O Brasil
indiscutivelmente mudou nesses últimos anos. E, vou logo avisando, não falo dos
recentes anos de governos do PT ou do PSDB. Falo dos anos que remontam até
mesmo ao período dos governos militares. Já tenho idade suficiente para fazer
esta afirmação e, além disto, trabalhei muitos anos numa agencia de
desenvolvimento regional do Nordeste brasileiro (SUDENE) cuja missão maior era justamente promover o
desenvolvimento socioeconômico da Região. Tampouco vou rememorar longos dados
historicamente deprimentes ou a evolução desses, salvo alguns poucos e de passagem, para lembrar que mortalidade infantil e geral, analfabetismo,
desemprego desmedido e êxodo para regiões mais atraentes, entre outros,
revelam, nos dias atuais, um quadro completamente diferente do que se dispunha
nos anos 60 e 70. A SUDENE cumpriu importante papel ao mudar o Nordeste, enquanto o restante do Brasil não parou de crescer e mudar.
O advento
dos programas de assistência direta das décadas recentes, hoje reunidos no
Programa do Bolsa Família, se cristalizou e o
brasileiro de agora difere, em muito, do de trinta anos passados. As denominadas Classes C e D já representam, agora, um forte contingente de
cidadãos incluídos no cenário socioeconômico da Nação e são pessoas que por ser mais
bem instruídas, gozarem de melhor saúde e saneamento, de ter um emprego e vida
melhor organizada, habilitam-se a viver intensamente o dia-a-dia nacional, produzindo,
participando politicamente e exigindo o que de direito.
Pensando
desse modo, começo a interpretar ainda melhor o que ocorreu em junho de 2013 e
fazer uma leitura mais cuidadosa daquelas reivindicações clamorosas. Não quero
recordar dos oportunistas vândalos que optaram desvirtuar a real iniciativa, saqueando e
assaltando os patrimônios públicos e privados, mas, sim dos brasileiros
honestos e bem intencionados que foram às ruas sem se preocupar com as matizes
do colorido ambiente político-partidário.
Quando o
povo organizado ganhou as avenidas das grandes cidades pedindo melhores padrões
de saúde, educação, segurança, mobilidade e serviços essenciais, no padrão
FIFA, estavam exercendo sua cidadania em toda plenitude. E, veja bem, a massa humana que foi às ruas requerendo
essas melhorias foi, sobretudo, formada pelos homens e mulheres das referidas Classes C e D. São pessoas que provaram do que antes não conheciam e que,
agora, precisam ver aperfeiçoados e ampliados. Mais do que isso! São pessoas
que já pagam impostos – diretos ou indiretos – conscientes da contribuição que
dão e sabedores de que, por principio republicano, sua contribuição deve
retornar em seu benefício.
É neste
quadro que se instala a pesada carga que paira sobre os novos governantes eleitos,
neste outubro de 2014. É nesse ponto que deve se concentrar a atenção de quem
vai empunhar a caneta de governante porque, afinal, uma mudança de governo é
sempre acompanhada de um rasgo de esperança para os que o escolheram. Para
chegar lá, forças contrárias se empenham no debulhar de promessas e supostos
compromissos diante de Sua Excelência o Eleitor. Manifestações acaloradas,
comemorações, esperanças, choros, ranger de dentes e, até tragédias, são comuns
nesses tempos ou foram concretos nesse ultimo embate eleitoral brasileiro.
Ora, quando chega
o momento da verdade, digo, de conjugar o verbo governar, nem sempre a coisa se
concretiza. Infelizmente, sejamos francos, ao que tudo leva a crer, aqui no
Brasil, é que bate uma crise de amnésia no eleito, que termina se perdendo no turbilhão de
decidir, de ostentar o poder e a vaidade do cargo, embalado por diversos salamaleques
e, quase sempre, se mete em muitas irresponsabilidades. Exemplos recentes são os
Fome Zero e PAC do Governo de D. Dilma. O primeiro ficou no papel e o segundo é um fiasco de
incompleto.
Tomara que o
novo(a) presidente do Brasil e os novos governadores estaduais, olhem, ao
menos, pelo retrovisor para junho do ano passado e tomem consciência das
responsabilidades reservadas aos chefes de Estado, para atender as exigências
de quem tem o direito de exigir: o cidadão eleitor. Recursos não lhe faltarão. Havendo vontade política, lisura, ética, menos corrupção e muita honestidade o sucesso estará garantido.