sexta-feira, 9 de julho de 2021

Cemitério Virtual?

Tem sido curioso, além de macabro, a maneira como o Facebook vem anunciando constantemente o transcurso de aniversários de pessoas amigas já falecidas. Fico cabreiro quando isso ocorre, resisto obviamente em postar um voto de parabéns e termino desejando um descanso em paz. Suponho que os familiares dos falecidos ainda não encontraram uma forma de apagar a página/perfil do falecido ou, por outro lado, prefiram “manter a presença” do extinto ou extinta numa espécie de plano de imortalidade digital. Nestes tempos modernos tudo é possível. Esta semana ocorreram-me pelo menos três avisos, com a prosaica recomendação de “ajude a fulano ou fulana a comemorar hoje seu aniversário”.
Mais curioso talvez, e não muito raro, é ver sair publicado numa coluna social dos jornais locais nomes de pessoas falecidas entre os aniversariantes do dia. Inclusive de pessoas que já tiveram registrados seus falecimentos na mesma coluna social. Querendo ser gentil e tolerante com os profissionais de imprensa, prefiro acreditar que a veloz dinâmica do dia-a-dia tem sido responsável por situações bizarras como estas. Vai vwr que como tudo é processado no espaço cibernético essas coisas terminam passando despercebidas. Paciência. Da minha parte já recomendei aos familiares buscarem o meio de deletar meus perfis virtuais logo que Papai do Céu me chame para prestação de contas. Eis aí, até que eu saiba melhor, uma questão ainda não resolvida no mundo em que a informação prolifera e se revela como fundamental para o giro das máquinas sócio-politico-econômicas. É um verdadeiro cemitério virtual. Outro dia fiquei sabendo do caso de um falecido cujo perfil virtual mantido foi clonado e o hacker desavisado pedia, em tom de desespero, ajuda financeira para tratamento de saúde. Naturalmente que se tornou hilário para o Grupo de listados entre os relacionados com o morto. Cá pra nós, tem coisa mais ridícula do que isto? O cidadão morto, cremado e cinzas ao mar sendo usado por canalhas internautas. Se meu pai fosse vivo diria que isto é o fim dos tempos. “Ôxe! Morreu e ainda pede dinheiro? Deve estar planejando uma fuga do inferno”.

12 comentários:

Lúcia Valença disse...

Oi Girley.
O seu artigo traz um poder de percepção do grande e do pequeno , a assim que percebo. Retrata, a partir de um registro/apontamento aspectos novos do nosso dia a dia..
Tenho lido alguns dos seus escritos e me aventuro a sugerir, outros podem ter se arencipado a mim, que sirvam como base a um histórico desta fase estranha e quase sulreal.
Parabéns.

Vanja Nunes disse...


Bem interessante o texto
E como gostava de lê anúncios fúnebres, esse vai bem rsrsrs
Bom final de semana

Cleide Farias disse...

Adorei o desfecho... Planejando fugir do inferno.

Jorginho Morandi disse...

Parabéns, Tio Girley.
Adorei a reflexão.

Jorginho Morandi disse...

Bom día, tio Girley.
Seus posts são muitos bons.

Ina Melo disse...

Endosso plenamente as tuas palavras! Acho uma falta de respeito aos mortos, seja que for, rico ou pobre, ter os nomes expostos em colunas sociais e, principalmente, no Facebook, que é internacionalmente conhecido. Também já dei o meu aviso aos filhos! MORREU e “au revoir”, claro né amigo !

José Otavio de Carvalho disse...

Amigo Girley. Esse seu texto demonstra sua acurada percepção social. Depois de lido percebemos como o fato é comum e corriqueiro. O mérito é sua percepção para registro. Ressalto a frase que fecha o artigo: humor fino. Parabéns.

Júlio Silva Torres disse...

Caro Girley, probablemente quienes piden dinero a nombre del muerto lo hacen para pagar el hotel donde el alma de aquel está obligada a hacer cuarenta preventiva antes de continuar su viaje al más allá…
Saludos!

Tânia Valois disse...

A impessoalidade da tecnologia conduz essa dança bizarra e macabra!

Cristina Carvalho disse...

Cemitério virtual é no mínimo trágico. Em que mundo estamos vivendo?? Concordo com o que seu pai diria - é o fim do mundo!!
Isso é um terrorismo macabro “internáutico”. Que horro!!! Mas, valeu o alerta!!! Gostei!

Júlio Silva Torres disse...

Querido Hermano Girley, qué bonito homenaje a quién con cariño y respeto les facilitó el diario vivir a tu familia.
Yo, acá en Chile, dependo de una persona humilde que cuida de nuestra vida desde hace ya más de 30 años y que desde que Cristina partió a la eternidad cumple el rol de Jefa de mi casa. Tico y probablemente tu también la conoces: se llama Elbita.
Ella es una persona notable, así como fue tu Iracema.
Doña Elbita es parte importante de mi familia y ella lo sabe. En tu columna de hoy, reconozco no solo a doña Iracema sino también a nuestra Elbita. Gracias a ambas!
Abrazos afectuosos

Jorge Morandi disse...

Seus posts são uma boa leitura para aprender ainda mais português...

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