quarta-feira, 26 de abril de 2023

Bons Ventos

Indiscutivelmente já se respiram bons ventos depois da onda de pavor produzida pela Covid-19. Para muitos já se trata de coisa do passado. Durante a semana passada senti mais firmeza ao circular pela região de turismo praiano no litoral sul de Pernambuco, quando tive a sensação de alivio do que seja viver em tempos saudáveis e em clima de alegria.
Apesar de ser pernambucano e viver no Recife, sou um daqueles que não se apressa em curtir as belezas naturais locais. Coisa de quem considera o fato de que, estando tão próxima, a atração esta ao alcance a qualquer hora. O ser humano tem dessas especificidades... Idiossincrasia? Particularidade? Sei lá. No meu caso talvez seja o fato de gostar mais do clima da roça e da serra. Mas, isso é outra coisa e assunto para depois. A verdade é que, acompanhado de familiares mais afeitos às ondas do mar, lá fui eu curtir o verão que ainda se faz presente nessas bandas. Centrado em Porto de Galinhas, o movimento na região é intenso. Resorts, hotéis e pousadas se multiplicam e não chega para quem quer.
Restaurantes e várias sortes de comércios, nem se fala. A própria Porto, Muro Alto, Cupe, Maracaipe, Serrambi, Carneiros entre outras localidades que se estendem pelo vizinho estado de Alagoas, pululam de visitantes dispostos e entregues à exploração das belezas naturais, delicias gastronômicas (Vide foto a sguir), do som musical da terra, da vegetação, do coqueiral, da cor e da fauna do mar e do manguezal, entre outras intermináveis atrações.
Construí este cenário para fazer minhas observações com o viés de economista e pretenso cientista social. Então, lá vai... É fácil e notório perceber a vibração da dinâmica comercial reinante entre os nativos e os agregados migrantes. Conversando com alguns desses pude avaliar o alivio que sentem com o retorno dos visitantes que desembarcam, aos magotes, dos ônibus e coletivos menores à cata do que ver, comprar e comer. Impressiona a multidão que circula numa noite de segunda-feira. Pensando bem, parece ser sempre domingo praquelas bandas. Observando mais de perto pareceu-me claro que existem duas categorias de turistas que visitam a região: a dos mais abastados - muitos estrangeiros - e hospedados nos grandes e monumentais resorts instalados ao longo da costa e os que, em grandes grupos, ocupam pousadas mais econômicas que se multiplicam a cada dia. Para fazer um tour pelas principais praias e pontos de atração contratei um guia num bugre – meio de locomoção muito popular – para ir direto aos pontos atrativos e curtir uma aventura por praias, trilhas, coqueirais, areais e mangues. Apareceu-me, num veiculo meio rodado e vermelho, um gaúcho de Cruz Alta que hoje faz a vida nesse paraíso nordestino. Feliz e contente da vida garantiu-me que virou pernambucano e nem ousa pensar de voltar para o sul. “Quando muito a passeio”, frisou. Segundo ele, existem, hoje, 411 bugres circulando naquelas praias ao preço médio de R$250,00 para um programa de quatro horas de duração. Cada veículo comporta no máximo quatro passageiros. Uma associação controla e regula o movimento.
Para muitos, também, são ofertados passeios de jangada ou lancha. Neste caso o preço é discutido na hora e a depender do percurso. O passeio nas piscinas naturais é imperdível. Na maré baixa os peixinhos e a vegetação marinha são as grandes atrações. Por outro lado, se o freguês desejar pode contratar um helicóptero para um voo de 10 minutos e apreciar do alto o movimento. O preço é discutido na hora. Sem dúvidas, aquilo lá é um “laboratório” de economia criativa. A turma “se vira nos trinta” e faz meios de vida das formas mais inusitada. Bordados, crochês, pinturas, bijuterias, artigos de couro e plásticos, vendedores de artigos xing-ling coloridos e eletrônicos, bebidas, bolos e doces artesanais entre um infinito número de artigos. É notável a criatividade da gente que vive na redondeza. E por falar em criatividade, confesso que algo tolo, mas bem bolado apareceu do nada no nosso tour. De repente o gaúcho “emburacou” com o bugre num areal, parando a seguir, num coqueiral, onde apresentou a mais recente invenção local: o “drone-humano”. A NASA precisa, urgente, vir conhecer. (Fotos a seguir)
Intrigado, fui conferir a novidade. Um rapazola sobe no coqueiro e se aloja numa cadeirinha tosca, por ele arranjada. Outro fica embaixo contratando o serviço de fotografar, lá de cima, a pose do “penitente” demandante de uma foto do alto. Daí, a explicação de “drone-humano”. Uma sacola, com uma cordinha corre numa roldana levando o celular do freguês até o “fotógrafo”, de prontidão lá em cima, e tome fotos. Preço do serviço R$ 10,00 por meia dúzia de fotos. Nada mais criativo do que isso! Não faltam clientes. E forma filas. Fico entusiasmado com tanta criatividade da nossa gente. Acho que morre de fome quem for preguiçoso ou débil mental. Com tantos bons ventos a coisa parece progredir. Inclusive, adeus Covid19. NOTA: Fotos de Arquivo Pessoal do Blogueiro

domingo, 9 de abril de 2023

Havia mais Respeito

Na quarta feira à tarde o mundo parecia parar. Os dias denominados de santos, à época, eram respeitados e seguidos à risca das liturgias religiosas. Católicos, protestantes, umbandistas e coirmãos cristãos se recolhiam às orações e meditações recomendadas pelos seus respectivos preceitos. Escolas e colégios eram fechados durante a semana da paixão. As estações de rádio só transmitiam músicas sacras. As mães de família dedicavam horas a fio, em pregações aos seus filhos e filhas. O jejum e a abstinência de carnes vermelhas eram rigorosamente obedecidos. O comércio fechava as portas e, até, os cinemas só abriam se exibissem fitas da Paixão de Cristo, muitas das quais antigas e tecnicamente artesanais. Algumas ainda da época do cinema mudo que, sem outra opção, eram as exibidas. Ninguém matava e ninguém morria, salvo por morte natural. Lava-Pés e procissões da Via Sacra e do Senhor Morto se multiplicavam... Bom, sem dúvidas, havia mais respeito. Essa comilança de chocolates, em formato de ovos, só apareceu muito depois.
Recolhendo meu retrovisor da vida, observo com grandes surpresas o comportamento social da atualidade, cada vez mais distante dos velhos e bons costumes. Não se trata de saudosismo, mas, certamentealguma incapacidade de assimilar o que para muitos representa avanço ou progresso sociopolítico. Confesso que, ainda, me surpreendo com o fato de que já não se sabe mais o que significa “dia santo”. Para todos os efeitos, e oficialmente, é feriado. Estado laico e sociedade laica. Sou católico de berço e isso é difícil. A ideia de uma Santa Semana passa longe e despercebida. Atualmente, apenas a sexta-feira é, digamos que, “respeitada” e o fim de semana termina sendo intitulado de feriadão. O comercio abre, os cinemas exibem o que os produtores impõem e a festa urbana rola nas 24 horas. Este ano, inclusive, houve jogo de futebol valendo como semifinal do campeonato de futebol, aqui em Pernambuco. Quem diria? Em muitas praças da capital e do interior do estado shows são oferecidos ao público com cantores irreverentes e alheios ao significado religioso da data. Faço ideia da alienação do que seja uma apresentação pública de uma banda denominada de Calcinha Preta, na noite da sexta-feira Santa, para um público eufórico e se achando privilegiado. É preciso viver o tanto que já vivi para fazer esse tipo de observação. A História nos garante que a falta de valores morais e de formação socioeducativa (comum no Brasil de hoje) mais disciplinada resulta em esgarçamentos contínuos do tecido social, gerador, por sua vez, de episódios irreparáveis e comprometedores para o futuro de um povo. Os exemplos estão a olhos nus, no dia-a-dia daqui, dali e d’acolá. Um desses ocorreu, justamente, nesta ex-semana santa que, para mim e muito outros, chocou e marcou com sangue de inocentes a antiga quarta-feira guardada com respeito. Refiro-me ao revoltante caso do desalmado sujeito (não consigo considerá-lo como cidadão) que num surto de ira e loucura, invade uma creche, pulando o muro, na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina, e a golpes de machadinhas nos crâneos, assassina quatro inocentes criancinhas – três meninos e uma menina – entre 4 e 7 anos. As vitimas curtiam o recreio no parquinho da creche. Segundo noticiário, todos quatro eram filhos únicos de jovens pais. Outros inocentes foram feridos e levados a um Hospital de Emergência. Naturalmente que não há classificação para um monstro desses. Pai de família e com netinhos em idade de pré-escola, que amam parquinhos, como é o meu caso, resto-me revoltado e com imensa dificuldade de aceitar viver numa sociedade que produz tamanha aberração. Chorei por essas crianças e por esses pais que viram, em minutos, seus sonhos destruídos, seus amores fenecidos e condenados a guardar, para os restos das vidas, uma carga traumática insolúvel. Impossível, também, esquecer o assassinato de uma professora de 70 anos, ao tentar apartar uma briga entre dois colegas, numa escola publica, no Rio de Janeiro. Ela já era aposentada do Estado e resolveu ser voluntária nessa escola de bairro. Tentando estabelecer a paz entre dois jovens estudantes que se engalfinhavam recebeu uma punhalada que a levou ao óbito. Triste ironia. Trocou a merecida aposentadoria para se entregar à morte. Essas ironias podem ser repetidas à luz de modelos alienígenas num país em que dantes Havia mais Respeito. NOTA: Foto obtida no Googles Imagens.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...