sábado, 3 de dezembro de 2022

A Pátria de Chuteiras.

Já se vão bons anos desde que li, o hoje clássico, “A Pátria de Chuteiras”, da autoria do meu ilustre conterrâneo Nelson Rodrigues. Ninguém soube traduzir tão bem o latejar da alma brasileira e sua relação simbiótica com o futebol. O Cara era um gênio em cima de uma Olivetti que, suponho eu, não acompanhava à altura a cascata de imagens geradas por uma mente tão arguta. Rodrigues foi, para mim, o mais brasileiro dos brasileiros ao saber expressar, com competência e amor febril, o ardor patriótico que lateja na alma dos habitantes de Pindorama face às campanhas da seleção canarinha defendendo as cores da camisa verde-amarelo. Chegou ao ápice das suas observações quando disse se tratar de uma “pátria de chuteiras”. Acho esta imagem uma ideia brilhante. Pena que teve de nos deixar antes de jornadas brilhantes do pós-tri. Rodrigues faleceu em 1980.
Bom... o homem morreu, mas as imagens que desenhou continuam vivas e repetidas com frequência. Inegavelmente, esses dias de Copa do Mundo, no Catar, fora do seu habitual calendário, veio em boa hora para acalmar a Nação recém-saída de um traumático momento politico que a dividiu e esfacelou relações das mais sólidas - dentro e fora do plano político-partidário – e, por felicidade, vem despontando como uma solução oportuna de restaurar a união e apascentar os ânimos renitentes de partidários que ainda não atentaram para o fato de que a pátria ainda calça chuteiras. De repente, o verde-amarelo e o pavilhão nacional, pouco antes bandeira partidária, “reinventa-se” como flâmula de torcedor. Em boa hora, pois, os brasileiros amarraram as chuteiras e, tal como surfando numa onda de “hexapensamentos”, desengasgam os gritos de gols, há bom tempo, acumulados. Nesta semana decisiva, o Blogueiro acompanha atento aos embates que se desenrolam nas franjas do deserto, sofrendo e torcendo a espera de reviver grandes momentos de jornadas passadas. Simbora minha gente! Calcemos nossas chuteiras e juntos vamos ao Hexa! NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens.

6 comentários:

José Mário Galvão. disse...

Adorei. Muito oportuno e já. Vamos torcer com os dedos cruzados e com um olho no jogo da bola e o outro na torrente das loucuras que circulam no universo hexadecimal.

Antonia Corinta de Lucena disse...

Girley, realmente, o Nelson Rodrigues, era um gênio , quando tinha um papel e uma caneta em suas mãos. Sua grande especialidade para mim era o teatro. Como ele sabia desenvolver bem tudo aquilo que sentia ao escrever uma peça teatral. No futebol foi um mestre que soube com toda maestria, desenvolver as partidas futebolísticas. Pena, que tenha partido tão cedo, não deixando nenhum sucessor a sua altura. A meu ver, é necessário que você viva o futebol para poder colocar no papel sua análise. Durante a copa do Mundo, todos nós esquecemos as querelas e colocamos nos pés, como ele tão bem o disse. Você , brilhantemente, recordou esse tema. Deixamos a política de lado, e, com muito amor, estamos acompanhando o desenvolvimento de nossa seleção, esperando que possamos, no final dizer somos Hexacampeos.

Édson Junqueira disse...

Girley , bom dia . Li com atenção o texto , como sempre muito bem escrito , com muita cultura e perspicácia .
Parabéns

Ina Melo disse...

Quem diria amigo, Copa do Mundo em cima do Natal, acho que Deus resolveu dar esse presente aos brasileiros, para que esse mês não demorasse tanto a passar! Será que vamos merecer esse Hexa como presente de Natal?

Jorge Fernando de Santana disse...

Parabéns, Girley. Pela fluência e beleza do texto. E, sobretudo, pelo nexo que você fez do momento (esperançoso) da nossa seleção com o momento (traumático) da nossa eleição... Se vencermos essa Copa, será como se tivessem acabado todos os nossos problemas, dramas e tragédias... Se perdermos, tudo mudará, e teremos um Judas de chuteira rasgada e bola murcha em quem lançarmos nossas amarguras e frustrações... Tudo ficará mais simples, reeditando-se o nosso (rodriguiano) "complexo de vira-lata". Valeu, Amigo.

Grayny Brasileiro disse...

Futebol é o amor do povo e copA do mundo e quê mexe mesmo pois e a oportunidade do atleta ser mostrado a palavra certa e uma vitrine para o mundo Alguns se destacam mais e outros menos o atleta que estiver psicologicamente bem e fisicamente emociolmente tem vários detalhes para a produção ser positiva senão o resultado e negativo eu vi eu sou casada com um ex atleta de futebol e conheço um pouco etc e etc parabéns primo pela reportagem rumo ao titulo.

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