sexta-feira, 26 de maio de 2023

Queda de Braços

Ainda que me esforce não consigo calar diante de certas futricas politicas brasileiras. Este país, de fato, não é para principiantes. Na verdade é um permanente laboratório para os mais ligados e/ou mais dispostos do que eu me sinto, na atualidade. Por mais que me dedique a identificar a lógica de certos “processos” sempre caio na rede dos mais perdidos. Decepção geral? Idade? Cansaço? Sei lá... Talvez tudo junto e misturado. Mas, vamos ao assunto que me perturba hoje: acompanho com muita perplexidade o contrassenso do nosso Presidente da Republica - nada que me surpreenda, aliás – ao estabelecer uma imensa dúvida quanto as suas reais intenções para o trato da Politica de Preservação do Meio Ambiente e, sobretudo, no tocante a Amazônia. Sua dubiedade de discursos, durante a passagem, como convidado, em Hiroshima (Japão), quando da Cimeira do G7, deixou claro quanto seu despreparo politico para discutir temas mais emergentes, como neste caso. Por um lado, garantiu instrumentos de politica rigorosos e vigilância máxima na proteção da Amazônia, encantando os líderes mundiais. Prometeu acabar com o desmatamento em tempo mínimo. Por outro lado, noutra sala, foi claramente precipitado e inábil politicamente ao concordar com as pesquisas com vistas à exploração de petróleo ao largo da foz do Amazonas, pondo em risco o fantástico e valioso ecossistema, coberto de holofotes do mundo inteiro. Tudo para satisfazer a Petrobrás e meia dúzia de legisladores equivocados e interessados na grana que esse projeto pode render. Ora, meu Deus, provocou uma Queda de Braços que começou a ser travada na mesa da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, indiscutível guardiã e guerreira defensora da Amazônia, desde que nasceu. Com ela, seu comandado Presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, responsável por firmar o “bilhete azul”, baseado num parecer técnico, de dez especialistas da sua equipe, recomendando o indeferimento do pedido de licença ambiental feito pela petrolífera. (Vide Foto de Marina Silva e Rodrigo Agostinho, a seguir)
A turma defensora do projeto, liderada pelo Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, para sensibilizar a sociedade e livrar a cara do Lula, considera se tratar de um novo pré-sal e coisa imperdível. Não precisa dizer que Marina Silva já “rasgou as sedas” com Silveira. A Ministra bateu forte na mesa e garante que a decisão do IBAMA será cumprida. Segura esta Agostinho! A situação promete esquentar ainda mais, na Esplanada dos Ministérios, com os recortes que estão tramando na discussão da Medida Provisória (MP) que reconfigura a estrutura do Poder Executivo pretendido pelo Presidente Lula, desde que assumiu o Governo. Ao todo são 31 Ministérios e mais seis organismos com status de Ministério. Haja postos chaves para tantos asseclas de plantão. O Brasil não merece isto. Resultado é que a Comissão Mista de Deputados e Senadores com os beneplácitos dos respectivos presidentes das duas Casas aprovaram as mudanças da estrutura conforme relatório do Deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Detalhe vergonhoso é que justo o Ministério do Meio Ambiente foi capciosamente o mais prejudicado. Perdeu o comando do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Gestão e a Administração dos Resíduos Sólidos que vai para o Ministério das Cidades, reduto do MDB. Perdeu, também, a Agência Nacional de Águas (ANA) que passa para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Por onde anda a logica disso tudo? Essa Queda de Braços promete grandes emoções. Bom, por enquanto Marina Silva leva vantagem, apenas, na briga contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas. A Petrobrás pediu reconsideração da negativa. Aguardemos o resultado desse imbróglio, mais adiante. Numa hora de estresse Marina Silva foi taxativa ao afirmar que “o mundo vai olhar para o arcabouço fiscal (aprovado naquela ocasião) e ver que a estrutura do Governo não é a que ganhou as eleições. É a estrutura do Governo que perdeu. Isso vai fechar as nossas portas. É um erro estratégico”. De fato, com tantos equívocos e essas destrambelhadas declarações do Presidente da Republica é de perguntar o que acham os governos estrangeiros que prometeram mundos e fundos para o Fundo Amazônia. Francamente, haja trapalhadas. Seriam estas as portas que Marina Silva quis dizer? E tome Queda de Braços. NOTA: Foto obtida no Google Imagens.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Poder da Música

Nunca vi ou ouvi falar de alguém que não goste de música. Relaxante ou trepidante há sempre quem admire um bom som, um ritmo bem sustentado ou uma bela melodia. Os efeitos sobre o cérebro humano são indiscutíveis. É notório que uma musica lenta e calma tem poderes relaxantes, enquanto um ritmo e batida fortes são capazes de acelerar os batimentos cardíacos de um individuo. Nos dias de hoje até o modernoso funk, que me perdoem alguns, tem seu espaço garantido. O mais admirável, contudo, é que, independente do gênero, ouvir uma música faz bem a outros seres vivos, cravando o fato de que “assim como os humanos, também são as criaturas”. O poder da musica é, seguramente, ilimitado. Recordo que, certa feita, integrando uma missão empresarial à Itália, visitei um abatedouro industrial de grande porte, na cidade de Téramo, Região do Abruzzo (Costa Adriática), dedicada ao fornecimento de carne de frangos a uma multinacional de fast-food. Percorrendo as dependências da empresa, o que mais me chamou atenção foi o local onde as aves vivas são recebidas dos inúmeros avicultores e postas em tempo de espera para o abate. Vi-me diante de um grande galpão, com gaiolas de chão a teto, temperatura e luminosidade controladas e música ambiente (na ocasião, salvo engano, ouvia-se uma sinfonia de Beethoven). Sim, musica de qualidade e tranquilizante. Eram milhares de aves que, segundo nosso anfitrião, relaxavam após um trajeto muitas vezes agitado. Relaxando por dois ou três dias antes da degola. O processo de abate começa com a degola de cada ave seguida da deplumagem e esquartejamento, conforme encomenda. Sai sensibilizado e mais consciente sobre o poder da música.
Outro episodio que me deixou igualmente tocado foi observar uma cadela, que atendia pelo nome de Bolinha, visível amante da boa música, que todas as noites do Festival Virtuosi de Música Erudita, em Gravatá (PE), se postava, sem qualquer cerimonia, no palco e aos pés do regente, apreciando as execuções musicais que se desenrolavam na cena. Algo enternecedor e inesquecível. Mas, a coisa não ocorre somente no reino animal. Li, recentemente, numa revista especializada em vitivinicultura que muitas são as vinícolas que “utilizam música para melhorar o crescimento e o amadurecimento das uvas, agir em favor da fermentação e até aprimorar o sabor do vinho.” (Natalia Hein, Revista Wine, Nº 152, Agosto de 2022). A reportagem faz referencias a estudos que garantem os efeitos sobre as produções em vários países, inclusive no Brasil. Na Serra Gaúcha, onde se encontra o maior polo vinícola do país, algumas produtoras já adotam o uso da música nos seus processos produtivos com tangíveis resultados. Segundo a reportagem da Wine, a Luiz Argenta (luizaragenta.com.br), “é adepta da filosofia de que a vibração e a frequência das canções são capazes de alterar as moléculas do vinho, o que ajuda a aprimorar a qualidade dele e suavizar ou marcar os sabores conforme a fermentação”. Ali é bem comum se ouvir Mozart ou Vivaldi, assim como composições de Tom Jobim e Chico Buarque. No Vale do Colchágua, do Chile, a Viñas Montes – tida como a quinta melhor vinícola do mundo pela World´s Best Wineyards Awards 2021 – já aplica a musica na sua produção desde 2004.
E na Itália, em Montalcino, na Toscana, berço de consagradas denominações de vinhos, entre os quais o famoso Brunello, a música é usada em várias vinícolas. Quem visita a região pode observar as inúmeras caixas de som voltadas para os parreirais sempre emitindo um som favorável. (Vide foto a seguir) Mozart rege o crescimento das imensas vinhas naquelas bandas. O resultado pode ser encontrado nas garrafas distribuídas mundo afora. A reportagem da Wine faz referencia a vinícola Il Paradiso de Frassina (alparadisodifrassina.it) que o leitor pode conferir.
Amante da música desde muito jovem, não vivo sem ela. Acordo e durmo ao som de uma boa composição, preferencialmente uma pagina erudita. NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Interior Pujante

Desde meus primeiros anos de vida fui habituado a viver temporadas no interior. Aqui mesmo em Pernambuco. Levado pelos meus pais, de famílias radicadas pras bandas de Caruaru, Brejo da Madre de Deus, Fazenda Nova e Garanhuns. Eventualmente visitávamos parentes noutras cidades mais próximas. Pelo tempo que já vivi, recordo haver acompanhado as transformações urbanas que ocorreram nessas localidades. Algumas, como Caruaru e Garanhuns, por exemplo, se tornaram polos urbanos de intenso dinamismo e resultam em verdadeiras metrópoles interioranas. Foi sobre isto que andei lembrando aos meus filhos que, igualmente, tiveram a mesma felicidade que a mim proporcionaram meus pais. Mais do que isso, procuraram criar condições de moradias temporárias no nosso interland, na intenção de viver momentos de lazer e qualidade de vida diferenciada. Recordo que no último post dediquei-me a analisar o desenvolvimento e o poder de atração da zona litorânea sul do estado. Já na semana passada, tendendo inclusive o feriadão do Dia do Trabalhador, nosso circuito foi pelo interior, centrado nas cidades de Gravatá e Bezerros. É surpreendente observar que nessas cidades não existe a pobreza urbana que se observa no Recife. Raramente ou quase nunca é de se encontrar pedintes ávidos por uma ajuda e maltrapilhos por onde andamos. Parece que não há desemprego. Aliás, afirma-se que em Santa Cruz do Capibaribe e Toritama – cidades centrais do polo de confecções – o cidadão(ã) fica desempregado no máximo por quatro horas. Há sempre um posto disponível em oferta. Um ponto fora da curva, num país de tantos desempregados. Por razões profissionais sempre estive envolvido com essas analises socioeconômicas regionais. Nessa condição, venho, sempre que oportuno, afirmando que o chamado “matuto”, do passado, não existe mais. O progresso infra-estrutural, a comunicação moderna, incluindo o rádio e a televisão, a melhoria das condições de saúde e educação, entre outros fatores, mudaram o perfil do nosso interiorano. Mais “pracianas”, como se dizia antigamente, nossa gente interiorana transita com desenvoltura, bem informada e com especial forma no trato com os visitantes. É notável a maneira e o porte do balconista, dos garçons nos restaurantes e dos que recepcionam em equipamentos turísticos. E, a proposito de turismo, ressalto, a seguir, alguns pontos por onde estive nessas caminhadas e que recomendo para quem pretende subir a serra e aproveitar os ares temperados do planalto agrestino de Pernambuco. Começo por Gravatá. A cidade oferece um dos melhores espaços para se viver momentos de lazer e bem-estar. Além de situada próxima ao Recife (80Km) oferece diferenciado leque de atrações que inclui bela paisagem serrana, bons equipamentos de hospedagens, hotéis fazendas, parque de esportes radicais e arvorismos, comércio atrativo de artesanatos de boa qualidade, restaurantes de primeira linha e com algumas especialidades marcantes (come-se fondue como se na Suíça), movimento artístico musical com temporadas de musica erudita e jazz. A cidade conta com, aproximadamente, duzentos condomínios, de categorias diferenciadas, onde os condôminos relaxam, escapando das turbulências diárias nas grandes cidades. (Fotos a seguir)
Distante pouco mais de 20km de Gravatá (Via BR-232), vem Bezerros, cidade famosa pelo seu carnaval dos papangus (espécie de máscara moldada em papier-marchê) e a aprazível e mais fria localidade da Serra Negra.Vide foto a seguir.
Duas atrações culturais se destacam na cidade: o Centro de Artesanato de Pernambuco, que reúne formidáveis peças da arte popular, numa inteligente exposição, dividida por sub-regiões do estado. São exemplares seletos e representativos do quanto o artesão produz com alma e criatividade. Vide foto a seguir de uma peça de arte figurativa do Alto do Moura de Caruaru, ali exibida.
A outra atração imperdível é a Casa Memorial do mestre em xilogravura J. Borges. Vá com tempo de apreciar uma das mais belas produções do gênero. J.Borges é antigo e tradicional no meio artístico-cultural. Começou produzindo capas para os populares folhetos de cordel, com o tempo aperfeiçoou e hoje tem uma verdadeira Academia de Gravuras com os filhos. Já idoso e curtindo a fama e o que da sua arte resultou o gravador circula no seu espaçoso Memorial numa cadeira de rodas motorizada, distribuindo simpatia e afagos aos visitantes. Vide foto a seguir.
Por fim, ainda em Bezerros, dei um passeio pelos altos da Serra Negra, onde se desfruta de um clima bem mais frio, uma paisagem pitoresca, com belos condomínios e restaurantes agradáveis e de primeira linha. Para quem já viveu o tanto que já vivi, a conclusão é que temos em Pernambuco um Interior Pujante e recheado de atrações para o visitante. NOTA: Fotos do arquivo pessoal e da autoria do Blogueiro, exceto a dos papangus, obtidas no site oficial da ciddae de Bezerros. .

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...