quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Novo Normal?

Há meses, desde quando a pandemia foi declarada, sentida e combatida no mundo inteiro, uma coisa tomou conta no pensar da humanidade: após a crise sanitária vamos experimentar um novo mundo, com maneiras de vida e convivência diferentes e desse modo vamos viver um novo normal. Mas, como será de fato esse tal novo normal? Será novo mesmo? Que novidades virão? Nas minhas tímidas andanças, ao sair da toca onde há meses – seis precisamente – resguardo-me da peste invisível, cato, ali ou acolá, sinais desse novo e não enxergo com clareza. Salvo as precauções imediatas de lavar as mãos, usar máscaras e evitar achegamentos com os próximos não vi, ainda, nada que diga ser novo realmente. Isto, até que a vacina garanta a segurança almejada. Mesmo o badalado home-office, as lives, o e-Commerce e similares não podem ser concretas novidades. Vamos e venhamos, são coisas já conhecidas e que se tornaram mais populares empurradas pela Covid-19. Sendo assim, aquilo que eu mesmo previ e meti-me a recomendar atenção pode, no final das contas, ser uma perda de tempo. A proposito do assunto, percebe-se que muita gente vem trilhando este mesmo trajeto de busca. Coincidentemente recebi uma mensagem de grande amigo – Teólogo e exímio Filósofo – Padre Sergio Absalão tratando de desmitificar essa coisa do “novo normal” ao qual ele atribuiu a qualidade de mantra. No seu texto Absalão teve o cuidado de explicar que “A palavra “mantra” vem do sânscrito, uma língua clássica e básica das vinte e três línguas faladas na Índia. A sílaba “man” significa “mente” e o “tra” se refere a “proteção”, “controle”. Traduzindo de forma livre, “mantra” é o instrumento para controlar ou proteger a mente.” Teria sido isto então, que se espalhou, no meio do mundo, a ideia do “novo normal”? Proteger as mentes? Na mesma mensagem Absalão lembrou sábio trecho de uma das homilias de Santo Agostinho, na qual aconselha que “Não fiques nunca satisfeito [...] onde te consideraste satisfeito, lá mesmo ficaste parado. Se disseres ‘já basta’, morreste. Cresce sempre, progride sempre, avança sempre” (Santo Agostinho. Homiliӕ 169,18). Ou seja, o ser humano deve sempre buscar o progresso. Nada melhor.
Noutro trecho do ensaio Absalão foi bem pragmático ao lembrar que ”hoje, por exemplo, em qualquer local, tem-se à disposição as “maquininhas” de cartão de crédito ou mesmo o celular. Passa-se o cartão, aponta-se o celular no QR Code e o pagamento é feito automaticamente. Uma maravilha! Num passado não muito distante, ia-se à famosa mercearia, do seu fulano de tal, comprava-se os suprimentos necessários e se pedia para pôr “no pendura”. O dono da mercearia tirava um toco de lápis Faber-Castell, preso por detrás da orelha, passava a língua na ponta e anotava numa caderneta que somente ele entendia onde começava e terminava. Foto acima. A mudança foi tão só na forma. A velha caderneta do “pendura” virou uma “maquininha” e o toco de lápis, agora, é o cartão de crédito ou o celular. Mudou a forma, mas o hábito permaneceu o mesmo. Outro exemplo pode ser aqui exposto. Guardadas as devidas proporções, que diferença há entre o Mercado de São José, o da Encruzilhada ou o de Casa Amarela com o Shopping Center Recife, Tacaruna ou o Rio Mar? (foto a seguir) Sem levar em conta uma hipotética qualidade, tanto nesses antigos Mercados, como nos modernos Shoppings, vê-se que a estrutura não é tão diferente quanto parece. Se por “novo” se entende essas transformações, próprias de cada período da história, então não há o que se dizer, senão o que está registrado na Sagrada Escritura: “Nada há de novo debaixo do sol” (Ecl 1,9). Por mais que se negue, não há nada de genuinamente novo e, por isso mesmo, o “mantra” “novo normal”, repetido cotidianamente, não passa de uma grande bobagem.”
Para sacolejar mais a mente do penitente aqui, Absalão acrescentou que “desse modo, quando se tem em mente o “normal”, se subentende certa continuidade de permanente procura e conquista que possibilita proteção e segurança para poder seguir em frente. É legítimo, por isso, se falar em “normal”, por se tratar de um dado instintivo do ser humano. No entanto, o que vem sendo anunciado e se tornado senso comum diz respeito a um normal “novo”, um “novo normal”, dando a entender que no pós-pandemia, como foi dito, teremos um novo modo de organização social, político, econômico, cultural, etc.” Antes fosse! Esse poder a Covid-19 não teve e nem terá. Nota: os mercados de São José, Encruzilhada e Casa Amarela, bem como os Shoppings Center Recife, Tacaruna e Riomar são centros de comércio da cidade do Recife, Brasil. Nota 2: As fotos ilustrativas foram colhidas no Google Imagens.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Virando o Jogo

A notícia que já corre solta é que o agronegócio brasileiro acelerou a virada do jogo econômico nacional e já desbanca o setor industrial, que perde espaço de modos expressivos na composição do PIB. A crise do Coronavírus servia para reforçar o “contra-ataque” e pelo visto o Brasil mergulha fundo num novo ciclo e redesenha de vez seu novo perfil econômico. Bom, a Indústria nacional já vem perdendo, gradativamente, sua posição e seus encantos urbanísticos. Com a virada do jogo a vida agitada dos grandes centros urbanos começa a ceder lugar ao viver no hinterland do país que vem atraindo fortes contingentes populacionais buscando, além de efetivas soluções de existência, uma vida tranquila, ar puro e melhor qualidade de vida. Certamente que depois da Covid-19 o chamado “novo normal” vai ditar padrões distintos dos que foram construídos nos últimos 80 ou 100 anos. O processo de industrialização brasileiro deflagrado na Era Vargas, seguido com mais intensidade por JK e pelos governos que se seguiram, conhecido como Modelo de Substituição de Importações, cometeu um pecado ao, equivocadamente, abandonar à margem do desenvolvimento os negócios do setor agrário que teve de se virar para sobreviver à duras penas. Somente gradativamente foi que medidas de fomento foram surgindo, atendendo demandas clamorosas de investidores, que garantiram deslocamento das fronteiras agrícolas e desenvolvimento tecnológico que conferem ao Brasil de hoje uma posição privilegiada de celeiro do mundo. A Indústria, numa trajetória inversa, perdeu o bom rumo do progresso ao se revelar pouco competitiva em preço e qualidade, no próprio mercado interno e sem espaço no mercado globalizado. Já não é mais São Paulo ou outro qualquer polo industrial que dá as cartas. A riqueza nacional está sendo gerada num espaço mais amplo e fértil do interior. Terras do Centro-Oeste e o Matopiba estão aí para provar a realidade. Vide o mapa a seguir e entenda o que vem ser esta última região citada.
A atividade do Agronegócio, finalmente, vem sendo a salvação da barca brasileira. Estimativas de diversos institutos de estatísticas e pesquisas dão conta de que uma fatia de 40% do PIB é tocada pelo segmento e seus agregados, isto é, produção, colheita, armazenamento, comercialização doméstica e internacional, logística de distribuição, negociações bancárias, entre outros menores. Conheço pessoas que vão mudar de CEP, no novo normal, movidas pelas descobertas que fizeram neste tempo de pandemia. Falo de pessoas que já decidiram fugir, por exemplo, da conturbada Metrópole Paulista ou do Recife Confuso e que, inclusive, já relocaram – com constatados alívios – seus escritórios de comando no Zoom, no Meet-Google ou similares. Adeus poluição sonora e do ar, adeus engarrafamentos e todos os inconvenientes das grandes cidades. E, tem mais: quando a briga do 5G acabar a coisa será bem mais tangível. A tacada pode ser ainda mais forte. Com este novo formato nascerá também uma nova sociedade. Poderá ocorrer uma corrente migratória inversa a dos anos 50. Falo daquela onda que formou um cinturão de pobreza e o levantamento de imensas favelas nas franjas dos grandes centros industriais. O interior poderá ser mais atrativo daqui pra frente. Num país continental como o nosso será bem fácil. Em recente artigo, Stephen Kanitz (09.06.20) foi enfático ao dizer “com o Covid, haverá uma fuga das cidades para o campo, dos apartamentos para casas, dos escritórios para o Zoom”. Imagino, desde já, a crise que se viverá no setor imobiliário dos grandes centros urbanos, bem como a especulação imobiliária que será praticada nos centros de pequeno e médio portes com um mínimo de condições de vida confortável. Aqui em Pernambuco, já ouvi corretor de imóveis anunciando que em locais próximos à Capital (Gravatá, Sairé e adjacências) tiveram uma repentina disparada de valor. Em São Paulo essa oferta será certamente bem elástica dadas a infraestrutura e as condições socio-economicas disponiveis. É ou não é uma autentica virada de jogo? NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens

sábado, 12 de setembro de 2020

SEIS LUAS

Já contei, pela minha janela, a Lua Cheia passando por seis vezes enquanto estou “dendicasa”. Estou dando uma de índio que contava o tempo pela passagem da lua cheia. Fico sem acreditar. Aquilo que esperei durasse, quando muito, um mês já me pôs em prova por muito mais tempo do que calculei. Que tempo é esse meu Deus? 

A minha lua de verão. Toda apressada
sem esperar o sol se recolher

Na realidade comum, sempre fui amante do luar. Toda vez que ela se enche e se exibe toda formosa, algo de prazer invade minha alma e provoca louvores à natureza e à vida. Admiro esse nosso satélite em qualquer época do ano: no verão quando se mostra desnudo e brilhante lembrando que seu gerador de luz e energia está no auge da sua inflamação e descarregando tudo que pode sobre ele ou no inverno quando aparece envolvido num diáfano véu de stratos e cumulus  fugindo, aparentemente, dos sólidos cirrus. Não sou especialista no tema, mas arrisquei. Pronto. Fotografei todas as seis luas daqui dendicasa.

Lua de inverno, envolta em diáfanos véus de nuvens  

Esperando o tão desejado novo normal reservo-me ao mundo doméstico apreciando a mudança de estação e a passagem de um ano que mal chegou a começar. Contudo, contando vitória porque para muitos o ano pode ter começado e a vida findada. Tempos difíceis.

Vi a passagem da Páscoa de longe, não soltei rojões e nem acendi fogueira no mês de junho. Fiquei um ano mais velho em agosto, hasteei a bandeira brasileira no 7 de setembro  e ando procurando o que fazer a  toda hora. Quando não tenho mais com o que me ocupar – ler, escrever, dormir, assistir um filme, cozinhar, entre outras atividades – me divirto, inclusive, correndo atrás de um robôzinho de limpezas doméstica. Brinquedo de gente velha. A casa fica limpa e o tempo parece não passar. Em alguns momentos me sinto pateta. Para minha surpresa e apurar o tempo,  já tem gente falando no Natal. Faz sentido porque sempre ouvi dizer que “quando entram os bros o ano está findando”. Já estamos no primeiro bro: setembro.

Nem um jornal tem mais graça. Tenho que escolher entre assistir ao noticiário na TV, cada noite, ou ler o jornal do dia seguinte. O que salvam, quando muito, são os artigos de opinião ou as analises dos especialistas em politica e economia. Tudo nas versões eletrônicas porque o físico pode estar contaminado de Covid. Vidinha chata está sendo esta.

Mas, lendo os jornais no meu celular ou iPad, observo que a fuxicada republicana (pouco republicana!) continua viva e perturbante. O poder continua fascinando meio mundo. Mundo despreparado para o mister. E no resto do planeta as coisas continuam com as costumeiras cachorradas. E eu catando os sinais de identificar de onde vem o novo normal.

Muitos pedem calma porque o prometido novo normal vai chegar quando descobrirem uma vacina milagrosa! Contudo, ando meio ressabiado com essa história. Chinesa, britânica, russa, norte-americana e não sei mais de onde. É outra face da corrida pelo Poder.  

Como não me resta outra coisa, a não ser acalmar, vou esperar a próxima lua cheia. Que jeito?

NOTA: As fotos são da autoria do Blogueiro

  

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...