Faz algum tempo que venho comparando o Brasil de
hoje a uma corrida num trem fantasma do Playcenter. Um susto a cada dia como um susto a cada
curva no tal trem. Estes últimos dias, por exemplo, têm sido pródigos
neste clima.
Acompanhei, dias passados, o debate e a luta do
Governo para aprovar a necessária reforma da previdência social. Quando a coisa
parecia chegar aos finalmente, o Presidente da República decreta,
repentinamente, uma intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro, mesmo
sabendo que, conforme determina a Constituição Federal, inviabilizaria a
continuidade da tramitação do projeto de reforma no Congresso Nacional. Foi
oportunismo do Temer? Anteviu a derrota no Congresso? Era mesmo necessária essa
medida extrema no Rio? São muitas as controvérsias, o assunto está rolando e,
pelo visto, vai durar muito. Como a dita intervenção pode durar até 31 de dezembro,
já imagino como será durante a campanha eleitoral. Como era de se esperar,
virou-se a página e eclodiu um novo bate-boca
no país inteiro. Mas, vejamos por parte.
Somente a oposição ao Governo e seus asseclas são
contrários ao projeto da reforma previdenciária, embora que seja um tema que vem
sendo “empurrado com a barriga” há muitos anos. Perde-se de vista o ano em que
se começou a falar disto. Aliás, o programa das reformas gerais está pairando
sobre Brasília há muito tempo. Entra governo, sai governo, independente da
coloração partidária e o assunto do déficit previdenciário, das reformas
trabalhista, fiscal e eleitoral, do custo Brasil, entre outros correlatos, não
saem de pauta. Mas, cadê coragem para enfrentar a “onda”? Mesmo sabendo que
sobram razões lógicas, as autoridades de plantão fogem da raia e só se
preocupam em defender seus interesses, isto é, faturar votos nas urnas,
manter-se com fórum privilegiado, dinheiro fácil no bolso, mordomias
dispensáveis e outras cositas más.
No caso de uma reforma previdenciária, o mundo
inteiro já percebeu o quanto isto se faz necessário. Países mais avançados já
trataram disso, ainda que enfrentado oposições e dificuldade políticas. Ora meu
Deus, o mundo mudou, vive-se muito mais, enquanto a atual legislação está
anacrônica. Se não for revista, vai remeter a sociedade a um caos iminente. Pensando
seriamente, estamos caminhando de modo célere para uma organização social com
poucos produzindo para sustentar milhões de aposentados. A “curva fechada” dada
pelo nosso trem, nesta semana, provocou um retrocesso significativo no programa
das reformas. Estamos perdendo uma valiosa chance de emplacar essa mudança.
Infelizmente tornou-se inviável, devido ao atual clima político e dada a ausência
de uma coalizão política para viabilizar o projeto. Ficou para o próximo presidente.
Dependendo da vontade e da coragem política dele.
E a intervenção no Rio de Janeiro? Eis aí outra
questão delicada a ser entendida. Seria mesmo necessária? Mais uma vez a
sociedade se divide e discute com curiosidade o significado da coisa. Alguns
acreditam que sim devido a difícil situação dos cariocas. Estado quebrado,
salários atrasados, políticos presos por corrupção, conselheiros do Tribunal de
Contas do estado presos, o crime organizando mandando e desmandando, balas
perdidas a toda hora, miséria geral. Nunca se viu tanta insegurança na cidade
cartão-postal do país. Até que faz sentido a intervenção, visto por esse
prisma, diante da incapacidade do estado fluminense. Mas, estamos falando de
intervenção das forças armadas para exercer papel de policia. Que não é papel
delas. Corre-se o risco de insucesso e resultar numa desmoralização da
instituição ainda respeitada pela sociedade. Será que Temer fez certo? Só Deus
sabe! Além disso, uma pergunta não tem resposta imediata: é somente lá? Parece
que não. Estados como Rio Grande do Norte, Amazonas, Ceará, até o distante e
sempre tranquilo Acre veem-se em situações concretas de insegurança. Caberia
intervenção nesses estados? Desafio dos pesados. E pensar que aqui em
Pernambuco a coisa não é diferente e a Estado não está dando conta do recado.
Somente nesses primeiros dois meses do ano já foram assassinados quase duas
centenas de indivíduos.
Em meio a isto tudo, há também lances digamos que cômicos,
nesta semana: a nomeada Ministra do Trabalho, Dep. Cristiane Brasil, desistiu
de assumir o cargo, depois de ficar mais do que provado sua falta de lisura na
condução de questões trabalhistas com seus próprios empregados. E por ultimo,
hoje (23.02.18), explode uma bombinha engraçada que foi a denuncia de que o
Ministro interino da pasta do Trabalho responde processo por praticar roubo de
energia elétrica. Usou de um “macaco” como se diz aqui em Pernambuco ou de um “gato”
lá pelo Sul. Parece brincadeira. Mas, será possível, que todo mundo é ladrão? É
rir pra não chorar. Haja emoções, para cada dia ou cada curva do trem.
O cidadão brasileiro está refém desse desarranjo social
e sem esperança imediata de como se safar. Tudo isto como fruto de governos
irresponsáveis que não souberam estabelecer politicas governamentais voltadas
para o bem-estar social deixando o povo sem digna assistência à saúde, sem
educação, sem emprego, sem habitação, sem nada! O tráfico de drogas rola solto
e se revela para muitos – crianças, jovens e adultos – como meios de vida
fáceis e rentáveis. Abastecem os viciados das altas rodas, inclusive políticos de
renome. Na mesma esteira prosperaram a prostituição, o crime organizado e a
corrupção. Também pudera, ao invés de investimentos com vistas à elevação da
qualidade de vida do cidadão comum, investiram-se milhões e bilhões de Reais em
realizar dois megaeventos mundiais – Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas –
coisas mais próprias para países ricos e sem pobreza que nem o Brasil. Quanta
irresponsabilidade. Circo para um povo faminto, sustentado pelo Bolsa Família,
que não foi aos jogos da Copa e nem às competições olímpicas. E nem lucraram com esses eventos. Assistiram tudo
à distancia e não perceberam que os gastos astronômicos aplicados pelos
governantes irresponsáveis foram em detrimento do seu bem-estar social. Agora, o
que resta é chorar pelo leite derramado.
Tomara que a intervenção no Rio dê certo. Tenho
dúvidas. Mas, é preciso para que dê exemplo. O Brasil precisa virar esta página
e parar de vez o trem fantasma. Não às emoções pouco republicanas.
Nota: Foto obtida no Google Imagens