Após tanto
tempo em quarentena há um claro desejo de retorno ao normal. Aliás, ao novo
normal, como muitos estão denominando o tempo que vem adiante. Já estamos quase
na metade do ano – amanhã já é junho – quando completaremos noventa dias de recomendada
reclusão, na luta de livrar-nos da surpreendente peste do Coronavírus que abala a
humanidade neste inicio de década. Muitos já partiram e famílias choram suas
perdas.
Com imensa
surpresa o mundo chora o flagelo provocado, ao mesmo tempo em que, intrigado se prepara para um
difícil recomeço. Este tem sido o desafio pelo qual sociedades atravessam tal como
enfrentando um terreno estranho ou um verdadeiro deserto de areias fofas e dunas intransponíveis.
O eixo dos
atuais debates gira em torno da retomada da vida com saúde e economicamente
viável. Países que, segundo estudos científicos, já superam o auge da crise –
com achatamento da propalada curva estatística – tentam o recomeço enfrentando agudo ceticismo social
que, naturalmente, tomou conta das respectivas sociedades. Tem sido na verdade um
comportamento ambivalente: usufruir do que tanto vinha desejando e, ao mesmo
tempo, retrair-se por segurança sanitária sabendo que o veneno ainda circula
abertamente. Ainda que municiados de equipamentos de proteção individual mais
comuns (máscara e luvas) o desânimo tem sido expressivo. Como consequência, os
efeitos socioeconômicos se revelam como desastrosos. Países como Inglaterra,
Itália, Espanha e Portugal que já experimentam uma distensão dos rigorosos
regimes de quarentena acumulam altas taxas de quebra e fechamento de negócios por
falta da clientela.
Agora, embora com direito a circular as pessoas se privam
de frequentar ambientes por duplo temor: o risco de contaminação que ainda
persiste ou a ter que se submeter às exigências do novo normal, isto é, uso de
máscaras, luvas, assepsia contínua e distanciamento de convivas. É difícil,
sim. Na prática foi-se o tempo em que o congraçamento social, o ver gente, o
curtir um ambiente escolhido e encontros de negócios ou de um casal apaixonado
eram práticas valorizadas e aguardadas com ansiedade. Um mundo meio triste, sem
dúvidas.
Diante desse
quadro volto-me ao mundo próximo, em meu redor. Estamos saindo de
uma quarentena mais rigorosa (um lockdown
meia-boca) imposto, em nome da segurança sanitária, pelos governos locais, na
Região Metropolitana do Recife. Acompanhei com viva atenção as noticias sobre a
operação. Vi falar de coisas inadmissíveis contra cidadãos corretos e longe de
provocar perigos à saúde coletiva. Mas, vi noticias de total desrespeito ao que
determinava as autoridades nas regiões suburbanas – que chamo de franjas da
metrópole – onde as comunidades não têm noção exata do perigo que corre e,
inclusive, consideram a C19 como sendo uma doença dos ricos. Acredito, até, que
os integrantes das forças policiais destacadas para o policiamento das regiões
pensam do mesmo modo e fazem vistas grossas ao que observam: negócios abertos e
comercializando tranquilamente, povo nas ruas e sem uso de máscara ou qualquer
outra proteção. Terá surtido o efeito desejado pelas autoridades? Duvido.
Abordo esta passagem para lembrar que, inúmeras vezes, aqui no
Blog, mencionei a baixa qualidade ou ausência de ações governamentais no
domínio da Educação. A realidade dura é que nossa gente suburbana vive ao
“deus-dará” e sem princípios educacionais devidos e terminam por compor um
estrato social sem as devidas instruções básicas de comportamento social
somente possível à base de uma enérgica e competente política de educação em massa. Numa discussão entre amigos, um deles acredita que isso só será possível com uma coletiva operação intravenosa de
educação e civilidade. É uma coisa surreal, sim, mas, seria uma solução
formidável.
Esperemos, pois, com cautela este novo normal. Estou sedento por sair e ver
o mundo. Mas, confesso meu temor. Estará tudo como dantes? Meu bar predileto
sobrevive? E meu restaurante favorito? Por mais otimista que me sinta, prevejo
um difícil recomeço.
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens