ensinamentos específicos. Aliás, para o bem ou para o mal, não há melhor escola do que a escola da vida. Agora, Educação é fundamental para tudo. A pessoa precisa ter uma boa formação escolar e de cidadania para enfrentar os desafios impostos pela convivência social. Gay, prostituta ou qualquer outra forma de vida é preciso saber ser.
E, por falar em Educação, lembro também da interpretação equivocada dos recentes governantes ao querer adotar a proposta de Escola Politizada de Paulo Freire. Ora, meu Deus,  mestre Freire defendeu sua ideia, mas, não à base de politização partidária como passou a ser empregada por aqui. A proposta original, e correta, parte do principio de que sendo o Homem um ser politico – na sua essência de ser racional – nada mais lógico do que orientá-lo, desde a escola primária, com lições de cidadania, urbanidade e sociabilização. E isto é politizar! Freire criticava os padrões tradicionais de ensino consistindo num currículo padrão, na falta de diálogo e com o professor sendo sempre, e somente ele, o dono da verdade. Mas, a coisa foi interpretada de modo inadequado e equivocada, como falei acima. Ao invés de seguir as lições do Mestre houve, sim, uma intensa formação de militância partidária e impositiva prejudicando o progresso da Democracia brasileira. Na verdade, houve um aparelhamento das escolas e universidades para um grupo que visava tão somente à manutenção do poder a todo custo, em detrimento do futuro da Nação. É uma pena que no Brasil a Educação seja tão deturpada e negligenciada.
Bom, tudo isto contribuiu para formatar inesquecíveis lições de uma Campanha Politica carregada de desencontros e fortemente polarizada. Como dizem popularmente que Deus é brasileiro, vamos aguardar o que Ele nos reservou.


NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens 

domingo, 28 de outubro de 2018

E agora, Capitão?

Presidente Jair Bolsonaro, agora que o Senhor está eleito chegou a “hora da onça beber água”, como se diz aqui no Nordeste. Os brasileiros acabam de lhe conferir o poder de governar o país pelos próximos quatro anos. Não se trata de uma missão fácil, sobretudo pelas condições adversas que o Senhor está recebendo o Governo. Sua vitória, não esqueça, foi resultante de um momento de muita incerteza política e diante de um quadro desvanecedor. Pensando bem, o Senhor – com sua bandeira de moralidade, ordem e progresso – é resultante legitimo do estado de desgoverno que tivemos no passado recente. Muitos, muitos mesmo, nunca antes imaginaram sufragar um voto a seu favor. Eu, inclusive. Porém... (há sempre um porém!) a situação resultante das crises de vergonha, política, econômica e social não apontaram outro caminho, a não ser conferir-lhe a vantagem e a preferência de uma Nação que fugia do quadro desesperador, devido a políticos corruptos e irresponsáveis que traíram a vontade do povo. Observe, com cuidado, todo este processo recente e, particularmente, o recado que as urnas do primeiro turno lhe mandaram, abrindo grande margem para ampliação da bancada do seu partido. Haja responsabilidade.


Não sabemos ao certo qual seu plano de governo, mercê de uma campanha eivada de turbas e desencontros, muitas das quais, inclusive,  com grave risco de vida para o Senhor. Mas, agora não dá mais para esperar. Está na hora de serem emitidos sinais de governança e muito trabalho. Antes de tudo buscar unir a Nação, saturada pela anarquia da Era Petrálea. Em seguida, urge que reúna sua equipe e mostre a que veio. Distante, muito distante, claro, das “ameaças” de prender e matar que serviram de primeiras  referencias para seu discurso agressivo. E, sobretudo, a garantia de respeito à Constituição vigente e à Democracia.
Seu partido que sai da faixa do baixo clero, graças ao sucesso obtido nas urnas, como falei acima, precisa ter visão critica bem apurada e poder para enfrentar uma oposição ferrenha dos derrotados e que ainda são numerosos na Câmara e Senado Federais. Estarão seus pares preparados para lhe dar o suporte necessário na tramitação das medidas corretivas que apresente, entre as quais as das reformas necessárias ao Brasil que lhe entregaram?
É, Capitão, sua missão será necessariamente hercúlea para corrigir tudo de errado que cometeram (e praticamente, confessaram em campanha!) nesses últimos anos de (des)Governos. Um programa compreensível e detalhado deve ser anunciado – o mais breve possível – à Nação. E, que não se concentre em possíveis e tentadoras ações de perseguição às “bruxas”, sob pena de perder o time da governança.
O Brasil que lhe conferiu o poder de Chefe de Estado espera, mais do que nunca, por ações práticas, honestas e seguras. Tudo para recuperar o Brasil e o tempo que nos roubaram. Caso contrário, se prepare porque o tal do gigante acordou. 
Boa sorte Capitão! 

NOTA: Foto obtida no Google Imagens          

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Dores da Democracia

Se há um assunto que foi muito debatido nesta campanha política brasileira de 2018 é o da Democracia. Isto porque há, indiscutivelmente, um suposto temor geral sobre os riscos que estamos correndo de uma ruptura do sistema, seja vencedor A ou B. Sobretudo nesta fase do segundo turno. O candidato do PT (Fernando Haddad – preposto de Lula, preso em Curitiba) vende a imagem de democrata, embora que alimente concreta simbiose com todos os ditadores sul-americanos e alguns africanos e insista na tese de que o candidato do PSL (ex-Capitão Jair Bolsonaro) seja um admirador da ditadura militar e, como tal, disposto a retroceder aos idos de 1964. 
Dividida, a sociedade entrou em estado de perplexidade embora disposta a “acertar as contas” no voto, dia 28 próximo. Isto, aliás, democraticamente! Claro, porque aqui existe o debate, as trocas de insultos, desafios e, por fim, uma eleição decidida no voto popular. Portanto, é uma real Democracia.     
Historicamente, nunca foi fácil nivelar opiniões divergentes, seja qual for a circunstância. Se existir radicalismo num ou mais grupos litigantes a busca do nivelamento pode produzir conflitos incontornáveis e muitas vezes irreparáveis. Por princípio democrático, prevalece sempre a tese da maioria. Teoricamente é neste regime que se espera haja a possibilidade de se chegar a um desejado nivelamento de opiniões em benefício do grupo social objeto da lide. Contudo, nem sempre há o desejado nivelamento. Isto é aplicado, até mesmo, num ambiente familiar.
Em recente debate pela TV, assisti ao então candidato à presidência da Republica, Ciro Gomes, resumir em poucas palavras sua opinião a propósito do sistema, afirmando que “a Democracia é uma delicia, mas tem certos custos”. É verdade. Concordo com ele. É o que estamos vendo neste momento brasileiro. O custo é muito alto porque provoca dores profundas na sociedade. Com uma Democracia relativamente jovem e com o país mergulhado numa profunda crise moral-político-econômica, a busca por um concerto harmonioso da sociedade tem rendido um amargo processo.
À medida que a corrida eleitoral se aproxima do fim, isto que chamo de dores da Democracia se impõem de modo violento e um estresse coletivo sufoca cidadãos e cidadãs mais ligados, resultando em "fraturas expostas" entre os partidos políticos, sociedades organizadas, grupos sociais e até entre integrantes de famílias, antes tranquilas. A incerteza do futuro, o medo e o ódio tomaram conta dos indivíduos e até aqueles que nunca, ou pouco, se ligam em assuntos de política liberam as feras que habitam suas peles dando vazão à discussões acaloradas, improdutivas e, sobretudo, prejudiciais à união, aos bons hábitos e costumes e, finalmente, à Nação.  Para mim que acredito piamente que nunca haverá Ordem e Progresso, como manda nossa flâmula, se não houver células familiares unidas e integradoras da unidade nacional é uma dor. Claro que parto do princípio que as famílias são elos que fortalecem a Nação.  
No meio dessas discussões encontrei, outro dia, uma afirmação do critico e escritor português Miguel Esteves Cardozo, muito própria para o que venho conferindo entre nós brasileiros, que diz: “os verdadeiros democratas não são aqueles histéricos que exigem isto e reivindicam aquilo, que dizem que precisamos de não sei quê e que vamos todos morrer estúpidos se não fizermos não sei que mais. São (ao contrário) os que vivem e deixam viver. São os que respeitam as opiniões, as excentricidades e as manias dos outros, sem ceder à tentação de os desconvencer à força.”  Vejo este comportamento antidemocrático frequentemente entre nós. Mesmo entre membros de famílias, o que é mais doloroso. Ora, as eleições passam e as dores custam a ceder. Não é simples viver numa Democracia, sobretudo para quem se posiciona como dono da verdade.
Diante disso tudo, vem uma pergunta que não cala: será que o brasileiro está preparado para viver numa genuína Democracia? Eis a questão! Segundo o educador Anísio Teixeira, “só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”. Cá pra nós, é um formidável desafio para quem vier a ocupar o Palácio do Planalto. E, claro, para todo brasileiro de são juízo.
Então, coloquemos nossas cabeças em ordem para decidir nosso destino, sabendo que a nossa arma é o voto. No próximo dia 28, vote com consciência, espantando as dores que a Democracia lhe provoque. 
  
NOTA: A ilustração foi obtida no Google Imagens

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...