domingo, 11 de dezembro de 2022

O Sonho Acabou

O que mais tenho ouvido e visto as redes sociais, nesses dias de ressaca da derrota do futebol brasileira, pela seleção da Croácia, na Copa do Catar/2022 é que “o sonho acabou”. Sonho da conquista do hexacampeonato mundial. Acho, inclusive, curioso como a coisa toma corpo e contagia negativamente a população, sobretudo a nova geração. Vi jovens garotos chorando revoltados, após as cobranças dos pênaltis fatais. Aliás, o mundo assistiu aos próprios jogadores canarinhos vertendo copiosas lágrimas ainda em campo. (Foto a seguir) Chega a ser inacreditável. Não entender que no esporte um dia se ganha e noutro se perde, parece ser coisa impossível para um brasileiro. Faz parte do jogo, meu Deus. Alguém tem que perder, para que outro ganhe.
“Ah! Mas perder em cobranças de pênaltis” é uma vergonha, ouvi de alguns após o jogo com a Croácia. São pessoas que esquecem que já fomos campeões depois de uma rodada nervosa de cobranças de penalidades máximas, em 17/07/1994. Depois de empate em zero a zero, no tempo normal e na prorrogação, com a Itália, o Brasil venceu por 3 x 2 e foi Tetracampeão Mundial. Foi um feito histórico no domínio do futebol. A equipe era fantástica sob o comando de Carlos Alberto Parreiras. Os meninos jogaram com corpo e alma. Dessa vez recente não deu. O sonho acabou ali mesmo na monumental cancha do Catar. Parecia mentira, como pareceu mentira o episódio dos 7 x 1 impostos, dentro de casa, pela seleção alemã, em 2014. Bom... o episódio recente se projetou quando, com a vitória faturada na prorrogação com um belo gol de Neymar, a moçada relaxou e deixou a Croácia empatar. Foi ali, que “a casa caiu”. Faltava pouco tempo e as cobranças de pênaltis era iminente. O resultado foi cruel, para quem esperava a grande vitória. Toró de lágrimas de norte a sul e de leste a oeste, em Pindorama. Reconheçamos que é impressionante como a cultura legada pelas gerações passadas criou essa reação, natural para muitos, mas que, no final das contas, enraizou-se no meio social criando uma espécie de síndrome da revolta coletiva do derrotado. Uma revolta que se expressa das mais diversas formas porque, uma coisa é certa, criticar e buscar os culpados é coisa rápida e simples. Fácil, fácil... e, no Brasil, ser oposição é até um bom passa-tempo. Foi o jogador tal, ou foi o treinador? Quem errou e onde errou? As criticas e os memes nas redes sociais não param de crescer e se multiplicar. O jogador Neymar Jr. e o treinador Tite estão sendo crucificados a toda hora. São criticas bem fundadas? Vale à pena avaliar. O brasileiro precisa aprender que em futebol, ou noutro esporte qualquer, saber disputar e ter competência é coisa fundamental. “Foi pra chuva, tem que se molhar”. Viver dos louros do passado pode ser inútil. Cada jogo é um jogo. E cada Copa do Mundo é uma nova oportunidade de provar a competência. Um coisa, porém, tem que ser ressaltada: vai ser cada vez mais difícil formar uma seleção brasileira como as do passado. Vamos e venhamos, há uma diferença brutal entre nossos jogadores de hoje quando comparados com os nossos craques dos anos 60, 70, 80 e 90. O que vemos atualmente são figuras vaidosas, bilionárias e repletas de interesses pessoais, incapazes de se integrar, de corpo e alma – como exige o futebol – numa equipe formada às pressas e de última hora sem os devidos treinos. O resultado é que sem espirito de equipe e dependente de um figurão, Neymar neste caso, ao qual se atribui a responsabilidade maior, a situação se complica e dá no que dá. Futebol é esporte de equipe! Como recordar é viver vale lembrar que felizes fomos como campeões, cinco vezes, graças às valorosas pernas de jovens talentos, alheios aos salários milionários que hoje são pagos e habituados a formar equipes maduras e responsáveis. Nenhum ostentava joias caras, penteados e tatuagens de gostos duvidosos, carros possantes e caros, mansões fabulosas, mulheres exuberantes, aviões particulares e nem exigiam mordomias extravagantes dos patrocinadores. Claro que existe exceções da parte de alguns, mas isto não justifica o exibicionismo aviltante de alguns. Vergonhoso. Esses dias de ressaca uma foto, exibida nas redes sociais, é emblemática (vide a seguir) que mostra a simplicidade de uma velha equipe campeã se preparando para uma Copa. Jamais, esses rapazes de hoje, se sujeitariam a isso.
Aí pergunto: como ser campeão com uma formação tão viciada em mordomias extravagantes e vaidades absurdas? Como ser campeão contando com jogadores que sequer vivem no Brasil e que pouco apego manifestam ter pela camisa verde-amarela? Está difícil. Não tem sonho que se realize. Pensando bem, não adianta sonhar. Nota: Fotos obtidas no Google Imagens e na rede social.

7 comentários:

Geraldo Magela Pessoa disse...

Belíssima análise, pertinente e profunda. Uma viagem pelo passado, culminando com a foto dos meninos de 1958 . Época em que folclore do futebol, dizia que técnico gordinho cochilava durante os jogos e DIDI o popular (folha seca) foi o responsável pela escalação de Pele e Garricha, tirando Dida e Joel do time . Nesta época o técnico era um ser humano normal. Não semi Deus . Mas esperança do HEXA continua.

George Araujo disse...

O que agora deve ser a nossa preocupação MAIOR é com o sonho da nossa LIBERDADE, pois, querem nos tirar esse direito.
Caríssimo GIRLEY sugiro que com a vossa habilidade também desenvolva uma matéria sobre esse tema, pois, o sonho de uma copa pode se renovar a cada 4 anos, enquanto que a perda de nossas LIBERDADES pode ser, para nós, definitivo.
Nem por isso deixo de reconhecer, como de costume, a preciosidade deste Blog.

Gerardo Velis disse...

Éxitos,mi amigo Girley

Adierson Azevedo disse...

Mal chegara a Madri, uma das etapas de uma excursão do Botafogo, Garrincha sumiu e o treinador Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, foi as casas de “tolerância” da cidade procurá-lo. De taxi percorria as barulhentas ruas cheias de mulheres se oferecendo e avistando Garrincha mandou parar. Já ia descendo quando Mané, que também o vira, gritou alegremente: “Aí, hein, seu Zezé. O senhor também aqui na zona!”. Vermelhíssimo, Zezé sumiu no mesmo taxi.

(Fonte: Essa história está no livro História do Futebol, de Sandro Moreyra, da Coleção O Dia.)

Romero Marques disse...

É o sonho acabou, belíssima reportagem sua sobre a seleção brasileira parabéns amigo, humildade e simplicidade.

Sarto Carvalho disse...

Excelente.

Jorge Fernando de Santana disse...

Amigo Girley. O Brasil acostumou-se a ganhar de véspera. Porque não há time superior ao nosso. Este ano mesmo, vários comentaristas consideravam favas contadas a vitória sobre Camarões, com o time reserva do pentacampeão!Deu no que deu.
Parece que ninguém aprendeu a conhecida "lição de Garrincha": vencer de véspera somente combinando de véspera com o adversário... No mais, jogo de futebol só termina quando termina.
De outro lado, os analistas desconsideram a evidência do crescimento técnico e tático, individual e coletivo do futebol, além das fronteiras do nosso País. Não somos, hoje, os únicos bons de bola. Aliás, nunca fomos. Que pena nos deixarmos teimosamente convencer do contrário.
Ademais, uma coisa é certa: nesse esporte, é frequente o vencedor não ser o melhor time, mas aquele que melhor aproveita as oportunidades surgidas no jogo... não raro, uma única...

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