domingo, 31 de maio de 2020

Difícil Recomeço

Após tanto tempo em quarentena há um claro desejo de retorno ao normal. Aliás, ao novo normal, como muitos estão denominando o tempo que vem adiante. Já estamos quase na metade do ano – amanhã já é junho – quando completaremos noventa dias de recomendada reclusão, na luta de livrar-nos da surpreendente peste do Coronavírus que abala a humanidade neste inicio de década. Muitos já partiram e famílias choram suas perdas.
Com imensa surpresa o mundo chora o flagelo provocado, ao mesmo tempo em que, intrigado se prepara para um difícil recomeço. Este tem sido o desafio pelo qual sociedades atravessam  tal como enfrentando um terreno estranho ou um verdadeiro deserto de areias fofas e dunas intransponíveis. 

O eixo dos atuais debates gira em torno da retomada da vida com saúde e economicamente viável. Países que, segundo estudos científicos, já superam o auge da crise – com achatamento da propalada curva estatística  – tentam o recomeço enfrentando agudo ceticismo social que, naturalmente, tomou conta das respectivas sociedades. Tem sido na verdade um comportamento ambivalente: usufruir do que tanto vinha desejando e, ao mesmo tempo, retrair-se por segurança sanitária sabendo que o veneno ainda circula abertamente. Ainda que municiados de equipamentos de proteção individual mais comuns (máscara e luvas) o desânimo tem sido expressivo. Como consequência, os efeitos socioeconômicos se revelam como desastrosos. Países como Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal que já experimentam uma distensão dos rigorosos regimes de quarentena acumulam altas taxas de quebra e fechamento de negócios por falta da clientela. 
Pouco movimento no Comércio de Lisboa
Agora, embora com direito a circular as pessoas se privam de frequentar ambientes por duplo temor: o risco de contaminação que ainda persiste ou a ter que se submeter às exigências do novo normal, isto é, uso de máscaras, luvas, assepsia contínua e distanciamento de convivas. É difícil, sim. Na prática foi-se o tempo em que o congraçamento social, o ver gente, o curtir um ambiente escolhido e encontros de negócios ou de um casal apaixonado eram práticas valorizadas e aguardadas com ansiedade. Um mundo meio triste, sem dúvidas. 

Diante desse quadro volto-me ao mundo próximo, em meu redor. Estamos saindo de uma quarentena mais rigorosa (um lockdown meia-boca) imposto, em nome da segurança sanitária, pelos governos locais, na Região Metropolitana do Recife. Acompanhei com viva atenção as noticias sobre a operação. Vi falar de coisas inadmissíveis contra cidadãos corretos e longe de provocar perigos à saúde coletiva. Mas, vi noticias de total desrespeito ao que determinava as autoridades nas regiões suburbanas – que chamo de franjas da metrópole – onde as comunidades não têm noção exata do perigo que corre e, inclusive, consideram a C19 como sendo uma doença dos ricos. Acredito, até, que os integrantes das forças policiais destacadas para o policiamento das regiões pensam do mesmo modo e fazem vistas grossas ao que observam: negócios abertos e comercializando tranquilamente, povo nas ruas e sem uso de máscara ou qualquer outra proteção. Terá surtido o efeito desejado pelas autoridades? Duvido.
Abordo esta passagem para lembrar que, inúmeras vezes, aqui no Blog, mencionei a baixa qualidade ou ausência de ações governamentais no domínio da Educação. A realidade dura é que nossa gente suburbana vive ao “deus-dará” e sem princípios educacionais devidos e terminam por compor um estrato social sem as devidas instruções básicas de comportamento social somente possível à base de uma enérgica e competente política de educação em massa. Numa discussão entre amigos, um deles acredita que isso só será possível com uma coletiva operação intravenosa de educação e civilidade. É uma coisa surreal, sim, mas, seria uma solução formidável. 
Esperemos, pois, com cautela este novo normal. Estou sedento por sair e ver o mundo. Mas, confesso meu temor. Estará tudo como dantes? Meu bar predileto sobrevive? E meu restaurante favorito? Por mais otimista que me sinta, prevejo um difícil recomeço.  

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

segunda-feira, 25 de maio de 2020

E como será amanhã?

O X da questão agora é projetar o que vem depois. Como será o amanhã? Que o mundo será outro todos nós sabemos. A reviravolta que a pandemia causou na humanidade é coisa sem precedentes. Não foi a peste negra (1346-1353), nem a gripe espanhola (1918-20) que abalaram no bastante as estruturas da sociedade da época. Esta de agora, sim. Pudera, o mundo é outro completamente diferente de um século atrás. Ou vários séculos atrás. Hoje é tudo muito diferente, graças aos avanços tecnológicos e a dinâmica de relações internacionais que se instalaram ao longo dos últimos cem anos. As especulações, além de muitas, são todas muito discutíveis. E somente a experiência é que vai nos permitir conferir.
Fala-se muito e é verdade que o mundo vai girar, com mais intensidade, em torno das atividades virtuais. As pessoas estão em proporções significativas aderindo às ações via internet e a pandemia, com as quarentenas impostas, serviu de um grande exercício em massa. Não que seja uma novidade, mas, antes disso, era algo parcial. Nem todo mundo estava disposto a adotar.
Ocorre que conviver com esse mundo virtual é preciso habilidade, confiança e, sobretudo condições econômicas diferenciadas. Além de instrução educacional básica. Nem todo mundo dispõe de um equipamento que o coloque na vanguarda dessa modernidade. Estima-se que somente um quarto dos brasileiros dispõe de um aparato de comunicação pela internet. Assim sendo, portanto, essa coisa exigirá de muitas medidas politico-institucionais, embora seja uma condição difícil e incapaz de atingir de pronto a parcela mais pobre da sociedade. Nesse contexto se destacam duas vertentes bem evidentes: O Ensino a Distância - EAD e o HomeOffice.  
O EAD é sem dúvidas uma das estratégias mais inteligentes para a formação profissional. Discute-se, contudo, qual o alvo a ser atingido por esse formato de ensino. Há categorias de profissão em que o ensino presencial é fundamental. Ninguém se forma, por exemplo,em Medicina num curso de EAD. Salvo quando numa especialização, mas, para formação básica? Duvido. O mesmo se aplica ao Odontólogo, e assim por diante. Muitas são outras profissões que podemos incluir neste contexto. Vamos torcer que a sistemática se desenvolva em categorias de profissão, como as da área de humanas. 
Ouço falar de casos em que, durante a atual quarentena, jovens e até crianças de escola primária estão recebendo lições, orientações e tarefas, pela Internet, com ajuda de um tablet ou smartcelulares. Não duvido. Mas, além de entender se tratar de uma emergência extrema, duas preocupações brotam à minha mente: a primeira é que essa alternativa seja coisa passageira, entendendo que a escola presencial sempre exerceu e exercerá um fundamental papel de formação social dos jovens e crianças, dados os intercâmbios com seus companheiros em sala de aula e no ambiente escolar como um todo. Sem esquecer, ainda, que o(a) Professor(a) foi  capacitado para atentamente reagir às emoções e atenções do alunado. O mestre escola é o agente estimulador e avaliador do progresso de cada indivíduo. A segunda preocupação é que os jovens e crianças incluídos nas classes D, E, F e outras que existam, essas que vivem nas favelas, beiras dos canais e alagados das metrópoles brasileiras – sombrios intestinos urbanos – não terão essa alternativa e ficarão, inexoravelmente, condenados a compor os futuros contingente de desqualificados profissionalmente a perambular nos semáforos das ruas e avenidas a mendigar o pão de cada dia. É assustador... Eis aí um formidável desafio, no pós-pandemia, para nossos governantes geralmente desarticulados e despreparados para exercer o papel que lhes foi conferido.

Home Office, uma tendência cada vez mais usada.

Já o homeoffice é outra coisa que se ouve muito nesses dias de quarentena. Ouve-se dizer que algumas companhias vão adotar praticamente tudo que seja possível a ser exercido à distância. Acredito que em muitos países isto será viável e, pensando bem, já é praticado com concreta normalidade. Aliás, as grandes corporações, mundo afora, fazem uso da chamada Intranet o que amplia consideravelmente a produtividade, que é coisa sempre perseguida. Pequenas empresas já descobriram as vantagens disso. Contudo, em se tratando de trabalho em casa é impossível não discutir essa estratégia em sendo aplicada no Brasil. Tenho dúvidas a respeito do comprometimento pessoal de cada indivíduo em face da cultura brazuca. Infelizmente. Creio que será preciso um longo aprendizado para cumprir horários, formatar um completo ambiente de trabalho doméstico, saber distinguir as obrigações profissionais das particulares, administrar com inteligência os efeitos das eventuais e naturais instabilidades emocionais e, enfim, comprovar a dedicação e competência para encarar o homeoffice. Rigorosos sistemas de avaliação terão que ser adotados. Destaco, entretanto, que nada é impossível. Até porque existe brasileiros sérios. Tomara que tenhamos sucesso.
Enfim, são muitos os novos jeitos de viver que se desenham. Acredito que os costumes amáveis de cumprimentos sociais, por exemplo, vão ter que mudar. Beijinhos e abraços emotivos serão revistos. Costumes de assepsias e limpeza urbana, idem. Frequentar ambientes de alta concorrência e alta-rotatividade de público, como os centros de compras, estádios de futebol, universidades, entre muitos outros, terão que ser revistos. Impossível explorar esse terreno num exíguo espaço de um post. Fica aí minha provocação. O amanhã que nos espera é que é o X da questão. Quem viver, verá.      

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Polêmica Farmacêutica


O Brasil inteiro acompanha essa pendenga que discute a oficial adoção, ou não, do protocolo de uso da Hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. Uma profunda dúvida vem sendo amargada pela sociedade brasileira, cercada pela insegurança causada pela pandemia. "Use, mas assuma as consequências...” esta vem sendo a reposta dos “cardeais” da medicina nacional, quando comprometidos com a oposição ao Governo de Bolsonaro. Deplorável, visto que uma coisa não tem nada a ver com a outra! Apenas politicagem barata.
Mas, tem muita gente usando e se curando. Ora, se não mata quando usada para tantas outras doenças pode servir para esta, também. Principalmente para quem se vê na emergência.
Bom, como não sou doutor dessa área, vou partir para o assunto do dia.
Antes, porém, uma introdução instigante: vi pela Internet uma live (é ultima moda!) de uma desconhecida vereadora, de um município mais desconhecido ainda, aconselhando seus eleitores a consumirem muita Agua Tônica de Quinino, alegando que o teor de quinino contido na bebida estaria protegendo-os do Coronavírus. Triste engano. Tive o cuidado de pesquisar e terminei me convencendo de que a droga que causa tanta polêmica, e já derrubou dois Ministros da Saúde, é fruto do aperfeiçoamento científico do uso do quinino, historicamente adotado para a cura da malária ao redor do mundo, inclusive na Amazônia brasileira. Bom, não é a mesma coisa!
Interessante que essa discussão sobre o quinino ou hidroxicloquina remeteu-me aos tempos de infância/adolescência (anos 50/60) quando, periodicamente, passava temporadas na casa dos meus avós maternos, em Fazenda Nova, município do Brejo da Madre de Deus, aqui mesmo em Pernambuco. Meu avô, Epaminondas Mendonça, Seu Nondas para os íntimos, além de chefe político da região tinha lá, entre seus negócios, uma casa comercial de secos e molhados e uma farmácia, anexa. Eu, muito enxerido, adorava servir de atendente no balcão da farmácia. Sobretudo no dia de feira no local. Feira no interior é dia de festa. Pois bem: uma das coisas que me ocorreu lembrar na atual conjuntura foi de um imenso vidro, no alto de uma prateleira, com um pó branco e uma etiqueta escrita, à mão, Quinino. Naquilo lá eu não podia tocar. O freguês que demandava o produto, vendido em gramas, era atendido pelo próprio Seu Nondas, que, além de atender, orientava o penitente na forma de uso do medicamento. A balança usada era daquelas pequenas e ditas de precisão. Os pesos eram minúsculos, burilados e bem polidos. Meu avô era desses matutos instruídos e bem informados. Bom de discursos – esmerava-se num palanque eleitoral –, redação e caligrafia notáveis. Uma figura inesquecível.
Como tenho uma memória ainda bem preservada, não posso deixar de registrar aqui minhas experiências como "balconista" de uma farmácia tipicamente interiorana: o mais demandado naquele balcão eram os chamados, à época, de cachetes. Atuais comprimidos. Cachetes para dor de cabeça, de barriga, do estômago e tudo mais. Despachei muitas Cibalena, Melhoral, Instantina, Cafeaspira, Pílulas do Dr. Ross, entre outros. Bem como o Biotônico Fontoura, Emulsão de Scott e um certo e famoso Regulador Xavier. Este, para mim, era o seguro para garantir a saúde da mulher que comprava. Com pouco tempo eu ia me inteirando e sempre que voltava me atualizava. Era uma experiência fascinante para um garoto da cidade grande. Assim, quando não eram os cachetes, apareciam fregueses procurando Mitigal, fabricado pela Bayer, e bom para curar coceiras e sarnas. Outros procuravam pela Loção de Terebintina, uma espécie de analgésico local, para aliviar dores musculares, reumáticas, bursite, entre outras. Essa substancia é, certamente, a base de medicamentos hoje comercializados, em forma de unguentos balsâmicos, como Gelol, Benguê, Reparil, entre outros. Até hoje, quando sinto o odor dessas pomadinhas relembro-me das ocasiões que, Dona Sebastiana Mendonça, minha avó, tomava massagem de loção de terebintina nas pernas inchadas, antes de dormir. Cheguei a fazer algumas dessas massagens. Outra experiência!
Fora os medicamentos de marca, postos à venda, meu avô tinha lá sua prateleira com preciosidades da medicina popular e curandeira. Produtos manipulados. Lembro-me do Tapataio, que apesar de já ser comercializado, àquela época, com a marca de Elixir Sanativo, estava lá no seu garrafão. Interessante é que essa denominação é uma corruptela de Tapa Talho. Ou seja, o/a penitente levava um talho, passava Tapataio e cicatrizava. A fórmula é poderoso antisséptico, inibidor de inconvenientes microrganismos bucais, entre outros benefícios. O principio básico é tirado da casca do tronco da aroeira, um arbusto muito comum no nordeste brasileiro. Uma colher de mel de abelha e duas gotinhas de tapataio, ou Elixir Sanativo, era um santo remédio de Seu Nondas para os netos quando num surto de tosses e rouquidão.
Com o tempo fui descobrindo outras fórmulas que se destacavam naquela prateleira de manipulações e recordo bem do elixir de quixaba, bom para tratamento das doenças do útero, cisto de ovário e corrimento vaginal e do, muito demandado, composto ou Pó de Catuaba, para atenuar a impotência masculina, antidepressivo e estimulante físico.  
Tinha remédio pra tudo. Era formidável perceber, naquele rústico ambiente, no qual meu Avô era um “doutor” respeitado e poderoso. De fato, curou muita gente. Os agradecimentos eram feitos em verdadeiros rituais. Coisa do tipo "Deus no céu e Seu Nondas na terra". E tinha mais, era a única pessoa do lugar que aplicava injeções. Pense que coisa fantástica. Tempo bom que não volta mais. E um aprendizado inesquecível.
Hoje, as tradicionais farmácias interioranas já são raras. Perderam competitividade. O cartel dos grandes comerciantes de medicamentos já invadiu nossos interiores. E já não existem os Nondas de antes.    

NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens.             

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Desarrumação Global

Os estragos socioeconômicos previstos, em consequência da pandemia imposta pela Covid-19, parecem não ter limites. Sem respeitar ricos ou pobres, os quadros projetados são de travessias tortuosas e íngremes. Que o mundo será outro, já se sabe. A prática vai mostrar com vivas cores.
União por uma Moeda Forte
Uma dessas travessias, que pode alterar drasticamente as relações econômicas internacionais, pode ser observada no que alguns analistas denominam de Desunião Europeia. Não bastasse o penoso processo do Brexit, que marcou a saída do Reino Unido do bloco, vem a atual crise sanitária jogando luzes no que, na verdade, era mantido na penumbra e pouco visível  pelos seus principais membros. Que diga a Itália pelo que sofreu nesses recentes meses de pandemia. É um lamentável momento para a economia do Velho Continente e, indiscutivelmente, para o restante do mundo.
Sempre fui admirador da formação de blocos de nações, desde os tempos em que dediquei parte do meu tempo como profissional, inclusive como professor de economia, em acompanhar a formação, composição e instauração da União Europeia. Fui ver in loco o nascimento do Euro. Mais ainda, quando, por força de oficio, integrei comissões de montagem do Mercosul.
Lembro que a história que fundamentou a união dos países europeus repousa em argumentos e justificativas das mais nobres: preservar a paz entre as nações e, assim, promover o desenvolvimento socioeconômico priorizando a solidariedade num continente sempre propenso, ao longo de séculos, a conflitos e confrontos. Haja vista para os exemplos sempre lembrados que são as duas grandes guerras e inúmeras outras menores, tão importantes quanto, responsáveis pela geopolítica hoje existente.
A possibilidade de desunião implica num panorama pouco desejado por muitos, principalmente aqueles países mais dependentes da formação vigente. O que será de países economicamente mais frágeis como Portugal, Grécia, Malta e Chipre, por exemplos?
Bem, a verdade é que o nacionalismo nos países europeus é coisa visceral e isto torna a coisa bem mais complexa. Alguns são radicais.  Imagino que com um simples abalo de uma das peças desse dominó o resultado prático poderá ser fatal. Ainda mais, agora, quando a globalização vem sendo criticada severamente e tomando corpo nas discussões entre os grandes. Antevejo uma onda de distanciamento político muito pronunciada. Foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , quem deu o start dessa discussão lá no passado 2016, ainda em campanha eleitoral. Aqui na América do Sul, a Argentina se manifestou, recentemente, contrária a sentar à mesa para discutir tratados com os parceiros do Mercosul. São dois casos que, aliás, nem precisaram de crise da Covid-19. E o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tampouco, se revela entusiasmado com o Bloco.
Antes de redigir este post, conversei com amigos em dois blocos: Mercosul e UE. O argentino se mostrou cético quanto à situação. Na verdade, os argentinos são, hoje, muito reticentes quando se fala em problema econômico. Andam saturados de tantos insucessos. Pudera. Estão mergulhados em crises contínuas, por bom tempo, e por isso muito mais preocupados com a situação interna. O atual governo da linha neo-peronista, promete brecar muita coisa. Sobretudo quando a coisa depender do Brasil. Já em Portugal, segundo meu interlocutor (Economista A. Azevedo), “não se fala em desunião. Muito ao contrário, isso unificou mais o bloco, pois os problemas da Itália e Espanha não levam esses países para fora”. Vejo nisto uma opinião mais isenta. Contudo, sem dúvidas é uma visão que aponta para a tese de que, mais do que nunca, esses dois países vão precisar da União. 
Dando um zoom, desde meu humilde observatório, e revisando a linha do tempo, sou da opinião que – de fato – nunca houve a tranquilidade arquitetada originalmente. Que digam os britânicos, que, estrategicamente, estiveram sempre fora da Zona do Euro.
Hoje, quando a crise bate mais forte às portas da União, começa a rolar um clima de “se virem” capitaneado pela Alemanha de Frau Ângela Merck e Mark Rutte, Primeiro Ministro do Reino da Holanda, ao fazerem beicinhos e imporem restrições à concessão dos chamados coronabônus, destinados a socorrer os náufragos do tsunami da pandemia. Itália e Espanha demandam urgentes essa "tábua de salvação"
São as reações dos mais ricos, aliás, que enfraquecem a integração. Macron, presidente francês, é a favor da concessão e afirma que esta é a hora da verdade. Sem isto,  para o francês, “adeus União” e “adeus Zona do Euro”. E se justifica porque na Itália a queda prevista é de 10% do PIB, neste 2020, e na Espanha a situação é tão grave, quanto. Estima-se em 12% a taxa de desemprego, no Bloco! Os espanhóis já dizem ser necessária a bagatela de Euros 1,5 Trilhão para levantar a economia do continente. O FMI calcula que haverá uma queda de 7,5%  no PIB da Zona do Euro. Vai ser um desastre. Isto é um típico caso do"em cima de queda, coice".

1,5 Trilhão! Haja grana!

E já tem outra coisa: a política de imigração, que já estava na ordem do dia muito antes, vai voltar com maior intensidade e muitas turbulências. Fronteiras vão tremer. Bom lembrar que a maioria dos europeus atribuem à essa variável populacional os motivos das dificuldades que hoje vivenciam.  
Acho que teremos históricas emoções, pela frente. Poderá ser uma desarrumação global. 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Redes para poucos

É sabido que do seio das grandes crises surgem novos inventos, avanços tecnológicos e soluções para grandes problemas, que terminam transformando, de forma radical muitas vezes, o dia-a-dia da humanidade. Os exemplos estão registrados largamente e, na grande maioria, são saudados com entusiasmo. Excluindo, naturalmente, aqueles inventos que instrumentaram ou instrumentam confrontos bélicos pondo em risco a segurança global.
Também é sabido e vem sendo esperado amplamente que a crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19 vem desenrolando uma esteira de imensas mudanças na maneira de viver das sociedades. Nivelados, por baixo, continentes e países voltarão às ruas com novas roupagens e desenvolvendo novos hábitos.
Se não nas ruas, homens e mulheres, de agora para frente, vão se abrigar no recôndito dos seus lares, mais do que nunca, apoiados pela grande invenção do século 20 que é a Internet. Não é bem uma coisa nova. Mas, que colocou de vez suas estruturas à vista, isto foi novo. É dela que estamos nos valendo nesses dias de quarentena. Sem chances de deslocamentos habituais, as famílias estão descobrindo com mais clareza a importância e praticidade dessa verdadeira arma de sobrevivência inventada na década de 60 do século passado. E nasceu no seio da grande crise provocada pela Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, na busca da hegemonia mundial. Era um instrumento de segurança dos ianques, que tinham como objetivo guardar em extremo segredo seus arquivos estratégicos em varias instâncias e por meio eletrônico. Guardar tudo de precioso no Pentágono (Centro da Inteligência Norte-americana) seria um risco sem tamanho. Descentralizar era necessário e foi iniciado com o primeiro e-mail emitido no mundo, em 1971, direcionado aos “ramais” da Agência Central de segurança norte-americana. Passado algum tempo e em face das possibilidades do fim da Guerra Fria, que se consolidou com o colapso da União Soviética, derrubada do muro de Berlim e outros episódios adjacentes, no final daquela década, o que era “instrumental secreto” foi socializado e revolucionou as comunicações no mundo. Institutos de pesquisas norte-americanos receberam concessões de uso e os resultados práticos são hoje traduzidos pelos tantos dispositivos e aplicativos que tornam a vida global mais fácil e melhor informada.
Num artigo assinado pelo Professor J. P. Allain Teixeira (UFPE) e publicado no Diário de Pernambuco (12.5.20) encontrei uma citação que traduz com exatidão o mundo em que vivemos: “tarefas cotidianas cada vez mais são realizadas através de computadores, tablets, e smartphones em um processo de intensa redefinição das formas de experiência no tempo e no espaço”. Pura realidade. Foi a crise do Coronavírus que consolidou essa “preciosa” arma tecnológica que Teixeira chama de “quintessência do capitalismo global”. Na vigência das quarentenas, as atividades de home-office, encomendas via aplicativos (alimentos e remédios), comemorações natalícias, bodas e similares (aplicativo Zoom), homebank  e, até, divórcios e outros registros oficiais, entre inúmeras outras facilidades são executadas com um simples enter.
A fantástica Rede Mundial
Mas, como nem tudo são flores, é doloroso perceber que este instrumental de vanguarda é privilegio de poucos, mundo afora e, principalmente, em países como o Brasil, onde a pobreza tende a se alastrar devido, também e ironicamente, à mesma crise que traz esses avanços tecnológicos.
Um dos exemplos mais degradantes, no caso brasileiro, vêm sendo registrados na operação de pagamento da ajuda financeira governamental às pessoas sem emprego ou autônomos sem condições de trabalho, através da Caixa Econômica Federal. Observe, caro leitor ou leitora, que o que poderia ser resolvido com um enter, num dispositivo eletrônico qualquer, e livrar o “penitente” de uma fila desorganizada e escorchante, sem falar do risco de contribuir para a propagação do vírus, se revela impossível diante da indisponibilidade individual de um instrumental adequado ou de simplesmente não saber ler! Ocorre que muitos têm celular com o aplicativo de WhatsApp mas utiliza, tão somente, o dispositivo de voz. Pode até ser uma vantagem, mas não é suficiente. São situações como esta que expõem a cara de um país onde a educação nunca foi prioridade de fato.
O novo mundo que se aproxima
vai escancarar ainda mais essa pobreza estrutural e, no caso brasileiro, aprofundar o fosso que marca o ambiente social. Sem educação nada vai mudar. Nem a saúde, inclusive. E com esses governantes aí...
Redes sociais existem. Mas, para poucos. Que Deus acuda os que não têm onde se “balançar”.
E não duvide porque lembrando Lulu Santos: “Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia / Tudo passa, tudo sempre passará / A vida vem em ondas / Como um mar / Num indo e vindo infinito ...” 

NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens

 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Plúmbeas Nuvens

Eu era bem menino quando, num certo dia de inverno, vi meu pai dizer que teríamos um dia plúmbeo. Curioso, pedi a explicação do que se tratava. Pacientemente meu pai me explicou e guardei aquilo para o resto da vida. Nuvens pesadas e cor de chumbo cobriam nosso mundo. Hoje, na minha madureza e, vez por outra, lembro-me do falecido.
Neste momento de quarentena, pandemia e crise político-social, valho-me da imagem desenhada pelo meu pai, quando percebo as dificuldades que pairam sobre o mundo e sobre o Brasil particularmente. Costumo ser sempre otimista, mas, não sou alienado. Nuvens plúmbeas, sim, pairam sobre a humanidade. É certo que mudaremos muita coisa no modus-vivendi e isto já foi tema de outros posts. Difícil é acertar nesses modos. Principalmente nas nações menos desenvolvidas e em níveis educacionais tênues. A Educação como base, sempre.
Indiscutivelmente é preocupante, o caso brasileiro, onde os sinais cinzentos projetam tempos de dificuldades sem distinguir pobres dos ricos, resultante das dificuldades das administrações locais da pandemia. Num pais de dimensões continentais como o nosso, isso não seria de estranhar.
Mercê das frágeis estruturas sociais, os brasileiros enxergam – com uma cínica surpresa – a miséria agora realçada pelas intensas luzes emitidas pela crise sanitária.  As coisas se tornaram bem mais nítidas e sem quaisquer cortinas de fumaça. Eis aí o desafio daqui pra frente. A verdade é que, historicamente, pandemias se repetem e a nação não pode esperar sentada.
Investimentos em infraestrutura social – moradias dignas, saneamento básico, assistência universal de saúde eficiente, educação de base, lições de civilidade e respeito ao próximo, emprego para a população economicamente ativa e justas remunerações, entre outras variáveis – produção dinâmica e muita vergonha e patriotismo na condução politica do país.
Nada de novo! Tudo muito batido e discutido. Principalmente nas campanhas eleitorais, embora esquecido no day after dos pleitos. Tanto pelos vencedores, quanto pelos derrotados.  
Tive uma vida profissional dedicada à promoção do desenvolvimento regional do Nordeste brasileiro, na velha SUDENE, e tendo como referencial a necessidade de uma integração e equilíbrio de renda entre as regiões brasileiras. Valeu o esforço. Fiz parte de uma equipe, da qual me orgulho, composta de profissionais patriotas e incansáveis batalhadores pela sua gente. Contudo, não foi o suficiente. Ainda é forte, nas cabeças que nos governam, a ideia e que o Brasil é um “arquipélago” e que cada ilha que se vire para sobreviver ainda persiste. Exemplo do abandono no qual vivemos, são as imagens de miséria que observamos a olho nu e nas áreas mais nobres das nossas metrópoles. No Recife, uma legião de pobres fazem das calçadas suas camas e amanhecem sempre sem condições dignas de sobreviver. Para esses, principalmente, as nuvens são sempre plúmbeas.  
Família inteira dorme sempre ao relento, na Avenida Santos Dumont, Recife
 NOTA: Foto da autoria do Blogueiro.

 

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...