terça-feira, 22 de novembro de 2022

Garantia de Qualidade

Quem me conhece mais de próximo deve observar minha paixão por vinhos. É minha bebida predileta. Sobre vinhos embarco num bom sabor, numa aroma embriagante e numa história contagiante. Toda bebida tem, por trás do prazer de degustá-la, uma descrição da sua origem e a maneira como se produz. Com o vinho, além de ser rica no seu gênesis, envolve episódios sempre empolgantes e, algumas vezes, palpitantes. Já li muita coisa sobre o tema e já fiz questão de ir conferir in loco vários desses contos. Lembro-me de belas visitas a vinícolas na Europa, Chile, Argentina, Austrália, sul do Brasil e África do Sul todas com histórias formidáveis a serem lembradas. Contudo, nada me rendeu tanto prazer e acentuada dose de orgulho nas oportunidades em que visitei – nas condições de executivo de Governo ou turista – as vinícolas do Vale do São Francisco, entre os estados de Pernambuco e Bahia. Desconfiado a principio, acostumei-me ver brotando do solo árido da Caatinga nordestina as mais seletas das uvas, muitas das quais transformadas em vinhos finos, vinhos espumantes e sucos naturais de uva. Tenho, portanto, especiais motivos para falar sobre isto, neste post de hoje. O Polo Vitivinícola do Vale do São Francisco - muitas vezes lembrada como sendo a California Brasileira - que reúne uma quase dezena de vinícolas daquela região ocupa uma área de mais de 10 mil hectares localizados nos municípios pernambucanos de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista e dos baianos Casa Nova e Curaçá. Dali, fantástico registrar, sai 99% da uva de mesa exportada pelo Brasil. Outro detalhe que sempre me apraz mencionar é o fato de que o polo de produção se destaca por ser o único do mundo que consegue colher duas safras por ano. Ocasionalmente pode ocorrer até duas e meia. A história conta que tudo começou por volta dos anos 60 quando, numa decidida vontade governamental, fortes investimentos promoveram a implantação de perímetros de irrigação aproveitando as águas do rio. Dali para frente, e o que hoje se desfruta, foi uma sequência ininterrupta de passos â direção do progresso. O vinho despontou logo cedo com as uvas plantadas nas terras da Fazenda Milano e sua Vinícola Vale do São Francisco, produtora da consagrada marca Boticelli. A partir daquele ponto, a produção de vinhos se espalhou pela região sempre de modo animador. O carro-chefe da produção são os espumantes (3 milhões de litros/ano), seguidos dos chamados vinhos tranquilos (1,5 milhão de litros/ano) que podem ser consumidos a qualquer tempo e devido às características de vinhos jovens, aromáticos, frutados e com gosto do sol do nordeste. Meu entusiasmo hoje se dá em decorrência de uma histórica etapa vencida pelos produtores dessa região vitivinícola que foi a recente conquista da primeira Indicação Geográfica de Vinhos Tropicais do Planeta. Concedido pelo Instituto da Propriedade Industrial (INPI), em 1º de Novembro recente, é motivo de imenso orgulho não somente para o Vale, mas também para o Brasil por se tratar da primeira região tropical do mundo a receber tal indicação. Foi um processo demandado, a cerca de 20 anos, pelo Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), instituição privada, sem fins lucrativos que reúne produtores viticultores e vitivinícolas da região. Os referenciais que deram suporte à concessão são equivalentes aos adotados pela União Europeia, o que confere padrão de segurança e qualidade na produção regional. A previsão é que os primeiros vinhos com a Indicação de Procedência (IP) estarão no mercado a partir de 2023, depois de passarem pelas análises exigidas e pelas sessões de avaliação sensorial às cegas, etapas fundamentais para que o vinho possa receber o selo.Garantia de Qualidade, portanto. (Vide imagem do selo lá em baixo) Vamos ficar de olho nas marcas: Bianchetti, VSB, Miolo/Terranova, Garziera, Boticelli, Cereus Mandacaru, São Braz e Rio Sol.
A proposito do assunto, conversei com o empresário José Gualberto de Freitas Almeida (Boticelli), Presidente da Vinhovasf e da Valexport que manifestou seu júbilo e destacou que “este é um momento histórico e muito esperado pelos vitivinicultores da região, em especial aqueles estabelecidos no Vale do Submédio São Francisco.” Lembrou, também, que organismos como a EMBRAPA, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) desenvolveram papeis relevantes no processo de conquista do IP em questão.
A feliz conquista dessa IP de agora aponta para um novo tempo de progresso para o Vale Vitivinícola do São Francisco, bem como poderá exercer forte atração a novos investidores nacionais e estrangeiros. Bons tempos estão por vir. Brindemos com um espumante nordestino! NOTAS: Fotos obtidas no Blog de Ana Claudia Thorpe e no Google Imagens. A imagem do selo foi antecipada pela Vinhovasf.

10 comentários:

José Carlos Lucena disse...

Tenho provado espumantes.
São ótimos.
Abraço meu primo querido

Toinha Lucena disse...

Gosto de tomar um bom vinho. Através de um amigo americano Lance, já havia tomado conhecimento da excelência dos vinhos produzidos na região do São Francisco, porém, nunca experimentei. É sempre importante que alguém fale dos nossos produtos. Parabéns a você.

darlan disse...

Excelente texto, Girley. Destacou com brilho a riqueza e potencial do semiárido nordestino.

Adolfo Ledebour Filho disse...

Excelente Girley! Nosso País ainda e um iniciante no consumo de vinhos , está indicação geográfica para a Região , a primeira para uma Região Tropical certamente trará novos consumidores para este agregador de bons costumes , boa mesa , boas conversas , bons amigos que o Vinho e o Mundo do vinho sempre proporcionam! 🍷

Édson Junqueira disse...

Girley não conhecia este seu lado . Muita cultura . Parabéns

Geraldo Magela Pessoa disse...

Mesmo sem ser um conhecedor temos degustado ótimos Califórnianos aqui na América , enquanto aí não dispensamos alguns da Rio Sol , o Carmener chileno e o Malbec argentino. Aqui também já degustamos ambos. Ainda não encontrei do São Francisco, mas grande variedade de vinhos gaúchos sendo os mais populares no super mercado o Brasileiro em Orlando, onde mais brasileiro que no Brasil kkkk

Ana Inês Pina disse...

Q notícia boa.

Laís Vanzuela disse...

Quero conhecer esse vinho nordestino.

Marília Furtado de Morais disse...

Ah!!! Girley, como fiquei feliz lendo a sua mais recente revelação, o bem querer pelos Vinhos!! Lembrei do nosso inesquecível amigo Geraldo Wanderley. Ele era profundo conhecedor dos Vinhos e gostava muito de degusta- los!! Porque eu não soube disso antes? Como vocês tinham conversado no Country Club? Mas valeu …. Principalmente, por ele ter sido um dos Funcs. da Cúpula da da nossa SUDENE, que muito incentivou e prestigiou aquela Região do Sertão de PE . Todos os Incentivos Fiscais eles foram beneficiados por aquela Autarquia. Com o respaldo de um dos Mestres daquela casa. Os Políticos Pernambucanos, principalmente a Famila Coelho teve grande participação. Lembro da Luta do Dr.Gualberto , nos Corredores da Autarquia, ele foi Brilhante!!! Mas , graças a Deus deu tudo certo!!! Com certeza que o sucesso será de muitas Gerações. Abs.

José Mário Galvão disse...

Terminei de ler seu blog que como sempre está ótimo. Só não entendo as nossas autoridades fazerem vistas grossas para uma realidade como a nossa em Pernambuco.
No momento abro um paralelo com Natal. Tá estranha à situação por lá. Até o secretário geral e federal da segurança pública tirou da reta, prometeu em rede nacional de ontem, GloboNews que estaria, que hoje estaria por lá se reunindo com a governadora e assessores para discutir e juntos resolverem o terror urbano. Se lá esteve, eu não tomei conhecimento do fato pela imprensa. Tudo isso é um absurdo, para o turista e para nós que vivemos aqui. Como se isso acontecesse somente na capital…

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