sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Mude se tiver coragem



Tenho visto com muita frequência mensagens e discursos de políticos candidatos a cargos eletivos, analistas políticos e socioeconômicos, acadêmicos, e, por fim, cidadãos e cidadãs comuns, pregando um rompimento urgente com o ciclo político tradicional, com a velha política clientelista e carcomida pela corrupção endêmica que existe neste país. Principalmente no momento atual quando se intensifica a campanha eleitoral.
Não tenho dúvidas e concordo com esta ideia, quase popular. E, penso que é nessas horas que o país sofre pela falta de uma sonhada reforma política que trouxesse mudanças e contribuíssem com esse tipo de movimento cidadão. Mas, cadê coragem e responsabilidade dos nossos recentes mandatários? Ao invés disso estão sempre preocupados em se manter no poder esquecendo os clamores da Nação.
Confesso e creio que todos percebem, às claras, que estamos diante de uma quimera. Ora, meu Deus, não se quebra uma tradição de hora pra outra. E não vai ser um pleito eleitoral tão insólito, como este próximo, que vai “furar a velha bolha”. Basta que se observe a busca frenética dos poderosos chefes de “feudos” políticos que buscam se perpetuar, com candidatos a cargos, em níveis diferentes, para membros da própria família. Conheço inúmeros casos em Pernambuco e Brasil afora. E aí, cabe uma pergunta: como quebrar esta tradição? Aliás, esta cultura maléfica? Trata-se sem duvida de um colossal desafio para a sociedade brasileira. Nestes dias recebi, pela rede social, um panfleto eletrônico que foca nesta quimera. Um dia, quem sabe, chegaremos la...
A propósito do tema tradição recebi, também nestes dias de calorosos debates políticos, um texto bem estruturada e instigante de um pensador amigo, o Padre Sergio Absalão, que – sem que se referisse à questão politica nacional – e, sim à problemática de romper com uma tradição cultural, transcrevo, a seguir:“Na verdade, esse modo de pensar não passa de um contra-senso por dois motivos: primeiro, porque só é possível conceber um ideal de ruptura na medida em que permanece o modelo em relação ao qual se pretende romper. Ora, se a herança do passado deixasse de existir, se fosse completamente desconstruída e substituída deixa de ter sentido toda e qualquer pretensão de rompimento, simplesmente porque não se teria com o que romper. Sendo assim, sempre haverá algo que precede e se sucede ininterruptamente. Ao lado deste motivo acrescenta-se um segundo que diz respeito ao passado. Quando o sentir e o pensar “moderno” falam em “rompimento” ou em “desconstrução” está se referindo ao passado. Mas seria possível anular o passado? Não. Não é possível. Não é possível porque o passado jamais passa e não passa porque nunca se completa, mas se renova incessantemente.”. Tremenda e profunda reflexão a meu ver. 
Então, como e quando nos livraremos dessa situação? Não será certamente dessa vez. E basta examinar os candidatos inscritos para o próximo pleito e tentar calcular o peso desses que pregam o rompimento – em termos de poder eleitoral e de filiação partidária – relacionando-os ao grande bloco de candidatos conservadores. Certamente vamos constatar que tradição, herança e continuidade são os referenciais que dominam o processo pelo qual estamos passando.
Outra vez, cabe a recomendação de exercer um voto consciente. Mude se tiver coragem. Toda mudança produz sua dor. Mas, há dores que valem ser sofridas.

NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.

4 comentários:

Corumbá Guimarães disse...

Muito bom, amigo, faz-me irresistivelmente arriscar no novo. E que Deus nos guie e dê forças.

António Carlos Neves disse...

Mudança sempre é muito complicado e quando vemos que os velhos caciques estão no topo das pesquisas mais sabemos que temos que fazer a nossa parte talvez que se uma só mudança ocorre na presidência e o eleito mesmo sem o apoio do congresso conseguir governar com o apoio popular, não podemos perder a esperança hoje STE confirmou a inelegibilidade do molusco talvez isso de um novo rumo a campanha.

José Paulo Cavalcanti disse...

Aproveite, amigo, e complete seu belo texto dizendo em quem devemos votar. Abraços.

Girley Brazileiro disse...

Quem sou eu, José Paulo Cavalcanti? KKKKKK Tenho certeza de que suas intenções são bem pensadas. Obrigado pelo "belo". Gentileza de amigo.

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