domingo, 31 de maio de 2020

Difícil Recomeço

Após tanto tempo em quarentena há um claro desejo de retorno ao normal. Aliás, ao novo normal, como muitos estão denominando o tempo que vem adiante. Já estamos quase na metade do ano – amanhã já é junho – quando completaremos noventa dias de recomendada reclusão, na luta de livrar-nos da surpreendente peste do Coronavírus que abala a humanidade neste inicio de década. Muitos já partiram e famílias choram suas perdas.
Com imensa surpresa o mundo chora o flagelo provocado, ao mesmo tempo em que, intrigado se prepara para um difícil recomeço. Este tem sido o desafio pelo qual sociedades atravessam  tal como enfrentando um terreno estranho ou um verdadeiro deserto de areias fofas e dunas intransponíveis. 

O eixo dos atuais debates gira em torno da retomada da vida com saúde e economicamente viável. Países que, segundo estudos científicos, já superam o auge da crise – com achatamento da propalada curva estatística  – tentam o recomeço enfrentando agudo ceticismo social que, naturalmente, tomou conta das respectivas sociedades. Tem sido na verdade um comportamento ambivalente: usufruir do que tanto vinha desejando e, ao mesmo tempo, retrair-se por segurança sanitária sabendo que o veneno ainda circula abertamente. Ainda que municiados de equipamentos de proteção individual mais comuns (máscara e luvas) o desânimo tem sido expressivo. Como consequência, os efeitos socioeconômicos se revelam como desastrosos. Países como Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal que já experimentam uma distensão dos rigorosos regimes de quarentena acumulam altas taxas de quebra e fechamento de negócios por falta da clientela. 
Pouco movimento no Comércio de Lisboa
Agora, embora com direito a circular as pessoas se privam de frequentar ambientes por duplo temor: o risco de contaminação que ainda persiste ou a ter que se submeter às exigências do novo normal, isto é, uso de máscaras, luvas, assepsia contínua e distanciamento de convivas. É difícil, sim. Na prática foi-se o tempo em que o congraçamento social, o ver gente, o curtir um ambiente escolhido e encontros de negócios ou de um casal apaixonado eram práticas valorizadas e aguardadas com ansiedade. Um mundo meio triste, sem dúvidas. 

Diante desse quadro volto-me ao mundo próximo, em meu redor. Estamos saindo de uma quarentena mais rigorosa (um lockdown meia-boca) imposto, em nome da segurança sanitária, pelos governos locais, na Região Metropolitana do Recife. Acompanhei com viva atenção as noticias sobre a operação. Vi falar de coisas inadmissíveis contra cidadãos corretos e longe de provocar perigos à saúde coletiva. Mas, vi noticias de total desrespeito ao que determinava as autoridades nas regiões suburbanas – que chamo de franjas da metrópole – onde as comunidades não têm noção exata do perigo que corre e, inclusive, consideram a C19 como sendo uma doença dos ricos. Acredito, até, que os integrantes das forças policiais destacadas para o policiamento das regiões pensam do mesmo modo e fazem vistas grossas ao que observam: negócios abertos e comercializando tranquilamente, povo nas ruas e sem uso de máscara ou qualquer outra proteção. Terá surtido o efeito desejado pelas autoridades? Duvido.
Abordo esta passagem para lembrar que, inúmeras vezes, aqui no Blog, mencionei a baixa qualidade ou ausência de ações governamentais no domínio da Educação. A realidade dura é que nossa gente suburbana vive ao “deus-dará” e sem princípios educacionais devidos e terminam por compor um estrato social sem as devidas instruções básicas de comportamento social somente possível à base de uma enérgica e competente política de educação em massa. Numa discussão entre amigos, um deles acredita que isso só será possível com uma coletiva operação intravenosa de educação e civilidade. É uma coisa surreal, sim, mas, seria uma solução formidável. 
Esperemos, pois, com cautela este novo normal. Estou sedento por sair e ver o mundo. Mas, confesso meu temor. Estará tudo como dantes? Meu bar predileto sobrevive? E meu restaurante favorito? Por mais otimista que me sinta, prevejo um difícil recomeço.  

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens

10 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Não sei se o normal está tão próximo, amigo. Portugal, que vinha abrindo, voltou a fechar. Deus queira que cheguemos logo aí novo normal, que previu. Abraços fraternos.

Ieda Almeida disse...

Realmente, não sei... enquanto não chega a vacina, temos que fazer o possível para conseguir a medicação proibitiva por alguns, e que sabemos que tem salvado vidas.
Ficar meio temerosa. Uns dizem: foi assim com a lepra, com a varíola, com a aides no entanto nos víamos as marcas e o danado do CO19 não podemos saber quem carrega esse maldito... vamos ter que enfrentar. Vai adoecer muita gente !
Disso temos certeza!

Luiza Targino disse...

Nao sei se estou preparada

Sarto Carvalho disse...

Pura verdade meu Amigo. O mundo não será o mesmo.

Antônio Carlos Neves disse...

Todo recomeço e difícil mais recomeçar é preciso mais por enquanto ainda estamos parados sentindo saudade de filhos filhas e netas e o que pedimos a DEUS é a nossa vidinha de sempre que mesmo estando tudo bom ainda reclamava que saudade quando a nossa preocupação era sair nas ruas tomar cuidado para não ser assaltado fazer as compras pagar as netas na escola ensinar as tarefas e ir todo fim de semana para Itamaracá coisas simples mais maravilhosas as vezes penso que estou sonhando e vou acordar vendo o sol nascendo da minha varanda.

Adierson Azevedo disse...

Parabéns pela percepção e conclusão desse novo artigo Girley!!
Como sempre, estou de acordo com cada palavra sua. A retomada está sendo dificil sim aqui em Portugal. Esse fim de semana eu constatei que a papelaria que costumava frequentar fechou em definitivo. Eles não aguentaram a quebra do fluxo comercial por tanto tempo!!
Na mesma linha, eu li aqui um estudo da CNI dizendo que somente 22% das indústrias tinham caixa pra aguentar a travessia de maio.
E ontem eu estive em Geres, numa praia fluvial, onde o novo normal se parecia muito com o velho normal de sempre.

Jorge Fernando de Santana disse...

Li, Girley, seu texto e, como sempre, gostei bastante. Mas acho que você poderia explorar um pouco o conceito de "novo normal", quando nada acompanhando as pistas de Yuval Harari (cooperação, solidariedade, inventividade)... Você tem muito a dizer (ainda que a título, modestamente, de hipótese ou mero palpite). Abraço.

Girley Brazileiro disse...

Jorge Santana, vc nem avalia o prazer que me proporciona ao saber dessa sua visita ao meu Blog. E dizer “como sempre, gostei bastante”. Vou procurar saber sobre o indicado Yuval Harari feito por vc. Confesso meu desconhecimento. Mas, espero que o “professor” Google me ajude. Volte sempre meu querido amigo. Espero que vc esteja total recuperado. Especial abraço!

Ina Melo disse...

O grande problema é que nós, os esclarecidos seguimos as normas! E os outros? Essa é a preocupação!

Júlio Silva Torres disse...

Caro Girley, pienso que el nuevo mundo que debiera venir debiera operar sobre bases de respeto al prójimo, a la convivencia civilizada, a la solidaridad y a buscar disminuir las desigualdades, y etc. No obstante, la realidad es la que estamos viendo hoy en diferentes ciudades de USA y que en octubre vimos en Chile: el odio, el racismo, la falta de respeto al orden y la seguridad, el vandalismo, la falta absoluta al sentido común. El ser humano de aquí y de cualquier parte, es un bárbaro contenido, si no lo controlas, actúa sin límites... Muy desalentador!
No creo que vaya a salir nada mejor después del confinamiento!
Se necesitarían décadas de educación y de educación civica... y de neutralizar a los activistas del odio... No soy pesimista, sólo creo ser realista... no tenemos caso.

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