Tenho ouvido
com frequência que a Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014, foi inspirada na famosa Operação Mãos Limpas
(Mani Pulite) da Itália, nos idos dos anos ’90 e destinada a apurar um grande
esquema de corrupção – semelhante ao constatado no Brasil de hoje – na
sequencia de outros escândalos envolvendo o Banco Ambrosiano, este misturado
com a Mafia, o Banco do Vaticano e a uma Loja Maçônica, conhecida por P2.
Aquilo lá foi um rolo compressor que terminou esmagando a chamada Primeira
República Italiana.
Para que se
faça ideia melhor, foram 2.993 mandados de prisão, 6.059 pessoas investigadas,
inclusive 872 empresários, 1.978 administradores de governos locais e 438 parlamentares,
entre os quais quatro ex-primeiros-ministros. Como aqui, a Itália estava metida
num propinoduto sem limites, envolvendo
negociações de todo e qualquer tipo de contratos do Governo. Detalhe: o início
da coisa foi dado a partir de denúncias de um dissidente do Partido Comunista
Italiano – PCI que abriu do verbo e revelou que a KGB havia financiado o tal
PCI, com pelo menos US$ 4,0 milhões, para sustentá-lo no poder. O Partido Comunista
italiano era respeitadíssimo no mundo comunista da época pela sua atuação e
liderança. Também pudera, com um caixa altíssimo sustentado por Moscou. Essa
denúncia foi inicialmente deixada de lado, para tranquilidade da maioria dos
políticos e empresários que se locupletavam do espúrio sistema. Mas foi o
próprio Partido Comunista que resolveu reagir, inclusive com respaldo da
opinião pública revoltada, passando a cascavilhar
o que havia sido empurrado à penumbra.
Faltaram
celas nas cadeias italianas para industriais, políticos, advogados e
magistrados. Uma dúzia deles cometeu o suicídio. O suicídio mais ruidoso foi o
de certo multimilionário, Raul Gardini, (foto a seguir com manchete de jornal da época) empresário “bem sucedido” e muito
admirado pelos italianos. Fugas cinematográficas foram registradas. Os
empresários pagavam propinas polpudas aos políticos para vencer licitações de
construções de ferrovias, autoestradas, edifícios públicos, estádios e na
construção civil. Qualquer semelhança (com o Brasil) é pura realidade.
Institutos de pesquisas italianos garantem que o valor médio das obras públicas
caiu de modo expressivo, o que seria indício da queda no superfaturamento que
se praticava, antes.
Como se pode
constatar, o modelo de governar italiano serviu de exemplo para a turma de
ladrões brasileiros. Esse juiz Sérgio Moro deve ser um profundo conhecedor do
caso italiano e por isso o refere com alguma frequência em seus escritos e
declarações. Veja foto a seguir, capa de trabalho publicado em 2004.
Foi Ludwig
Von Beethoven que disse uma vez: “tenho paciência e penso: todo mal traz
consigo um bem”. Tomo emprestadas as palavras do virtuoso acreditando que o
Brasil pode estar sendo passado a limpo com essa devassa que se faz no mundo
político-empresarial do país. Estamos atolados numa crise sem precedentes.
Porém, alimentemos a esperança de que dias melhores virão, embora nem tudo esteja
garantido.
Segundo um
amigo italiano, a Mãos Limpas fez um tremendo esforço de limpeza moral na
Itália sem, contudo, resolver o problema pela base. O vírus continua bem vivo.
A corrupção ainda rola solta na Republica Itálica. Nem a onda severa do Euro deu
jeito. O caso mais gritante, no passado recente, tem como personagem central o
ex-Primeiro Ministro Silvio Berlusconi, implicado na Operação e que astutamente
se conservou, por longos anos, no Poder. “Pintou e bordou” nos vários poderes
do país, sempre em beneficio próprio e engordando sua conta bancária. Um cínico.
O italiano,
de modo geral, conclui hoje que a justiça do país não funciona e que a
corrupção é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento sonhado pelos
italianos.
No final da
Operação Mãos Limpas, os tradicionais partidos políticos sumiram, a classe
empresarial sucumbiu, o setor público segue desacreditado e nunca mais o país
gozou do prestigio de dantes. Prestigio calcado num lamaçal de fazer vergonha à
sua História esplendorosa.
Fico então,
com este exemplo, preocupado com o que virá pela frente aqui em Pindorama. Os
políticos e seus partidos estão desmoralizados e as megaempresas envolvidas
estão com seus lideres na cadeia. Muitas em franco declínio. Alguns em
recuperação judicial. Pelo caminhar do Processo as grandes empreiteiras não
terão – pelo menos por longo período – oportunidades de participar de
concorrências públicas que é, digamos, o filé dos seus negócios. Temo que novos aventureiros, inclusive
estrangeiros, tomem conta da fatia. O Governo tem incontáveis projetos e obras
paralisadas. Já se fala em chineses sobrevoando
o Brasil à cata de obras. Que perigo...
A maioria
dos partidos políticos, principalmente o PT, o PMDB e o PSDB estão numa
berlinda sem fim. E neste caso temo, também, que nos apareça um “Berlusconi” caboclo
qualquer. O Brasil merece coisa melhor. Aí, minha gente, sou forçado a considerar que
nem todo mal traz um bem. Vamos torcer pelo melhor.
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.
4 comentários:
Obrigada pelo link GB. A corrupçao aqui na bota existe desde antes do império romano e veja bem Roma era considerada a capital do mundo 2300 anos atrás! Da pra vc inaginar o poder que tinham? Aqui mudamos de primeiro ministro praticamente a cada 2 anos! Mesmo assim ainda agradeço por viver numa verdadeira democrácia onde o voto não é obrigatório. Um abraço e bom final de semana.
Simone Amorim (Itália)
Tb acho cunhado , a coisa tá séria até demais por aqui , no nosso país tupiniquim.
Ana Fernandes de Souza
Muito bom.
Antonio Carlos Neves
Prezado Girley:
Aí está muito bem escrito, como sempre é, a situação atual de nosso País e as comparações com os outros Países, a História que se passou na Itália, para nosso conhecimento maior.
Não há como não se preocupar. Paralelos e situações semelhantes nos deixam vigilantes e preocupados.
A crise é grande e as soluções ocultas.
Muito bom texto,
Abraços, Eliana
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