Ando indisposto
para tecer comentários sobre o panorama politico nacional. Na verdade decepcionado
com tudo que vem acontecendo. Vejo, a passos largos, a redução dos chamados
direitos legais do cidadão comum que, além de ser preocupante, aponta para um esgarçamento
do tecido democrático já tão pressionado nos últimos tempos. De todo modo, é a proposito desse assunto, desse pandemônio politico, que trato considerando os recentes episódios de cassação de espaços pessoais ou coletivos nas redes sociais. A primeira indagação é: e a liberdade de expressão onde fica?
Naturalmente
que acredito na proliferação de muitas mentiras e boatos cometidos nesses
modernos meios de comunicação, o que considero inteiramente condenável. Interpreto
como sendo sinais evidentes de uma sociedade que ainda não sabe diferenciar conceitos
básicos de convivência social sadia, como, por exemplo, os da liberdade versus libertinagem,
escondidos pelo “biombo” da liberdade de expressão. Faltam duas coisas fundamentais
nessa gente: respeito e ética, resultante de uma falha formação cívica e de princípios educacionais.
Desde que me
entendo de gente ouço falar de boatos. Parece ser coisa da natureza humana. O
hábito de fabular maldades é congênito e o brasileiro é mestre nessa “arte”. E quando
se trata de atingir a moral de um terceiro ou tirar o sossego de uma coletividade
é verdadeiro fascínio para o agente boateiro(a). Recordo, a propósito, de um
caso emblemático: todo pernambucano que viveu a trágica enchente que atingiu o
Recife, em 1975, deve lembrar que quando a cidade já se recuperava e tentava
voltar à normalidade, um boato foi espalhado na cidade dando conta de que a Barragem de
Tapacurá (grande represa situada na área metropolitana da cidade) havia rompido
e a capital pernambucana seria destruída por uma gigantesca inundação. Foi um
verdadeiro dia de Juízo Final para a população. Dizem que morreu gente ao tomar conhecimento do boato. Passadas algumas horas de verdadeiro
“fim-de-mundo” veio a noticia oficial de que se tratava um boato, invenção da mente
doentia de um boateiro-master de plantão. A boataria boca-a-boca sempre foi
hábito comum e para algumas pessoas é verdadeira compulsão. É sabido que nas
pequenas comunidades sempre existe uma ou várias velhotas fofoqueiras fabricantes
de boatos, que "animam" a vida pacata de cada local. Há casos fantásticos transcritos em obras literárias de sucesso.
Quem acompanha
os avanços tecnológicos da comunicação deve lembrar que “passar trote” por
telefone foi, durante muito tempo, passatempo divertido e em muitos casos para
espalhar boatos. Ainda existe, certamente, quem se dedique a esse lúdico divertimento transferido agora para o popular WhatsApp.
É preciso
entender que o que ocorre na atualidade é sinal do progresso. Dispondo de recursos
ágeis e fáceis, como são as redes sociais da Internet, a prática da boataria se
tornou galopante e ganhou a importada denominação de fakenews, rapidamente assimilada pelos colonizados brasileiros sob
a desculpa de ter-se que falar a língua oficial da Rede Mundial, o inglês. Em
poucos segundos um ardil boato, quer dizer, uma fakenews pode atingir milhares ou milhões de pessoas espalhadas
mundo afora e causar um imenso estrago. Tem coisa mais fácil? Por enquanto,
não. A consagrada denominação é tamanha que ganha espaço tranquilo inclusive
na linguagem do dia-a-dia do Parlamento Nacional, ao aprovarem a instalação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito como é o caso da CPI das Fakenews. Os argumentos que justificam a
tal Comissão são os mais discutíveis possíveis e, para que seja justa e correta,
trazem um evidente viés politico provocando embates acalorados. No meu ver, estão
gastando tempo, dinheiro e energia com um tema que dispõe de uma bateria jurídico-legal
que pode dissolver dúvidas e pendengas politicas deixando à margem da legislatura discussões por medidas
corretivas aos setores da Saúde, Educação e Segurança públicas que clamam por
atenção.
Nossos
poderes constituídos, que se manifestam prejudicados e temerosos - contra ou a favor da CPI - com a moderna
boataria, precisam se ajustar aos novos tempos e saberem administrar boatos (fakenews) que sempre fizeram parte da vida.