sábado, 15 de dezembro de 2012


O ano está findando. Foram doze meses de muitas atividades e, no meu caso e por sorte, acumulando sucessos. O BLOG do GB foi minha “cachaça” predileta. Com doses semanais, sustentou um dos meus melhores passatempos: contato com o público. Cada vez que faço uma publicação fico pensando nos quantos irão lê-la e muitas vezes, dependendo do tema, lembrando de modo especial, algum leitor ou leitora. Nessa dinâmica levo uma vida prazerosa e com boa dose de deleite pessoal, amenizando os naturais estresses da vida atual.
Pensando bem, é uma maneira mágica que os tempos modernos, com suas tecnologias revolucionárias nos oferecem e nos encantam. Essa relação entre blogueiro e leitor – sobretudo com aqueles que com alguma freqüência comentam os artigos publicados – imprime uma satisfação especial sobre meu espírito de homem destes tempos. Fico gratificado ao receber um comentário ou observar o contador de visitas aumentar de forma acelerada, indicando, inclusive, que em algum lugar do planeta e a qualquer hora do dia ou da noite, tem sempre alguém em sintonia com este mortal fincado num ponto oriental do Brasil e da América do Sul. Se a agilidade da comunicação moderna encanta a qualquer um, imagine para um sexagenário ligado na modernidade. É o meu caso.
Enche-me de prazer descobrir que tenho leitores em lugares remotos e poucos conhecidos. Quem não se surpreenderia, no Brasil, ao descobrir que alguém em localidades como St. Kitts e Nevis (É um pais, sim! No Caribe) ou no Brunei (no Oriente) se interessou em ler alguma coisa que escreveu? Eu, pelo menos, fico surpreso. Isto sem falar dos leitores assíduos em países como os Estados Unidos, Rússia e China. Sinceramente, é instigante. Na semana que não escrevo algo, fico me cobrando e imaginando o que podem conjecturar esses leitores. É ou não é uma “cachaça”? Só vivendo a experiência para entender melhor.
Mas, sendo fim de ano, com uma agenda apertada pelos muitos eventos comemorativos, cumpre agradecer aos muitos amigos e amigas que me acompanharam em mais um ano de publicações blogueiras, o 5º de existência do BLOG do GB. Creiam que esse acompanhamento é o maior estímulo que recebo para continuar. Sem essas reações não teria sido tão fácil manter essa freqüência.
Aos que se detiveram um pouco mais e fizeram comentários, àqueles que, sem comentário publicado, fizeram questão de verbalizar a satisfação de receber semanalmente o Blog e comentar uma postagem ou, ainda, os que tiveram dificuldades de registrar um comentário. A todos – sem exceção – meus sinceros agradecimentos e meu desejo de

FELIZ NATAL E VENTUROSO ANO DE 2013.

Que as luzes do Natal encantem nossos olhos durante o ano inteiro e
nos encham de esperanças e bem estar.

NOTA: As imagenss publicadas foram obtidas no Google Imagens


domingo, 2 de dezembro de 2012

Moderno e Antigo de mãos dadas

É admirável como o japonês preserva suas tradições e o patrimônio histórico. Para quem vive num país e, particularmente, numa cidade na qual a história e as tradições culturais são, quase sempre, relegadas a último plano, conferir uma coisa dessas é puro choque, além de aprendizado.
Nesta minha segunda viagem ao Japão fiquei muito atento, observando se, apesar da globalização, persistia o traço cultural do japonês. Acredito que sim e que, muito embora, haja uma geração rebelde e formadora da “tribo” de Harajuku (região da cidade de Tóquio onde os modernosos se encontram aos bandos), ainda será difícil esconder o que há de tradição e história no país do Sol Nascente. Naturalmente que, em se tratando de uma sociedade desenvolvida, economia pujante, tecnologicamente avançada e com nível educacional nas alturas, a modernidade pontifica em todas as frentes, sempre com vistas ao bem estar do ser humano e do universo. É justamente aí que a coisa pega e chama a atenção. As inteligência e criatividade do povo japonês têm sido decisivas e muito felizes nessa tarefa. Quem vai até lá, a busca de modernidade, encontra facilmente, mas recebe extraordinárias lições de respeito ao passado e preservação da história. Moderno e antigo de mãos dadas e em perfeita harmonia. É muito comum circulando na moderna Tóquio e em meio às construções de vanguarda, aparecer um monumento antigo, esmeradamente preservado e exposto a visitação pública.
Alguns se destacam e são pontos de atração turística. Lembro como exemplos: o Asakusajinja Shrine (Templo), encravado um belíssimo parque no bairro de Asakusa. É um local onde o visitante tem obrigação de passar. Além de conhecer um dos mais belos conjuntos de templos religiosos a oportunidade de conhecer e comprar peças artesanais japoneses e degustar as delícias, doces e salgadas, da gastronomia japonesa, num verdadeiro boulevard de lojinhas (vide foto a seguir, inclusive com uma inesperada senhora portando um guarda-chuva com a bandeira brasileira) até que se chega ao local religioso.

A região está sempre fervilhando de turistas. Mas, tem uma coisa, antes de entrar no templo, não pode esquecer-se do ritual de passar na fonte de água benta corrente, para lavar as mãos, a boca e a testa, acreditando que com isso está se livrando dos pecados cometidos por pensamentos, palavras e obras. Vide fotos a seguir. Uma vez livre dos pecados é só entrar no templo e pedir ao Deus Todo Poderoso a proteção desejada. Asakusa é visita obrigatória.


Outra grande atração histórica, em Tóquio, é a belíssima Meiji Jingu, outra Shrine (Templo) encravada no imenso parque de Yoyogi, onde se encontram, também, sem que interfira no site religioso, vários outros equipamentos modernos do Japão, inclusive o parque olímpico de Tóquio, onde ocorreram os Jogos Olímpicos de 1964. A Meiji Jingu fica isolada no imenso parque e é um ambiente mais tranqüilo do que se vê em Asakusa. Não tem o mercado de artesanatos, nem o intenso comércio ao seu redor. Ao contrário disso, é um parque silencioso e lugar próprio para um retiro espiritual, ainda que passageiro. Dia chuvoso e bosque bem úmido, transformou a visita que fiz, nesse novembro passado, numa experiência impar. Vide foto a seguir.
Por fim, um especial destaque para a cidadezinha de Kamakura, afastada cerca de 80km. de Tóquio e abrigando um imenso conjunto de templos e residências, no mais autêntico estilo japonês antigo. O grande destaque desse conjunto vai para a imensa estátua de Buda – a maior, ao ar livre do mundo – construída com uma liga de cobre, bronze e latão, que resulta num verdadeiro espetáculo aos olhos do visitante. (Admire a foto a seguir).
Imponente e impondo respeito esse Buda de Kamakura, também conhecido como o Daibutsu, está sentado em posição de lótus e as mãos formando o gesto de meditação (Dhyani Mudra). Datada de 1252, essa estátua tem 13,35 metros de altura e pesa 93 toneladas. Fica no templo budista de Kotoku-in, nas colinas da cidade. Originalmente ele era abrigado por um templo construído em madeira, que foi destruído por um grande tsunami no século XV. A estátua é oca e permitem a visita no seu interior. Fiz isto pela segunda vez, quinze dias atrás. Fico satisfeito. Penso que ver o Buda de Kamakura é o mesmo que visitar o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

NOTAS: O Blogueiro foi ao Japão numa Missão Empresarial, promovida por um Convenio entre BID/CNI/Fiepe e Simmepe.

As fotos são da autoria do Blogueiro.

sábado, 24 de novembro de 2012

Caminhos do Oriente

O caminho é longo e, certos momentos, parece não ter fim. Durante o vôo, céus e oceano se confundem na minha visão, pela janela do avião. Quando não isto, são as nuvens densas e fechadas. As horas passam lentamente, embora que a aeronave seja veloz. Após, mais de meio dia nos ares, terra à vista. Que alivio! Estamos chegando! Lá em baixo o Japão. Logo, logo, aeronave em solo, pé no chão e, outra vez, na Terra do Sol Nascente. O dia da semana? Não é o que diz meu relógio. Mas, o seguinte. E para onde foi o domingo que deixei em Dallas (USA)? Sumiu...
Tóquio, no fim da tarde da segunda-feira, fervilha de gente e muitos veículos. Mas, nada de engarrafamentos. Não, isso não. Admirável a infra-estrutura urbana. O clima de Outono que reina, deixa suas marcas e se prepara para desnudar as árvores dos incontáveis parques e vias da metrópole oriental. Antes, porém, como querendo iludir os humanos, pinta de amarelo, dourado e púrpura cada folha, (Vide foto a seguir) privando o Inverno, que já vem vindo com seus ventos frios, da bela visão que pintou. Pobre Inverno que vai chegar atrasado sem tempo de ver a arte pictórica do irmão Outono.
Interessante registrar que nesta meia estação, quando dá quatro horas da tarde, no Japão, o Sol parece se espreguiçar e deixa que o manto da noite caia mais cedo. São noites imensas e que se arrastam lentamente. No relógio do meu pulso sempre é muito cedo para se dormir.
Poesias repentinas à parte e deslumbramento repaginado (esta foi minha segunda viagem ao Japão), eis que me vi, novamente, nas ruas de Tóquio. Com ocidentais olhos bem abertos fui conferindo nomes, meus velhos conhecidos, como Ginza, Shinjuku, Shibuya, Yoyogi, Asakuza, Ueno, Ishygaia, Harajuku e muitos outros, de bairros da capital japonesa, todos estampados nas placas sinalizadoras de trânsito. A sensação de revisitar é gratificante. Tóquio se apresenta mais moderna do que nunca e brilha aos meus olhos, através da feérica iluminação dos prédios. Os letreiros coloridos e os imensos telões de LCD fazendo seus comerciais encantando o estrangeiro chegado de Pindorama. (Vide fotos a seguir)


Embora amargando uma recessão que já dura mais de dez anos, o japonês parece não se incomodar. Elegantes, super-educados, limpíssimos, solenes para tudo, impressionam a qualquer ocidental. Mesmo para aqueles que já os conhece, como é o meu caso. Convivi com essa gente civilizadíssima, por um período aproximado de três meses, na década de oitenta. Fiz um inesquecível programa de pós-graduação, quando ainda funcionário da SUDENE, que me levou a conhecer o país por inteiro.
Nesta volta, a primeira saída, com companheiros da missão empresarial que me levou ao Oriente, foi ao bairro de Shinjuku, onde vivi na primeira vez. Trata-se de um dos mais dinâmicos e grande centro bancário e comercial da cidade. Local também de imensa estação ferroviária do país. Ali embarca-se em metrôs, trens urbanos e interurbanos, além do Shikansen, o trem bala, para vários destinos, incluindo o aeroporto internacional de Narita, distante aproximadamente 80 km.
Em Shinjuku há de tudo, o lugar tem vida própria, desde grandes magazines aos típicos pequenos comércios japoneses, nos quais de tudo se encontra. Pedi ao taxista que nos deixasse às portas de Kabukisho, um aglomerado de restaurantes, mercado de peixes, casas de jogos da grife japonesa Pachinko, casas de massagem, bares, karaokês, tudo misturado, cada um em espaços mínimos no miolo do bairro. Minha proposta foi de levar meu grupo de amigos para um mergulho imediato no Japão tradicional.



Valeu à pena. Dirverti-me a valer com as caras e bocas de cada um. Diante dos espécimes oferecidos nas lojas de pescados o espanto de alguns era hilário. Nas vitrines dos restaurantes o mesmo ocorria. O menu de um restaurante japonês é, geralmente, exibido em vistosas imitações plásticas e com o preço bem visível.
A propósito, o cheiro de comida no ar levou-nos a procurar uma casa de pasto. Já era hora de abastecer o estomago. Missão difícil foi satisfazer o paladar dos meus amigos. Por mim, entraria numa típica japonesa e devorava uma suculenta soba, um sukiaki ou um tempura, da vida japonesa. Mas, fui solidário e, com eles, adentrei num pretenso restaurante italiano. O resultado não foi dos melhores. Satisfez em parte. A quantidade servida dava pena de ver... comida para pinto. O espaguete à bolonhesa, escolhido por alguns, era um desacato a qualquer italiano. A carne moída, normal nessa opção, além de perdida num molho de tomate picante, só seria bem vista com uma lupa. Nem preciso dizer do quanto isto foi engraçado. A salvação foi a cerveja que tomamos. Claro que existem bons restaurantes em Tóquio e onde se servem porções adequadas. Mas, naquela noite não tivemos outra alternativa. Detalhe: tudo muito caro. Uma vez no Japão, prepare o bolso...
Vou falar mais sobre o Japão na próxima semana e, depois, sobre a Coréia do Sul, por onde também andei.
NOTA: O Blogueiro esteve no Japão e Coréia do Sul participando de uma Missão Empresarial de pernambucanos, promovida através de um convenio entre o BID, CNI, Fiepe e Simmepe.
NOTA 2: As fotos são da autoria do Blogueiro

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A visita de Sandy

É interessante como ocorrem certas coincidências na vida de uma pessoa. Neste momento, em que escrevo esta postagem, deveria estar em Nova York aproveitando um fim de semana e conferindo as atrações da metrópole do mundo. Seria uma passagem rápida, pausa para um longo percurso até Tóquio, um dos meus destinos na Ásia. De repente um furacão passa antes de mim e faz os estragos que assistimos, ao vivo e a cores, pela TV. Estou cabreiro com essa coisa. Os caprichos da natureza têm me perseguido nesses últimos três anos: primeiro, em 2010, foi um vulcão vomitando fogo e cinzas, de maneira descomunal, na Islândia (nem lembro mais do nome, que é daqueles estrambóticos, escrito só com consoantes), interrompendo o tráfego aéreo nos céus europeus, por vários dias. Eu ia à Alemanha. Não fui... Em 2011, outro vulcão, dessa vez no Chile, imitou o colega islandês e atrapalhou meio mundo, jogou cinzas até na distante Austrália e atrapalhando minha ida a Buenos Aires para um evento técnico. Agora vem o furacão Sandy (Bela foto a seguir) e corta meu barato. Tô cabreiro, sim. Começo a achar que tenho um “pé frio”.
Realmente, este mundo anda mesmo virado. Não faltou quem dissesse que está mesmo para se acabar. Será? E o pior é que tem gente que entrou nessa e vem se preparando espiritualmente. Por outro lado, houve um sujeito exótico, sendo entrevistado na CNN, afirmando que aquela catástrofe em Nova York pode não ser coisa boa, mas, de algum modo é divertido porque quebra a rotina. Já pensou? “O mundo desabando” e o cara gozando o repórter e os telespectadores. Isso, tranqüilo e aparentemente bom da cabeça.
Pois é, eu havia montada uma agenda básica, incluindo assistir ao musical do Homem Aranha (na Broadway), a sensação do momento, e aí vem Sandy (sozinha, sem Júnior... desculpe...) e faz aquele estrago. Na verdade, eu só estaria de passagem pela cidade, mas, fico lamentando por essa frustração. Refiz minha trajetória e agora minha parada será Miami, que não chega a ser uma das minhas preferências nos States. Parto no sábado.
Resmungando, numa conversa com uma amiga, queixei-me da pouca sorte que tenho tido. Falei do “meu pé frio” e ela – sem perceber – terminou por me alertar para uma verdade, ao me assegurar que, ao contrário, meu pé é “bem quente” por não haver sido pego de surpresa em estando na cidade atingida. Aquilo me bateu de frente e, diante da TV, assistindo ao noticiário sobre a tragédia causada pelo Sandy comecei a dar razão para minha amiga. O que eu faria se houvesse sido surpreendido em plena viagem com aquela confusão? Perguntei a mim mesmo. A costa Leste da América, a região Nordeste mais precisamente, está com milhões de pessoas desabrigadas, sem comida, sem luz, sem transporte público, comunicação, sem nada.
É curioso como a natureza em revolta trata a todos por igual. Não escolhe hora, nem local. Nem rico ou pobre. Chega sem cerimônias, se espalha da forma que lhe convém e não mede conseqüências. Digamos que ela é fria e cruel no trato da população. E, pelo visto é cega! A situação é grave e inédita. Aliás, fiquei bem impressionado com a declaração de outro homem, na TV, que considerou o quadro, desta semana, mais difícil do que no episódio de 11 de setembro, que apesar de ultra violento, ficou restrito a uma localidade, enquanto que o furacão se espalhou de forma incontrolável, soprando forte, derramando tempestades e inundando o mundo. Naturalmente que a coisa se reveste de maior gravidade devido ao fato de ser Nova York a “vitima”. Numa cidade de menor porte as conseqüências e noticias teria outra conotação.
Ainda bem que tudo passa nesta vida. Sandy vai passar e eu vou seguir viagem sem lhe dar importância.

NOTA: Foto obtida no Google Imagens


domingo, 28 de outubro de 2012

APAGÃO


...e quando a noite chegava meu avô mandava um encarregado ligar o motor gerador de energia e as luzes brilhavam dentro de casa. O ploc-ploc do motor, no fundo da propriedade, dava um “fundo sonoro” rotineiro que somente silenciava às dez da noite, quando, segundo os costumes locais, era hora de dormir. Era uma rotina de vida bem comum da minha infância (ôxente, neste caso, faz muito tempo não!), em Fazenda Nova (180km. distante do Recife), e que, de modo geral, se repetia nas comunidades interioranas do Nordeste. Aliás, do Brasil. À medida que nos afastávamos do Recife a energia elétrica ia rareando e entravamos nas brenhas, onde gozei férias deliciosas. Mesmo assim, sem energia elétrica contínua, vivia-se feliz e tranquilamente  Lembro a graça que era ouvir rádio ligado a uma bateria de automóvel e a geladeira 
alimentada por querosene. Prá que mais? Quando o motor era desligado e o breu se instalava, acendíamos candeeiros ou velas e corríamos para cama. Felizes, que só!
A chegada da energia gerada pela Hidroelétrica de Paulo Afonso, para acender e mover o Nordeste se constituiu no maior acontecimento da segunda metade do século passado. O mundo se transformou e ninguém pode mais dispensar a eletricidade.
Na quinta feira passada, quando um apagão afetou metade do Brasil, incluindo o Nordeste, (vide mapa lá em baixo) relembrei com um quê de saudade, aqueles dias da infância, misturado a um estado de perplexidade. Como não tenho candeeiros nem esses modernos focos de luz à bateria, recorri a uma vela tirada de uma decoração da casa.Quando a energia caiu, pouco antes da meia-noite, eu estava a caminho do aeroporto para levar meus filhos para um embarque. No meio da escuridão vi-me ameaçado pela insegurança que reina no Recife. É nessas horas que os malandros caem em campo. A sorte foi que os semáforos funcionaram muito bem alimentados por baterias duráveis. O aeroporto se constituiu numa ilha iluminada graças a um gerador próprio. Ainda bem,  porque as aeronaves que se dirigiam ao Recife tinham como aterrissar. Na estação de passageiros, porém, o clima era de desordem. Uma fila descomunal de pessoas que aguardavam a volta da energia para pagar o estacionamento ensaiava um tumulto e dava o tom do desmantelo. Diante do tumulto a saída foi liberada e naquela noite – enquanto durou o apagão – ninguém pagou estacionamento. A empresa tomou prejuízo enorme. Veja, a seguir, o panorama do Recife na noite fatídica. Ainda bem que era noite de lua.
O exemplo do estacionamento do aeroporto é insignificante se comparado a outros serviços prejudicados e espalhados pela Região. Quantos bares e restaurantes fecharam antes da hora e tomaram prejuízo? Quantas cirurgias, inclusive as de emergência, deixaram de ser feitas. Mortes podem ocorrer numa hora dessas. Quantas indústrias pararam suas produções e foram obrigadas a rodar jornadas extras. Quanto isto e quanto aquilo? Veja o mapa da escuridão, a seguir.

Num mundo movido pela força elétrica, o Brasil parece não ter ciência dessa referência e terminou relegando a segundo plano o trato adequado ao seu sistema de geração de energia. Faltou planejamento, faltam investimentos, falta manutenção das redes e do sistema nacional de interligação. É o que se comenta. Hoje, até mesmo o Governo espera placidamente que ocorra um apagão a qualquer momento e qualquer lugar do país. Haja irresponsabilidade... Semana passada, por exemplo, fiquei pasmo ao ouvir falar de que o final da novela da TV (Avenida Brasil) poderia provocar um apagão dada a demanda de energia que provocaria. Achei aquilo incrível. Montou-se uma prontidão e o problema não ocorreu.
No caso do apagão de 5ª. Feira, “foi uma coisa improvável” afirmou o Ministro das Minas e Energia. Como improvável? Que tropeço desse cidadão! Depois, constatou-se que foi um curto circuito num ramal entre o Maranhão e Tocantins. Um curto por falta, seguramente, de manutenção! Mas, já falaram em boicote armado pela oposição. Vejam só, já querem politizar o problema. D. Dilma foi Ministra da pasta e deve estar “comendo um galo” porque não foi previdente. Te vira presidenta! Dê duro nessa frente.
Agora, que dá medo disso ocorrer em tempo de Copa do Mundo ou Olimpíada, isso dá... As cassandras, aliás, estão soltas torcendo por isso! Deus nos livre dessa vergonha.  
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

 

domingo, 21 de outubro de 2012

Avenida Brasil

Impossível não comentar o recente fenômeno da teledramaturgia brasileira, Avenida Brasil, novela levada ao ar pela Rede Globo de televisão, durante mais de meio ano.
Pelo visto, algo de novo ocorreu com este folhetim global. Vi que a trama apresentada pelo jovem autor, João Emanuel Carneiro, trouxe novidades para o telespectador brasileiro. Como novidade, neste caso, é coisa sempre bem vinda, o sucesso foi gerado. Naturalmente que me refiro à novidade com qualidade.
Acho que o telespectador brasileiro já andava cansado das tramas com argumentos batidos e repetidos clichês e com contextos sociais que eram focados, quase sempre voltados à vida glamorosa da Classe A, nas grandes metrópoles nacionais. Quando não isto, eram os hábitos e costumes regionais, principalmente os nordestinos. Dessa vez o foco principal mudou para a classe suburbana e, neste caso, o da periferia carioca que, sempre retrata uma síntese da sociedade suburbana do país como um todo. De cenários em grandes salões e requintadas moradias, apareceu o de um lixão, chocando no primeiro momento. Fora isto, teve futebol e jogadores, cachaça, mesa de bilhar, pagode, retirante nordestina bem sucedida, alpinistas sociais, “marias chuteiras”, “periguetes”, finalmente, um mix de personagens bem comuns na vida de periferia e no meio do povão brasileiro que é, aliás, o grande público para os folhetins televisivos.
Além dessa novidade, o talento do autor levou a que, ao fechar a maioria dos episódios, houvesse sempre um estimulo ou suspense para que o espectador voltasse à frente da TV na noite seguinte. Foi bastante inteligente. Admirável como o cara soube criar situações inesperadas envolvendo alguns personagens, com mudanças bruscas de atitudes e comportamentos, tanto na trama central, quanto nas secundárias, capazes de surpreender o publico. Mais ainda: quando todo mundo achava que não havia mais nada a ser descoberto o noveleiro criava situações que prolongavam a história. Houve um momento que parecia não ter fim. Estratégia nova.
Perversidade e humanismo se misturaram de modo incrivelmente inédito, nesta novela. A personagem Carminha (Adriana Esteves) tanto representava uma megera, quanto repentinamente aparecia de mãe, esposa e dona de casa exemplar e, muitas vezes, foi vista pelo telespectador como vítima. E terminou assim! A Nina (Débora Falabela) foi outro personagem que confundiu o publico, oscilando, em vários momentos, entre mocinha vingativa, pela qual todos torciam, e vilã. O que dizer da Lucinda (Vera Holtz), acolhendo garotos abandonados no lixão? O Tufão (Murilo Benicio), coitado, um corno/pateta adorável e, ao mesmo tempo, irritante. O que dizer do excelente ator que é Marcos Caruso, no papel de Leleco? Incrível como um paulistano nascido no elegante Itaim Bibi, pode se transformar num autêntico suburbano carioca. E tantos outros. Belo elenco
E no apagar das luzes, quem diria que as maiores rivais – Carminha e Nina – terminariam selando a paz? Acho que, tramando essas situações, digamos que bem humanas, o autor cravou o sucesso que sustentou até o último instante.
O fato é que a novela terminou sendo um fenômeno de audiência. O último capítulo levado neste fim de semana (19-20/10/12) virou noticia no mundo inteiro. Uma coisa inacreditável. Não pude entender direito. Os grandes jornais do mundo inteiro terminaram por fazer referência a este fenômeno da televisão brasileira, tendo em vista a mobilização nacional para não perder a exibição do último capítulo. Foi tão mobilizador, quanto qualquer jogo do Brasil em Copa do Mundo. Estouro de audiência. Estou falando de veículos tipo Financial Times, Washington Post, Revista Forbes, The Guardian (este destacando, inclusive, que a presidente da Republica cancelou viagens e ajustou sua agenda para não perder esse capitulo final). Vide foto a seguir. Além
destes, uma infinidade de outros jornais na América Latina, Europa e até na remota Austrália noticiaram o fenômeno televisivo tupiniquim. Confesso que fico intrigado com esse flash da vida brasileira. Sim, porque isto não passa de um flash! Espocou e fim. Logo, logo o público já se envolve com outro folhetim, seja qual for a trama e o cenário e Avenida Brasil será somente uma grande artéria urbana do Rio de Janeiro.
Interessante que, mesmo muito antes desse final badalado, algumas coisas foram observadas no dia-a-dia dos brasileiros. Por exemplo, o figurino da personagem de Carminha ganhou o mundo e promoveu, por exemplo, uma super venda de uma bolsa de uma determinada grife (Michael Kors) nas lojas do ramo no Brasil e em outras praças do estrangeiro. Toda “dondoca” ou “patricinha” transformou em sonho de consumo possuir uma dessas bolsas. Em Nova York, o gerente da loja da grife preparou vendedoras para atender as brasileiras e, muito curioso, perguntou a uma repórter de TV “Who is Carminha?”. Este é o chamado poder da mídia. Mas, não foi somente a bolsa, o automóvel da marca contratada para o merchandising também virou moda nas endinheiradas. De Buenos Aires, um jovem teve a curiosidade de perguntar: “O que é Carminha?”. Uma graça.
Enquanto isso, fico aqui alimentando a esperança de que o Brasil se destaque mais noutras dimensões do cenário internacional. Não temos, por exemplo, um Prêmio Nobel! Onde estão nossos autores escritores ou cientistas?
NOTA: Foto obtida no Google Imagens.




domingo, 14 de outubro de 2012

Votar ou Não Votar, eis a questão

Lembro da festa que se fazia nos dias de eleições em tempos da redemocratização do Brasil. O povo ia às ruas empunhando bandeiras, cartazes e festejando seus candidatos de forma declarada e em alto e bom tom. De fato, havia motivos para comemorações porque todos curtiam o prazer de exercer o direito de votar e escolher seus governantes. O tempo passou e, com ele, parece haver se esvaído aquele entusiasmo de outrora. Nas eleições da semana passada, para citar o exemplo mais recente, parei para observar o movimento e terminei constatando um povo aparentemente apático, a caminho das sessões eleitorais, muitos deles cabisbaixos e apressados. Era um desfile quase que silencioso. Isto em locais onde ocorriam, normalmente, grandes concentrações de militantes aguerridos que se punham, estrategicamente, a incentivar o eleitor, sobretudo aqueles indecisos. Entendo que a proibição da chamada “boca de urna” tenha inibido muita gente, porém, o movimento do trânsito, bandeirolas e bandeiradas praticamente foram deixados para trás. Era uma grande festa, já não é mais. Pelo menos nas grandes cidades.
No balanço do pleito da semana passada, para renovação das câmaras municipais e prefeitos, dados divulgados pelos tribunais eleitorais dão conta de números surpreendentes no que tange à soma dos votos em branco, nulos e de abstenções. Foram muitos os brasileiros que resolveram não comparecer às sessões eleitorais: 16,41% deles não se abalaram por cumprir com o dever cívico. Isto significa 22,7 milhões de pessoas. É muita gente. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de 2008, esse percentual foi de 14,5%.
Em Pernambuco, na semana passada, o percentual foi ligeiramente menor, 16,28% e significou 1,06 milhões de eleitores. Também é muita coisa.
Mas, o que mais chamou a atenção em Pernambuco foram alguns resultados na Capital e em Olinda. Imagine que no Recife o número dos votos nulos, em branco e de abstenções, 283.279, superou o de votos válidos atribuídos ao segundo colocado para o cargo de Prefeito do Recife, Daniel Coelho, que só obteve  
245.120 votos. Na vizinha Olinda, a coisa ainda se mostrou pior porque os brancos, nulos e abstenções somaram 105.056 e foi mais do que o número de votos dados ao Prefeito vencedor, Renildo Calheiros, que se elegeu com 102.295 votos. Indiscutivelmente, tem algo a ser analisado, principalmente lembrando que, no Brasil, votar é obrigatório para todo cidadão e cidadã com idade entre 18 e 70 anos.
Vários motivos podem ser considerados para este resultado. O primeiro que ocorre analisar é a questão do voto obrigatório. As novas gerações são arredias a tudo quanto venha com o rótulo de obrigatório. Muitos são os movimentos que pregam a queda dessa obrigatoriedade. “No Brasil não cola mais essa manobra eleitoral. É coisa do passado, quando o país vivia buscando o rumo à uma democracia plena. Obrigar é um esquema antidemocrático”. Foi o que ouvi de um jovem. Argumentou que ao cidadão deve ser reservado o direito de escolher ou não. Ele me garantiu que tirou o titulo de eleitor por necessidade burocrática, mas que só votou uma vez. Normalmente justifica o voto por onde aproveita o dia para o lazer ou já pagou a multa por não votar. Ainda fez gozação com o valor cobrado, que julgou irrisório. Atualmente é de apenas R$ 3,50. Equivale a uma passagem de ônibus urbano. Pensando bem, é um estimulo para quem quer protestar, quem não quer enfrentar fila, chuva ou sol quente. Além de ser cômodo para quem aproveita o dia e se manda para um ponto distante da sua sessão eleitoral para curtir um dolce far niente.
Outro motivo, este mais forte, é o descrédito da classe política e sua interminável lista de corruptos cadastrados. O atual julgamento do Processo Mensalão tem exposto, de modo escancarado, a qualidade de políticos brasileiros que enganaram o povo, a Nação e o Mundo. Isto, francamente, é um desencanto para quem almeja um país sério e politicamente desenvolvido. A turma jovem de hoje arrasa na critica e na contestação.
Além do que, se analisarmos os pífios progressos sociais (Educação, Saúde, Segurança, etc.) decorrentes das ações desses mandatários recentes, pouca coisa provocará entusiasmo no eleitorado. Ao invés disso, gera revolta. O resultado é voto em branco, nulo ou, simplesmente, a abstenção.
Esses dias vi dois grafites, em velhos prédios do Recife Antigo, que retratam bem essa situação. Fotografei especialmente para ilustrar esta postagem do Blog. Confira você mesmo. Votar ou não votar, eis a questão do futuro.
NOTA: Fotos da autoria do próprio Blogueiro 

sábado, 6 de outubro de 2012

Ciclistas e Ciclovias

Às vésperas das eleições municipais deste ano, o que mais se vê no Recife são promessas de candidatos a Prefeito e Vereador, incluindo a de dotar o Recife de quilômetros e mais quilômetros de ciclovias, estimulando o uso da bicicleta como um meio de transporte popular e massivo.
O Prefeito que se despede, que teve uma administração altamente criticada, inclusive pelos  seus correligionários, resolveu no “apagar das luzes” abrir algumas ciclovias na cidade, entre as quais as que se desenharam nas Estrada do Arraial e do Encanamento, zona Norte da cidade. Há certa euforia na população, sobretudo a de baixa renda, que vem correndo para comprar sua bike e sair por aí. As casas comerciais especializadas estão de olho no novo filão. E uma fábrica montadora que existe no estado (Zummi Ind. E Com. Ltda) já se prepara para abastecer o novo mercado. Se a moda pegar mesmo, preparemo-nos porque Recife vai virar uma Pequim ou Xangai do passado. Pode até surgir alguns empreendedores que se habilitem a oferecer riquexás, uma espécie de bicicleta-táxi.
Por que não? Já experimentei essa alternativa em Pequim (foto a seguir) e, até, em Nova York. Divertidíssimo circular na 
5a.Ave. e Park Avenue da Metrópole norte-americana numa dessas jeringonças. Muitas outras cidades do mundo adotam esse sistema para atender, particularmente, aos turistas. É um barato.... Londres e Amsterdã, por exemplo, têm lá seus requixás. (foto em Londres, aí embaixo). Penso que seria legal no Recife Antigo. Garanto que haveria mercado. Vou esperar...
O uso da bicicleta é uma ideia que ocorre ou já ocorreu, muitas vezes, com pessoas que visitam cidades no exterior e voltam impressionados com a popularidade delas como meio de locomoção. Lembro que elogiei, em março passado, o uso massivo da bicicleta na cidade de Ravena (Itália), por onde passei no inicio do ano.
Na Holanda, o uso das duas rodas goza de imensa popularidade.  Lá, existem centenas de estacionamentos que comportam milhares de bicicletas. Chega a ser impressionante. Sem dúvida é um alivio para o transito das cidades.
A proposta pode ser muito interessante para o Recife. Louvo a atitude de se promover esse uso e de se prover a cidade de ciclovias. Contuuuudo, muitas outras coisas devem ser pensadas para que esse projeto se torne realidade sem que tenhamos, mais adiante, de conviver com as manchetes de jornais que vimos esta semana: duas jovens vidas foram ceifadas em trágicos acidentes de bicicletas, atropeladas por veículos de porte maior. Lembremos que não se pode, de hora para outra, mudar os hábitos e costumes no trânsito de uma comunidade. Sobretudo numa cidade/metrópole como é o Recife, com um povo tão indisciplinado e mal educado.
O Prefeito que for eleito deve estar atento para esses aspectos subjacentes que envolvem o Projeto de "Bicicletar" o Recife. Que não promova o uso simplesmente, mas encete uma grande campanha educacional, para sensibilizar tanto os motoristas, quanto os ciclistas. Afinal, não se pode sair por aí, sem compromisso e por qualquer motivo, montado numa bicicleta e enfrentar as cargas pesadas dos ônibus, caminhões, automóveis e as detestáveis “primas” motocicletas, que andam desembestadas cometendo todo tipo de asneiras por ruas e avenidas. Aliás, eis aí, outra vez, a questão da Educação. Coisa que falta no brasileiro, em geral. 
NOTA: Fotos do Google Imagens ou acervo do Blogueiro. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Insanidade Cultural

Tenho notado que uma das minhas postagens, intitulada de Apagando a História, publicada em 24/09/2009, tem sido acessada com grande  freqüência. O tema, de fato, é interessante e nele faço dura critica à Caixa Econômica por não haver adotado providências  para instalar seu Centro Cultural, no Marco Zero do Recife, onde funcionava a Bolsa de Valores de Pernambuco e Paraíba. Ao invés disso, abandonou ao bel prazer dos vândalos e drogados. Isso foi em 2009. Veja mais clicando no link: http://gbrazileiro.blogspot.com/2009/06/apagando-historia.html.
Agora, contudo, três anos depois, tive a satisfação de, num desses últimos domingos, num passeio pelo Recife Antigo, encontrar o referido Centro, recém-aberto ao público e oferecendo uma exposição inaugural que teve tudo a ver com o meu Apagando a História. Sob o titulo de 1908 – Um Brasil em Exposição, com a assinatura de Margarida da Silva Pereira, como curadora, tive a oportunidade de ver de forma organizada e didática o que foi a Exposição Nacional do Rio de Janeiro de 1908, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas.
Essa exposição foi montada na Praia Vermelha, no bairro da Urca e durou quatro meses. A mostra se constituiu numa vitrine do Rio de Janeiro da Belle Époque. Capital da Republica, a cidade era tida como “a sala de visitas” do país. Embora fosse uma exposição nacional, havia alguns pavilhões de outros países, entre os quais Portugal e Egito. Foi uma coisa monumental. Palácios magníficos foram construídos que, durante o certame, serviram de locais para eventos dos mais variados, principalmente comerciais, culturais e sociais. Vide fotos, a seguir.

O mais surpreendente, porém, é perceber que tudo aquilo desapareceu por completo. Conhecendo o Rio de Janeiro como conheço e, em particular, a região onde ocorreu o evento, fico impressionado como nada restou. Talvez, alguma pouca coisa tenha sido aproveitada pela antiga Universidade do Brasil, hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Se houvesse rigor na preservação do patrimônio histórico deste país, aquilo lá estaria de pé e, certamente, seria uma grande atração turístico-cultural do Rio e do Brasil. É assim que ocorreria em qualquer lugar civilizado do mundo. Veja os exemplos da Torre Eiffel, do Grand Palais e do Petit Palais, em Paris, que são patrimônios preservados da grande Exposição Universal de 1889. Até hoje estão lá e são importantes pontos de atração turística mundial. Todo mundo quer conhecer Paris e, em estando lá, correm para subir ao alto da famosa torre. Pois bem, percorrendo, naquela tarde de setembro passado, a exposição no Centro Cultural da Caixa fui quase tomado de revolta, por perceber que nada daquilo resta no Rio de Janeiro.
Infelizmente o Brasil sofre dessa insanidade. Lembro de casos que ficaram na história de algumas cidades. A abertura da Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, foi um crime! Em dois tempos destruíram o miolo da antiga cidade, apagando páginas preciosas da história social do Brasil Colonial. Outro caso clamoroso ocorreu no Recife, quando o Prefeito da cidade, lá pelos anos 70, resolveu prolongar a larga Avenida Dantas Barreto, aliás, de pouca serventia até hoje, derrubando quarteirões de ruas históricas, casarios coloniais e igrejas seculares. Apagaram mais da metade da história do bairro de São José. Nessa fúria, desapareceu a tradicional Rua Augusta e a Igreja dos Martírios, motivo de tristeza para muitos. Uma lástima...  Outra coisa, que me ocorre lembrar, no Rio de Janeiro, é a concepção arquitetônica daquela atual Catedral da cidade. Na minha opinião, um monstrengo. Um formato de oca indígena. Certamente, teve a influência do modernismo de Brasília. Mas, sinceramente, nada a ver com o Rio. A antiga catedral tem outra beleza e diz mais da história da cidade. Vide foto, a seguir. 
Até em Caruaru, a simpática cidade do Agreste pernambucano, sob influencia de Brasília, também, fizeram o mesmo. Destruíram a antiga Igreja Matriz e construíram uma horrenda oca indígena ou piramide oitavada, para substituí-la. Francamente... Foto a seguir.
Saindo do Centro Cultural da Caixa, circulei pelas ruas e avenidas do Velho Recife e observei que entre os poucos prédios restaurados existem outros que são verdadeiras ruínas. Em alguns até já brotam pequenas florestas. Veja foto abaixo, que fiz na ocasião. É incrível. Está lá, pode conferir, na Avenida Rio Branco.
Desse jeito, vão mesmo continuar permitindo que a História seja apagada. É isto que chamo de insanidade cultural. Onde anda o IPHAN?

NOTA: Fotos obtidas no Google e da autoria do Blogueiro

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

NOVOS TEMPOS


O IBGE divulgou esta semana os resultados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicilio – PNAD, ano 2011, que é um dos mais importantes trabalhos da agencia oficial de estatísticas do país. É um estudo minucioso e sempre muito importante, enquanto suporte básico para todas as decisões que são tomadas por governos nos mais distintos níveis, sobretudo no campo das políticas sociais. Fico sempre muito atento quando dessas publicações, quem sabe por um pouco de saudosismo do meu antigo ofício, em tempos de SUDENE, quando coordenava um trabalho de Indicadores Sócio-Econômico Regionais do Nordeste. Já faz algum tempo... De lá para cá, o Instituto melhorou bastante a metodologia de pesquisas, de maneira que esses dados publicados atualmente refletem bem melhor a realidade da vida brasileira.   
O primeiro número a registrar, deste ano, é o da população total que já chega aos 195,2 Milhões de pessoas. As mulheres em maior número, com 51,5% desse total. Faz tempo que é assim. Interessante descobrir que nascem mais meninos, mas quando se observa a faixa dos 30 anos, as mulheres são maioria. Os motivos podem ser vários e vão desde a mortalidade infantil até outras causas no decorrer do crescimento e juventude. Sinal de que os indivíduos do sexo masculino são mais vulneráveis na travessia da vida.
Não vou repassar todas as informações divulgadas. Mas, algumas valem à pena destacar. Por exemplo: a Taxa de Fecundidade, que é aquela que indica o número médio de filhos, por mulher em idade de reprodução. Em 2011 a taxa era de 1,95. Esteve bem próxima da de 2009, que foi de 1,94. Mas, o que chama a atenção é o fato de que em 2004, esta mesma taxa foi de 2,13. Ou seja, as brasileiras estão tendo menos filhos nesses últimos anos. É bom lembrar que essa situação remete a algumas reflexões: se, por um lado, revela uma redução na velocidade de crescimento da população, o que pode ser bem vindo, por outro aponta para um quadro futuro, no qual poderemos ter dificuldades na reposição da força de trabalho, importante fator de produção. Isto já foi visto na Europa e se constata em países como o Canadá que vem promovendo a incorporação de muitos estrangeiros na sua força de produção. 
Outro dado interessante é o que dá conta do percentual de brasileiros, com 15 anos ou mais, que vivem em união conjugal: 57,1%. Ao contrário desses, 22% nunca vivenciaram uma união e permanecem solteiros. O restante, de 21% são aqueles que já estiverem casados ou juntados e na ocasião da pesquisa estavam solitários. Ah! 34,8% dos que tinham companheiro ou companheira viviam em união consensual, isto é, a popular situação de amigado ou amasiado. Está no Norte o maior numero de pessoas nesta situação, 51%, e o Nordeste vem em segundo lugar com 40,8%. Engraçado é que, para minha surpresa, é no Sudeste, região das grandes metrópoles e de uma gente mais liberal, que se encontra o menor número dos casados na forma de união consensual, somente 28,6%. A PNAD ainda não pesquisa o número de uniões homoafetivas. Mas, acredito que isto é por enquanto.
Um dos dados que mais me alegra é o da taxa de analfabetismo que vem caindo rapidamente. O Brasil enfim caminha para se tornar um país de cidadãos letrados e senhores de vida digna e com liberdade. 8,6% dos brasileiros vivem na condição de analfabeto, isto é, 12,9 milhões de pessoas. É muito, ainda. Contudo se pensarmos no passado não muito remoto... São indivíduos, na grande maioria com idade acima de 30 anos e o maior contingente continua sendo no Nordeste. Nas faixas etárias menores a quantidade de analfabetos é irrisória. Ainda bem. Acontece que os jovens de hoje não querem nem pensar em ser analfabeto.
A Pesquisa mostra muitas outras informações do brasileiro e seu dia-a-dia, incluindo situação de trabalho, emprego formal, trabalho infantil, rendimentos e taxa de desemprego que, aliás, caiu em todas as regiões, entre 2009 e 2011. No país, como um todo, a taxa caiu de 8,2 para 6,7%.
Agora, tem uma informação que causa bela surpresa: 89,9% dos domicílios brasileiros dispunham de telefones – fixo ou celular – o que significa um avanço extraordinário se recuarmos aos idos dos anos 80 e 90. Naturalmente que foi a telefonia móvel que estabeleceu este novo padrão de comunicações. Informes recentes dão conta que já existem, praticamente, um telefone celular para cada brasileiro. Se o quantitativo de telefone chama a atenção, o que dizer do fato de que 42,9% dos lares brasileiros já dispõem de um microcomputador, em 2011? Detalhe: 36,5% deles, na hora da pesquisa, estavam interligados a Internet. São novos tempos com o progresso tecnológico chegando a passos largos para alçar o Brasil a um patamar de nação grande.  
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens 

sábado, 15 de setembro de 2012

O Brasil do Presente

Sou dos tempos em que as correntes migratórias internas eram intensas e motivo de muitas preocupações para governantes locais. São famosas as histórias de retirantes da seca nordestina. Músicas, filmes, encenações teatrais, pinturas, como a Portinari, a seguir, promessas políticas e tudo quanto se possa imaginar tinham nessas migrações excelente fonte de inspiração.
Eu era um pirralha e me apavorava quando meus avós, tios e tias comentava sobre a invasão de retirantes a centros urbanos interioranos, saqueando em feiras populares e casas comerciais, à cata de comida para sobreviver. Eu só imaginava que um enxame de retirantes poderia, de repente, invadir as casas comerciais e residenciais do meu avô, em Fazenda Nova, para saciar a fome. Em 1877 – peraí, eu não sou desse tempo! – a situação foi das mais cruéis e dizimou cidades e vilas nordestinas. O Ceará perdeu metade da sua população. A fome foi geral. Até hoje, quando um sujeito esfomeado avança num prato de comida se diz que está com a fome do 77. Aquele episódio ficou gravado na memória do povo da região como a mais desastrosa. Foi nessa ocasião que D. Pedro II resolveu vir pessoalmente inspecionar a situação. Dizem que ele, penalizado, derramou copiosas lágrimas reais, prometeu vender as jóias da Coroa e atribui-se a Sua Majestade o inicio da chamada, hoje, de política da Solução Hidráulica.  A primeira obra foi o Açude do Cedro, no Ceará. (Foto a seguir). O açude está lá e as jóias no Museu de Petrópolis. Esta história fez parte do meu dia-a-dia, enquanto técnico da SUDENE, durante muito tempo.
Mas, historia à parte, o que se sabe é que levas e levas de nordestinos tomaram o rumo do Sul, à busca de uma solução de sobrevivência. São Paulo foi o destino preferido e durante muito tempo foi considerada a “maior cidade nordestina do país” em face da enorme população de oriundos dos estados do Nordeste. Um dos mais proeminentes representantes dessa corrente migratória é o ex-Presidente Lula. Saiu das brenhas com terra esturricada, prá lá de Garanhuns (PE) e foi bater na periferia paulistana. Fora ele, sabe-se que existem muitos outros bem sucedidos, que se misturaram com outros imigrantes, entre os quais, os italianos, poloneses, alemãs, japoneses, chineses e coreanos que formam a Babel paulistana. Mais recentemente, com o atual sucesso econômico brasileiro, vieram também bolivianos, paraguaios, peruanos, uruguaios e argentinos. São Paulo é uma cidade cosmopolita, vibrante e desenvolvida por conta dessa mistura racial e natural diversidade cultural.
Ocorre, porém, que as coisas tendem a mudar de figura. O desenvolvimento econômico, que me referi acima vem revelando novos pólos de desenvolvimento e melhores condições de vida em muitos outros pontos do país. O Nordeste, por exemplo, é a “bola da vez”, o que já era tempo... O Censo de 2010, cujos resultados foram divulgados, pelo IBGE, recentemente, aponta para situações, de certo modo, inesperadas. Uma das mais interessantes constatações: a movimentação dos brasileiros entre estados constatou que os nordestinos estão voltando aos seus estados de origem, onde identificam oportunidades de viver dignamente e mais resistente aos riscos do passado. A seca já é mais bem administrada, embora continue sendo uma realidade. Os cearenses foram os que mais regressaram. 46,6% dos chegaram para se fixar naquele estado eram de imigrantes retornados. Considerando o Nordeste, como um todo, o Censo detectou que 40% dos que chegaram à região eram de retornados.
Se, por um lado, os nordestinos estão voltando às origens, muitos são os estrangeiros que baixam no Brasil, principalmente em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo o IBGE, em 2000, os imigrantes estrangeiros eram, aproximadamente, 150,0 mil. Já em 2010, isto é, uma década depois, o número subiu para quase 270,0 mil. Para um país que tenta controlar a entrada de mão-de-obra estrangeira, é muita coisa. Afinal, são postos que poderiam ser ocupados por brasileiros. Boa parte desses imigrantes são “retirantes”, também, das misérias e pobrezas que viviam nos seus países de origem. São Paulo está cheia de bolivianos e paraguaios, por exemplo, trabalhando, até mesmo, em regime de semi-escravidão, situação denunciada com freqüência pela TV brasileira. Chegam ao Brasil famintos e certos que aportaram no El Dourado dos seus sonhos. (Foto abaixo).

Por fim, descobri outro dado interessantíssimo: 174,5 mil brasileiros que, em 2005, moravam no exterior resolveram voltar a viver no Brasil. O IBGE chama essa turma de imigrante internacional de retorno. É um Brasil Novo, bombando e revertendo a corrente de brazucas que, há bem pouco tempo, só pensava em deixar o Brasil e conquistar uma vida boa no estrangeiro. Essa gente volta de países como os Estados Unidos, Japão, Portugal, Espanha, Paraguai e Bolívia. É um sinal concreto de que a crise, lá fora, é sem precedentes. E que o Brasil está mesmo bombando! Será que estou otimista demais? É Brasil do presente.
Fonte dos Dados: IBGE
Nota: Fotos do Google Imagens

domingo, 9 de setembro de 2012

Ainda resta Esperança

Eu cresci e me formei ouvindo dos mais velhos que todo governo era formado de ladrões e corruptos. Meu pai, principalmente, vivia esbravejando e reclamando da bandalheira que imperava nas esferas governamentais, de todos os níveis. Aquilo era para mim uma cantilena. Assisti inúmeras crises políticas e econômicas neste país e a cantiga era a mesma: é tudo “farinha do mesmo saco” e da mesma qualidade, isto é, ruim. Saia governo, entrava outro e a esperança de lisura e honestidade parecia ser sempre a coisa mais remota para todos, no meu circulo familiar. Aos poucos fui entendendo e absorvendo a idéia. Meu velho se encantou pelo passe mágico da morte, no primeiro dia do Plano Cruzado de Sarney, em 1986. Lembro que o primeiro cheque que emiti, na nova moeda foi, justamente, para pagar o féretro dele. Pai morto e enterrado, permaneceu na minha mente a imagem e lembrança de um homem que não se cansava de criticar os governos e as roubalheiras republicanas. Houve época que aquilo me irritava muito e eu atribuía aquela manifestação, à enfermidade e arteriosclerose do velho. “Não tem um que preste. É tudo ladrão. Tenho pena de vocês que vão comandar a nação do futuro. Do jeito que a coisa vai não sobrará nada... Também, num país que não tem justiça para colocar todos eles na cadeia, só pode dar nisso.” Eram palavras repetidas por ele, pronunciadas com certa gagueira, muito comum quando ficava estressado. Vendo as ocorrências após sua morte, terminei por admitir, talvez tardiamente, e achar que o velho tinha toda razão. Lembro que ele não alcançou o caso Fernando Collor, com PC Farias e, mais recentemente, das roubalheiras do Governo Lula e seus mensaleiros, entre outros tão sérios quanto.
Tenho prá mim que ele teria vibrado com o despejo que foi dado a Collor, taxado de ladrão. Igualmente, entraria em êxtase com o atual julgamento e devidas condenações no Supremo Tribunal de Justiça da cambada de ladrões dos cofres públicos, sob a égide de Lula-laaaaaaaá.
Na verdade, não sei se por ele ou por mim mesmo, chego às raias da emoção vendo o desenrolar desse processo. É, de fato, algo sem precedentes no Brasil e quiçá na America Latina, região onde muito desses processos devem ser levados a efeito. Do México à Terra do Fogo, o que mais rola é corrupção. Pobre America Latina.
Pegar a revista Veja, da semana passada, e ver a sugestiva capa com duas mãos segurando uma grade de penitenciária, na posição de "por trás", e a legenda de “Até que Enfim” me sugere um momento histórico nesta nação. Sinto firmeza e a certeza de que o Supremo Tribunal Federal vai mandar, para as jaulas de criminosos, uma penca de ladrões engravatados, numa ação inédita na Terra Brasilis. Acompanhar, pela TV, o julgamento dessa tropa é algo semelhante a um bom filme de Hollywood. Daqueles de julgamentos nas courthouses americanas, tudo com muita pompa e circunstâncias. Gosto que me enrosco das escaramuças travadas entre alguns Ministros, porque dão um toque especial de suspense e leva o espectador ao auge do interesse e emoção. Dá prazer assistir as tiradas inteligentes do Ministro Joaquim Barbosa, (Foto a seguir) corajoso relator do processo. Aliás, é bom de registrar que ali está um digno preto que enche de orgulho a raça negra desta Nação. É um nome que, certamente, a história vai guardar. Ele vem condenando os corruptos sem pena e sem dó. Sujeito corajoso e que rompe com vontade e fervor a cultura maligna dos assaltos ao erário publico. Taí, daria um grande Presidente da República. Lancei a candidatura. Pronto!
O mesmo não pode ser dito dos Ministros Lewandowski ou Toffoli, que – foi, não foi – tentam colocar “panos mornos” para livrar as caras de alguns dos acusados, o que termina por manchar seus próprios nomes. Em tempos de comunicação instantânea, chega a ser desconcertante e lamentável ver as comparações que são feitas entre estes e o brilhante Joaquim Barbosa. Para mim, eles estão sendo alvo de verdadeiras condenações publicas, pela exposição negativa, sobretudo o jovem Dias Toffoli, refém do esquema lulopetista. Pensando bem e rigorosamente, é coisa que mancha, também, o próprio Supremo Tribunal, preocupado, acredito, em capitalizar a oportunidade de ouro que está tendo para impor respeito e se consolidar como sendo a mais suprema e confiável instituição nacional. Até porque, dúvidas não faltaram de Norte a Sul e de Leste a Oeste, no período pré-julgamento. Por tudo isto, paira no ar uma fresca sensação de que ainda resta uma esperança para que o Brasil se revele como sendo um país sério e democraticamente justo. O STJ está passando a limpo o “gigante pela própria natureza e impávido colosso”.
Tomara que esta onda saneadora pegue e garanta um futuro seguro às novas gerações brasileiras e que meu velho descanse em paz, vendo, de onde estiver na eternidade, raiar um tempo de retidão e ordem, para que haja progresso.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens

domingo, 2 de setembro de 2012

Dores da Colômbia

A Colômbia é um país muito especial. Já estive por lá três vezes. Aconselho conhecê-lo, sem se deixar influenciar pela propaganda negativa que se faz, devido à insegurança, ao narcotráfico e às barbaridades das FARC – Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia. Minha ultima visita foi em 2010, quando confesso encontrei um país mais tranqüilo, relativamente pacificado, embora saibamos que essa é uma questão ainda por exigir definitiva solução. Esta semana fiquei contente ao ouvir o noticiário de que o Presidente Juan Manoel Santos está negociando, mais uma vez, a paz com os militantes da guerrilha, que atualmente já se revela mais fraca e reduzida, após baixas de seus mais importantes chefes, em combates sangrentos, nos últimos anos.
Bogotá, a capital do país, é uma cidade surpreendente e muito agradável. Moderna, movimentada e repleta de atrativos turísticos, com um centro histórico notável, onde se encontram duas jóias preciosas da América Pré-Colombina e do período sob domínio espanhol: o Museu do Ouro e o Nacional da Colômbia. Além da capital, três outras cidades se destacam: Medellín, Barranquilla e Cartagena de las Índias que, igualmente, surpreendem o visitante. Sobretudo esta última, pela beleza colonial recheada de muita história.
Mas não é sobre isto que, especificamente, pretendo falar hoje, porque meu tema esta semana é sobre Botero e sua exposição Dores da Colômbia, atualmente em temporada no Brasil, com uma parada no Instituto Ricardo Brennand, até o próximo dia 9 de setembro, aqui no Recife.
Fernando Botero, magnífico pintor e escultor colombiano – seguramente a maior expressão do gênero, daquele país andino – é um artista contemporâneo, vive na Europa a mais de quarenta anos, onde estudou e desenvolveu sua arte. Completou 80 anos de idade, em 19 de abril passado.
A exemplo da Goya e Picasso, Botero teve a idéia de retratar na sua arte os horrores da guerra civil do seu país, com seu estilo bem peculiar que são as imagens rotundas, hoje, consagradas no mundo inteiro. Na serie Dores da Colômbia, o pintor revela seu repúdio ao estado beligerante que vive seu país, diferente da sua habitual trajetória de levar às telas e formas esculturais, imagens alegres e folclóricas da sua terra natal. Visitar o Museu Botero, anexo ao Museu Nacional, em Bogotá, é uma festa para os olhos de quem admira a arte da pintura e escultura. Clique em http://gbrazileiro.blogspot.com.br/2010/03/imagens-colombianas-ainda.html  e veja minhas impressões quando da minha visita em março de 2010.

A mostra é impactante, sobretudo pela rudeza das imagens, suas cores e traços. Para um observador desavisado pode ser chocante. Contudo, é de se admirar o engajamento do pintor na causa de combate à 
violência e a estratégia de desumanidade das tais forças guerrilheiras que, sob um manto de libertadoras, vem impondo ao país uma página sombria e sangrenta. O povo colombiano não merece viver esta situação, que perdura por aproximadamente 40 anos, prejudicando seu desenvolvimento econômico, social e político.
Durante esse tempo já visitei o pais por três vezes, como já falei, e recordo que em 1972, na minha viagem ao país, quando além de Bogotá, percorri outras regiões, numa verdadeira aventura, incluindo uma no meio da selva para visitar a Reserva Histórica de San Agustín, ruínas de cidade dos primitivos habitantes, os Muiscas, da nação dos Chibchas, nos altos dos Andes, e pré-Amazônia colombiana. Em meio da trajetória fomos parados por grupos armados – não sabíamos sequer se força armada do governo constituído ou da guerrilha em franca organização – que nos revistaram e investigaram nossas intenções. Como estrangeiro fui bem tratado, apesar de me apalparem da cabeça aos pés, em busca de alguma arma. Livrar-nos deles foi um alivio, ao mesmo tempo em que restava uma interrogação pelo que podia acontecer mais adiante. Com coragem de jovem destemido, à época, seguimos adiante e alcançamos nosso destino. Eu estava acompanhado por amigos colombianos. Hoje, eu não teria aquela bravura. Mas os quadros de Botero, no Instituto Ricardo Brennand, me relembraram aquela aventura. Cheguei aos arrepios, pensando no insucesso que poderia ter ocorrido nessa viagem, no já distante 1972.
Botero fez questão de afirmar que não quis ganhar dinheiro com a coleção das Dores. Ao contrário, quis deixar registrado, na sua forma de se expressar, sua revolta e repúdio ao sofrimento da sua nação. A obra foi doada, por completo, ao Museu Nacional da Colômbia, que em boa hora permite mostras no Brasil e outros países. Vale à pena conferir.
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.
SERVIÇO: A mostra Dores da Colômbia fica em cartaz no Instituto Ricardo Brennand até 9 de setembro. Não perca. Já passou por Porto Alegre, São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Salvador.     

sábado, 25 de agosto de 2012

Jessé, um pintor pernambucano

Vida de artista nem sempre é fácil. A história relata cenas tristes sobre a vida de muitos pintores, atores, compositores e cantores. Van Gogh e Mozart, por exemplo, tiveram momentos bem difíceis. Praticamente morreram em clima de frustração e loucura. Só foram aclamados e reconhecidos quando já haviam partido para eternidade.
Há pouco tempo tomei conhecimento da morte de um popular pintor pernambucano, quase sempre levado ao ridículo e depreciado pela maioria daqueles que, no fundo, no fundo, desejavam adquirir uma das suas pinturas. Jessé era seu nome. Foto a seguir.
Acompanhei por longo tempo sua trajetória como pintor e como ser humano. Dei muitos conselhos, promovi a sua arte em várias oportunidades e, sem muito sucesso, defendia-o da exploração a qual era submetido. Olhava-o, mesmo, com certa piedade e lembrava-me de nomes que a história guarda, sem que eles tivessem tido a satisfação de colher os frutos do próprio talento.
O pintor Jessé foi uma figura quase que folclórica. Tanto fazia chegar malvestido, quase maltrapilho, ou aparecer embalado num terno completo, incluindo colete e gravata. Era, como se dizia antigamente, de veneta. No dia a dia, finalizava um quadro qualquer e corria para rua buscando um comprador. Geralmente vendia por preço bem abaixo do pedido inicial. Apurava um dinheirinho e logo, a seguir, escorria um conhaque goela-abaixo para comemorar e saia ao comercio, para comprar nova tela e mais tintas para recomeçar sua labuta. Como muitos e por várias vezes, levei para casa uma obra com tinta ainda fresca, com todo cuidado de não borrar. Ele tinha pressa e parecia sempre estar vendendo seu ultimo quadro.
Não sei quem comprou seu último quadro. Mas, sei que comprei várias obras das suas poucas fases. Antes de se tornar o pintor das mulatas de olhos faiscantes, Jessé passou pela fase dos casarios – ingênuo/primitivista total – pela fase dos florais, lembrando a arte de Francisco Brennand e, por fim, a fase que o acompanhou até a morte, a das mulatas. Adquiri quadros de todas essas fases. Tenho comigo o primeiro quadro das mulatas, que acho uma beleza. Datado de 1972, lembro quando ele adentrou a minha sala de trabalho na SUDENE e quase gritando anunciou: “Novidade! Jessé agora pinta mulatas. Aqui está a primeira tela da série”. Fiquei admirado com aquela tela. Imensa, medindo 100cmx75cm  e com a tinta muito fresca, como sempre e pronta para ser vendida. “Vai comprar Dr. Girley?” Confesso que gostei do trabalho, logo de cara. Talvez pela novidade ou mesmo pelo tamanho da obra. Um trabalho vistoso. Com duas mulatas e um floral a la Brennand. (Vide foto a seguir) Nessa tela ele mescla a fase anterior com a que iniciava. A tela está pendurada na parede da minha casa. Outro dia, levei-a para uma revitalização e lá me ofereceram uma grana boa pela venda. Fiquei ressabiado e não cai na tentação. Acho que vem coisa por aí! Estou de olho.
Interessante que, no momento da compra dessa tela, negociei, tive o cuidado de não explorar a arte do ingênuo e após pagar, fiz uma observação: “Você, agora, deixa de imitar Francisco Brennand e passa a imitar Di Cavalvanti”. Um Jessé apressado, contando o dinheiro que havia apurado, me diz sem a menor dúvida: “Eu não estou imitando Di Cavalcanti, coisa nenhuma. Agora ele, sim, que copia Gaugin. É ou não é? Tchau, visse!” Fiquei pasmo com aquela saída. 
Dali em diante, o que mais vi foi telas de Jessé retratando mulatas. Esta acima (1973) é da minha coleção. Acho linda, olhar triste no infinito. 
Logo, Jessé passou a ser chamado o pintor das mulatas. Ele “aprimorou” as figuras e deu formas mais rebuscadas. Certo dia chegou contente me falando da tela que pintou para ilustrar o programa de um congresso de oftalmologia, aqui no Recife. O cliente pediu que fizesse uma tela com uma mulata bem estonteante e com os olhos bem expressivos. Fazia sentido porque o negócio era com um oftalmologista. Foi quando apareceu a primeira mulata com olhos imensos, luminosos e amarelados, azulados ou de outras nuances. Eu não gostei da novidade, mas, teve quem gostasse. Ele próprio nunca mais abandonou esse detalhe. Veja a foto a seguir.

Como sempre fui atento para seus trabalhos, terminei adquirindo alguns que marcam algumas passagens da vida do artista. Entre outros, tenho o que ele retratou um atropelamento que sofreu, em 1980, saindo com uma das pernas fraturada. Vide foto a seguir. Isto, hoje, é parte da história que se pode contar desse louco pelas tintas e pela arte de pintar.
Agora, que Jessé se encantou no infinito da eternidade, deixando seus trabalhos  espalhados por uma infinidade de residências, escritórios, repartições publicas do Recife e de muitas cidades do Brasil e algumas no exterior, começam a surgir conversas enaltecendo o artista. Entender a humanidade é coisa muito complexa. Soube, até, que algum curador ou marchand de tableaux pretende fazer uma exposição dos quadros de Jessé, num reconhecimento ao talento do louco e folclórico pintor que vendia suas obras por aviltados preços e de forma indiscriminada. Coisa típica de artista autêntico e sem interesse mercantilista. Jessé, como bom artista, tinha sede de usar os pincéis, misturar as tintas e aplicá-las numa tela. O preço, o valor, era o de menor importância. Pobre Jessé. Tomara que esteja pintando mulatas, florais e casarios no infinito paraíso.    

NOTA: As fotos são do Blogueiro, exceto a do próprio pintor que foi obtida no Google Imagens, cujo autor é Julio Leite

  
   

sábado, 18 de agosto de 2012

Corrupção versus Desenvolvimento

Eu posso estar enganado, mas, acho que o julgamento dos mensaleiros do PT, no Supremo, não vem repercutindo de forma esperada. Num país sério essa coisa seria acompanhado e comentado em toda roda de esquina, café ou bar. Besteira minha, porque num país sério uma coisa dessas nem ocorreria. Acho que no Japão, por exemplo, o cara que fosse acusado de um ato de corrupção dessa natureza ficaria tão marcado que a única saída seria o suicídio. Praticaria um harakiri, que vem a ser a forma mais digna de um japa limpar sua honra. Rasgar o estomago com dois punhais e sangrar até a morte.
Esta semana, tentei puxar uma conversa sobre o julgamento que se desenrola em  Brasília e, para minha surpresa, meus companheiros de papo mudaram de assunto, imediatamente, para discutir o futebol e a novela Gabriela – que tem o atrativo dos nus femininos audaciosos – justificando que o resultado do Supremo já se sabe, isto é, absolvição geral da quadrilha. Com o agravante de que logo, logo estarão em Brasília mandando no País. Como se dizia antigamente, fiquei golado. Decepcionado.
Sei não... ou eu sou de outro planeta e cai aqui por acaso ou o brasileiro é mesmo alienado. A impunidade que reina nesta terra Brasilis deve ser mesmo a razão dessa alienação. Muitos são os criminosos que não pagam pelos crimes cometidos, ao mesmo tempo em que muitos inocentes vão para a cadeia injustamente. Até quando essa cultura insana vai prevalecer?
O Jornal Valor Econômico promoveu recentemente um oportuno debate denominado de “O Impacto da Corrupção sobre o Desenvolvimento Econômico” no qual um dos oradores, o Professor da USP, Demétrio Magnoli, classificou a corrupção no país como sendo “estrutural e endêmica”. Concordo com ele. Na sua opinião, a coisa começa e se reproduz, ao longo dos tempos, pela distribuição de cargos de confiança nos três níveis de governo. Com base em coalizões políticas, aproximadamente 600 Mil cargos caem nas mãos de pessoas comprometidas com esquemas de corrupção projetados antes mesma da eleição ganha, durante a campanha. Somente no Governo Federal são cerca de 24 mil postos.
O processo de redemocratização, possibilitando uma oposição atuante e a ação investigativa da imprensa, trouxe melhores condições de expor à população as bandalheiras cometidas. Já conseguimos até mesmo despejar do Planalto um Presidente corrupto. Mas, ainda foi pouco, porque, para que o Brasil dos nossos sonhos se torne uma realidade é preciso que se rompa com a cultura do “jeitinho brasileiro” e que haja mais respeito à coletividade, ou seja, à Nação.
Naturalmente que o grande desafio é mudar a cultura nacional e isto só será possível a partir de uma mudança do cidadão comum. É ele que precisa mudar. Que precisa respeitar o próximo, ser educado desde a base, e se habituar a atitudes civilizadas do tipo não furar a fila, não estacionar nas calçadas ou locais proibidos, não trafegar pelo acostamento ou na contramão, não pegar os atalhos mais improváveis para escapar do engarrafamento ou avançar no sentido contrário no estacionamento do shopping só pra pegar a vaga antes do outro. Ah! não dar dinheiro para o guarda de trânsito anular a multa, entre outros absurdos.     
Se mudarmos a base cultural, teremos a chance de mudar a gestão dos governos. Um dos mais comuns atos de corrupção ocorre no domínio das compras publicas. Esta é certamente a área mais visada e atraente para o corrupto. Tem mais poder o Ministro da pasta que tem maior orçamento. Esse terá mais chance de sair mais rico. A TV e os jornais não cansam de denunciar. Mas, a turma da roubalheira não se intimida. O fornecedor corrupto e visado muda o nome da empresa, arruma um laranja, faz de tudo que é bandalheira e segue agindo relaxado e sem medo. 
Creio que o X da questão está na impunidade. Ninguém se incomoda mais com o que se rouba ou que crimes se praticam. Num Brasil grande demais, as falcatruas se diluem no dia-a-dia. Enquanto isso, se aprofundam as disparidades sociais, a pobreza e miséria de imensa parte da Nação, a insegurança, a inviabilidade econômica, tudo enfim que leva a um solene NÃO ao desenvolvimento. As coisas ainda andam porque estamos num país generoso, de solo fértil e subsolo rico. Mas, isso tudo pode ter fim. Ou se estabelece uma governança sadia e honesta ou isso aqui vai desandar completamente. Corrupção não combina com Desenvolvimento, isto é certo.            
NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens

Insegurança nossa de Cada Dia

Pobreza, fome, analfabetismo, disparidades inter-regionais de renda, saúde publica falha, politica educacional também, governos míopes e som...