O Brasil
inteiro acompanha essa pendenga que discute a oficial adoção, ou não, do
protocolo de uso da Hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. Uma
profunda dúvida vem sendo amargada pela sociedade brasileira, cercada pela insegurança
causada pela pandemia. "Use, mas assuma as consequências...” esta vem sendo a reposta dos
“cardeais” da medicina nacional, quando comprometidos com a oposição ao Governo de
Bolsonaro. Deplorável, visto que uma coisa não tem nada a ver com a outra!
Apenas politicagem barata.
Mas, tem
muita gente usando e se curando. Ora, se não mata quando usada para tantas
outras doenças pode servir para esta, também. Principalmente para quem se vê na
emergência.
Bom, como
não sou doutor dessa área, vou partir para o assunto do dia.
Antes,
porém, uma introdução instigante: vi pela Internet uma live (é ultima moda!) de uma desconhecida vereadora, de um
município mais desconhecido ainda, aconselhando seus eleitores a consumirem
muita Agua Tônica de Quinino, alegando que o teor de quinino contido na bebida
estaria protegendo-os do Coronavírus. Triste engano. Tive o cuidado de pesquisar e terminei me convencendo de que a droga que causa tanta polêmica, e já derrubou
dois Ministros da Saúde, é fruto do aperfeiçoamento científico do uso do
quinino, historicamente adotado para a cura da malária ao redor do mundo,
inclusive na Amazônia brasileira. Bom, não é a mesma coisa!
Interessante
que essa discussão sobre o quinino ou hidroxicloquina remeteu-me aos tempos de
infância/adolescência (anos 50/60) quando, periodicamente, passava temporadas
na casa dos meus avós maternos, em Fazenda Nova, município do Brejo da Madre de
Deus, aqui mesmo em Pernambuco. Meu avô, Epaminondas Mendonça, Seu Nondas para
os íntimos, além de chefe político da região tinha lá, entre seus negócios, uma
casa comercial de secos e molhados e uma farmácia, anexa. Eu, muito enxerido, adorava
servir de atendente no balcão da farmácia. Sobretudo no dia de feira no local.
Feira no interior é dia de festa. Pois bem: uma das coisas que me ocorreu
lembrar na atual conjuntura foi de um imenso vidro, no alto de uma prateleira,
com um pó branco e uma etiqueta escrita, à mão, Quinino. Naquilo lá eu não
podia tocar. O freguês que demandava o produto, vendido em gramas, era atendido
pelo próprio Seu Nondas, que, além de atender, orientava o penitente na forma
de uso do medicamento. A balança usada era daquelas pequenas e ditas de precisão. Os
pesos eram minúsculos, burilados e bem polidos. Meu avô era desses matutos
instruídos e bem informados. Bom de discursos – esmerava-se num palanque
eleitoral –, redação e caligrafia notáveis. Uma figura inesquecível.
Como tenho
uma memória ainda bem preservada, não posso deixar de registrar aqui minhas
experiências como "balconista" de uma farmácia tipicamente interiorana: o mais
demandado naquele balcão eram os chamados, à época, de cachetes. Atuais
comprimidos. Cachetes para dor de cabeça, de barriga, do estômago e tudo mais. Despachei
muitas Cibalena, Melhoral, Instantina, Cafeaspira, Pílulas do Dr. Ross, entre outros.
Bem como o Biotônico Fontoura, Emulsão de Scott e um certo e famoso Regulador Xavier.
Este, para mim, era o seguro para garantir a saúde da mulher que comprava. Com
pouco tempo eu ia me inteirando e sempre que voltava me atualizava. Era uma experiência
fascinante para um garoto da cidade grande. Assim, quando não eram os cachetes, apareciam
fregueses procurando Mitigal, fabricado pela Bayer, e bom para curar coceiras e
sarnas. Outros procuravam pela Loção de Terebintina, uma espécie de analgésico
local, para aliviar dores musculares, reumáticas, bursite, entre outras. Essa substancia
é, certamente, a base de medicamentos hoje comercializados, em forma de
unguentos balsâmicos, como Gelol, Benguê, Reparil, entre outros. Até hoje, quando sinto
o odor dessas pomadinhas relembro-me das ocasiões que, Dona Sebastiana Mendonça,
minha avó, tomava massagem de loção de terebintina nas pernas inchadas, antes de
dormir. Cheguei a fazer algumas dessas massagens. Outra experiência!
Fora os
medicamentos de marca, postos à venda, meu avô tinha lá sua prateleira com
preciosidades da medicina popular e curandeira. Produtos manipulados. Lembro-me
do Tapataio, que apesar de já ser comercializado, àquela época, com a marca de Elixir Sanativo, estava lá no seu garrafão. Interessante é
que essa denominação é uma corruptela de Tapa Talho. Ou seja, o/a penitente
levava um talho, passava Tapataio e cicatrizava. A fórmula é poderoso
antisséptico, inibidor de inconvenientes microrganismos bucais, entre outros
benefícios. O principio básico é tirado da casca do tronco da aroeira, um
arbusto muito comum no nordeste brasileiro. Uma colher de mel de abelha e duas
gotinhas de tapataio, ou Elixir Sanativo, era um santo remédio de Seu Nondas
para os netos quando num surto de tosses e rouquidão.
Com o tempo
fui descobrindo outras fórmulas que se destacavam naquela prateleira de
manipulações e recordo bem do elixir de quixaba, bom para tratamento das
doenças do útero, cisto de ovário e corrimento vaginal e do, muito demandado, composto ou Pó de Catuaba, para
atenuar a impotência masculina, antidepressivo e estimulante físico.
Tinha
remédio pra tudo. Era formidável perceber, naquele rústico ambiente, no qual meu
Avô era um “doutor” respeitado e poderoso. De fato, curou muita gente. Os
agradecimentos eram feitos em verdadeiros rituais. Coisa do tipo "Deus no céu e
Seu Nondas na terra". E tinha mais, era a única pessoa do lugar que aplicava
injeções. Pense que coisa fantástica. Tempo bom que não volta mais. E um
aprendizado inesquecível.
Hoje, as tradicionais
farmácias interioranas já são raras. Perderam competitividade. O cartel dos grandes comerciantes de medicamentos
já invadiu nossos interiores. E já não existem os Nondas de antes.
NOTA: Foto ilustrativa obtida no Google Imagens.
18 comentários:
Essa não sabia. Notícias do seu passado. Muito bom. Parabéns. Abraços fraternos.
Oi Girley, lembro bem de seu Epaminondas e dona Sebastiana, e do comércio de secos e molhados, bem ao lado da famosa Casa de banho ( fonte), lá de Fazenda Nova.
Esqueceu só do Tirosseguro (óleo de rícino) para lombrigas! Sabes como se tomava? As 5 horas da manhã com uma chave na mão 🖐 e a Correia de lado😂😂😂😂😂 não tinha quem não engolisse! Você me fez voltar a minha infância! Como única filha mulher, era do nessa hora que temia a Correia, a qual nunca experimentei! Mas e a tal da cloroquina milagrosa! Sônia como médica tem lá suas restrições!
Fiz uma volta aos anos 50.
Muito bom! Gostei do tapataio. Hoje tem um desse para-a pele igual ao superbond ( chama-se derma bond) 🤗
Caro amigo Girley, fiquei muito feliz em descobrir que temos um fato comum em nosso passado, meu avô era dono de farmácia em correntes, cidade 42 quilômetros depois de Garanhuns, local onde vivi situações muito semelhantes às narradas por vc. Tenho um relato muito cômico de um cliente que chegou pedindo um remédio que ele não lembrava o nome mas dizia que era alguma coisa parecida com " sarta pra riba e pega o bicho", o pessoal do balcão sem conseguir decifrar o pedido chamou o velho Hercilio ( meu avô) que matou a charada de primeira, menino pega aí um vidro de Salsa Caroba e Cabacinho. Kkkkkk
Prezado girley, obrigado pelo blog! Acho que o problema não é usar ou não a cloroquina, mas sim de o governo, podendo fazer tanta coisa pra ajudar, basear as suas ações de saúde na adesão (talvez até imposição) de uma remédio sem claras comprovações cientificas (além de claro, não ser exatamente tão seguro quanto estão falando). Pra mim, se existe politicagem em cima da questão da cloroquina ela existe dos dois lados (tanto na oposição quanto pelo lado do governo). Abraços
Bom dia
Me fez lembrar meu pai e a farmácia
Adoro seus textos.
Veja aí...
Pedi a uma pessoa de Parnamirim, para me enviar
Quina- quina.
Claro... também sou do interior e tomei muitos chás e outros remédios citados por você. Farmácia do Dr. Florismundo em Arcoverde.
Muito legal seu comentário, me remeteu a minha infância e ainda não posso esquecer do chá de sabugueiro, para febre, tinha de ficar tomando chá e só podia comer bolachas Maria.
Gostoso de ler. Vi coisa parecida no Aquiraz
Como o sanativo era angico, camapu, aroeira e mandacaru, boa noite.
Também conheci alguns desses que vc falou o tempo passa nós envelhecemos mas não esquecemos . Parabéns por recordar sua infância com o Vovô
Como o sanativo era angico, camapu, aroeira e mandacaru. isso, eram quatro plantas, mas a ANVISA não quis mais renovar a licença e eles tiveram que modificar e hoje é o extrato de uma planta só, a AROEIRA.
Muito bom, lembrei dessa época também.
Fantástico o texto. Obrigado por compartilhar. Abraços.
Está faltando Sr. Nondas por esse Brasil afora. Gargarejamos muito sanativo muito bom minha vó misturava a mel de abelha e a gente ficava tomando com uma colher de chá meu avô como você sabe chegou a 300 kl e foi não foi quebrava uma cadeira e passava uma semana tomando água de quixaba para dor de barriga chá de pitanga tio Ivan tinha uma gastrite severa e só ficava bom com uma garrafada que minha vo fazia e teve um vez que ele estava internado e minha vó foi no hospital levando a garrafada o médico não queria que ele tomasse mais mesmo assim ele tomou no outro dia teve alta e o médico ficou com a receita da minha vó só sei que tinha hortelã da folha larga e da miúda kkkk
Adorei!! Meu avô era de Rio da Barra e plantava algodão. Mas o Coronel Ernani meu vozinho do coração, negociava com tudo no seu “Barracão”. Voltei no tempo com seu post. Valeu amigo!!!! Bom demais. Espero outros. Obrigado!!!!!! 👏👏👏🌷
Qué bonito recuerdo haces de don Epaminondas!
También recuerdo esas farmacias en que el dueño era una especie de sabio alquimista con sus grandes frascos de cristal y su balanza de precisión, dando solución a los diferentes males de la gente. Efectivamente esos personajes eran muy importantes! Así como tu recuerdas a tu abuelo yo recuerdo al farmacéutico de la esquina, don Adan Espinoza que hacía soluciones para todo.
También recuerdo muchos de los medicamentos que nombras, que por lo visto, ya eran los primeros indicios de la globalización y del control que tienen sobre todos nuestros países los “del primer mundo” que nos hicieron perder los conocimientos ancestrales.
Bello recuerdo!
Postar um comentário