“Ôxi esse minino... e
isso são hora de chegar? Tamo aqui derna de dezembro plantado ti esperano. Cum
pouco tava desistindo. Subisse divagar, num foi? Poi bem, já que chegasse, vá entrano... seja muito
bem vindo. E tem mai, avia ligerin e garra do fole pa mostrar p’essa gente cá
de cima como se toca um forró bem tocada. Vamo lá minino, eu te acompanho.” Imagino
que foi assim que Luis Gonzaga recebeu Dominguinhos, na porta do céu, esta
semana.
Gosto muito de registrar neste espaço do Blog do GB as personalidades ilustres, da música popular, que partem “desta para uma melhor”, como se diz no meu Pernambuco. Lembro de haver falado da argentina Mercedes Soza, La Negra, e da sul-africana Miriam Makeba, a Mama África, quando nos deixaram. Hoje é a vez de falar e enaltecer a figura do genial sanfoneiro/compositor pernambucano José Domingos Morais – Dominguinhos – que, depois de seis anos lutando contra um câncer de pulmão e sete meses hospitalizado em agonia, partiu para a eternidade deixando uma legião interminável de admiradores de todas as idades e matizes sociais. Sua obra se constitui num dos mais notáveis acervos da música popular brasileira, dos últimos tempos. Herdeiro musical do magistral e sempre lembrado Luis Gonzaga, brindou o mundo com canções e arranjos musicais que atravessarão tempos por vir, mantendo bem viva sua presença entre os viventes.
Homem querido, artista virtuoso, manso e solidário, colega na arte, fez amigos e amigas por onde passou. Com uma voz lenta e uma sensibilidade sem igual, Dominguinhos deve ter partido com uma alma leve e cheia de graça.
Embora fizesse parte do meu circulo familiar – foi casado com minha prima Guadalupe Mendonça – tive poucos momentos de convivência com ele. Certa vez, num encontro promovido pelo Governo do Estado, quando “vendíamos” o produto Pernambuco, num importante centro de compras em São Paulo, tive o prazer de recebê-lo no palco, onde se apresentou como atração máxima. Ali, recordo bem, tive a melhor das nossas conversas. Trocamos algumas informações sobre a família, rimos em algumas passagens e curtimos a ocasião. Guardo na lembrança a imagem de um cidadão de gestos amáveis e sempre bem humorado. Embora star e pop consagrado, que de fato foi, pareceu-me ser alguém que não se julgava o maior ou situado acima dos outros.
Fez parcerias magníficas, com inúmeros cantores famosos da MPB, alguns dos quais fizeram ontem, durante seu velório e sepultamento, no Recife, as homenagens devidas e de corpo presente. Confesso que nunca havia assistido um funeral daqueles. Houve um misto de consternação e alegria que somente um artista daquela envergadura poderia sugerir. Autoridades, amigos, familiares e parentes, colegas da arte, muitos sanfoneiros criaram o clima da ocasião. Um verdadeiro show de arte musical nordestina. Na rua a multidão esperando a saída do ataúde, entoando os sucessos do artista. “Eu só quero um xodó” sucesso dos anos 70, na voz de Gilberto Gil, era cantado em coro, numa verdadeira ovação. Choros e aplausos se misturavam às margens de um Capibaribe plácido e belo indo ao encontro do Beberibe e desaguando no Atlântico.
Mas, uma coisa fantástica de Dominguinhos ficará na minha memória enquanto viva estiver: num show de Nando Cordel escutei dele um relato fantástico. Contou que certo dia Dominguinhos foi até ele com a maior "dor de cotovelo" e se lamentando pela separação de Guadalupe. Pediu que fizesse com ele uma música que retratasse a situação. Foi quando surgiu um dos seus maiores sucessos com “Tô com saudade de tu, meu desejo, tô com saudade do beijo e do mel...”. Passado algum tempo e tendo voltado às boas com a mulher amada, foi a vez de cantar o momento de harmonia. Aí, aconteceu outro sucesso: “Estou de volta pra meu aconchego...” Essas duas composições estouraram na parada de sucessos e até hoje são cantadas como sendo as da moda. No velório de ontem, Elba Ramalho entoou-as com alma e coração, emocionando todos quantos presentes na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
José Domingos Moraes descanse em paz e com a certeza de que sua obra é imortal. Você É um daqueles que não morrem. Simplesmente se encantam e continuam encantando o mundo. Bom forró aí no céu, visse?
NOTAS: 1) Do casamento com a, também, cantora Guadalupe Mendonça, Dominguinhos deixou uma filha - Liv Moraes - que herdou dos pais o dom de cantar e encantar. 2)A foto foi obtida no Google Imagens.
Gosto muito de registrar neste espaço do Blog do GB as personalidades ilustres, da música popular, que partem “desta para uma melhor”, como se diz no meu Pernambuco. Lembro de haver falado da argentina Mercedes Soza, La Negra, e da sul-africana Miriam Makeba, a Mama África, quando nos deixaram. Hoje é a vez de falar e enaltecer a figura do genial sanfoneiro/compositor pernambucano José Domingos Morais – Dominguinhos – que, depois de seis anos lutando contra um câncer de pulmão e sete meses hospitalizado em agonia, partiu para a eternidade deixando uma legião interminável de admiradores de todas as idades e matizes sociais. Sua obra se constitui num dos mais notáveis acervos da música popular brasileira, dos últimos tempos. Herdeiro musical do magistral e sempre lembrado Luis Gonzaga, brindou o mundo com canções e arranjos musicais que atravessarão tempos por vir, mantendo bem viva sua presença entre os viventes.
Homem querido, artista virtuoso, manso e solidário, colega na arte, fez amigos e amigas por onde passou. Com uma voz lenta e uma sensibilidade sem igual, Dominguinhos deve ter partido com uma alma leve e cheia de graça.
Embora fizesse parte do meu circulo familiar – foi casado com minha prima Guadalupe Mendonça – tive poucos momentos de convivência com ele. Certa vez, num encontro promovido pelo Governo do Estado, quando “vendíamos” o produto Pernambuco, num importante centro de compras em São Paulo, tive o prazer de recebê-lo no palco, onde se apresentou como atração máxima. Ali, recordo bem, tive a melhor das nossas conversas. Trocamos algumas informações sobre a família, rimos em algumas passagens e curtimos a ocasião. Guardo na lembrança a imagem de um cidadão de gestos amáveis e sempre bem humorado. Embora star e pop consagrado, que de fato foi, pareceu-me ser alguém que não se julgava o maior ou situado acima dos outros.
Fez parcerias magníficas, com inúmeros cantores famosos da MPB, alguns dos quais fizeram ontem, durante seu velório e sepultamento, no Recife, as homenagens devidas e de corpo presente. Confesso que nunca havia assistido um funeral daqueles. Houve um misto de consternação e alegria que somente um artista daquela envergadura poderia sugerir. Autoridades, amigos, familiares e parentes, colegas da arte, muitos sanfoneiros criaram o clima da ocasião. Um verdadeiro show de arte musical nordestina. Na rua a multidão esperando a saída do ataúde, entoando os sucessos do artista. “Eu só quero um xodó” sucesso dos anos 70, na voz de Gilberto Gil, era cantado em coro, numa verdadeira ovação. Choros e aplausos se misturavam às margens de um Capibaribe plácido e belo indo ao encontro do Beberibe e desaguando no Atlântico.
Mas, uma coisa fantástica de Dominguinhos ficará na minha memória enquanto viva estiver: num show de Nando Cordel escutei dele um relato fantástico. Contou que certo dia Dominguinhos foi até ele com a maior "dor de cotovelo" e se lamentando pela separação de Guadalupe. Pediu que fizesse com ele uma música que retratasse a situação. Foi quando surgiu um dos seus maiores sucessos com “Tô com saudade de tu, meu desejo, tô com saudade do beijo e do mel...”. Passado algum tempo e tendo voltado às boas com a mulher amada, foi a vez de cantar o momento de harmonia. Aí, aconteceu outro sucesso: “Estou de volta pra meu aconchego...” Essas duas composições estouraram na parada de sucessos e até hoje são cantadas como sendo as da moda. No velório de ontem, Elba Ramalho entoou-as com alma e coração, emocionando todos quantos presentes na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
José Domingos Moraes descanse em paz e com a certeza de que sua obra é imortal. Você É um daqueles que não morrem. Simplesmente se encantam e continuam encantando o mundo. Bom forró aí no céu, visse?
NOTAS: 1) Do casamento com a, também, cantora Guadalupe Mendonça, Dominguinhos deixou uma filha - Liv Moraes - que herdou dos pais o dom de cantar e encantar. 2)A foto foi obtida no Google Imagens.