É fevereiro
e, como todo fevereiro, tem Carnaval. Já fui um bom folião. Quando os clarins
de Momo anunciavam a folia, eu já estava na rua saudando o frevo, como um bom
pernambucano, e eventualmente o samba. Era uma festa que eu esperava ansioso.
Curtia e, quando em desespero, pelo som da quarta-feira ingrata, chorava de
tristeza. O dia seguinte era lúgubre, triste e com clima de velório. Como foi
bom aquele tempo.
Hoje, porém,
a coisa me parece como se houvesse vivido um sonho que passou. Vejo à distancia
uma coisa que não me abala. É engraçado, como não alimento o mesmo entusiasmo e
a mesma vontade do passado. Será a idade? Fico pensando. No que mudei? Penso novamente...
Na verdade,
atribuo esse estado de espírito (é preciso tê-lo para brincar a folia) a uma
serie de razões, sobre as quais já falei em posts
neste Blog, em épocas de carnavais passados.
O Carnaval
do Recife mudou muito. Virou um grande negócio comercial e político. O festão
popular é coisa do passado. O que hoje se assiste, não emana das raízes populares.
E quando me refiro a raízes populares não quero dizer do povão, somente. Quero
dizer deste, com certeza, mas também das camadas sociais mais abastadas. Já não
se vêem mais entusiasmos nas agremiações populares de Blocos de Frevo,
Maracatus e Caboqulinhos, que são sempre relegados ao segundo plano. Os
desfiles destes são em artérias sem luz, sem público e sem clima carnavalesco. Alguns
já chegam cansados ao arremedo de passarela, não dançam, apenas caminham... As
verbas governamentais de apoio são exíguas – todas dependem de um político! – e
os grupos estão minguando a ponto de desaparecer num futuro próximo. As tais verbas são na maior parte destinadas a
pagar cachês a artistas de fora, a preço de ouro, e quando aos locais – que são
muitos e de grande qualidade – são sempre minguados e difícil de chegar aos
bolsos dos contratados. Nem preciso dizer, também, que boa bolada vai para o
bolso dos políticos e seus prepostos no processo de contratação. Inegavelmente,
nunca deixa de rolar um percentualzinho.
Parece ser cultural... É uma lástima,
mas no país da Lavajato... De uma coisa
estou seguro: é o mais simples modo de acabar com as tradições pernambucanas.
Quando me
refiro às classes mais abastadas lembro-me dos tempos idos, quando os grandes
bailes pré-carnavalescos pontificavam no calendário de janeiro a fevereiro no Recife
da minha juventude. Saudosismo? Não. Elitismo? Também não! Nada disso. Qualquer
sociedade se forma histórica e culturalmente de movimentos diversos sem que
haja distinção de classe social. Cada um vive como pode e deseja compondo um
mosaico de costumes e tradições. Alguns desses bailes – como o Bal Masqué e o
Municipal ainda se repetem, mas, nunca jamais repetem o entusiasmo e o glamour dos
anos 70 e 80. Hoje são festinhas corriqueiras sem presenças de destaque, exceto
as dos políticos de plantão que, inclusive, testam suas popularidades. Nem de
longe lembram as festas do passado. Outros, tão importantes quanto,
simplesmente desapareceram da agenda carnavalesca. Quem, da minha época, não se
recorda da tríade de festas do Cabanga Iate Clube: Carnaval em Preto e Branco,
em Tecnicolor e Começa no Cabanga. Sumiram simplesmente. Acho que nem o Baile
dos Casados, no Atlético Club de Amadores reunia elite e povão (mulherio) escrachado.
Sumiram no tempo e no espaço.
Não posso
deixar de falar no monumental bloco do Galo da Madrugada. Claro que é uma recente
iniciativa vitoriosa. Acho um verdadeiro furor. Mas, é preciso ter raça para
enfrentar a avalanche de foliões. Coisa de milhões. O único jeito, para mim, é empoleirar-me
(empoleirar é um verbo adequado neste caso!) num camarote e ficar pulando num
quadradinho e vendo a banda passar. Mas, já acompanhei na rua. Quando era possível.
E quando não deixava de pular o carnaval.
Bom, por
outro lado, na atual conjuntura é impossível não fazer uma referencia à falta
de segurança no ambiente de folia. No carnaval deste 2017, as perspectivas são
das mais sombrias. Ouvi numa entrevista em emissora de rádio, esta semana, um sindicalista
de polícia da capital dando conselho, no mínimo, intranqüilizante: “aconselho a
sociedade ficar em casa, neste carnaval, porque a policia não está estimulada
para o trabalho, vai fazer uma operação padrão e não pode dar conta da
bandidagem”. Como viver num tempo
desses? Acho que mesmo no tempo do corso mela-mela
não era tão inseguro.
Acredito que
coloquei as razões da minha falta de entusiasmo. Resta-me apenas desejar um bom
carnaval a todos e todas, que se livrem dos percalços e voltemos são e salvos
para “iniciar o ano novo”, já que no Brasil o ano só começa depois do carnaval.
Eu mesmo, como tenho feito no passado recente, vou prá longe.![]() |
O Galo no seu apogeu do sábado de carnaval. |
NOTA: Foto obtida no Google Imagens