sábado, 30 de abril de 2022

Um Homem de Sete Instrumentos

Há pessoas que nascem com o especial predicado de distribuir entusiasmo àquelas que a rodeiam. Como entusiasmar significa encantar e animar terminam sempre sendo pessoas queridas, lideres e centro de atenções em qualquer ambiente. Catando melhor o livro dos significados, descobri que, para algumas crenças antigas, entusiasmar significa provocar estado de exaltação e ser tomado por espirito de inspiração divina. Aqui pra nós, é muita coisa. Este abril que hoje finda levou para a eternidade uma dessas maravilhosas pessoas que, com permanente entusiasmo, encheu de alegrias e bons ventos salas, salões, blocos cirúrgicos, hospitais inteiros, templos, palcos, auditórios e qualquer outro tipo de recinto social. Refiro-me ao grande amigo REINALDO DA ROSA BORGES OLIVEIRA que nos deixou no último dia 10 provocando um vazio em muitos espaços sociais nos quais circulava. Pernambuco chora sua ausência física, mas, reverencia sua memória.Foto a seguir.
Lembrar-me desse amigo, impossível deixar escapar as lembranças preciosas das formidáveis conversas que levamos em momentos de “jogar conversas fora”. Numa dessas, fim de tarde, encostado no seu piano de calda, entusiasmado (estado natural), contava-me sobre a composição, com seu irmão Fernando, do frevo canção do Clube Internacional, sublinhando a sensação prazerosa que sentiu quando a Orquestra de Nelson Ferreira, pela primeira vez, “rasgou’ o frevo da sua autoria na abertura de “um carnaval sensacional, só mesmo no Internacional!”. “Foi uma criação encantadora, Girley!” Era curioso e contagiante ver aquele Homem desenvolver a conversa em tom eloquente e arrebatador. Ele era assim... relatava e cantava, cantava e relatava, com os olhos brilhando e transmitindo fortes vibrações somente sentidas quando, de fato, vivenciando o ferver do próprio salão de carnaval. Momentos depois já passava a descrever uma cirurgia “divertida” que havia realizado na véspera e emendava comentando cenas de palco e de bastidores, da famosa peça “Um Sábado em Trinta”, por ele dirigida, no teatro criado pelo seu pai Waldemar de Oliveira, de quem, bom destacar, herdou tanto talento. No meio disso tudo, entre boas tiradas e grandes gargalhadas, virei-me pra ele, dei uma palmadinha nas costas dele e conclui dizendo da satisfação de conhecer um homem que, com competência, manejava sete instrumentos. De fato, Reinaldo manejava com maestria um bisturi, uma caneta, as claves de Sol e de Fá, um palco, um microfone, o teclado de um piano e um cérebro privilegiado. Vai fazer muita falta entre nós. Nossa maior aproximação, registro com destaque, se deu nos quadros do Rotary Clube International, quando fomos filiados ao mesmo clube, o Rotary Clube Recife – Casa Amarela, onde tivemos belas oportunidades de relacionamentos sociais, entre companheiros da agremiação internacional e com a comunidade próxima, assistida pelo Clube. Com tanta verve e espirito de líder, Reinaldo foi presidente do Clube, tornou-se Governador do Distrito Rotário 4500, (1994-95) reunindo clubes de quatro estados nordestinos (Pernambuco, Paraíba e Rio G. do Norte), ocasião em que entusiasmou o mundo rotário com inspiradoras mensagens de “servir ao próximo, antes de servir a si mesmo”. Enfim, lembro que Reinaldo de Oliveira foi escritor, compositor, diretor, ator e participou de mais de 80 peças teatrais. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e integrante da Academia Pernambucana de Letras, da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e da União Brasileira de Escritores, em Pernambuco. Para marcar seu legado, em 2018, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), publicou sua biografia intitulada: "Reinaldo de Oliveira - Do bisturi ao palco".

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Desafios do Viver

O Blog esteve fora de circulação por duas últimas semanas por amor a vida e à família. O Blogueiro teve o prazer de receber, para festejar a Páscoa, filhos que vivem distantes e, diante das alegrias e prazeres, resolveu tirar férias. A vida tem desses momentos e, mais do que nunca, exigem comemoração e curtição, usando o termo da moda. Três gerações reunidas e louvando a existência, num tempo em que a ressureição de Cristo e o renascimento dão o tom dos festejos. Foram muito temas visitados ou revisitados nas rodas de conversa. Entre estes, dois ganharam destaques e suscitaram debates acalorados: descriminalização do aborto e eutanásia. Nos Estados Unidos em pleno período pascal um dos estados reviu sua Lei de Aborto e reduziu para 12 semanas de gestação o momento limite da prática do aborto. Antes era de 24 semanas. Pouco tempo antes (21 de fevereiro) foi decidida a descriminalização do aborto na vizinha Colômbia, numa “martelada” da Corte Constitucional daquele país, permitindo essa prática até as primeiras 24 semanas de gravidez. Inicialmente, a proposta era de 13 semanas, mas atendendo forte campanha do movimento feminista denominado de Justa Causa, foto a seguir, o tempo foi estendido pela tal Corte. Um magistrado de nome Antonio José Lizarazo foi o responsável pela proposta. Por exceção fica permitido o aborto mediante comprovação de se tratar de um fruto de estupro ou uma gravidez que ponha em risco a vida da gestante.
Como defensor da vida, após a concepção, reputa como uma decisão difícil de ser assimilada, embora concorde com as exceções. Tenho meus princípios moral e religioso, que não nego, mas, parto do principio de que a vida começa no momento em que um óvulo é fecundado, após união de dois corpos que decidem se completar e expressar fisicamente seus incontidos desejos. Claro, é assunto social delicadíssimo e a minha visão, além de amplamente discutida, é sujeita a ilimitadas controvérsias. Ao meu ver acredito que a congeminação humana, ao contrário no reino dos irracionais, é praticada com frequência, naturalidade, até como meio de vida e, não raramente, de modo irresponsável. Por mera diversão. Claro, é bom e prazeroso não nego, também. Faz bem à saúde física e mental. Contudo é preciso ter responsabilidade e precauções para não cair no grupo que busque corriqueiramente a pratica do aborto. È uma questão de saúde publica. A inteligência cientifica criou meios eficazes para evitar. O ex-presidente Lula foi extremamente infeliz ao tocar no tema, num recente encontro da CUT. Amargou algum desgaste politico. Coisas do Brasil, onde o aborto é proibido. Contudo, infelizmente é praticado por “debaixo dos panos” e com métodos dos mais rudimentares. E aí responsabilizo, outra vez, a falta de uma politica de Educação e Saúde Pública. É difícil... sei muito bem. Corro o risco de ser criticado e ficar mal visto por alguns leitores ou leitoras. Mas, a vida segue. Diante de um netinho que atravessa a sala, corre no gramado e chuta uma bola sobre as taças de vinhos que tomávamos na varanda, impossível não me lembrar de quantos outros perderam a chance de fazer o mesmo ou algo similar. Enfim, causa-me repulsa quanto ao caso colombiano, ao lembrar que com 24 semanas de gestação um feto já tem em formação todos os seus sistemas corporais e caminha para seu completo desenvolvimento. Numa maneira didática o Doutor Google explica, num dos seus tópicos, que “a gravidez é dividida em três trimestres, em função das especificidades destes períodos. No primeiro, começa a divisão celular, que transforma o óvulo fecundado em um embrião. No segundo, todo o sistema do bebê é concluído. E, no terceiro, o bebê ganha peso e altura, enquanto o corpo da mãe se prepara para o parto”.
Como mencionei no inicio o outro assunto abordado foi à prática da eutanásia. Quem provocou a conversa foi a noticia de que Alan Delon havia decidido por um suicídio assistido. Claro que causa surpresa. Ele é de nacionalidade franco-suíça e tem o direito de praticar a eutanásia. A decisão, aos 86 anos, (Foto acima) veio após um AVC que o limitou fisicamente, deixando-o com profunda preocupação de não viver dependente ou dando trabalho aos filhos ou terceiros. Ficará a lembrança do galã das telas nos anos 60 e 70, que marcou uma juventude fã incondicional do cinema. Resta a discussão da coragem desse homem que cansou de envelhecer preocupado com os que o rodeiam. Egoísmo, vaidade ou empatia? São os desafios do viver. A questão fundamental é que é “preciso saber viver” como cantou Roberto Carlos.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...