quarta-feira, 17 de abril de 2019

Pernambuco das Paixões

Epaminondas Mendonça  (1897-1970)
Quando meu avô materno – Epaminondas Mendonça – reuniu a família, na Vila de Fazenda Nova (PE), inicio da passada década de 50, e decidiu realizar uma teatralização da Paixão de Cristo nas ruas e prédios simples daquela Vila, nunca imaginou que sua ideia seria um grande sucesso e modelo para muitas outras encenações que anualmente se realizam em inúmeras localidades do estado.
Todo ano, depois de quase 70 anos, o espetáculo é levado lá mesmo em Fazenda Nova - hoje no monumental teatro, denominado de Nova Jerusalém - e muitas outras paixões são montadas seguindo o modelo da Família Mendonça. Em Pernambuco a semana santa é sempre uma Semana de Paixões
Independente da qualidade da produção, esses espetáculos se repetem, como se inéditos fossem, atraindo multidões sempre emocionadas com a historia de Cristo, recontada.
Grande parte, dessas paixões, são abertas ao público. Outras são montagens mais elaboradas e custosas, cobrando ingressos. A de Fazenda Nova, que, de fato, é uma grande produção, com tons hollywoodianos, tem lá suas próprias características e seus rebatimentos econômicos. É certamente um bom exemplo da chamada economia criativa. (Se quiser saber um pouco mais sobre economia criativa, clique em: https://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/economia/2018/12/08/internas_economia,770417/economia-criativa-e-criacao-de-valor.shtml. )
Patrocínios, cobrança de ingressos, cachês de artistas e figurantes, oportunidades de negócios nas redondezas, entre outros aspectos, são fatores que fazem circular uma renda que representa, em muitos casos, sustento para famílias interioranas, no resto do ano! Pousadas, lanchonetes, bares, restaurantes, comercio de artesanatos, transporte, serviços de guia turístico, eventos culturais paralelos, entre outras atividades fazem o sustento anual daquela gente.
Interessante lembrar que tudo começou de modo muito amador e, a rigor, nem foi uma ideia original de Seu Epaminondas que, de fato, se inspirou numa reportagem da revista Fon-Fon, muito popular àquela época, (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fon-Fon_(revista) , falando sobre o espetáculo da Paixão, que é secularmente e a cada dez anos levado na charmosa cidade de Oberamergau, na Baviera alemã.

A cena da crucificação em Oberamergau (Alemanha). É teatro fechado. Menos de 1000 espectadores.   
Acreditando no talento teatral da família, o velho empresario Epaminondas  investiu no projeto e acreditou que seria, também, uma forma de movimentar a incipiente rede de hotéis do lugar e difundir as benesses das águas termais descobertas pelo próprio pai (Nicolau Cordeiro de Mendonça), no lugarejo. Fazenda Nova é uma estância hidromineral. Detalhe: ele próprio era um dos hoteleiros. Ou seja, teve visão de futuro e investiu naquilo que sabia fazer e certo que daria retorno. Vide: https://pe-az.com.br/editorias/biografias/e/664-epaminondas-mendon%C3%A7a 

 
A cena da crucificação de Nova Jerusalém em Pernambuco (Brasil). 
A ideia de Seu Nondas (como era conhecido na intimidade) agitou a família e sob a direção de Dona Sebastiana, sua esposa, o Drama do Calvário (primeiro titulo da encenação) ganhou as ruas do povoado atraindo multidões. Os atores eram membros da própria família. Luiz Mendonça (primeiro Cristo), Nair Mendonça (primeira Virgem Maria), Diva e Paulo entre outros. Ele mesmo, Seu Nondas, chegou a interpretar Caifás, o Sumo-sacerdote judaico. A coisa cresceu de forma animadora, o público se multiplicava a cada ano, até que se tornou impraticável encenar na forma original.
Foi, então, que a partir dali Plínio Pacheco, casado com Diva Mendonça, filha caçula de Seu Nondas, teve a ideia de construir, junto com Diva, o grande teatro da Nova Jerusalém. Isto já era no final dos anos 60, inicio dos 70, mobilizando uma plêiade de artistas profissionais, arquitetos e entusiastas para construir o que se tornou o maior teatro ao ar livre do mundo. É uma obra monumental erguida com muito suor e sangue teatral. Rendo sempre minhas homenagens aos idealizadores e construtores dessa maravilha pernambucana.

Diva (Mendonça) e Plínio Pacheco, baluartes da construção do grande Teatro 
Seus idealizadores e construtores serão sempre lembrados como artífices de uma saga teatral nordestina e promotores de uma economia criativa emblemática naquela região e por onde outras Paixões de Pernambuco são levadas.

NOTA: Fotos colhidas no Google Imagens . 
           

sábado, 13 de abril de 2019

Segura, meu povo.

Depois de um verão escaldante, entramos na estação das chuvas que são bem-vindas para aliviar o sufoco do calor que sofremos nesta última temporada. Contudo, ao mesmo tempo em que se experimenta um clima mais ameno, as chuvas copiosas proporcionam agruras e muito desespero para os que vivem nas grandes cidades do país. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e aqui no Recife vêm sendo registrados grandes temporais e vendavais deixando estas, entre muitas outras cidades, em clima de polvorosa e com saldos aterradores de desabamentos, soterramentos, enchentes, feridos e mortos.
Nessas horas, as autoridades, sobretudo os prefeitos municipais, são chamadas à responsabilidade e, no geral, fazem suas defesas, com teses indefensáveis, acompanhados dos seus proselitismos políticos sem a menor cerimonia. Sem falta dos votos de profundo pesar às famílias atingidas. Sempre visando ao próximo pleito eleitoral, porque afinal nenhum deles quer perder a boquinha de um cargo de executivo.
Todo ano é assim: caem barreiras, desabam prédios, rios sobem de níveis, canais transbordam, avenidas viram cursos de água, veículos naufragam, desaparecem e morrem pessoas e, por fim, se instala o clima de perdas e tristezas. Calamidade geral. Até que o sol tropical volte a brilhar, secar e esquentar os terrenos, ajudando a esquecer das tragédias. Promessas feitas sobre escombros, lanchas e helicópteros salvadores são apagadas das memorias, na maior rapidez. A vida continua, até que os dramas sejam revividos na invernada seguinte. Ah! Nesse ínterim, uma desculpa vai logo sendo elaborada e passa obrigatoriamente pela falta de recursos financeiros.
Na verdade, recursos financeiros são escassos, mas, a rigor, não faltam. Faltam sim, compromisso e responsabilidade administrativa dos burgomestres e governadores estaduais que estão muito mais preocupados em aplicar os escassos recursos financeiros nas obras que lhe rendam os créditos de votos nas urnas eleitorais da eleição seguinte.
O Recife, por exemplo, é uma cidade cortada por rios, riachos, córregos e muitos canais. Foi erigida sobre manguezais. Administrar essa rede hidrográfica pode ser complexo. Mas, não impossível, visto que se faz necessário. Outro dia, escutei de um funcionário da Prefeitura algo estarrecedor. Disse-me ele que o transbordamento de um canal até ajuda na limpeza da cidade. Explicou que a sujeira do transbordo se espalha pelas vias públicas e o serviço de limpeza aproveita e leva as tralhas que se espalham. Ora, minha gente, se o transbordamento já se deu em face da sujeira acumulada no leito do canal, como entender essa “estratégia”?. Deve ser, assim mesmo, no Recife, no Rio de Janeiro, em São Paulo e alhures.
Pensando com uma visão mais elástica, esse problemão urbano brasileiro é um desajuste em cadeia. A população, sem educação e orientação, joga todos seus dejetos e descartáveis imagináveis nos cursos d´água, a Prefeitura não os colhe porque o dinheiro é curto e o serviço de limpeza urbana é parcial e ineficiente. As estações de bombeamentos são inoperantes! A chuva vem, inunda e está feito o estrago, antecedendo uma ainda maior que é a insalubridade. Leptospirose, hepatites, febre tifoide e dengue são algumas das enfermidades que grassam nas populações atingidas. E não tem prefeitura que segure o tranco. Pobre brasileiro.  
O rio dos Aflitos (Recife)
O temporal que caiu no Recife, ontem (12/4/19) foi o retrato dessa vergonha. Minha rua, situada num dito bairro nobre da cidade, se transformou num grande rio. Como não dispus de uma lancha ou carro anfíbio fiquei retido em casa até que o “rio” secasse. A maioria das artérias da cidade ficou submersa em poucos minutos. Até altas horas havia avenidas tomadas pelas águas.  Enquanto esperei que o “rio” da minha rua baixasse, assisti pela TV um drama semelhante que viveu o Rio de Janeiro, atingido por vendavais contínuos durante a semana e amargando um desabamento de prédios que tirou vidas e feriu varias pessoas. Pobre povo brasileiro. Pobre povo recifense que está à mercê de uma Prefeitura que vive na esteira do se manter no poder, a qualquer custo, e não cuida bem da cidade. Segura, meu Povo!
Nota: Foto da autoria do Blogueiro

sexta-feira, 5 de abril de 2019

A Muvuca do Vélez

“O que é que você acha dessa muvuca que está acontecendo no Ministério da Educação?” Esta foi a pergunta feita por uma amiga e leitora deste Blog do GB, durante um almoço desta Sexta-Feira (05.04.19). Ri muito com o expediente da amiga e respondi com outra pergunta: “e o que vem a ser uma muvuca?” Recebi dela uma resposta bem parecida com o que depois conferi no dicionário do Professor Google explicando, entre outras conceituações, que “muvuca é um grupo de pessoas fazendo bagunça, desorganizada”. Pensando bem é exatamente isto que esse colombiano/brasileiro estabanado anda fazendo no nosso Ministério da Educação, nesses três meses do Governo Bolsonaro. E, até agora, com o beneplácito dele, Bolsonaro. 
Parece brincadeira o que tem sido visto. Quatro substituições na Secretaria Executiva e dezoito exonerações em cargos chaves do importante Ministério. Dezoito cargos vagos! E pensar que Mozart Neves (pernambucano competente e expert em Educação) tenha sido “queimado” na escolha de titular da Pasta, dá grande revolta.  

Sou economista e tenho noção da importância que deve ser dada às medidas de politica econômica porque o país depende delas para  ser salvo da quebradeira geral. A Reforma da Previdência, indiscutivelmente, será a salvação inicial. Sem o sucesso dela a coisa pode ficar preta. E depois, que venha a Tributária, a Politica, seguidas das de promoção de investimentos, de privatizações e tudo quanto jogue o Brasil na rota da recuperação. Chega de crise.    
Contudo, deixar ao “Deus dará” e nas mãos de um aventureiro, um Ministério da importância como é o da Educação, tenha paciência.
Com a vitória do Bolsonaro, uma das maiores esperanças foi a de que, finalmente, a Educação teria a oportunidade de destravar e começar a render bons frutos. O governo passado deixou este setor na pior das condições, tanto em recursos financeiros, quanto em desempenho. Deixou, sim, um aparelhamento político nocivo à nação e sem que apontasse para resultados positivos e concretos, no intuito de se perpetuar no poder. Vejam os resultados negativos revelados pelas avaliações internacionais. O Brasil se nivela, atualmente, aos  mais débeis e atrasados países ou situado bem abaixo de muitos subdesenvolvidos. Uma vergonha para quem tem tantas potencialidades e tantas inteligências sobrando. Vide gráfico a seguir. Numa amostra de 65 países o Brasil se situa em 58º. lugar. Absurdo.  

É uma lástima saber que hoje a Educação Básica, de 1º. e 2º. Graus, entregues aos municípios e estados padecem, na sua esmagadora maioria, de total indigência devido à incapacidade dos gestores e a escassez de verbas. Estados e municípios na pindaíba deixam que seus futuros cidadãos cresçam ser saber multiplicar e dividir e sem condições de interpretar um simples texto. Isto ao completar o primeiro grau. Ora, meu Deus, o Brasil exige uma politica de Educação séria, apolítica e capaz de preparar o cidadão e as cidadãs do futuro. O mundo inteiro sabe que uma Nação se constrói com uma Educação forte. É a base de tudo e é o que falta aos brasileiros.
Mas, atenção, porque não é apenas nos segmentos de Educação de base e sim também na Educação Superior, a cargo do Governo Federal e gestor das Universidades Federais, hoje muito criticadas, pelos sucateamentos que amargam e por ter sido transformadas em trampolins para militantes políticos que, de fato, não buscam formação profissional e sim formação de guardiões de um socialismo barato, enganador e anacrônico. Por isso, e não é à toa, que proliferam Universidades e escolas privadas, sem condições de funcionamento e servindo muitas vezes de lavagem do dinheiro sujo dos seus idealizadores. Formando, inclusive,  profissionais ineptos.                 
Revoltado, encerro minha conversa semanal lamentando que tenhamos um Ministro incapaz e, de certa forma, irresponsável, por não enxergar a importância e a real missão da sua Pasta, afligindo as pessoas de sadias consciências que abunda em Pindorama. Aliás, será que ele já ouviu falar em Pindorama?
Socorro Capitão! Abra os olhos e dissolva essa muvuca – minha leitora estava certa – que reina da Esplanada dos Ministérios.

NOTA: Ilustração colhida no Google Imagens.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...