quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Cinzas da História

Certa ocasião, ao retornar de uma viagem ao exterior, falei sobre a falta de cuidados do brasileiro – tanto autoridades, quanto cidadão ou cidadã comuns – no que diz respeito à preservação do Patrimônio Histórico Nacional. Se desejar rever, clique em: http://gbrazileiro.blogspot.com/2009/06/apagando-historia.html . Andei, àquela época (há nove anos), impressionado com o descaso atribuído pelas autoridades locais ao patrimônio histórico da Cidade de Olinda, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, aqui em Pernambuco. De outra vez, mais recente, lamentei ao comentar o incêndio que varreu e transformou em pó o fantástico Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. E agora outra perda, de muito maior monta, certamente, que foi o incêndio que devorou, no último domingo (02.09.2018), o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O Brasil de bom senso e o Mundo reagiram com revolta a este infausto evento, ao ver reduzido às cinzas os 200 anos de trabalho intenso e minucioso, reunindo uma das maiores coleções de História brasileira. Pior saber que tudo isso foi fruto da negligencia das autoridades (in)competentes tupiniquins, que relegaram a um plano marginal e muito distante das vistas, os cuidados devidos a esse importante patrimônio.   
Museu Nacional Antes
O mesmo Museu ardendo em chamas
Por duas oportunidades visitei este Museu, de onde sai orgulhoso do que havíamos colecionado na nossa Terra Brasilis. Nessas visitas ainda não dava para perceber sinais  de desgastes, muito embora, tenho tomado conhecimento de que visitantes recentes, incluindo alguns amigos, chegaram a perceber a gritante falta de cuidados com aquela Casa da História,  creio que a mais antiga instituição do gênero no país. Foi D. João VI que o fundou, em 1818, no local residência da família real luso-brasileira. Importantes momentos históricos da vida brasileira foram ali registrados e preservados em documentos hoje perdidos. O fogo devorou peças raras – havia 20 Milhões de itens colecionados – entre os quais esqueletos de animais pré-históricos e múmias egípcias. Uma destas, a de Sha Amum Em Su, em sarcófago nunca aberto. Fora isto, o Museu exibia inestimáveis coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. A maior coleção de borboletas que se tem, aliás, teve conhecimento e o fóssil de 12 mil anos da cabeça de uma mulher, ao qual deram o nome de Luzia, que reorientou as pesquisas sobre a ocupação humana das Américas. Coitada de Luzia “sobreviveu” doze séculos e, ironicamente, desapareceu lambida pelo fogo da sanha de criminosos administradores de plantão. 
Parte das borboletas que viraram cinza
O episódio de domingo passado foi um verdadeiro crime à cultura nacional e, por conseguinte, mundial. Peças raras foram confiadas ao Brasil que, agora destruídas, expõe o país a mais uma situação vexatória jogando luz sobre a irresponsabilidade e ignorância das autoridades constituídas. 
Perdemos Luzia no fogo arrasador. Crime abominável.  
Faltaram cuidados nas preservações das coleções, nas devidas vistorias de instalações elétricas, nas instalações contra incêndios, nas preservações dos hidrantes - faltou água para combater as chamas! - na manutenção do prédio secular e nos cuidados de segurança. Afinal, tratava-se de uma Casa de frequentes e volumosas visitas, gerando depreciações muitas vezes invisíveis a olho nu. A tudo isto eu chamo de desgraça cultural. Fala-se agora de gambiarras nas instalações elétricas, infestação de cupins e goteiras ininterruptas em tempos de chuvas. Quanta irresponsabilidade! A Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, responsável pela administração e manutenção daquela Casa, segundo se informa, relegou ao último plano qualquer ação de preservação e manutenção, destinando sempre míseros  orçamentos à Instituição. E isto, mesmo conhecendo a situação precária do Museu, desde 2014. Ou seja, uma tragédia anunciada!
E, uma pergunta que não cala, por onde andava o Ministério da Cultura nessas horas? Eita! Ministeriozinho apagado... E, neste caso, irresponsável. Fica, agora, um jogo de empurra discutindo a quem atribuir a (ir)responsabilidade pela desgraça. 
O mais revoltante é saber que o Museu Nacional precisa de míseros R$ 600,0 Mil/ano para sobreviver, mas o Governo brasileiro, com sua corja de plantão, segundo circula nas redes sociais, tinha outros projetos ao destinar, por exemplos: R$ 1,5 milhão para um documentário sobre a vida de José Dirceu; R$ 5,8 milhões para shows de Claudia Leite e R$ 7,9 Milhões para compor o Museu Lula! Parece mentira. Quanta irresponsabilidade. 
Somente agora, depois da desgraça e bem ao estilo brasileiro, começam  a destinar recursos para resgatar o que se perdeu. Aliás, como será resgatar em meio às cinzas? Pelo visto não restou nada!
Depois de tudo, fico preocupado com os muitos outros museus, bibliotecas (a Nacional, por exemplo), o Museu do Império, em Petrópolis, o da Republica, no Catete (Rio), do Ipiranga (São Paulo), Museu de Belas Artes, a Pinacoteca do Estado (S. Paulo) e muitos outros que infelizmente padecem da ignorância endêmica do brasileiro comum. Muitos nem sabiam da existência desse Museu incendiado. Quanta pobreza cultural. As repercussões devastadoras da tragédia se alastram no âmbito internacional. Algumas leituras publicadas sobre o fato são, por vezes, insólitas e surpreendentes.  Leitores do Blog se manifestam impressionados e incrédulos. No México, segundo uma leitora, levanta-se a possibilidade de que ladrões assaltaram o Museu e, após colherem peças que os interessavam, atearam fogo no que restou. Outra hipótese que se ventilou, aqui mesmo no Brasil, foi de que um balão junino caído sobre o prédio, deteriorado e infestado de cupins, com o pavio ainda em chamas deu inicio ao incêndio. 
Estamos chorando sobre o “leite derramado”, como, aliás, vem sendo o dia-a-dia do brasileiro. 

NOTA: Imagens ilustrativas colhidas no Google Imagens    

5 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

E daqui a outros 9 anos, amigo, estará ainda pior. Belo texto. Mais um. Abraços.

Julio Torres disse...

Es muy conmovedor.
El incendio es una tragedia de clase mundial.
Fue intencional?
He visto muchas mas imagenes y es muy inexplicable que haya sido tan devastador.

António Jose de Melo disse...

Amigo Girley, dói no coração ver as joias de nossa história serem delapidadas impunimente. Falta respeito e sensibilidade à causa pública. Infelizmente esse modelo de gestão que aí se encontra não funciona. Cultura é relegada a segundo plano como coisa sem importância. Desconhecem que uma nação sem história é uma nação sem futuro.

Edson Junqueira disse...

Olá Girley, bom dia , acabei de ler . Excelente. Olha, penso agora tomando conhecimento dos fatos . Como pode um reitor que acredita que movimento sem terra traz cultura? Nada contra eles, mas uma pessoa dessa não tem noção de cultura , e pior prega a jovens a teoria de gramidh pregando uma boa espingarda e uma boa cova para quem é de direita ??? Só podia dar nisso .

Susana Gonzalez disse...

Se tienen q fincar responsabilidades, además de la Universidad q según leí, le recortaron su presupuesto, por lo tanto al gobierno q recortado se ha olvidado de la educación y la cultura de los brasileños. Esto es un ejemplo de ello. Por cierto, en lo q te refieres a México, q somos muy mal pensados y en los ladrones q piensan son las mismas autoridades q saquearon el museo. Jajajajajajaja . Con pena lo digo, pero aquí no dudaríamos q lo hicieran las actuales autoridades, pues ejemplos hay muchos de los q ya les toco irse y han dejado sus lugares de trabajo sin muchos objetos q son patrimonio de los mexicanos.

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