sábado, 16 de julho de 2022

Três Tropeços

O Brasil assistiu nos dias recentes três episódios degradantes que retratam, de modo cruel, uma sociedade deteriorada e, pior, com limitadas perspectivas de adequado progresso. Foram coisas que para mim representam três tropeços sociais de um país que vem deixando de dar atenção devida, ao longo de décadas, aos corretos e necessários programas de desenvolvimento social. Faltam providencias e investimentos para melhorias das áreas de educação, saúde, segurança, assistência social, cidadania, habitação, urbanismo e outros correlatos que possam garantir a existência de uma sociedade minimamente digna e justa. Crianças, jovens e idosos vêm, cada vez mais, sendo penalizados para viver. Melhor dizendo, sobreviver. O primeiro tropeço que listo é o caso da garotinha de 11 anos que grávida, após estupro, teve negado o direito de realizar o aborto, por uma incompetente magistrada de plantão. O caso teve repercussão nacional e terminou sendo revisto. O Ministério Público Federal (MPF) atuou de imediato e, com bases legais, a garota foi submetida à cirurgia de interrupção da gravidez. Hoje, ela se recupera do trauma, com apoio psicológico. Sou frontalmente contra o aborto. E já fiz recentemente matéria manifestando minha posição. Contudo, não deixo de lamentar um episódio dessa ordem e trazer à roda de discussão esse possível direito. Recuperar-se-á mesmo? Mais triste fiquei quando tomei conhecimento de que o estuprador teria sido um priminho da garota com 13 anos de idade. Mais do que isto, fiquei sabendo também que eram namoradinhos! Neste caso, o caso ganha nuances bem discutíveis: teria sido estupro mesmo? Ou foi algo consentido? Certamente que se deram ao prazer de se conhecer melhor! Simples e possível nestes tempos de agora. Naturalmente que se trata de duas crianças pouco orientadas ou acompanhadas pelos cuidados dos pais ou responsáveis. Examinando arquivos sobre o caso, na Internet, deparei-me com uma infinita lista de casos semelhantes. Cheguei à conclusão (parece que tardiamente) ser muito mais comum do que se imagina estes episódios, entre crianças e membros familiares resultando em casos de gravidez indesejada. Curioso que, entre muitos casos, me impressiona o recente da garota recifense, também de 11 anos, que procurou um hospital público, grávida de oito meses, para fazer um pré-natal. Ficou grávida de um irmão de 29 anos! E, neste caso, a gravidez é de alto risco e não pode ser interrompida devido ao estágio avançado da gestação. Um irmão e de 29 anos! Esse animal, para mim, só tem de gente os olhos. Um sujeito com essa idade, agredir uma irmãzinha de 11 anos e engravidá-la é definitivamente ignóbil. Por oportuno registro que, apesar de haver no Brasil uma legislação protetora, inserida no Código Penal (Lei 12.015/2009), para amparar as vitimas de abusos sexuais, grande parte destas resistem em denunciar os agressores, por motivos dos mais diversos, tais como medo, vergonha, pressão social, burocracia, “respeito” ao membro da família ou simples ignorância. É nessa hora que se percebe a falta de uma bem montada estrutura institucional social e uma justiça mais enérgica e punitiva exemplarmente.
Abusar sexualmente de vulneráveis parece ser tolice diante da mente doentia do médico anestesista estuprador, Giovanni Quintela Bezerra, no município de São João do Meriti, estado do Rio de Janeiro. Eis aí outro tropeço social inqualificável e revoltante. É inacreditável que um profissional de saúde, desse nível nobre e superior, tenha a coragem de estuprar uma paciente anestesiada e em plena mesa de cirurgia, inserindo seu órgão genital na boca da desacordada paciente dando vazão à sua fúria animal. Asqueroso, criminoso e bandido podem ser qualificativos ainda leves para classificar um indivíduo dessa índole. Presume-se que o criminoso usava de medicamento excessivo e desnecessário para atuar de modo “tranquilo e relaxante”. A Polícia já identifica pelo menos 30 mulheres como vitimas. Preso e incomunicável o “médico” está sujeito a severas penas e obviamente cassação dos direitos profissionais. Qualquer pena estipulada ainda será pouco. O terceiro tropeço que reporto é aquele ocorrido em Foz do Iguaçu (oeste do estado do Paraná), onde, dois antidemocráticos militantes da atual campanha polarizada à presidência da Republica, travaram um duelo exacerbado, resultando na morte de um e outro ferido gravemente. O bolsonarista tresloucado provocou e o lulista reagiu, terminando por dar uma amostra da imaturidade politica que se reproduz neste país dividido politicamente. Assusta, naturalmente, porque a campanha de fato não foi deflagrada. Medidas mais severas devem ser tomadas pelas autoridades competentes para evitar outros derramamentos de sangue. Lamentavelmente, é numa dessas horas que se percebe quão verde é a democracia do país. Teremos muito que trilhar para alcançar a maturidade. Tomara que, de tropeço em tropeço, sejamos um dia o tal país do futuro conforme prometido pelos nossos ancestrais. NOTA: Foto obtida no Google Imagens

8 comentários:

Antônio Carlos Neves disse...

É realmente muito triste fatos como esse acontecendo no Brasil

Antonia Corinta de Luciana Ribeiro disse...

Girley, você conseguiu nesse lindo texto, mostrar o despreparo de nosso povo, em todos os campos sociais.
Não existe uma orientação de adolescentes, afim de que estejam aptos para enfrentar a vida sexual, de uma forma correta. Quem sabe está garota de 11 anos, se tivesse tido uma melhor explicação de sua mãe ou professora não tivesse engravidado, usando em sua prática sexual um preventivo. Não creio muito que tenha sido um estupro, e sim, um ato de amor concedido. Os pais, poderiam ter deixado que a criança nascesse e não abordasse, pois, nesse caso, a meu ver houve culpa dos pais, pelo fato de não explicarem a filha que o ato sexual quando praticado, sem os devidos cuidados, resultam em gravidez.
Quanto ao caso político, está bem claro que o bolsonarista, praticou o crime consciente, uma vez que foi em casa e, naturalmente, apanhou uma arma, para dar fim ao cidadão do partido dos trabalhadores. Ele foi a uma festa, de alguém de outro partido, usando palavras ofensivas. A meu ver, completamente, despreparado como partidário político.
Tenho 95 anos e não tolero assistir esses noticiários políticos e policiais.

Édson Junqueira disse...

Girley . Seu texto relata a realidade sem Deus que estamos vivendo .
Concordo que falta educação adequada , mas onde não tem educação precisa ter Lei Dura e aplicável .
Única certeza que tenho e que os presidiários darão a estes ignóbeis seres um corretivo duro e triste .
Única realidade que ainda faz psicopatas tremerem. Abraços.

José Mário Galvão disse...

Pavorosos os três casos, primo.
Porém, para os três parece estar faltando o mesmo remédio que a nossa geração na maioria, tem-se esquecido de dar aos filhos; LIMITES. Basta pensar da nossa infância, adolescência e juventude. Nada preciso dizer a você, pois convivemos naquela época, embora não por muito tempo e cada um de nós tivemos oportunidade para observarmos que tipo de limites eram impostos em cada um de nós.

José Paulo Cavalcanti disse...

Mais uma bela reflexão, mestre Girley.

Antônia Corinta de Lucena Ribeiro disse...

Quanto ao ato de indecência e desrespeito cometido por esse mau caráter que se diz médico, praticou, em minha opinião não existe perdão. Nessa atitude ele tem menos valor que qualquer animal. Jamais poderia pessoas com atitudes equivalentes, exercer a profissão digna de um médico. Ele é um lixo e nao deve ficar numa lixeira comum, onde poderia contaminar o lixo reaproveitável . Que sofrimento os pais devem ter sentido, ao tomar conhecimento da atitude de desrespeito' exercida por seu filho! É por demais nojento e indigno de ter recebido esse diploma. Deveria ser condenado a prisão perpétua, que, infelizmente, não existe em nosso código penal.

Ana Maria Mirsnda disse...

Olá cunhado , o médico não é tropeço é um monstro .

Restony de Alencar disse...

Mestre, lúcido e transparente mas quando se rasga o tecido familiar, seja qual for o conceito plural de família atual, advém liberalismos sem limites, modernidades ou modismos comportamentais de ocasião, quiçá de conotação subliminar, corroendo princípios básicos de respeito a vida, sociabilidade, ética. Estamos numa fronteira estranha da nossa sociedade e nem sei onde se perdeu o fio da meada....

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