Esta semana andei lembrando muito do meu finado pai, diante da onda de roubos escandalosos dos políticos brasileiros. Eu era garoto de tenra idade, mas muito atento aos comentários dos adultos, e recordo bem da revolta do velho com a roubalheira que se dava – menos divulgada, é verdade – nos vários níveis de governo do país. A coisa me parecia mais séria, para não dizer catastrófica, quando olhando para mim, ele previa um quadro sombrio e incerto para as gerações futuras. “Aonde este país vai parar e que futuro terão esses meninos?” Aquele dedo, apontando na minha direção, representava uma tremenda ameaça.
O tempo passou, as coisas não mudaram, caiu governo, os militares tomaram o comando da nação, eu cresci física e intelectualmente, meu pai continuava a esbravejar, defini meu caminho profissional e a incerteza persistia. Onde vamos parar? Eu mesmo perguntava aos meus botões.
Restaurou-se a democracia e aí, ciente do conceito desse tipo de governo, pensei que a coisa seria mais honesta e sabida por todos. Que nada! Veio o Plano Cruzado, o “descruzado”, planos em cada estação do ano, dos quais lembro bem de um tal de Plano Verão. Tem coisa mais prosaica do que isto? Foi uma roubalheira coletiva. Todo mundo foi ludibriado. Ainda hoje tento resgatar meu dinheirinho perdido, nessas brincadeiras de governar.
Quando Collor assumiu, prometendo seriedade, transparência e progresso, começou afanando meus trocados restantes e me deixou com míseros cruzeiros na conta bancária. Tudo pelo bem da Nação. Achando pouco “guardou” minha suada poupança, devolvendo muito tempo depois, aos poucos e sem o valor original. Eu quase morro de um colapso cardíaco. Por azar, eu havia vendido um imóvel para adquirir outro maior, já apalavrado e o dinheiro da venda foi parar no saco sem fundo do Governo. Nas mãos de PC Farias! Não pude esquecer as palavras do meu velho pai e foi inevitável deduzir que por aquele caminho elles iriam me aniquilar.
No Governo FHC, fui garfado com meu salário de funcionário publico congelado ao longo dos oito anos. Corri e me aposentei – por sorte – para trabalhar noutras frentes.
Mas, como mudanças ocorrem, assume o tido como Salvador da Pátria, Luis Inácio Lula da Silva. Não posso negar que alimentei alguma esperança, mesmo sem lhe haver dado meu voto. Pensei que, quem combatia, a vida inteira, a corrupção e os corruptos, tinha obrigação de implantar um Governo moralizado e honesto. Por essa cartilha não haveria espaço para roubos, Caixa 2, tocos, propinas e similares.
Para minha surpresa, estourou a “bomba” mais destrutiva de todas. Roubavam descaradamente e com uma avidez nunca vista. Falo do episódio do Mensalão. Quase morro de vergonha ao ver Lula dizer que isso era comum na política brasileira e que ele não sabia de nada. Na mesma época, causou espante – em nível internacional – a mais hilária das estratégias de roubo: o caso dos dólares na cueca do petista. Eu, por coincidência, estava na Itália e senti-me envergonhado, descobrindo que o assunto virou piada no mercado da palha de Florença. Encontrei um artesão brasileiro que cansado de não acreditar no Brasil, falido por conta dos planos mal sucedidos, produzia e vendia artigos de couro aos turistas na Itália. Quando tentei regatear o preço de uma peça, ele não teve dúvidas em me perguntar se eu não trazia alguns dólares na cueca. Levei na brincadeira, mas, cá pra nós, é lasca...
Atualmente, as coisas se multiplicam e se tornam corriqueiras. Coisa comum na vida brasileira. Tem dinheiro na cueca, nas meias, dentro das calças, nos panetones e onde couber, porque a grana, além de farta, corre fácil. Descaradamente se reúnem em círculos de orações para agradecer o roubo perfeito. Perderam completamente a noção de honestidade, vergonha e hombridade. Aqui no estado, andaram fazendo festejos de mentirinha e embolsando a grana. Meu pai tinha razão.
Nesse clima de perplexidade, ouvi na Hora do Brasil, propagandas e elogios ao tal de Portal da Transparência do Governo Federal, cujo objetivo é divulgar as contas dos Governos, evitando desvios e falcatruas com o dinheiro público. Promete ser o maior e o mais moderno instrumento contra a corrupção. Fui lá! Aparentemente é uma beleza. Mas, como entender tanta comilança, tantas propinas, tantos “pedágios” indecentes para aprovação e liberação de verbas?
Não acreditando no Portal, conclui que ele está mais para Portal da Aparência do que da Transparência. Ah! Meu pai! Que futuro posso garantir para os seus netos?
NOTA: Dessa vez não incluo fotos. As adequadas que encontrei são deprimentes. Melhor evitá-las