quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Consciência Negra

Nos dias recentes foram muitos os temas que caíram na pauta do Blog. Tudo muito do domínio publico através da mídia aberta e que por isso mesmo fugindo do escopo que procuro manter nesse papo semanal. As eleições e seus resultados quase sem surpresas, a apuração entremeada de obstáculos técnicos do Superior Tribunal Eleitoral, as campanhas despudoradas de segundos turnos e, como se tudo isso fosse pouco, o avanço do fantasma de uma segunda onda da Covid-19. Contudo, o que mais chamou a atenção do país, e com forte repercussão internacional, foi o recrudescimento da questão do preconceito racial que corrói a sociedade brasileira devido ao cruel assassinato do cidadão negro, João Alberto (Beto) Freitas, numa loja do supermercado Carrefour, de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, aos modos do assassinato de George Floyd, Minnesota USA, (25/05), por motivos ate agora pouco claros. Seguranças brancos e mal capacitados magoaram de graça uma ferida aberta no seio da vida social brasileira e levantaram a revolta nacional, sempre pendente, das hostes que lutam pela igualdade racial em Pindorama. História velha e de profundas raízes plantadas nos tempos coloniais e imposta pelos brancos europeus. É, indiscutivelmente, um traço cultural que sempre requer muitas mudanças no pensamento coletivo das gerações porvir, tanto entre os brancos, como nos meios dos negros. O prestigio dos negros vem sendo historicamente relegado ao segundo plano no Brasil e são casos relativamente reduzidos àqueles que, de fato, brilharam socialmente. Imagine que tamanho era o desprezo e desprestigio político-social no passado que, segundo alguns pesquisadores, fotografias de antigos presidentes da Republica eram retocadas para branquear suas peles escuras. Nilo Peçanha, Campos Sales, Rodrigues Alves e Washington Luís foram quatro presidentes brasileiros que fizeram questão de esconder seus ancestrais africanos. Depois disso, imagine o que paira sobre o domínio popular. Com minha experiência de vida, percebo que, em princípio, os próprios negros alimentam o preconceito renitente quando negam, com frequência, a própria cor. Tenho dois casos bem comuns: duas empregadas domésticas na minha casa. Dois tipos de legítimas negras, tipo angolanas, negando a própria raça ao insistirem que eram morenas. Uma delas saiu arrumada e perfumada, num sábado de carnaval, para assistir ao desfile do Galo da Madrugada. Na volta perguntei se havia arranjado um namorado e, como resposta, ouvi algo surpreendente: “só me apareceu um negão arrastando asa pra cima d´eu. Eu lá gosto de nego.” Falava com desembaraço a la Marilyn Monroe.
O caso do assassinato de Beto, em Porto Alegre, coincidiu, por ironia, na véspera das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de Novembro (instituído no Brasil desde 2003) com vistas ao combate do preconceito racial no país. Essa chaga social tem se rebatido no ambiente coletivo de modo exacerbado e institutos de pesquisas apontam as disparidades estatísticas entre brancos e negros nos domínios do trabalho, da educação e das paginas de ocorrências policiais. Segundo o IBGE, em 2018, 55,8% da população se declarou preta ou parda (a soma das duas raças resulta nos negros). Por outro lado e no mesmo ano, no estrato dos 10% com maior rendimento per capita, os brancos representavam 70,6%, enquanto os negros eram 27,7%. Entre os 10% de menor rendimento, isso se inverte: 75,2% são negros, e 23,7%, brancos. Além disso, na classe de rendimento mais elevado, apenas 11,9% das pessoas ocupadas em cargos gerenciais eram pretas ou pardas. Entre os brancos esse percentual era de 85,9%. Não sei se será nos meus tempos, mas vivo a espera de uma sociedade tolerante, justa e solidária entre seus cidadãos, independente da cor da pele. Desde criança tenho apreço às pessoas de cor negra que devo ao fato de haver tido uma excelente professora negra a quem devo minha visão antirracista. NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Cores da Democracia

Curioso como o processo eleitoral norte-americano da semana passada empolgou os brasileiros. Acredito que como nunca. A overdose de cobertura televisiva proporcionou um verdadeiro clima de fla-flu. Houve momentos, nos quatro dias de apuração dos votos, em que pairava no ar uma sensação de que o pleito havia sido no próprio Brasil. Bom, sem duvidas que por culpa de Bolsonaro que resolveu montar uma “torcida organizada” pró-Trump. No domingo, contudo, teve que enrolar a bandeira no pau. Por ironia uma bandeira vermelha. E agora, Capitão? Torcidas à parte, organizada ou não, o que ficou de registro na opinião popular do brasileiro é que o processo lá em Tio Sam é estranho e complexo. Apesar disso e enquanto pernambucano, deliciei-me com a competição no melhor estilo Pastoril: a disputa entre o azul e o encarnado. Trump era a Mestra do cordão encarnado e Biden a Contra-Mestra do azul. Mas, voltando à questão da opinião popular brasileira, poucos entenderam, em 2016, como Trump havia perdido no voto popular e ganho no Colégio Eleitoral. Ôxente... que escolha mais estranha. Claro! Falar de Colégio Eleitoral traz péssimas recordações aos cidadãos e cidadãs de Pindorama. Mas, passou. Ganhou, estava ganho. O cara assumiu, mandou e desmandou deixando o mundo inteiro arrepiado com a maioria dos passos por ele dados. Deu no que deu, na semana passada. Custa crer que cada Estado norte-americano tem sua própria legislação eleitoral e faz ao “bel prazer”. Não há um padrão! Também não existe um Tribunal Superior Eleitoral que bote ordem na aparente zona e proclame o nome do eleito. O voto não é obrigatório. Mas, desconfio até que, com a elasticidade de prazos e com as formas de sufragar um voto, pode ocorrer que algum cidadão vote mais de uma vez. Basta se registrar em dois estados distintos. Claro que deve haver um meio de controle. Contudo, não fica muito claro para um espectador aqui abaixo da linha do Equador. Por esses e outros pormenores um candidato derrotado questiona o resultado e não para de espernear, como Trump anda fazendo. Naturalmente que a essa altura aplaudo o sistema brasileiro que resolve tudo num dia só. Nisso, pelo menos, somos competentes. A propósito, estamos nós às portas de um novo processo eleitoral. Domingo (15.11.2020) que vem os eleitores brasileiros se apresentam às sessões eleitorais pra elegerem seus representantes na esfera municipal. Prefeitos e vereadores serão escolhidos para o próximo quadriênio. Conversando recentemente com um amigo, eleitor em Brasília, onde não tem eleições municipais, fizemos uma reflexão acerca do voto tupiniquim e facilmente concluímos que o nosso eleitor de modo geral não sabe votar. Não existe, a rigor, um voto consciente. E voto consciente para meu interlocutor – que concordo – “é um voto desapegado” entendendo ser isto aquele voto sem objetivar vantagens pessoais efêmeras, de ser amigo, ou alguém com qualquer ligação familiar com um político tradicional, cuja família ocupa um posto político desde priscas eras. O voto consciente deve, sim, ter como referencia as carências da coletividade que o rodeia.
Outra coisa que lembramos no nosso “papo cabeça” foi sobre o chamado VOTO ÚTIL. É curioso como muitos optam por votar naquele candidato que ocupa liderança nas pesquisas, ou porque conhece aquele nome, mesmo tendo ouvido algo sobre seu passado inescrupuloso. Esse voto é o VOTO INÚTIL. Por conta dele é que persistem os estados de miséria, fome, desnutrição, analfabetismo e insegurança nos mais diversos rincões do país. No próximo domingo, então, vote sem medo, de forma consciente e não dê um voto inútil. A Democracia é colorida, mas saiba contribuir harmoniosamente com a paleta das cores. NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Vida Segue

O tempo vai passando e a vida segue independente das agruras humanas entregues à pandemia da Covid-19. Ainda bem que o ser humano tem suas particularidades: muitos se conformam, outros se revoltam, muitos se rebelam. Sem que se fale dos que fenecem. Pior, tudo junto e misturado. Tempos difíceis. Por volta de março, no inicio da crise, o pânico assaltou a todos e, diante do caos instalado, viveu-se um clima de perplexidade e guarda geral. As noticias eram sempre calamitosas. Como a vida segue, acomodações foram ocorrendo, o inimigo mesmo invisível ficou melhor conhecido e, inclusive, mais vulnerável aos choques que lhe aplicaram proporcionando ao mundo uma convivência relativamente pacifica com o assaltante assassino. Curva sobe. Curva se achata. Curva desce e a vida seguindo. Graças à inteligência dos assaltados aos poucos foram surgindo formas de proteção e maneiras alternativas de viver, enquanto um novo normal se anunciava a toda hora. E a vida seguindo na costumeira velocidade, com uma lua cheia a cada trinta dias e o sol dando as caras cada manhã a distribuir Vitamina D a todos os penitentes. Nem tudo estava perdido para quem se salvou da sanha do assaltante. Por sorte, a mesma inteligência pondo mãos à obra misturam, hoje, elementos libertadores da peste capazes de decretar o tal novo normal. Bem vindas sejam, então, as vacinas salvadoras. Antes que a salvação chegue e com o passar do tempo, no entanto, prejuízos são contabilizados das mais diferentes naturezas e em todas as dimensões. Sem que se fale dos indiscutíveis prejuízos econômicos, foquem-se os de fatores emocionais. Os assaltados já não suportam mais as novas alternativas de vida postas em prática a favor do distanciamento social. Daí a busca incontrolável por colocar o pé fora de casa e, na verdade, voltar ao antigo normal. E o novo normal... Existirá mesmo?
Os professores já não toleram a falta de interação física com os alunos, estes se acomodam numa zona de conforto pouco salutar, as crianças da pré-escola já não têm o mesmo desembaraço social de antes, os balconistas do comércio perdem a capacidade de convencer o cliente assustado e sem saber onde colocar as mãos, os idosos se acabrunham num retiro indesejado (foto acima), justo numa fase em que mais desejam liberdade. Adeus parques, adeus lojas movimentadas e florescentes, adeus salas de aula, adeus jardim da infância. Vida segue, dificil, mas segue. NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...