sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Sinal de Alerta no Continente


Acompanhamos, por bom tempo, a lenta decadência da política bolivariana, na Venezuela, e seus desdobramentos maléficos sobre a nação vizinha e, agora, estamos assistindo inesperados movimentos populares em vários países da América Latina gerando apreensão e insegurança no Continente.
Na Colômbia, as Farc ameaçam voltar à luta armada; no Equador população vai às ruas por conta de aumento dos preços da gasolina; no Peru o povo exigiu e o Governo aplicou um revés ao Congresso e destituiu os Ministros do Supremo Tribunal Nacional, envolvidos em grandes corrupções, inclusive sob os auspícios da Construtora Odebrecht, do Brasil. E nestes últimos dias, Chile e Bolívia andam às voltas com movimentos políticos populares, com repercussões de grande monta negativa.   
Manifestação incendiária em Santiago do Chile
O caso do Chile é, certamente, o mais surpreendente: manifestantes foram às ruas, adotando formas violentas e ameaçadoras da segurança social, incendiando patrimônios privados e públicos. O motivo original foi detonado após a majoração das tarifas do Transantiago, metrô local da capital chilena. Na esteira desta revolta, outros pleitos terminaram sendo expostos. O governo reagiu e a situação esquentou. É surpreendente o que ocorre neste caso. Lembro que o Chile vem se destacando, nas últimas décadas, como sendo o país mais tranquilo e economicamente equilibrado da América Latina. Oferece, aparentemente, as melhores condições de vida à sua população, com saúde, educação e segurança eficientes. Estive recentemente em Santiago e observei, in loco, sinais de pujança e desenvolvimento socioeconômico. Tem um custo de vida alto, é verdade, mas também adota um salário mínimo que, atualmente, corresponde ao dobro do que se paga no Brasil. Energia elétrica e abastecimento de água potável são fornecidos por tarifas civilizadas. A carga fiscal é, também, das mais civilizadas no Continente. Conversei com profissionais da área (meus ex-colegas de trabalho) e sai bastante impressionado. Tenho dificuldades para entender o que vem ocorrendo. Desejando saber mais, acesse: http://observatorio.ministeriodesarollosocial.gob.cl/ipc_pob_informe3.php?ano=2019    
Evo Morales não aceita o provável resultado. Deseja continuar no Poder.
Na Bolívia, o problema é de outra ordem: parece que o boliviano cansou do governo "socialista" do Evo Morales. Nas eleições de domingo passado (20.10.19), um primeiro resultado dava contas de que haveria um segundo turno, com Morales tendo de disputá-lo. Uma suspeita manipulação espúria, a favor do atual mandatário, terminou por, repentinamente, proclamá-lo vitorioso, no primeiro turno. Segundo analistas  políticos, o processo de apurações sofreu uma abrupta interrupção, por conta de uma suposta “falha” nos computadores. Pouco depois, equipamentos consertados e vitória anunciada. Inconformado, o opositor, Carlos Mesa, e seus eleitores foram às ruas, denunciando a suspeição. Observadores representantes da OEA, que acompanharam o pleito e a apuração requereram uma recontagem dos votos. Nem precisa dizer que a situação esquentou. Resta esperar o desenrolar do embróglio.
Já na Argentina, onde manifestações ocorrem também com frequência, outro sinal de alerta disparou com o resultado das prévias eleitorais prometendo o retorno do peronismo e, particularmente, da Senhora Kirchner, como vice-presidente. A rodada final será no próximo domingo (27.10.19). Parece ironia, mas, vão consagrar corruptos no poder. Quem diria que os argentinos errariam outra vez, depois de tantos insucessos no passado. A culpa é do Macri que não soube domar as manhas da economia dos hermanos. Bom, é de se considerar que na Argentina crise socioeconômica é coisa endêmica. Acompanho o pais vizinho desde a década de setenta - à distancia e in loco - e não lembro de bom tempo de verdade.      
Finalmente, e pelo visto, as coisas tendem a regredir no Continente. A onda neoliberal que acenava com bons ventos sofre seus percalços. Resta acompanhar os acontecimentos e, particularmente, no caso brasileiro, torcer para que as reformas que estão sendo levadas a efeito surtam bons resultados e a onda reformista se espalhe na vizinhança.        
      
NOTA: Fotos que ilustram foram colhidas no Google Imagens.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Mar Negro


Pra inicio de conversa, não me refiro ao Mar Negro existente na Europa, entre a Turquia, a Rússia e outros países menores da região. Falo, sim, de um mar muito próximo e que vem sendo tingido de negro num acidente ambiental sem dimensões definidas e causando transtornos onde somente e sempre se respirou ares de paraíso e com águas verdes e turquesa. 
Praias do Nordeste brasileiro neste mês de Outubro
Parece ironia, mas, depois do alarmante episódio das queimadas – que, segundo monitores, ocorre anualmente, certa época do ano, na Amazônia – eis que uma surpresa desagradável atinge o Brasil, em particular as costas do Nordeste brasileiro: toneladas de petróleo (óleo pesado) foram derramadas ao mar, causando danos inestimáveis à fauna e à flora marinha. Não se sabe, ao certo, a origem desse óleo, embora já se comprove, laboratorialmente, ser óleo de características venezuelanas. O fato é que do Maranhão à Bahia são registradas ocorrências expressivas desse derramamento. Nove estados da região já descobriram os estragos nas suas praias. Animais marinhos já chegam mortos ou cobertos pelo produto nocivo, às areias do litoral. Tartarugas se arrastam cobertas de óleo e, como que, pedem socorro. Peixes bóiam mortos. Um golfinho morto foi encontrado numa praia alagoana, este fim de semana, e já cercado de abutres. 
Golfinho encontrado morto numa praia alagoana
Mais de 160 praias do litoral nordestino registram pontos de manchas desse derrame. As ocorrências acontecem desde os primeiros dias de setembro passado. Correntes marítimas dessa zona do Atlântico trazem com facilidade o óleo derramado de algum ponto ainda não identificado. Nosso plácido mar se tornou um mar negro.
Tartaruga marinha banhada de petróleo bruto. 
Sabe-se que mais de mil navios petroleiros transitaram, nesse período, por este espaço marítimo levando o óleo bruto para diferentes destinos – Europa, África e Oriente – tornando mais complexo identificar o responsável pela tragédia que vem sendo provocada. Várias hipóteses estão sendo levantadas: limpeza do porão de algum desses navios, com descarte de uma carga restante; vazamento por defeito no casco da embarcação; falha no transbordo de óleo navio-navio, em alto mar, e, por fim, a possibilidade de um navio fantasma (não identificado pelos radares de controle terrestre) naufragado. Os navios fantasmas ocorrem quando saídos da Venezuela, escapando do bloqueio norte-americano, desligam os radares e navegam de modo anônimo. Logicamente que, pelo volume da descarga de óleo, fica difícil precisar se se trata de uma ou mais embarcações. Na verdade é um mistério, pelo menos até agora. 
Entidades governamentais (IBAMA, Marinha, Petrobras e Policia Federal) e não governamentais, institutos de pesquisas, ambientalistas, profissionais da área se mobilizam para desvendar o mistério que envolve a situação, realizar a limpeza das praias, manifestar a revolta e identificar a origem do derramamento. Os prejuízos são, até agora, incalculáveis. Além dos malefícios causados às flora e fauna marítimas, já se projetam prejuízos às comunidades litorâneas que vivem da pesca e, também, expressiva queda nas atividades turísticas do litoral nordestino, numa hora de pré-temporada de verão, quando o Nordeste atrai levas de turistas nacionais e estrangeiros.
O mais surpreendente, para muitos, é a relativa passividade da sociedade em geral diante deste fato tangível e preocupante. Aqueles que bradaram aos quatro ventos, aqui e no exterior, suas revoltas pelas recentes queimadas na Amazônia estão calados diante deste outro fato tão alarmante quanto o primeiro. Ora, é um gravíssimo caso de agressão ao meio ambiente, também. Lembrando que estamos numa época em que a mobilização da sociedade tem surtido repercussões políticas positivas, não seria o caso de manifestações especificas? Onde andam os ambientalistas? Os Governos federal e locais têm que se mover com vontade e formas mais enérgicas para que tenhamos este caso elucidado.    

NOTA: As fotos que ilustram foram obtidas no Google Imagens   
 
  

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Assim falou Janot

Não demorou muito e, logo na segunda feira desta semana que finda, recebi uma versão virtual do livro de Rodrigo Janot, segundo a Editora, vazada pelo Whatsapp. Prova, mais uma vez, de que não escapa nada das chamadas Redes Sociais. Fiquei surpreso, naturalmente, mas, meti as caras e devorei a lavra do ex-Procurador Geral da Republica em duas investidas. O livro é instigante para quem, como este Blogueiro, vive antenado na “chafurdação” política deste nosso país. Não se trata de nenhuma obra especial de literatura. É praticamente um relatório de trabalho na gestão da PGR, durante dois períodos, entremeado levemente de passagens da vida pessoal, algumas interessantes como os dotes culinários e que exerceram momentos hilários na vida profissional do Procurador mineiro. Coisa típica de mineiro bom de manejar panelas e temperos.
A primeira coisa que percebi, no decorrer da leitura, foi entender melhor até onde vai o poder de um Procurador Geral da Republica. Tanto para fazer o certo ou o errado. Nos países de língua espanhola o cargo tem uma denominação mais enfática: Fiscal Geral da Republica. Pense nisto!
Lendo os relatos de Janot me pareceu haver sido ele um fiel cumpridor do papel que lhe foi confiado. Claro que não sou ingênuo e me precavi na leitura, tendo sempre em mente que se tratava de um relato longo e conduzido sempre na primeira pessoa, com forte dose de vaidade pelos próprios feitos. Não vejo nisto, aliás, um pecado capital. Quem escreveu como ele, pode se garantir. Mas, fui cuidadoso ao interpretar cada posicionamento. Dessa maneira vi que se trata de um patriota que se revelou firme nos propósitos que são atribuídos a um procurador comum e muito mais a um Procurador Geral. Confesso que senti um rasgo de esperança no futuro deste país pensando na possibilidade de termos pessoas sérias e dignas ao papel.
Por feliz coincidência Janot foi protagonista nos andamentos iniciais de processos e investigações da Operação Lava Jato e autor de requerimentos de prisão a muitos corruptos tidos como luminares da Republica. A ele pode se dever muito pelo sucesso da Operação. Na época foi impressionante a parceria com Teóri Zavascki, relator da operação no STF. Pensando bem, aquela morte de Zavascki num acidente aéreo... Sei não... Foi uma lástima. Parecia que tudo iria d´água abaixo. Mas, a Nação saiu vitoriosa.
Zavascki, morte em acidente aéreo duvidoso.
Foram muitas passagens sórdidas e repugnantes relatadas ao longo de cada capitulo do livro/relatório. Vai causar muitos estragos, ainda.
Ah! É preciso ler este livro para entender melhor a rede de corrupção internacional que foi tecida por tantos corruptos e por empresas - como a Construtora Odebrecht - centrada no Brasil.
Concordei de cara com Janot quando, no livro, classificou a situação política brasileira como sendo "um teatro de horrores onde se encena a luta pelo poder". Coisa esta que lhe dava calafrios a todo instante à frente da PGR. De fato, acredito que o sujeito que entra numa missão dessas paga caro e fica marcado para o resto da vida. Num país como o nosso ser o “fiscal geral da Republica” é preciso ter sangue de barata e vez por outra provar de um bom tranqüilizante. Segundo ele, manteve sempre no anexo do Gabinete da PGR um frigobar com toda sorte de “tranqüilizantes”, entre os quais: vinho, cerveja, whisky, cachaça e similares. Quando o clima pressionava na Equipe, nas altas horas da noite, ele fazia um pitstop nos trabalhos e convocava para uma distensão. Não foi à toa que denominou a tal geladeirinha de farmacinha. Gostei. Taí, um cara bem humorado nas horas de aperto. 
Janot com ideias pouco dignas para um Procurador Geral. Matava e me suicidava em seguida. 
Como qualquer outra pessoa, esperei ansioso encontrar o registro da bombástica confissão da semana passada no livro. Em nenhuma página ele mencionou haver ido armado ao plenário do Supremo para matar o Ministro Gilmar Mendes e se suicidar em seguida. Depois de tantas fantásticas histórias vividas seria, até mesmo, ato de covardia. Isto, aliás, me pareceu haver sido uma propaganda enganosa para detonar a venda do livro. Porém, disse, sim, que foi armado e que uma força divina o segurou na hora que teve ganas de acionar o gatilho. Tampouco falou a quem poderia direcionar o projétil. A revista Veja da semana deu uma senhora alavancada na divulgação da obra. Mas, infelizmente (ou felizmente) a edição vazou, pelas torneiras das redes sociais. Quem terá sido o autor do vazamento? Eis um novo desafio para o ex-fiscal-mor da República!  
No final das contas, em meio a descrições sórdidas de investigações, entrevistas, audiências, prisões e procedimentos correlatos, Janot deixa claro que todos os políticos graduados da Nação, incluindo presidentes da Republica, comungam de um único desejo: acabar com a Lava Jato! É uma vergonha.
O livro é encerrado com uma predição de que, daqui pra frente, nada será como antes. Nada menos que tudo! Interpretemos como possível.

NOTA: Fotos colhidas no Google Imagens 


NOTA: Chafurdação significa chiqueiro, em português claro.     

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...