segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Posso falar?

E a nossa jovem democracia não escapa uma de passar por contínuas provas de fogo, muitas das quais pondo em risco a estabilidade institucional. E nessas horas recrudesce a dúvida: posso falar? Meu direito de expressão é garantido pelos princípios democráticos? Não é todo país que essa coisa se processa tranquilamente. Por aqui no Brasil não tem sido fácil. O episódio da semana que passou foi um bom exemplo dessas duvidas. Até onde vai o direito de livre expressão garantido constitucionalmente? Tem limites claros? Quais são? A prisão de um Deputado Federal, Daniel Silveira (PSL/RJ), por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), após divulgar vídeo no qual defendeu o AI-5 (Ato Institucional Numero 5) que foi, de fato, o mais violento da ditadura militar instaurada em 1964, além de atacar ofensivamente e ameaçar ministros do Supremo Tribunal foi a razão do bafafá politico da semana. A prisão, como reza a Constituição Federal no seu Art. 5º, e § 2º, foi submetida à apreciação da Câmara Federal, isto é, pelos próprios companheiros de Parlamento, que chancelaram o ato. O estresse politico beirou os limites da tolerância nacional. Por ser Deputado Federal, senhor de suas imunidades parlamentares, teria direito de dizer e acontecer? Ué! Um representante do povo, eleito democraticamente, ser preso embora sua condição politica? E pode? A relatora do caso, deputada Magda Moffato (PSL/GO), em seu parecer foi taxativa ao afirmar “meu voto é pela preservação da eficácia proferida pelo Ministro Alexandre e confirmada pelo plenário da Corte”. Acredita a relatora que “o acusado usa o mandato como plataforma de propagação do discurso do ódio”.
Como de se esperar, muitas vozes se levantaram país afora criticando o Supremo e defendendo a liberdade de expressão e, sobretudo, a imunidade parlamentar do acusado. A Carta Magna foi compulsada e revista de norte a sul e leste a oeste. Moffato reforçou seu parecer com um solene petardo defendendo a punição, afirmando que “temos entre nós um deputado que vive a atacar a democracia e a as instituições”. Pensando bem, do mesmo modo que “cada povo tem o governo que merece”, certamente que cada sociedade tem os representantes que merece. Parece ser o caso desse Deputado Silveira. É mais um produto das infelizes escolhas do povo carioca. O estado e a cidade do Rio de Janeiro estão pagando caro por essas insanidades. É sabido que escolhas equivocadas acontecem com muita facilidade nestas terras de Cabral. Um povo mal educado e despreparado para viver socialmente deixa-se levar facilmente por aventureiros e indivíduos de baixíssimo caráter. Por curiosidade de Blogueiro, fui apurar as informações curriculares do Deputado Silveira e surpreendi-me com uma interminável série de atos criminosos, infalsos e, sobretudo, muito pouco republicanos e democráticos. Confessou agressões brutais a indefesos e mortes, segundo ele escudado pela Lei, enquanto policial de uma carreira, aliás, interrompida por insubordinações e desrespeito à hierarquia militar. Em outras palavras: um despreparo para exercer um mandato de representante de um povo na Câmara Federal. Como parlamentar confundiu liberdade de expressão com libertinagem de expressão. Bom, é preciso registrar que muitos são os parlamentares que cometem esse mesmo erro. Silveira pode ter sido mais audacioso, e foi mesmo, ao não ter o cuidado na forma de se expressar e terminou “vomitando” suas ideias antidemocráticas sem um devido arredondamento como exigido pelos bons princípios sociais e democráticos. O elemento não deve ser “flor-que-se-cheire” mesmo, afinal foi também condenado pelos próprios pares e tudo leva a crer que será defenestrado do Partido. Entrementes, uma séria dúvida paira sobre a sociedade: afinal, posso falar o que me parecer correto ou me der na telha? Será que não serei punido? Estou numa democracia ou sob uma ditadura judicial? Eis aí um duro desafio para que exerce um poder no Legislativo. A verdade é que se abriu um precedente perigoso. Que a Democracia seja sempre defendida.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Eu não sabia que doía tanto

Quem diria que viveríamos dias de carnaval em clima de trevas? Parece mentira. Hoje poderíamos estar em plena folia. A Covid-19 fez silenciar os tambores e clarins de Momo, deste ano, deixando-os recolhidos nas sedes das agremiações. O Recife está mergulhado num silêncio inédito. Quando se é, de fato, bom pernambucano e que espera um ano para cair na folia carnavalesca, ao som do frevo rasgado e fazendo o passo da tesoura, amarga um momento de frustração e de puro ineditismo. Mesmo sem haver entrado nos folguedos, nos anos recentes, minha alma cultural não aguenta este silencio que hoje vive. Eu não sabia que doía tanto ficar sem carnaval. Para os quem vivem da economia e do movimento carnavalesco deve ser um verdadeiro calvário. A única alternativa que resta é curtir as lembranças do passado e alimentar a esperança para 2022. As velhas fantasias ficarão guardadas e as planejadas não saíram das gavetas. É emocionante o documentário exibido na TV e retratando a dor que dói no coração pernambucano. Quer saber, clique em: https://youtu.be/RSUK2m7u848 Ou copie e cole no navegador. Vale à pena.
Falando das lembranças recordo da minha infância carnavalesca com orgulho e com saudade. Minha mãe, grande foliã, preparava os filhotes, com antecipação, para viver o tríduo momesco com todo brilho e emoção. Lembro, como se hoje fosse, da bolsinha de filó por ela confeccionada na qual cada um guardava com cuidado sua cota de confetes coloridos, somente compulsados quando da oportunidade em que alguém merecedor de um punhado aparecia pela frente. Era um gesto inocente de declarar amor e amizade. E fazíamos sem perceber o sentido exato daquilo. Quanto lirismo! O álbum de antigas fotos da minha mãe está recheado de índios, palhaços, holandesas, bailarinas, pierrôs, entre outras figuras que enchiam de sonho as cabeças das crianças que fomos. Fantasias e ilusões que na quarta-feira eram guardadas esperando outro carnaval chegar. Ah! Lembro também do lança-perfume da marca Rodouro, na sua embalagem metálico-dourada e símbolo de status da época. Cada um recebia um tubo do tamanho infantil com a recomendação de ser parcimonioso no uso para durar o carnaval inteiro. Eu administrava aquilo com o maior cuidado para durar os três dias. Por trás disso, aliás, uma lição de saber não esbanjar. Do janelão da casa dos meus avós paternos, no velho bairro de São José (Recife Antigo), assistíamos ao desfile do corso, na versão tradicional, dos blocos carnavalescos e maracatus. Era uma festa de rua que enchia nossos olhos infantis. Uma lição de cultura a cada instante. Pensando bem, é natural sentir a dor provocada pela falta dos clarins e das orquestras de frevo que sentimos neste ano corrente.
Mas a saudade dói também quando me lembro dos inesquecíveis bailes de carnaval dos nossos clubes sociais nos anos 70, 80 e 90. Aquilo era verdadeira apoteose. Como era bom. Um dos mais estrondosos era o carnaval do Clube Internacional do Recife que explodia de alegria nas quatro noites de festas. Fantásticas orquestras - como as de Nelson Ferreira e José Menezes - se revezavam no palco e se constituíam em verdadeiras usinas de animação. Noites com mais de vinte mil pessoas, espalhadas pelos salões, jardins e parques do clube, a cantar e dançar até o dia raiar. Foram dias de gloria. Quem viveu sabe contar direitinho. O tempo passou e mudanças ocorreram. O Recife cresceu, virou uma metrópole e o carnaval se tornou uma festa mais popular ainda do que no feitio das antigas. Saiu da fase dos salões de clubes sociais e ganhou as ruas, com forte esquema politico-comercial. Isto nem sempre bem visto. Contudo, as raízes foram preservadas e continuam muitos vivas. Ritmos alienígenas tentaram sufocar o frevo rasgado, mas, ficou claro que este ninguém abafa. Ao mínimo sinal a multidão se agita, o sangue pernambucano ferve e a povo enche os pulmões quando conjuga, com orgulho e muita alma, o verbo frevar. Tente ficar parado ao escutar os acordes do frevo- de-rua Vassourinhas, verdadeiro hino do carnaval pernambucano. Duvido. Tudo é verdade e nunca passou, por qualquer cabeça, que um dia um vírus venenoso pudesse dar um basta. Tomara que seja apenas uma pausa. Dói. Dói demais e eu não sabia que doía tanto. Nota: Fotos ilustrativas colhidas no Google Imagens

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Esperança Injetada

O Brasil, apesar das extremas chafurdações politicas, avança neste inicio de fevereiro com a operação “vacina para todos”, injetando esperança de paz e tranquilidade na população. Finalmente as autoridades de plantão dão sinais de concórdia na busca da solução para imunizar a brasileirada. Um começo atrasado, bom reconhecer. Nações ricas e poderosas politicamente se adiantaram açambarcando os estoques existentes e futuros do precioso injetável na defesa dos seus povos e administrando uma atitude de resistência e evidente preservação dos poderes. A resultante inequívoca foi o engarrafamento de demandas denunciando de modo claro, que se trava uma guerrinha econômica internacional para aquisição nos quantitativos requeridos por grupos populacionais. O Brasil, muito embora gozar de reconhecida expertise na produção de vacinas e antídotos dos mais diversos, resvalou num infrutífero “bate-boca” politico tendo o Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, como protagonista principal, porquanto crente de se tratar d'uma moléstia que não causava o dano universal propalado aos quatro ventos. Enganou-se. Pagando pela lingua foi contaminado, tratou-se, resistiu e voltou a insistir na conversa ultrapassada sendo, por fim, levado a capitular diante da gravidade da situação. Saiu, politicamente, com o prestigio popular arranhado e criticado duramente pela oposição, sobretudo, por oportunistas políticos que não abandonam o palanque eleitoral. O Presidente teve de revisar as estratégias e originais iniciativas programadas de Governo, algumas das quais pouco sadias. Pelo visto, muitas águas vão rolar debaixo dessa ponte que leva a 2022. Democracia tem dessas coisas. Coisas boas, diga-se. Além das pendengas politicas domésticas muitas outras se desenrolam no plano internacional alimentando a eterna contenda pelo poder hegemonico, sempre recebendo novas nuances, novos protagonistas, muitas surpresas e consequências das mais diversas que sempre respingam no Brasil.
Para “animar” os debates, o mundo acompanha, agora, uma disputa pela “taça da melhor vacina”, sob forte influência da variável do nacionalismo - principalmente na União Europeia – e justificando que no backstage vem sendo travada uma renhida disputa econômica, isto é, muito dinheiro em jogo. Ganhar rápido e muito parece ser o lema da briga. Enquanto isso, a cada momento aparece uma nova fórmula preciosa prometendo ser a melhor, a mais eficaz, quem sabe a mais “cheirosa”, a melhor empacotada, mais gelada, menos gelada, dividida em duas partes, dose única, provisória ou definitiva. Os penitentes que se virem diante da vitrine. Mundinho difícil este do século 21. NOTA: A foto ilustrativa foi colhida no Google Imagens

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...