segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Rasgando Dinheiro

Uma das coisas mais estupidas do momento politico brasileiro foi a aprovação do chamado Fundo Eleitoral destinado a cobrir os custos das campanhas eleitorais dos partidos políticos na disputa do pleito de outubro vindouro. Trata-se de uma solução oficial para substituir as doações de pessoas jurídicas que rolavam durante as campanhas até então ocorridas. Na prática havia uma espécie de “uma mão lava a outra” entre os candidatos e empresários financiadores. O sujeito era eleito, mas, já assumia de “rabo preso” vendo-se obrigado a retribuir de modo generoso ao empresário ou grupo empresarial que lhe deu o suporte decisivo para vencer nas urnas. Rolaram sempre bilhões de reais, bem como benefícios legislativos indecentes. Era um costume também conhecido como lei de São Francisco, isto é, “é dando que se recebe”. Após muitos debates, “lavação de roupas sujas”, inquéritos, escândalos nos legislativo e executivo, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2015, pela proibição de doações de pessoas jurídicas. Aí, a coisa danou-se. Sem essa fonte de custeio “preciosa” o Congresso Nacional se mobilizou e criou, em 2017, o tal do Fundo Eleitoral (Leis 13.487 e 13.488). Recursos tirados dos bolsos do contribuinte. Simples e tranquilamente. Se antes era um desatino, agora é um desmando. A cada oportunidade de um pleito eleitoral trava-se uma luta vergonhosa, entre legislativo e executivo, por um fundo cada vez mais volumoso. Sem falar que existe outro fundo, mais antigo, de 1995 (Lei 9.096), denominado de Fundo Partidário, também com recursos públicos, que é dividido entre os partidos, conforme critérios de desempenho destes, destinado a custear atividades e rotina, incluindo pagamentos de água, luz, telefone, passagens aéreas entre outras “bijouterias”. Resumindo: o pobre contribuinte é quem termina pagando a conta. Povinho caro esses nossos representantes em Brasília. O mais estupido, agora, é saber que o Fundo Eleitoral aprovado para custear o próximo pleito de 2022 é de R$ 4,9 Bilhões. É assustador, para quem tem juízo no lugar, lembrando que na eleição de 2018 o montante tirado do Tesouro Nacional foi de R$ 1,7 Bilhão, já considerado, àquela época, como escandaloso. Francamente.
Segundo pesquisa realizada pela Agencia CNN, a previsão para este ano corresponde a sete vezes o montante pago pelo Governo Federal, em 2021, à Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) encarregada de exercer um papel central no combate à pandemia do Coronavirus. A Agência recebeu apenas R$ 663,5 Milhões. Ora, mesmo guardando as proporções de despesas, vamos e venhamos é uma covardia. Comparando o que o Governo aplicou na área da Educação, no ano passado, e este fundão eleitoral aprovado, a situação é desalentadora: três vezes menor. Entre janeiro e dezembro de 2021, o Portal da Transparência registra o montante de apenas R$ 1,6 bilhão para dar sustento do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) sendo este o modo pelo qual as escolas se sustentam para as mais diversas despesas de melhorias de infraestrutura e pedagógica. Mas, a situação se repete em varias outras frentes de atividades governamentais e de interesse coletivo, o que, a cada ponto, o Fundão se revela como uma concreta calamidade pública. O programa da Força Nacional de Segurança Pública, coisa de absoluta prioridade, como outro exemplo é 54 vezes menor do que o Fundo Eleitoral. Já o Sistema de Proteção a Amazônia – SIPAM recebeu, em 2021, mil vezes menos. Francamente. Outro dado destacado pela CNN foi a miséria de recursos que se destinou, em 2021, para investimentos na reestruturação e modernização dos hospitais universitários federais do país, pouco menos de R$ 340,0 Milhões, ou seja, 14 vezes menos do que esse extravagante Fundo Eleitoral. O descalabro se repete em diversas outras áreas sociais, como habitação popular e saúde publica. A proposito, para concluir, o Programa de Saneamento Básico, recebeu apenas R$ 415,0 Milhões. Doze vezes menos do que esses quase R$ 5,0 Bilhões que serão “rasgados” numa Campanha Eleitoral que promete ser ranheta, preocupante e cheia de emoções desnecessárias ao pobre povo brasileiro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Voz do Milênio

Acompanhei nos últimos dias o noticiário sobre a morte, velório e sepultamento da cantora Elza Soares, de quem nunca fui fã ardoroso. Os obituários que rolaram, porém, apontaram detalhes da vida da cantora que terminaram me provocando uma admiração tardia. Acredito que alimentei preconceitos tolos, devidos ao seu estilo extravagante e sua maneira pouco formal na cena artística. A provocação levou-me a mudar a pauta semanal do Blog, focando nessa consagrada interprete do samba brasileiro, considerada, numa votação promovida pela BBC de Londres, em 1999, como a “voz do milênio”, detalhe que somente agora tomei conhecimento. Por outro lado, recordo que já fiz postagens sobre cantoras, estrangeiras por sinal, que me fizeram falta por serem convocadas à eternidade. Entre essas, destaco a sul-africana Miriam Makeba (1932-2008)(interprete de Pata-Pata) e a argentina Mercedes Soza (1935-2009)(interprete de Gracias a la Vida) e que seria, portando, injusto não me referir a essa brasileira guerreira e defensora das mulheres e de negros.
Que me recorde, assisti Elza Soares ao vivo, uma vez apenas, num dos programas Pixinguinha ou Seis e Meia, no Teatro João Caetano, do Rio de Janeiro. A Funarte levava às plateias das grandes cidades brasileiras os grandes nomes da MPB a preços populares, nas décadas de 70, 80 e 90. Nem sei o que restou desses excelentes projetos. Naquela ocasião assisti uma Elza cheia de “fogo” levando o público à loucura interpretando paginas das mais conhecidas do seu vasto repertório. Saí admirado da sua energia e seu carisma, mas nem assim tornei-me fã incondicional. Desses de catar seus discos ou acompanhá-la pela TV. Como não acompanhei, à miúde, a trajetória dessa mulher, confesso que fiquei sensibilizado com tudo quanto ouvi falar nesses obituários que vêm sendo publicados. Incrível saber que foi obrigada, pelo pai, a casar com 13 anos de idade por haver engravidado. Naquela época era assim, “casava na policia”. Perdeu dois filhos recém-nascidos devido à fome que passava. Com pouco tempo enviuvou ficando com um filho nos braços. Cansada de sofrer com essas perdas, percebeu que tinha voz, gostava de cantar e resolveu se inscrever num programa de calouros comandado por Ary Barroso, na Radio Tupi do Rio de Janeiro. O objetivo principal era ganhar algum dinheiro, sobretudo, para alimentar o filho que restava dessa relação imatura. Pois bem. Depois de uma recepção pouco amistosa do Ary e até, mesmo, pejorativa, Elza não levou o gongo e ganhou o prêmio. Mais do que isto, ouviu do seu “algoz” o elogio que se tornou o passaporte para o sucesso que teve pela frente. Aplaudindo-a Barroso foi categórico: “senhoras e senhores acaba de nascer uma estrela”. Aquilo era taxativo, à época, para o mundo da musica popular. A mocinha, saída da favela de Padre Miguel, desengonçada, franzina, mal vestida, com um arranjo de roupa da mãe, que vestia um manequim o dobro do dela, ajustado com alfinetes saiu vitoriosa e se jogou de corpo e alma no mundo concorrido das vozes do samba. Isto foi no final da década de 50. Numa das suas entrevistas, ela disse que “para dar sorte me apresento sempre com um alfinete na roupa”. Nos últimos 70 anos o mundo viu e aplaudiu a cantora, a ativista politica social, defensora das mulheres, dos negros e dos pobres. Fez muito pela gente pobre da sua favela de origem. Uma das passagens mais famosas da vida pessoal de Elza foi, indiscutivelmente, sua relação amorosa com Mané Garrincha, astro da Seleção Brasileira, campeão do mundo, após a vitória do bicampeonato mundial, no Chile, em 1962. Garrincha, casado e com dez filhos, largou tudo e se agarrou numa louca paixão com a já consagrada sambista. Foi o maior auê daqueles tempos. (Vide foto abaixo). O casamento não chegou a ser um mar de rosas, segundo relatam. Foi tumultuado, sobretudo por conta do alcoolismo do jogador. “Mané era uma figura doce e querida, mas a bebida estragou tudo” e “Todo mundo dizia que eu havia sido o motivo da decadência dele como jogador, mas o que o derrotou foi joelho doente”. São frases de Elza quando no trato do assunto. E arrematava com uma declaração saudosa ao afirmar: “mas, foi um amor como nunca eu havia sentido. E ele, também!” Há quem afirme que ela é insubstituível. Com certeza será sempre lembrada.

sábado, 15 de janeiro de 2022

SOTURNO

Após um período de recesso o Blog do GB está de volta. Ano novo, vida igual. O som que vem das ruas é como dantes, o vento que sopra nas vidraças é, tal qual, o dos ontens. Já a pandemia dá sinais de retorno com força e assusta todo mundo. E as contas? Ah! Essas continuam chegando. Até mais volumosas. É curioso lembrar como o espirito de esperanças e de paz que permeiam os dias de festas no fim de ano, criando sempre expectativas de um bom tempo pela frente, se esvai “com o cair da ficha” e a mídia noticiosa, honesta ou desonesta, ecoar na minha sala e jogar, sem dó, a verdade do momento. Fico a procurar um adjetivo para qualificar o novo momento, o novo ano. Foi difícil. Contudo, numa mensagem de amigo apareceu-me um que coube justo nas minhas reflexões de ano novo: soturno. Adjetivo pouco usado. Mas, muito próprio para este ano que prometia uma trégua e vem, de cara, nos negando. Soturno quer dizer algo melancólico, tristonho, sombrio, grave... Posso estar enganado, mas, este inicio de 2022 vem assustando ainda mais do que o ano passado. Pessimista? Não. Realista. Fujo das noticias calamitosas, mas, como não me compadecer da massa populacional que entrou o ano mergulhada nas avalanches de águas vertidas pelas comportas abertas dos céus baianos e mineiros? Casas destruídas, perdas materiais e vidas roubadas. Como não me sensibilizar e lamentar com aquele triste acidente na represa de Furnas (Capitólio/MG) (Foto abaixo)? Soturno demais.
Além dos desastres provocados pelas revoltas da Mãe Natureza, no Brasil, soturno é também a situação que, segundo as agencias de noticias, reina ao redor mundo. Europa, África, Américas, Ásia e Oceania ja foram atingidas pela cepa do momento - ômicron - da Covid-19. “Não vai escapar ninguém. Cem por cento da população contrairá o vírus!”. Li isto, nos primeiros dias do ano, num jornal europeu. Ainda bem que agregaram um paragrafo anunciando que, segundo especialistas, seria o fim da pandemia. O vírus passaria a ser endêmico. Entendi, portanto, que vamos conviver com esse “bandido” para sempre. Fora o fato de que, aqui no Brasil, ainda sola uma gripe (H3N2) que se junta à Covid-19 e ganha uma denominação prosaica de Flurona. Tempos difíceis.
No ambiente doméstico, como esperado, a briga renitente pelo poder da República entra o ano revelando novos e palpitantes lances e cruzando temas dos mais diversos, que se estendem de uma “briguinha de comadres” como a da administração de vacinas para população infantil à vergonhosa dotação de grana para as campanhas eleitorais. Ah! Há também a reprise das cansadas denúncias de corrupções. Fico soturno com essas coisas. Ainda bem que nem tudo é soturno e, por isso, estou aplaudindo os cancelamentos dos carnavais, Brasil afora, em beneficio da saúde coletiva. Recordo que fiz um apelo por este Blog quando ainda estavam programando as festas de natal e réveillon. Estas, aliás, desnecessárias dadas às noticias que chegavam do outro lado do mundo. Não tenho dúvidas que prevalece, mais uma vez, a velha sabedoria popular: “brasileiro só fecha a porta depois que é roubado”. Lamento emitir um post tão soturno, mas, não tive para onde correr. Na próxima semana vou relatar uma escapada que dei pelo interior do Brasil, numa ousadia, inclusive, de entrar num avião e aterrissar em Goiás. Até lá. Boa semana e cuidado com a Flurona! !

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...