segunda-feira, 28 de abril de 2008

SOCORRO! QUEREM IMPLODIR O CRISTO REDENTOR

“Estou com raiva do Cristo desde que ele foi eleito uma das sete maravilhas do mundo. Foi um absurdo. A estátua não tem nenhum valor artístico. Seria maravilhoso implodir aquele bagulho, um espetáculo.” São palavras do ator Paulo César Pereio, numa entrevista a revista Veja, desta semana (Veja de 30.04.08, p. 48). Incrédulo, li na entrevista que o sujeito resolveu lançar uma campanha para implodir o Cristo Redentor. Dizendo-se ateu, pessoa paradoxal e ex-comunista, justifica-se dizendo que o monumento enfeia a paisagem carioca. Êita lapa de doido!
Fico pensando como uma coisa tresloucada dessas pode acontecer. Ah! Tenha paciência, esse cara quer aparecer. Vai ver está sem trabalho nos palcos e no cinema. Isto, aliás, é bem provável porque, com aquela cara de desequilibrado, deve ter diretor correndo dele.
Indiscutivelmente, o Cristo é um ícone do Rio de Janeiro e do Brasil. Sinto imenso prazer ao vê-lo estampado em propagandas turísticas por onde ando mundo afora. Ele está para o Brasil, como a Torre Eiffel para Paris, as esculturas de Michelangelo para a Itália e a Estatua da liberdade para Nova York. Ou seja, é a nossa marca!
Esta coisa maluca me faz lembrar incríveis episódios de ataques a famosas obras de arte espalhadas pelo mundo, particularmente na Europa, igualmente ícones de seus respectivos países.
Pessoas, geralmente turistas estrangeiros, são atacadas pelas síndromes de Stendhal e Davi, que provoca confusão mental e alucinações e traz transtornos psíquicos latentes, especialmente diante de obras do renascimento italiano.
Psicologicamente transtornado e sentindo-se humilhado pela perfeição e beleza anatômica do Davi de Micheangelo, exposto em Florença, Pietro Cannata (imagino o traste) danificou a obra com marteladas certeiras, no ano de 1991.
Outra obra de Michelangelo, a Pietá, foi atacada em 1972, pelo louco geólogo Laszio Toth (parece que húngaro) que entrou na Basílica de São Pedro, em Roma, e com machadadas danificou a obra, gritando “Eu sou Jesus Cristo”. Hoje, a Pietá é protegida, dentro de uma capela, por um vidro blindado e é mantida a distancia dos loucos. Em 1969, quando estive pela primeira vez em Roma, quase pude tocar a imagem. Ela ficava ao alcance de qualquer visitante.
Mas, não são apenas as esculturas os alvos dos loucos soltos pelo mundo afora. A Mona Lisa, o mais famoso quadro de Leonardo da Vinci, de 1503, pertencente ao acervo do Museu do Louvre, em Paris, foi alvo de dois ataques, no ano de 1956: no primeiro, um anônimo lançou ácido danificando a parte inferior da tela, logo recuperada. No mesmo ano, no dia 30 de dezembro, um turista estudante boliviano lançou uma pedrada arrancando parte da pintura, que é sobre madeira de álamo. O débil mental foi preso e levado para uma prisão psiquiátrica. Depois disso o quadro é protegido por uma placa de vidro blindado.
O quadro mais agredido, contudo, foi a Ronda Noturna de Rembrandt (1642) pertencente ao Rijksmuseum de Amsterdã (Holanda). Gosto demais desse pintor e deste quadro em particular, que considero a sua mais importante obra. Em 1915, um sapateiro desempregado riscou a tela, que é imensa e ocupa um único salão do Museu, causando leves danos. Em 1975, um desconhecido desferiu 13 facadas na tela, algumas com 80 cm. E 1990, um holandês jogou ácido sulfúrico sobre a obra. Depois dessas ações desatinadas a Ronda Noturna, devidamente recuperada, só pode ser vista a distancia e a salvo dos pereios da vida.
É impressionante o número de débeis mentais espalhados pelo planeta, destruindo obras de arte.
Claro que outros episódios podem ser lembrados, como o que ocorreu, final do século passado, quando os Talibãs destruíram as maiores estátuas de Buda que havia no mundo, uma delas com 53 metros de altura, esculpidas nas montanhas do Afeganistão. O motivo apresentado por eles, que são islâmicos radicais, era de que aquelas imagens históricas contrariavam sua religião. É, na verdadeira expressão da palavra, uma barbaridade! E, haja barbaridades, soltas por aí...
Essa idéia maluca do Paulo César Pereio deve ser repudiada pela sociedade brasileira. O Cristo Redentor, embora nem se compare com as obras antes citadas, é nosso ícone maior. É, sim, uma maravilha do mundo moderno e tem que ser preservada e protegida. Salvemos o Cristo da “sanha pereiana”.
Da minha parte, garanto que nunca mais vou pagar para assistir um filme ou uma peça de teatro cujo protagonista, ou mesmo coadjuvante, seja esse ator desmiolado. Pode ser uma retaliação tola, mas me tranqüiliza.

Nota: Fotos obtidas no Google Imagens.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

NOME PRÓPRIO OU IMPRÓPRIO? EIS A QUESTÃO.

“Wellington, o marceneiro, se encontra?” “Não, Senhor. Ele saiu e só volta mais tarde”. Perguntei se ele tinha celular? “Tem sim, Senhor”, respondeu a mocinha, entregando-me um cartão dos irmãos marceneiros, no qual encontrei, com letras em negrito: Uélito e Uoxinto, marceneiros competentes, endereço, telefone, etc. e tal.
Fiquei pasmo com aquele horror de grafia. Vejam só: Uélito e Uoxinto!
Sempre fui muito ligado nessa discussão de nome próprio. A razão é simples: quem tem o nome próprio Girley, tem pela frente inúmeras dificuldades a administrar. Ora é chamado de Gírley, depois por Shirley, Gisley, Girleno e outras formas estranhas. Nos países de língua espanhola a coisa se dana, porque G tem som de R e por isso eu viro Rirley ou Rírley. Complicado até de pronunciar. Em inglês é pior, vira Guerlí ou coisa parecida. Nesses casos prefiro usar o nome Antonio, meu segundo nome próprio.
Canso de receber correspondências com o tratamento de Ilma. Sra. e Prezada Amiga. Já pensou que situação? Ou então, toca o telefone e pedem para falar com a Senhora Shirley, Girley ou Gírley! Minha secretária fica em desespero e a empregada, em casa, nem se fala.
Sempre questionei minha mãe por haver me dado este nome raro e problemático. Ela me dizia achar lindo. Tem jeito uma coisa dessas? Lindo, é demais! Minha falecida mãe era uma pessoa de bom gosto, mas, com 17 anos, ao me trazer ao mundo, foi na onda da minha avó paterna e me arranjou essa beleza de nome. Pois é, minha avozinha – que Deus a tenha num bom lugar – tinha mania de colocar nomes estranhos e longos nos filhos. Não sei bem a razão. Pelas loucuras dos nomes que colocou nos filhos acho mesmo, que a pobre coitada passava por distúrbio puerperal, ao qual dei um nome vulgar de “síndrome da sopa de letrinhas”. O meu pai recebeu no registro de nascimento o singelo nome de Gueythysymayny. Os irmãos receberam os graciosos nomes de: Gylwalraydy, Gueyfryryldy, Galwestony, Guethywoney, Gylglaskony, Gueythyraydy e Gueythycheyny. É verdade! E, acredite se quiser. Esses pobres coitados, portadores desses desatinados nomes sofreram e protestaram, a vida inteira, esses nomes (im)próprios. Meu pai só faltava morrer de raiva. Nunca o nome dele era grafado corretamente e isso se transformava num calvário para consertar, sobretudo, nos documentos oficiais.
Ah! o mais curioso é que nenhum era conhecido pelo nome impróprio. Todos receberam apelidos, os mais jocosos possíveis. Meu pai era Yôyô. Ridículo. Não combinava com ele. Os demais eram: Xôxo, Marumbo, Pituca, Voninho, Chenita, Guetinha, Radinho e vai por aí... Imagine só: "vem cá Xôxo" ou "Sai pra lá Xôxo, agora é Yôyô". Sei não...
O pior é que minha mãe me dizia que o meu nome devia ter sido Fernando Antonio. Ficou Girley Antonio. Minha avó exigiu um nome com a letra G, tradição na família, e queria me dar um nome parecido com os dos meus tios. Vôte! Menos ruim, este Girley.
Mas, deixo claro, que este era o único defeito da minha avó. Era uma pessoa adorável e carinhosa, sobretudo com os netinhos. Morreu muito moça, ainda, com pouco mais de 60 anos. Deixou saudades. Não pelos nomes que deu aos filhos e alguns netos, mas pelos gestos e bondades. O convite para a missa de Sétimo Dia, publicado na imprensa foi uma sensação, pelos nomes estranbólicos, dos filhos que convidavam. Teve gente que foi a missa, na Igreja do Carmo, só para ver essa gente “estrangeira”. Aliás, todos com o sobrenome de Brasileiro. Inacreditável.
Pois é. Essa coisa de nome próprio é muito séria. Os pais deviam ser mais cuidadosos. Um nome impróprio pode mesmo complicar a vida de um cidadão. É preciso ter cabeça no lugar para administrar essas coisas.
Quando, a cada ano, sai a lista dos aprovados no vestibular, corro para ver as maluquices. Já vi coisas estranhas como: Yereschelein, Crayton, Tairone Pover, Geliadson, Gredson e Gleybson. Estes três últimos, vai ver, são meus parentes. Ah! Já vi Gisley! Que coisa mais louca, meu Deus.
Mas, a mais estarrecedora foi ver na primeira página do sangrento jornal Folha de Pernambuco, uma noticia com foto e tudo e a legenda: “José Girley foi morto com um tiro na cara”. Meu Deus, quanta gozação, naquele dia.
Se, por um lado, o nome próprio pode criar problemas, outra coisa muito séria é a do sobrenome. Alguns são impossíveis de se administrar. Imagine o cidadão ter o sobrenome de Rola. No Ceará tem uma família com este nome. Comerciantes famosos, donos da Casa Rola. Eu soube, não sei se é verdade ou piada, que nessa família tem duas senhoras que respondem pelos nomes de Imaculada e Benvinda. Espero que não tenha nenhum Jacinto. Sinceramente, se for verdade, esses pais deveriam receber ordem de prisão, no Cartório de Registro Civil.
Ocorre-me lembrar um outro caso incrível: tive que apresentar um conferencista num seminário técnico de metal-mecânica, que coordenei, no Recife, na década de 90. Ao receber o cartão do cidadão, fiquei pasmo com o nome do cara: Waldir Fodra. Meio encabulado perguntei como deveria apresentá-lo ao publico e depois à imprensa. Ele disse, bem sério, Waldir Fodra. Digamos, com licença da palavra, que foi “fodra” fazer aquela apresentação. Nem preciso relatar a reação da platéia.
Para terminar, não posso deixar de relatar o caso mais traumático que vivi, por conta dessa coisa de nome impróprio. Há 30 anos, conheci, em São Paulo, a mãe de uma amiga, judia alemã, que se chamava Erda. Imediatamente, associei a palavra (m)Erda. Impossível não acontecer. Depois de algum tempo voltei a encontrar a dita senhora e, confiante na minha memória e associação antes feita, cometi a maior gafe da minha vida: chamei-a de D. (b)Osta. Nunca mais quis ver essas pessoas.
Por conta de tudo isto, já pensei em liderar um movimento nacional criando uma Sociedade dos Portadores de Nomes Impróprios – SPNI. O inverso de INPS! O objetivo seria orientar os pais para não serem acometidos pela síndrome da sopa de letrinhas ou pela mania de exotismo do nome (im)próprio. Além disso, essa Sociedade iria coletar assinaturas para apresentar um projeto popular ao Congresso Nacional que facultasse ao cidadão – de modo mais simples e sem ônus – a escolha de um novo nome, após completar a idade da razão.

Foto colhida no Google Imagens.

domingo, 13 de abril de 2008

MERCI BEUACOUP, NAPOLEÃO.

Este mundo dá muitas voltas. Ai de nós, se não fosse assim. Verdades de hoje, podem não ser amanhã. Imagens manchadas, no passado, tornam-se imaculadas depois.
Tenho acompanhado, nesses últimos meses, a recuperação da imagem de D. João VI, que reinou no Brasil, há duzentos anos.
Todo mundo lembra bem desse personagem da nossa história, mostrado sempre de forma patética e, até mesmo, grotesca.
Agora, porém, alguma justiça começa a ser feita e a primeira conclusão é que houve um forte exagero e muito folclore. Recentes debates e publicações sobre os duzentos anos da chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, melhor fundamentados, dão conta de uma história mais digna ao monarca que, sem dúvidas, mudou o Brasil.
Tive a curiosidade de ler a obra de Laurentino Gomes, intitulada “1808”, primeiro lugar entre as mais vendidas, no seu gênero.
Numa linguagem leve e moderna, a figura de D. João VI é mostrada de forma mais correta. Segundo Gomes, o homem não era tão idiota como mostrado na TV ou pelo filme de Carla Camurati, embora não chegasse a ser um grande exemplo de monarca ou chefe de estado.
D. João VI chegou ao poder de uma forma indesejada: a principio ocupando o lugar de herdeiro, devido à morte do irmão mais velho e depois, assumindo o posto de Príncipe Regente no lugar da mãe, Dona Maria, a Louca. Aguardou a morte dela, para, enfim, ser coroado Rei do Reino Unido do Brasil e Portugal, em 1816.
Foram muitas agruras na vida desse homem, que sem querer e sem ter vocação, tornou-se um monarca movido a espasmos de governante, que, de um modo ou de outro, terminaram dando certo.
Casado com a espanhola Carlota Joaquina, causadora de inúmeras dificuldades, inclusive políticas, D. João comeu do “pão que o diabo amassou”. Tanto ela, como a Rainha Mãe, foram, na prática, “duas cruzes” carregadas por D. João, à vida inteira. Duas loucas numa porta só. Uma já é ruim e não tem quem agüente. Imagine duas!
Doidas à parte, vou lembrar dos feitos e das vantagens, para o Brasil, resultantes das decisões desse nosso Rei.
Ninguém podia imaginar, naquela época, o que poderia acontecer à Família Real e ao reino de Portugal, depois daquela fuga açodada, no dia 29 de novembro de 1807. As tropas de Napoleão ainda avistaram as embarcações, zarpando do cais de Belém, em Lisboa, rumo ao Atlântico e com destino à Colônia do Brasil. Chegariam ao destino? Voltariam algum dia? O que seria daquele reino, dali em diante?
Com muitos percalços, a comitiva Real encostou no Brasil após mais de três meses navegando em condições sanitárias deploráveis, além das situações adversas e inseguras, num tempo em que os meios de comunicação eram mais do que rudimentares. A Inglaterra, a rainha dos mares, à época, tradicional aliada de Portugal, escoltou a esquadra Real e garantiu a chegada ao seu destino.
A Colônia não passava de celeiro do reino de Portugal. Ouro, pedras preciosas, madeira de lei, açúcar, entre outros poucos itens eram levados para comercialização na Europa e sustentavam um Portugal combalido e cada vez mais decadente. A cartada final estava nas mãos de Napoleão Bonaparte, que naquela ocasião invadia todos os paises europeus e ampliava seu Império de forma nunca vista. Ao ser coroado na Notre Dame, em Paris (02/12/1804), o sujeito foi considerado “o mais poderoso sopro de vida humana sobre a face da Terra”.
O Rio de Janeiro, onde D. João se estabeleceu, era uma cidade com aproximadamente 60 mil habitantes, vivendo em condições subnormais, sem qualquer estrutura urbana. Um verdadeiro caos. Na intenção de transformar o Brasil na sede do Reino, o Regente D. João, tinha que mudar esse quadro e assim procedeu. Desde os primeiros momentos, ainda na sua parada em Salvador, começou a por em prática uma série de mudanças que transformariam, completamente, os padrões geo-políticos e sócio-econômico da, até então, subjugada Colônia do Brasil. Abriu os portos às nações amigas, criou um curso de medicina – a medicina era, naquela época, exercida por barbeiros e curiosos – outros de técnicas agrícolas, um laboratório de estudos e analises químicas, a Academia Real Militar, que ensinava Engenharia Civil e Mineração, fundou a imprensa nacional e o primeiro jornal, a Gazeta do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, criou, ainda, o Jardim Botânico, o Real Teatro de São João (hoje João Caetano), o Banco do Brasil, liberou e incentivou as atividades comerciais e industriais, que eram proibidas, construiu as primeiras estradas do país e tratou de expandir e fixar as fronteiras do país. Para completar ainda mandou vir da França uma plêiade de artistas para criar um ambiente europeu nesse reino tropicalista. São famosas, por exemplo, as obras de Debret e Taunay.
Coube a D. João, portanto, o importante papel de dar uma forma digna à antiga Colônia, para adequá-la às condições exigidas para sede do seu Reino. Em suma, o Brasil saiu da condição de colônia subjugada e alçou vôo que, depois, o levou à independência, em 1822, pelas mãos do herdeiro de D. João, o principe D. Pedro.
Mas, pensando direitinho, eu acho que isso tudo se deve mesmo é a Napoleão Bonaparte. Claro! Se ele não tivesse investido contra Portugal, essa família real teria, certamente, ficado por lá, depredando a Colônia do Brasil, até que esta se transformasse num grande “barril de pólvora” explodindo na forma de inúmeras republiquetas, como ocorreu na América espanhola, amargando maiores problemas do que os que hoje administramos. Não é mesmo?
Se essa minha tese ganhar fôlego, vamos ficar devendo homenagens ao Bonaparte, além da rede pernambucana de fast-food. Avenidas, estátuas, praças... sei lá, o que mais.
Por isso, por via das dúvidas, pelas voltas que o mundo dá e por enquanto, Merci Beuacuop Napoleão!

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens: em cima, o feio D. João VI e, abaixo, Napoleão, que era feio também, mas tinha um belo e famoso cavalo branco.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O PORTAL DA AMAZONIA

Este país é mesmo fabuloso. Quanto mais se anda, mais beleza se encontra. Semana passada estive, numa missão de trabalho, por dois dias, na bela capital do Pará, a cidade de Belém. Não foi minha primeira visita a capital marajoara. Já andei por lá várias vezes, desde a década de 70. Ao longo desse período, venho observando as mudanças, para melhor, é claro, daquela que é a metrópole do Norte.
A cidade recebe o visitante de “braços abertos” com sua atmosfera amazônica, o que a torna diferente de qualquer outra localidade brasileira. Não tarda muito e o visitante se depara com um verdadeiro paraíso aquático devido sua localização numa confluência de vários rios, quase boca do grande Amazonas. O luxuriante verde domina a cidade e ao percorrê-la o forasteiro é inevitavelmente envolvido pela seiva reinante da maior floresta do planeta, que naquele sitio já domina o ambiente. Belém é, na pratica, um Portal da Amazônia.
“Estas mangueiras doutor, no mês de dezembro, ficam carregadas de frutos deixando a cidade repleta de verdadeiras árvores de natal. É lindo doutor!”, comentou o motorista – excelente exemplo da hospitalidade paraense – que, durante dois dias, me conduziu pela cidade. Pude imaginar o que ele me dizia, porque isto foi uma coisa que sempre me chamou a atenção, em Belém. É impressionante a quantidade dessas fruteiras, naquela cidade. Aliás, Belém é também conhecida com a cidade das mangueiras. Seu maior estádio desportivo se chama Mangueirão.
Nesta época do ano chove muito na região. Aliás, como é amplamente sabido, chove todo santo dia, depois do meio-dia. É muito engraçado. Tradicionalmente, o povo local já pauta sua programação diária considerando dois momentos: antes ou depois da chuva. A chuva só dá uma trégua no mês de julho, que é a grande temporada de verão. A cidade praticamente pára nesse mês. As famílias correm para o litoral e curte a praia do Mosqueiro, próxima a foz do Amazonas.
Cidade muito antiga, Belém tem um conjunto arquitetônico colonial dos mais belos e bem preservados do país. A parte histórica da cidade é um verdadeiro presente para os olhos do turista. A Praça da Sé, com a própria igreja cadetral, compreende ainda a Igreja de Santo Alexandre, com o Museu de Arte Sacra e sua fantástica coleção de imagens, se constituindo numa das maiores atrações da cidade. Na mesma praça dois outros pontos turísticos completam o cenário: o Forte do Castelo e o Sobrado das 11 Janelas. No sobrado encontra-se um movimentado bar e restaurante, uma franquia do Boteco do Recife. Sem dúvidas o mais belo da rede. A comida nem se fala. Já o Forte merece ser percorrido e visitado, onde, também, se encontra outro museu.
Bem próximo da Sé, outra praça se destaca com dois prédios magníficos: o Museu do Estado (1771) e a Prefeitura da Cidade, este uma réplica do Museu Imperial de Petrópolis. São duas belas construções. À noite, com a iluminação turística, enchem a vista do visitante.
Mas, não fica por aí. A caminho da Praça da Sé, está o tradicional mercado do Ver o Peso, festejando, durante minha passagem pela cidade, 372 anos de existência. É lá que o turista encontra todo tipo de ervas e garrafadas, frutos da sabedoria e ciência indígena da Amazônia e que, segundo eles, curam todo tipo de dor, mal-estar, impotência e frigidez, mazelas, mandingas e outros bichos. Ah! Tem, também, sabonete para chamar dinheiro, mulher ou homem. Pó para afastar olho grande, azar e urucubaca. Mas, bom mesmo é conversar com o vendedor. Divertidíssimo. Atração turística imperdível. É lá que se encontra o melhor do artesanato da região. Mas, atenção, os locais recomendam segurar a carteira. Nada de mais, já que Belém é Brasil.
Como as atrações não param, é importante dar uma passada no Complexo Turístico das Docas. O antigo Porto de Belém foi transformado num dos mais belos equipamentos turísticos do Brasil. Um water-front de causar inveja a qualquer outro do gênero, no mundo. Sinceramente, no mesmo padrão de Puerto Madero, Píer 17 ou Bay Side. Dá gosto e orgulho ver aquele negócio. Uma jogada de mestre! E, estando lá, a melhor pedida é degustar uma cerveja com sabor de bacuri (uma fruta exótica da região), tirando o gosto com uma lingüiça fininha, de metro. Comece com um metro e tente parar, se for capaz.
Uma passada no Teatro da Paz, na Praça da Republica, dá testemunho do importante movimento cultural da cidade. Belo e imponente teve sua arquitetura inspirada na Ópera de Paris.
No meio disso tudo, não se pode deixar de parar, aqui ou acolá, para mergulhos na gastronomia local. Exótica e saborosa faz com que o paraense, como poucos, conquiste o visitante pela boca. Difícil é eleger o que é mais gostoso. Tacacá, pato no tucupi, risoto de camarão ao jambu, tucunaré, pirarucu e filhote, maniçoba e outros mais. Os doces de cupuaçu – meu predileto – e bacuri. Açaí na tigela. Supremos. Tem uma versão de bolo de rolo, com cupuaçu, ao invés de goiaba, que é sensacional. Até hoje sinto o gosto. No restaurante da belíssima reserva ecológica do Mangal das Garças, come-se tudo isto. E, se o freguês não tiver vergonha, come ajoelhado. Detalhe: sempre tem muita gente por lá. É imperdível, também.
E como não poderia deixar de ser, estando em Belém, tem-se a obrigação de cumprimentar a Dona do pedaço, a Virgem de Nazaré, na magnífica catedral, no bairro de Nazaré. Belíssima igreja de estilo renascentista e ponto obrigatório de visita. Crentes de todas as religiões andam por lá.
O mais intrigante é que uma cidade tão bem preparada para receber o turista não consta ainda – o que é lamentável – entre os destinos mais procurados pelos brasileiros.
Belém está pronta para receber o mais exigente dos turistas. Entre na Amazônia pelo seu Portal.

Nota: Fotos obtidas no Google Imagens

Insegurança nossa de Cada Dia

Pobreza, fome, analfabetismo, disparidades inter-regionais de renda, saúde publica falha, politica educacional também, governos míopes e som...