segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cultura e Competência Nipônicas

Ontem (29.11) foi dia de Feira Japonesa do Recife, no bairro antigo da cidade, numa promoção da Casa do Japão de Pernambuco, que é composta pelas associações que reúnem os membros da colônia nipônica local e seus simpatizantes, incluindo a Associação Nordestina de ex-Blosistas e Estagiários do Japão – Anbej, que, por bondade dos sues integrantes, me confiam a presidência, há três anos.
O evento sempre ocorre no último domingo de Novembro e a deste ano foi a 13ª. edição.
Pelo menos 45 mil pessoas (estimativa de especialista do ramo), acorreram ao velho bairro do Recife, durante as doze horas do festival e mergulharam no clima oriental, que caracteriza a bela cultura do país do Sol Nascente. O público aumenta, a cada ano. Comidas e bebidas típicas, artesanato, música, ikebana, origami, artes marciais, canto e dança, entre outras manifestações não faltou em nenhum momento.
A cada ano é escolhido um tema central. Este ano, o motivo foi voltado para a faixa jovem, contemplando, sobretudo, o movimento cult-pop dos mangás e animes, que são as populares formas de literatura em quadrinhos e suas versões para o cinema e TV.
Os japoneses são muito inteligentes nas atenções que dispensam aos jovens. Tudo é pensado de modo muito próprio. Desde a formação básica até a faixa da profissionalização. O lema é EDUCAR, porque, para eles, não pode haver país desenvolvido sem povo educado. Na minha permanência no Japão, que durou aproximadamente dois meses e meio, pude avaliar o significado dessa prioridade. Fiquei impressionado ao ver, em pleno domingo, grupos de pequenos estudantes – ainda no jardim da infância – fardadinhos, em fila indiana, dois a dois, sendo levados para alguma atividade escolar, que podia ser em classes, num museu ou parque. O mesmo com os adolescentes.
Pois bem: ontem, mais uma vez, me pareceu clara a importância que se dá à juventude japonesa, com sua cultura pop, ao me deparar, no bairro do Recife, com a Embaixadora Kawaii, Senhorita Misako Aoki, enviada especial do Ministério das Relações Exteriores do Japão ao evento do Recife. Trata-se de uma jovem, digamos, mimosa (kawaii, em japonês, significa: bonitinha, fofinha, lolita), com trajes infantis, estilo vitoriano, muito popular no Japão e ganhando adeptas mundo afora. Outra vez, lembrei-me da minha temporada nipônica, quando tive oportunidade de ver, nas tardes de sábado e domingo, levas de jovens caracterizados de personagens tiradas das revistas de quadrinhos, estrelas do cinema americano e clássicos da literatura infantil mundial. A embaixadora kawaii é um dos melhores exemplos. Ela, observe o/a leitor/a, é uma moça nomeada formalmente como embaixadora. E isso, não é pouca coisa. Pelo contrário. Para se ter uma idéia, ontem ela era, hierarquicamente, a autoridade maior da representação diplomática local, mais do que o próprio Cônsul Geral do Recife!
O Governo nipônico está investindo pesado nesse filão. São três embaixadoras dessa ordem, soltas mundo afora, vendendo o moderno “peixe” japonês. Eles sabem o que estão fazendo. O mundo globalizado é liderado por quem tem competência sócio-econômica e presença forte. E para isto vale tudo, inclusive investir na popularização, em nível global, no modismo de vestuário e de cultura pop-jovem, dos meninos e meninas dos distritos de Harajuko e Yoyogi, de Tóquio. Isto é pensar no futuro.
Aqui no Recife, a jovem embaixadora se encontrou com as lolitas locais (elas já existem!) e deu o recado que lhe recomendaram. Veja foto da mimosa nesta postagem.
Fora a kawaii, também marcaram presenças, na Feira, os jovens nísseis do Recife e a turma do anime-mangá pernambucano. Foi uma festa de jovens. Muitos jovens, inclusive caracterizados como os personagens das revistas em quadrinhos japoneses. Haja cores e exotismo.
Mas, mesmo assim, o tradicional da cultura japonesa teve seu espaço garantido na Feira de ontem. Por exemplo, a dança shishimai, original da Ilha do Okinawa (Sul do Japão), com duas alegorias de leões – guardiões da felicidade – fazendo evoluções no palco e na rua. Digamos que foi um verdadeiro frisson quando os leões pularam do palco no meio da praça e abriram espaço entre o público. Nessa hora o animador da festa bradou, ao microfone, que quem tocasse nesses animais afastaria os espíritos do mau. Imagine a danação que se criou.
Foi um dia à japonesa em pleno verão tropical do Recife! No posto de presidente da Anbej, sinto-me gratificado pelo sucesso do evento.

Dedico esta postagem a Diretora Cultural da ANBEJ, a Arquiteta Zélia Faria, “alma” da organização da Feira Japonesa do Recife, há exatos treze anos. Obrigado amiga Zélia! Você é uma kawaii!

NOTA: Fotos da autoria do blogueiro

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Viva e Bulindo

O calor era intenso e o clima seco, característico da região, corroborava para o desconforto geral. Mas, a cidade estava viva e bulindo nos seus quatro cantos. Os hotéis lotados e frustrando quem desejasse mais uma acomodação. Os bares e restaurantes faturando a rodo e com listas de espera. Os preços? Ah! Sem dúvidas, bem salgados, porque negociante da casa de pasto não titubeia nessas horas. Bota no gogó...
Este foi o clima geral que encontrei na cinqüentenária Brasília, nos dois dias que andei por lá na semana que terminou.
Parece que o mundo inteiro resolveu promover eventos, todos ao mesmo tempo, na Capital Federal: nos cinemas, o festival anual, com direito a estréia do eleitoreiro filme sobre a vida do Presidente; nas portas do Congresso, manifestantes dos vários pontos do país portando cartazes pedindo o fim do fator previdenciário; lá dentro o debate com a votação do projeto de criação da Petro-Sal; no Tribunal de Contas da União, tudo fechado e os funcionários em greve, com direito a trio elétrico, axé music e muito proselitismo corporativo; no Palácio do Itamaraty, a Presidente Cristina Kirchner, da Argentina, que resolveu bater uma caixa com Lula, foi recebida para um almoço e no Centro de Convenções o maior encontro de empresários da indústria, para um debate anual, também, sob a batuta do Presidente da Confederação Nacional da Indústria, o Deputado Federal Armando Monteiro Neto. Como se tudo isso fosse pouco, rolou o maior clima de suspense, na quarta-feira, no plenário do Supremo Tribunal Federal - STF, quando do julgamento final do destino do terrorista italiano Cesare Batisti e voto de Minerva do Presidente da Corte.
Uma cidade trepidante e com noites frenéticas.
Para a semana que hoje começa, então, promete ser mais emocionante com a presença do polêmico Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no Planalto Central. Fico imaginando o esquema de segurança e a movimentação no Eixo Monumental. E as manifestações contra o sujeito? Nas casas noturnas, segundo comentavam, tem “mariposas” se preparando para embolsar petro-dólares. Na comitiva iraniana virão 300 empresários dispostos a negociar com qualquer um (ou uma...)! Tá o maior rebuliço...
Na hora de deixar a cidade, encontro um aeroporto numa verdadeira balbúrdia. Difícil era saber quem chegava ou saia. Os computadores nos balcões de check-in engasgaram-se e os vôos acumularam bons atrasos.
Brasília, com quase 50 anos, – falei disso, há duas semanas – está pequena para cumprir sua missão. Precisa ser repaginada, em muitos dos seus aspectos, desde a porta de entrada, falo do aeroporto, até os grotões da pobreza que reina no seu entorno.
Faço esses comentários para reforçar minha opinião de que a mudança da capital federal para o Planalto Central foi fundamental para a segurança institucional e desenvolvimento do Brasil. Imagine se tudo isto tivesse com cenário a cidade do Rio de Janeiro. Seria um “deus-nos-acuda”. Impraticável.
Engraçado é que ainda tem gaiato, que reina na mídia televisiva nacional que sugere o retorno da capital para o Rio de Janeiro e que Brasília seja transformada num distrito de cassinos, ao estilo de Las Vegas. Que idéia de jerico... Brasília é viva e irreversível.
Foto obtida no Google Imagens

sábado, 14 de novembro de 2009

Brasil, Potencia Econômica.

Nesta sexta-feira (13.11.09) o que mais ouvi, nas ondas do noticiário econômico, foram os comentários sobre importante matéria de capa do número semanal do The Economist, sobre a atual situação econômica do Brasil. Curioso, corri para a Internet, catei a matéria, li e decidi comentar neste bate-papo semanal. Titulo da matéria: Brazil takes off.
Pra inicio de conversa, ser matéria de capa da mais importante revista de economia do mundo atual, por si só, já representa um imenso feito e, considerando o conteúdo propriamente dito, a coisa assume uma dimensão fora do comum, em se tratando de Brasil. Não é uma opinião doméstica, nem retórica eleitoral. É uma opinião externa e abalizada.
A reportagem começa lembrando que, quando, em 2003, os economistas da Goldman-Sachs, meteram o Brasil num grupo de paises que incluía Rússia, Índia e China, formando o que se convencionou chamar de BRIC (sigla formada pelas iniciais dos quatro países) e vaticinaram que estes países em pouco tempo dominariam o mundo, muita gente, dentro e fora do Patropi, colocou duvidas quanto ao B. Como o Brasil, com taxas de crescimentos tão tímidas, vulnerável a qualquer crise financeira externa, com uma crônica instabilidade política e notável, apenas, por realizar monumentais carnavais e ter talento para jogar futebol, poderia se transformar num dos Titãs emergentes?
Este ceticismo, agora, parece ser descabido. O Brasil, atualmente, tem expectativas das melhores, com a economia crescendo e sinalizando com taxas anuais de 5%, graças a uma serie de fatores dinâmicos, entre os quais a exploração de petróleo na camada do pré-sal e a crescente demanda dos países asiáticos por alimentos e minerais produzidos pelo país. A revista é enfática ao afirmar que a China pode, de fato, se tornar a líder da economia mundial, mas, é indiscutível que o Brasil também terá um importante papel a desempenhar, no quadro econômico do mundo pós-crise de 2008. As previsões que são feitas dão contam de que depois de 2014 – antes um pouco do que a equipe do Goldman-Sachs projetou – o Brasil provavelmente será a quinta maior economia do mundo ultrapassando a Grã-Bretanha e a França.
Na seqüência, a matéria do The Economist, apresenta alguns interessantes argumentos que habilitam nosso país a tão privilegiada situação, a saber: ao contrário da China, é uma democracia. Ao contrário da Índia, não há conflitos étnicos ou religiosos e, ao contrário da Rússia, trata os investidores estrangeiros com respeito. Resultado: um ambiente amistoso e seguro para o investidor externo, que inclusive está de olho bem aberto no crescimento do mercado interno face às políticas de inclusão social patrocinada pelo Governo Federal. Assim, o Brasil entrou, segundo a revista londrina, subitamente, no circuito econômico mundial e esta entrada foi simbolicamente marcada pela escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, além de ser a sede do mundial de futebol de 2014.
A capa da revista é bem sugestiva, porque apresenta o Cristo Redentor decolando com se fora um foguete. Certamente fazendo referencia ao fato da estátua símbolo brasileiro ser uma das maravilhas do mundo moderno, cruzado com a idéia do take-off (decolagem) do país. Bem bolado. Naturalmente que a revista faz referencias às ações governamentais e frisa que, na verdade, essa coisa não aconteceu danoiteprodia. O que levou o Brasil a essa situação favorável – realçada pela saída da crise antes de qualquer outro – foi um processo iniciado na década de ’90. O ponto de inflexão foi registrado com o Plano Real, que estabilizou a economia, depois de inúmeros planos frustrantes. A inflação foi controlada, os governos, nos seus distintos níveis, foram obrigados por lei (responsabilidade fiscal) a controlar seus gastos, o Banco Central ganhou autonomia, virou o guardião da baixa inflação e controlador do sistema bancário evitando o desastre de aventuras do tipo que desmantelaram os sistemas britânicos e americanos, razão da crise atual. Ao mesmo tempo, a economia se abriu ao comercio e investimentos externos e um programa de privatização fortaleceu a economia. Muitas empresas brasileiras são hoje nomes fortes no cenário econômico mundial e se constituem em importantes multinacionais. Citaram entre outras a Embraer e a Vale do Rio Doce.
Nesse cenário, o Presidente Lula é considerado um homem de sorte, porque, ao contrário do que se esperava soube dar continuidade aos programas econômicos em marcha e chegou à presidência num especial momento da economia mundial. Teve um papel importante na inclusão social, mas, segundo a reportagem não pode carregar todos os louros da conquista, que devem ser conferidos, também, a Fernando Henrique e antecessores. Foi feito justiça nessa análise.
É isto aí... Tomara que tudo dê certo e o Brasil dos meus netos seja um país mais justo, mais desenvolvido e com a riqueza distribuída de modo democrático. Vamos torcer.
Parece que o eterno país do futuro, pode virar o país do presente.
Nota: a foto reproduz a capa da revista e foi tirada do site da mesma.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Brasília: 50 Anos!

Recomendo a excelente edição especial de Veja, sobre os 50 Anos de Brasília, distribuída neste final de semana. O aniversário só vai ocorrer em 21 de abril de 2010, mas essa edição histórica antecipa as comemorações.
O tempo passa e a gente nem sente. Quando Brasília foi inaugurada eu era um adolescente curioso, atrás de novidades e descobrindo o mundo. Lembro bem dos comentários em família e do noticiário freqüente, com os contra e a favor da mudança da capital. JK era criticado e combatido pela aventura de retirar a capital federal do Rio de Janeiro, levando tudo pras brenhas de Goiás. “Aquilo lá nem existem!” ou “É onde Judas perdeu as botas”, ou seja, um lugar remoto, inatingível e fadado ao desprezo. Muita gente dizia que, com pouco tempo, Brasília seria, apenas, uma cidade fantasma.
Lembro, agora e achando engraçado, a revolta que meu pai e alguns amigos manifestavam contra Juscelino pela extravagância que ele cometia em sacrificar o povo, construindo a nova capital, no Planalto Central. “O que vai ser desses jovens, no futuro, com esse país entrando em bancarrota”? Dizia meu pai apontando para mim. Era um terror... E, eu, aprendendo a viver ficava preocupado com a tal de bancarrota. Recolhia-me pensando na bancarrota. Na minha cabeça de jovem inexperiente a bancarrota era o mesmo que o fim do mundo. Depois de explicado o significado do termo, veio outra preocupação atroz: “o Governo está emitindo papel moeda a rodo, sem lastro! Onde que nós vamos parar?”, continuava meu pai, a esbravejar. Eu não entendia... não era economista, ainda! De lastro o que eu conhecia, mesmo, naquela época, era o da minha cama. Meus parentes, no Rio de Janeiro, não acreditavam na mudança. Seria impraticável, era o que pensavam. “Como ele vai poder levar tudo isso para aquele fim de mundo?”
Não adiantou a revolta de meio mundo contra JK. Ele foi em frente e, para surpresa do mundo, inaugurou a nova capital em 21 de abril de 1960, à custa de muito suor e sacrifícios, inclusive, carregando, de maneira audaciosa e dispendiosa, tijolos, ferro e cimento a bordo de aviões. Contingentes consideráveis de brasileiros desocupados, dos mais distintos rincões, acharam emprego nos canteiros de obras, debaixo do sol abrasador e da aridez do cerrado goiano, plantando as bases do novo Brasil.
Homem feito e a caminho dos Estados Unidos, fui surpreendido com uma escala do meu vôo, numa aeronave da Pan American Airline, em Brasília. Isto foi nos idos de 1968. Fiquei curioso para saber o que justificava aquela parada. “Será que, de fato, acontece alguma coisa por aqui?” falei para os meus botões. Desembarcamos e a parada se prolongou por bom tempo. Deu tempo para vislumbrar um imenso descampado, com poucas coisas sinalizando a existência de uma cidade propriamente dita. O barro vermelho, característica da região, imperava e cobria as dependências da rudimentar estação de passageiros – toda em madeira – de uma poeira sem fim. Cada avião que subia ou descia levantava uma nuvem vermelha de um pó insuportável, muito embora a pista fosse pavimentada. Aquilo me fez lembrar os “discursos” intermináveis do meu pai nas horas de refeições ou em rodas de conversas sociais. Depois disso voltei incontáveis vezes à Capital Federal e, hoje, quando vejo Brasília – a Metrópole – lembro da descrença daquela época e admiro o que foi construído. Não há mais poeira vermelha, as casas de governo funcionam de modo consolidado, formou-se uma nova sociedade, com uma nova cultura e o Brasil é maior do que antes, porque dali se irradiou uma moderna forma de ocupação e aproveitamento econômico do rico território nacional. Viva JK, sem sombra de dúvidas, o nosso estadista do século 20. Veja a Veja – Edição Especial. Vale a pena ler e guardar.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

HERANÇA ESTAPAFÚRDIA

Duarte Coelho Pereira era filho bastardo de Gonçalo Coelho com a plebéia Catarina Duarte. Os Coelho eram muito importantes, na região situada entre o Douro e o Minho. Ser filho bastardo, naquela época, era uma parada indigesta. O cara tinha que ter “peito” e ser bem protegido pelo pai. Caso contrário, não tinha vez para nada. Para começar, coitadinho, teve que ser criado, intra-muros de um mosteiro (o de Vila Nova de Gaia) por uma tia que era a prioresa. Mas, apesar da bastardice, o cabôco parece ter sido filho predileto de Gonçalo, que cuidou de encaminhá-lo direitinho na vida, colocando-o numa série de expedições portuguesas, mundo afora. Veio ao Brasil, em 1503, tendo o pai como comandante da expedição. Depois disso, o rapaz foi á Índia e, entre 1516 e 1517, imagine, foi embaixador de Portugal, no Sião. Chegou a ser, por seis meses, embaixador em Paris! Esteve na China e em Málaca, onde construiu a Igreja de Nossa Senhora do Oiteiro, que, hoje, faz parte do patrimônio histórico da Malásia. Voltou a Portugal, em 1527, e, em 1532, foi escalado para comandar a frota lusa encarregada de afastar os franceses da costa brasileira.
Pelos inúmeros serviços prestados à nação portuguesa recebeu de presente, em 10 de março de 1534, 60 léguas de costa no Brasil, correspondendo aos atuais estados de Pernambuco e Alagoas, que formava a capitania de Pernambuco, também chamada de Nova Lusitânia. A Colônia do Brasil foi divida em 15 Capitanias Hereditárias (passavam de pai para filho, netos, bisnetos e assim por diante) e a de Duarte Coelho era a maior de todas. Rapaz de sorte, não foi?
Dono das terras, o Donatário de Pernambuco não perdeu tempo (outros nem ligaram, aqui não pisaram) aportou – acompanhado, já, de uma consorte esposa, D. Brites de Albuquerque, do cunhado Jerônimo de Albuquerque, mais uma parentela e algumas famílias do norte português – às margens do canal de Santa Cruz, ao sul da atual cidade de Igaraçu, por ele fundada. Lá está a igreja dos Santos Cosme e Damião, também por ele construída e a primeira do Brasil. O sujeito era organizado prá caramba.
Desbravando as terras que ganhara, dirigiu-se mais para o sul e ao chegar numa certa colina encantou-se com o panorama e fundou, em 12 de março de 1537, uma cidade sede do seu “reino” a qual deu o nome de Olinda. Este nome foi tirado de um romance que ele estava lendo na ocasião, Amadis de Gaula, cuja heroína se chamava Olinda. Nada daquilo que se fala popularmente de “Ó linda situação para se construir uma cidade!”. Pura fabulação!
Governou por quase vinte anos, desde seu castelo, (incendiado pelos holandeses, no século seguinte), localizado no alto da Colina, onde hoje funciona um barzinho, frequentado, dizem, pela chamada turma alternativa, denominado Cantinho da Sé. Veja só, que coisa!
Pernambuco, junto com a Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo) foram as que mais se desenvolveram. Talvez as únicas.
Duarte Coelho veio disposto a fazer a vida dele e da sua patota no Brasil. Trouxe da Ilha da Madeira uns caras experientes na produção agroindustrial de açúcar e, de lá para cá, este vem sendo o principal produto de exportação de Pernambuco. Aliás, inicio da indústria brasileira.
A história conta que o bastardinho trabalhou duro para dominar suas terras, aliando-se logo aos guerreiros índios Caetés, proprietários originais da região. Comeu da “banda podre” para estabelecer a ordem na Capitania. Lutou pra cachorro e por todo lado. Com os Tabajaras, outra tribo do pedaço, foi preciso fazer o casamento do cunhado Jerônimo com a filha do cacique. A noivinha recebeu o nome cristão de Maria do Espírito Santo e se tornou o símbolo da paz entre a tribo e os colonizadores. Pense na figura sendo transformada nessa noiva e nova cristã. Acho que foi daí, com certeza, que começou a aparecer a raça e o sabor da morena tropicana, no dizer de Alceu Valença. Mas, meus amigos, no meio dessa história toda, Duarte Coelho teve a idéia expansionista de ceder parte das suas terras, no trecho que hoje é a cidade do Recife (na época, uma simples colônia de pescadores). Expandindo a fronteira agrícola da capitania, Dom Duarte nem imaginava que, quinhentos anos depois, um bando de engraçadinhos, dirigentes do burgo olindense e amparados por documentos ditos oficiais, viessem cobrar dos recifenses, uma cidade de há muito emancipada, capital do estado de Pernambuco, uma tal Taxa Foral! Isto, quer dizer que nobres bairros recifenses não são terras próprias do município e, sim, de Olinda! Pode um negócio desses, a esta altura do campeonato? O Recife se encontra numa agitação incomum. Com razão. Como se não bastassem os inúmeros impostos e taxas que são cobrados da população local, vem, agora, Olinda cheia de direito cobrar mais uma taxa ... Ah! tem mais: como se trata de taxa foral, segundo dizem, não implica em benfeitorias. É uma história tão mal contada que causa a coletiva repulsa dos recifenses. A confusão está grande! É um tal de PAGA e NÃO PAGO, sem fim. E tem outra: não atinge somente o Recife, mas, também, Jaboatão dos Guararapes e o Cabo de Santo Agostinho. Eu só quero ver no que vai dar. Eu, que não pago! Isso é o que eu chamo de herança estapafúrdia.
Sinceramente, Duarte Coelho, por onde vosmicê andar, me diga como se deixa um negócio desarrumado desse jeito? Ou este negócio é também uma fabulação, que está sendo, oportunistamente, usada pelos modernos administradores da Marin dos Caetés?
Notas: Fotos do Google Imagens e informes históricos tirados do Wikipédia, a enciclopédia livre.

Insegurança nossa de Cada Dia

Pobreza, fome, analfabetismo, disparidades inter-regionais de renda, saúde publica falha, politica educacional também, governos míopes e som...