No dia 15 passado
completaram-se 55 anos de criação da SUDENE. Participei de um almoço com
companheiros da chamada velha guarda da Autarquia reunida para lembrar o fato. Muitas cabeças pensantes, de uma época de ouro
do Planejamento Regional, compareceram para rememorar seus feitos e “trocar
figurinhas” avaliando os resultados que hoje são exibidos.
Sai desse almoço
contente por haver confraternizado com velhos companheiros de labuta e, ao mesmo tempo, lamentando
o atual estado da arte que construímos a duros sacrifícios, em tempos
politicamente difíceis e de poucos fios para recompor um tecido sociopolítico
esgarçado.
Entrei na SUDENE
muito jovem. Recém havia chegado aos meus dezoito anos de idade. Sequer havia prestado
vestibular à Universidade. Na minha casa a lei era dura e prevalecia a sabedoria
popular que ditava: “quem não trabalha não come!” Tive sorte. Levado pelas mãos
de um alto funcionário da Autarquia fui admitido – após uma fase de capacitação
e avaliação – como técnico de nível médio. Comecei como desenhista num
departamento que tratava de definir e traçar a infraestrutura rodoviária
regional. Fiz treinamento, vejam só, até no exterior para melhor exercer minha
função. Naquela época, minha intenção era seguir a carreira de Arquiteto, por isso que ser desenhista
parecia ser o ideal. Contudo, influenciado fortemente pelo ambiente que passei
a vivenciar, terminei me interessando pelos temas relativos aos problemas econômicos regionais. Não deu
outra... fiz vestibular de Ciências Econômicas, sai-me muito bem e pouco tempo depois virei Economista da SUDENE. O resto dessa história
é sabida sobretudo pelos que me
conhecem.
Vi a SUDENE
crescer, produzir bons resultados e se projetar no Brasil e no resto mundo como
sendo uma das mais competentes agencias de desenvolvimento regional daqueles tempos.
Participar ativamente dessa experiência foi cursar o melhor dos cursos. Lá,
aprendi tudo que as Universidades por onde passei não me ensinaram. Décadas depois, vi
também o fim melancólico que ocorreu em 2001, quando já me encontrava
aposentado.
Olhando pelo
retrovisor, vejo com clareza que a SUDENE dos meus tempos – não esse arremedo
que aí está tentando sobreviver – se constituiu, durante 40 a 45 anos, na maior
escola da formação de profissionais diferenciados e dedicados, com afinco, à
promoção do desenvolvimento socioeconômico regional deste País. Inúmeros foram os
valores que de lá saíram para contribuir com o sucesso de intervenções
governamentais em outras áreas
deprimidas do Brasil e do exterior.
Ao longo dos tempos
a sigla SUDENE se tornou uma senha para o sucesso. Tenho muito orgulho de haver
usufruído desse sucesso. Dentro do Brasil ou nos vários países por onde passei,
em missões técnicas ou empresariais, esta senha abriu-me as melhores portas. Pensando
bem, ainda abre! Hoje, porém, tenho que reconhecer que tudo isso é passado. Fecharam a
Escola. Mas, afinal, a missão foi ou não cumprida? Disparidades inter-regionais persistem neste país? E as intra? Eis aí uma formidável questão a ser explorada.
Bom, indiscutivelmente,
tudo neste mundo é finito. E, pelo visto, foi assim que julgaram ser a SUDENE.
Por uma vontade política discutível, em 2001,deram por encerrados os trabalhos. Portas
fechadas e pessoal redistribuído, a
Casa
da Inteligência Regional deixou de existir. Fala-se que seu acervo
documental tem sido gradativamente destruído, num perverso apagar de memórias
técnicas que somente num país como o nosso é permitido. Até o monumental edifício sede - propriedade da Autarquia - perdeu os letreiros garbosos e, ao invés disso, colocaram o do Tribunal Regional do Trabalho que ocupa a área antes sede da SUDENE.
Depois, num gesto “generoso” e de cunho meramente político Lula, o Presidente, reabriu a Sudene, em dimensões minimizadas, através da Lei Complementar 125/2007. O que lá existe é um pretenso
modelo de agencia de desenvolvimento, onde funciona, tão somente, o núcleo burocrático de
programas sem os alcances do passado e destinados a calar uma resistência
teimosa de alguns idealistas na incansável luta pelo resgate do status do
passado. A pergunta que não
cala é: foi certa a decisão política de fechar a SUDENE?
Pelo mesmo espelho
retrovisor de antes, lembro-me de uma das minhas passagens por Paris, ocasião
em que me encontrei com o perito das Nações Unidas, o francês Jean Pierre
Barriou. Ele havia estado, pouco antes, em missão oficial aqui na SUDENE. Barriou
me garantiu que sugeriu uma SUDENE revendo sua missão. Muitas das funções que
“penduraram”, ao longo dos anos, na estrutura da Agencia não se coadunavam com
a missão que lhe fora confiada originalmente. Urgia reduzir aquele gigantesco
organograma e, com isso, reduzir seu quadro de 2.200 funcionários, para algo próximo
de 200. Essa proposta não agradando aos da Casa foi “esquecida”. Quando
decretaram o fim, em 2001, lembrei-me dessa conversa. Mas, atenção, o formato dessa atual SUDENE não foi o sugerido por Barriou. Paciência!
Tentando ser
realista e para finalizar, considero que, na esteira do seu sucesso, a SUDENE
estruturou os estados do Nordeste de forma competente para que estes tomassem um rumo virtuoso do desenvolvimento econômico, social e político. Nada mais inclusivo do
que essa estratégia! Digamos que os provendo de “asas”, como se filhotes fossem,
ensinou-os a voar. E voaram. Os esforços conjuntos, traduzidos pela figura de
um Conselho Deliberativo atuante e politicamente forte, deram lugar às iniciativas
independentes. Descobriram o caminho direto para o Planalto Central e, desse modo, perguntavam: para
que SUDENE?
Não me julgo saudosista,
porém, lamento porque fecharam a minha Escola.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens