segunda-feira, 11 de maio de 2020

Plúmbeas Nuvens

Eu era bem menino quando, num certo dia de inverno, vi meu pai dizer que teríamos um dia plúmbeo. Curioso, pedi a explicação do que se tratava. Pacientemente meu pai me explicou e guardei aquilo para o resto da vida. Nuvens pesadas e cor de chumbo cobriam nosso mundo. Hoje, na minha madureza e, vez por outra, lembro-me do falecido.
Neste momento de quarentena, pandemia e crise político-social, valho-me da imagem desenhada pelo meu pai, quando percebo as dificuldades que pairam sobre o mundo e sobre o Brasil particularmente. Costumo ser sempre otimista, mas, não sou alienado. Nuvens plúmbeas, sim, pairam sobre a humanidade. É certo que mudaremos muita coisa no modus-vivendi e isto já foi tema de outros posts. Difícil é acertar nesses modos. Principalmente nas nações menos desenvolvidas e em níveis educacionais tênues. A Educação como base, sempre.
Indiscutivelmente é preocupante, o caso brasileiro, onde os sinais cinzentos projetam tempos de dificuldades sem distinguir pobres dos ricos, resultante das dificuldades das administrações locais da pandemia. Num pais de dimensões continentais como o nosso, isso não seria de estranhar.
Mercê das frágeis estruturas sociais, os brasileiros enxergam – com uma cínica surpresa – a miséria agora realçada pelas intensas luzes emitidas pela crise sanitária.  As coisas se tornaram bem mais nítidas e sem quaisquer cortinas de fumaça. Eis aí o desafio daqui pra frente. A verdade é que, historicamente, pandemias se repetem e a nação não pode esperar sentada.
Investimentos em infraestrutura social – moradias dignas, saneamento básico, assistência universal de saúde eficiente, educação de base, lições de civilidade e respeito ao próximo, emprego para a população economicamente ativa e justas remunerações, entre outras variáveis – produção dinâmica e muita vergonha e patriotismo na condução politica do país.
Nada de novo! Tudo muito batido e discutido. Principalmente nas campanhas eleitorais, embora esquecido no day after dos pleitos. Tanto pelos vencedores, quanto pelos derrotados.  
Tive uma vida profissional dedicada à promoção do desenvolvimento regional do Nordeste brasileiro, na velha SUDENE, e tendo como referencial a necessidade de uma integração e equilíbrio de renda entre as regiões brasileiras. Valeu o esforço. Fiz parte de uma equipe, da qual me orgulho, composta de profissionais patriotas e incansáveis batalhadores pela sua gente. Contudo, não foi o suficiente. Ainda é forte, nas cabeças que nos governam, a ideia e que o Brasil é um “arquipélago” e que cada ilha que se vire para sobreviver ainda persiste. Exemplo do abandono no qual vivemos, são as imagens de miséria que observamos a olho nu e nas áreas mais nobres das nossas metrópoles. No Recife, uma legião de pobres fazem das calçadas suas camas e amanhecem sempre sem condições dignas de sobreviver. Para esses, principalmente, as nuvens são sempre plúmbeas.  
Família inteira dorme sempre ao relento, na Avenida Santos Dumont, Recife
 NOTA: Foto da autoria do Blogueiro.

 

11 comentários:

Ina Melo disse...

Infelizmente o Brasil continua naquela de que um dia vai melhorar e pelo andar da carruagem fica cada vez pior!

José Paulo Cavalcanti disse...

Sua trajetória na SUDENE foi exemplar, amigo. Em tempo de sempre dizer parabéns.

Antônio Carlos Neves disse...

Verdade primo.

Adierson Azevedo disse...

Parabéns pelo artigo!! Girley, disse antes e repito: você é um orgulho para PE e para o BR. Abençoado o pais que produz um homem sério como você!! Peço permissão para repassar!

Wirson Bento de Santana disse...

Meus parabéns amigo pelo post. As nuvens estão plúmbeas para todo o Brasil e também para o mundo. Mas é preciso ser otimista. Vamos sair dessa para melhor. O Brasil precisa do apoio de cada um de nós nesse momento. Não podemos perder a nossa fé e esperança. Acredite.
Wirson Bento de Santana
Ex-professor de economia aposentado

Kenys Consultorias disse...

Girley, bom dia, você sempre foi um profissional exemplar e um patriota convicto, em você, podemos nos espelhar e tirar o exemplo de como todos devem agir com relação aos seus semelhantes, no Mundo no seu Estado e no seu País !
Que Deus lhe dê a graça de viver muitos e muitos anos, e para nós que o conhecemos, a oportunidade de te-lo sempre em nosso convivio. Forte abraço!
TFA

Edson Junqueira disse...

Girley, penso da mesma forma , enquanto pessoas não tiverem um endereço para morar e uma escola para os filhos estudarem não teremos uma nação digna.
Nos tempos plumbum como você diz, vale lembrar : Estados que construíram estádios de futebol para a copa estão mais plumbum que os outros . Seria mera coincidência?? Não , a saúde foi relegada e a educação esquecida . O resultado já se sabe .
Abraços
Edson

Jorge Fernando de Santana disse...

Continue, Girley. Gosto do que você vem produzindo e divulgando. Parabéns pela clareza das opiniões e pelo estilo direto e franco. Vá em frente.

Vanja Nunes disse...

Bom dia
Como sempre excelente e verdadeiro, mas vem a pergunta o que fazer???

Girley Brazileiro disse...

Boa pergunta, Dra Vanja. Sugestão: saber escolher melhor os nossos representantes nas diversas instâncias governamentais. Eis aí o complexo desafio. Como instruir a população periférica? Falta educação, Doutora!

Claudio Targino disse...

Plúmbeas nuvens
Verdadeiramente correto

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...