sábado, 6 de junho de 2020

Uma Semana Negra

Malgrado o estrago da pandemia mundo afora, esta semana que termina pode ser por várias razões considerada como uma semana negra. Nas ultimas vinte quatro horas (hoje é 05/06/2020) morreram pouco mais de mil pessoas, somente, no Brasil. Com este número calamitoso lá se foram mais de 35,0 mil vidas ceifadas entre os 646,0 mil casos diagnosticados, no país. São números alarmantes e que apontam para um panorama deveras distante do estado desejado. De todo modo, embora não seja ainda um dado confortável, 289,6 mil pessoas já se recuperaram. Para tornar ainda mais negro o quadro nacional, manifestantes promoveram, no domingo, um enfrentamento de caráter politico nas avenidas de São Paulo provocando consternação nacional dada a desobediência à ordem de distanciamento social com vistas à prevenção da Covid19. 
Mas, na verdade, o que me levou a definir o tema desta postagem foram dois episódios sociais marcantes. O primeiro foram  os movimentos registrados, a partir dos Estados Unidos, com o recrudescimento das manifestações antirracistas  motivadas pelo assassinato de um negro, George Floyd, na cidade de Minneapolis (Minnesota) pelo policial branco Derek Chauvin. A cidade de Minneapolis é considerada como sendo uma das cidades mais hostis à população de raça negra daquele país. Somente o fato de estar situada ao ianque norte do país não precisa dizer mais nada. Os brancos nortenhos nunca aderiram de verdade à igualdade racial inaugurada na década de 60 e Floyd não foi o único a ser morto, traiçoeiramente, na semana passada. Foi apenas o ultimo. Jamar Clark (2015) e Thruman Blevis (2018) são outros nomes listados entre os trucidados pelos policiais brancos de Minnesota. Comenta-se que a história do preconceito racial naquele estado norte-americano – não muito diferente da maioria dos demais – é entremeada de episódios sempre hediondos.  Imagine que, até bem poucos anos, adotava-se rotineiramente uma cláusula nos contratos de compra e venda de imóveis proibindo fechamento de negócios com negros em determinadas áreas da cidade. Na prática, esta população vivia confinada em bairros exclusivos para os coloreds. 
Manifestação em memória de Floyd e antirracista.
O cruel assassinato, por asfixia, de Floyd, parece ter sido a “gota d´água” que faltava para precipitar essa avalanche de movimentos antirracistas que se espalharam pelas grandes cidades da Terra do Tio Sam, muitos dos quais de características mais eloquentes, chamando atenção da sociedade internacional e pondo em risco a segurança pública do país. Não foi à toa que o Presidente Trump ameaçou entrar com a Força Federal Militar para conter as manifestações de protestos. Bom, a coisa ficou mais calamitosa quando grupos de delinquentes infiltraram-se nas passeatas pacificas e se aproveitaram para atacar e saquear as propriedades privadas. Centros comerciais e muitos pequenos negócios foram atingidos e um pânico geral se instalou, agravando a situação já periclitante devido à crise sanitária imposta pela Covid 19. Note-se que os Estados Unidos vêm sofrendo situação consideravelmente grave nesse quadro. Por lá já foram registrados 1,85 Milhão de casos e 107,0 mil mortos (dados da Universidade Johns Hopkins, em 04/06/20). Finalmente, numa flagrante prova de reprovação à situação norte-americana, o povo foi às ruas para protestar em vários países e grandes capitais do planeta lançando luzes sobre o problema endêmico do racismo internacional e fazendo referencia icônica ao Floyd.

O segundo episódio abalou o Brasil e particularmente Pernambuco pelas mesmas características racistas: a morte do pequeno Miguel (Miguel Otávio Santana da Silva), 5 anos, filho de uma negra, Mirtes Renata de Souza, empregada doméstica num condomínio de luxo, frente ao mar do Recife. Miguel acompanhava a mãe, devido ao fechamento da sua creche, nos afazeres do dia-a-dia na casa de um político, prefeito de uma cidade do interior pernambucano. Delegada pela patroa, com o raro nome de Sarí Côrte Real - uma “dandoca enjoada” - Mirtes teve que descer com a cadela de estimação da família para uma voltinha nos arredores do condomínio, confiando o pequeno Miguel aos cuidados da patroa. Esta, contudo, concentrada nos cuidados que estava recebendo de uma manicure, perde a paciência e despacha o garoto num elevador do prédio para que fosse ao encontro da mãe no térreo. Ocorre que o inocente Miguel foi parar no 9º. Andar da Torre e, desorientado na busca da mãe, se atirou para a fatal queda. A patroa (ir)responsável foi autuada por assassinato doloso, mas, se encontra em liberdade mediante uma multa de R$ 20,0 mil. Que mundo é este, meu Deus? Pobre Miguel. Infeliz Mirtes!  
O caso virou manchetes de jornais locais e de outras localidades, classificado com um perfeito caso de desprezo ao ser humano, quando negro. Mirtes Renata é negra, empregada doméstica, com um filho menor e sem condições estruturais para viver com dignidade. A patroa branca deve ser dessas que confere maior importância ao pet do que ao caviloso filho de uma negra serviçal. Jamais imaginaria o tamanho do crime que cometeu e a dor social que provocou ao mundo em que a rodeia. Uma pergunta não cala: onde residem a solidariedade e o trato humano de uma sociedade que tem um elemento maligno como essa patroa desalmada?
Triste semana negra, em meio aos protestos internacionais de Vidas Negras Importam.


NOTAS: Fotos obtidas no Google Imagens e reprodução do Diário de Pernambuco.

12 comentários:

Valério Guidotti disse...

Amigo ,Girley quando vc ficar surpreso com a quantidade de mortos +- 35.000 , faça por favor a conta em percentual em relação aos +- 220.000.000 de habitantes ,fora as pessoas que morreram de outras doenças e entraram na conta do Covid19 ,e onde o governo municipal Recife e estadual são dois grandes FDP e o governador o tratamento dele foi feito com chá de urina de juíz ,como vc bem sabe e todo Recife .

Natália. disse...

De fato triste semana Negra
E a morte de Miguel foi devastadora pra meu coração...Tão cruel a forma que ele partiu e a mãe Mirtes condenada a dor incalculável de perder um filho
Que Deus alivie meu coração pq estou revoltada com a covardia daquela criatura chamada Sari

Ina Melo disse...

Pois é amigo! Infelizmente o mundo está acordando para as injustiças sociais o que não é novidades lano States, mas estou muito preocupada o que poderá acontecer por aqui a partir de amanhã com o povo que cansou de tantas provocações! Desde que o presidente assumiu que eu sempre achei que era isso o que ele queria! Fazer transbordar o caldeirão e quando acontecer as consequências para o Brasil serão terríveis!

valerio guidotti disse...

Amigo Girley , gostaria de saber da sua opinião ,a grande quantidade de policiais na praia de boa viagem ,ou estão fazendo ocupação policial pela votação nas zonas eleitorais ,neste tempo de prisão domiciliar fiz as compras em Casa Amarela ,nunca vi nenhuma barreira policial ,pelo contrário gente demais , nosso Idi Amin ,continuará fazendo das suas até um Zenildo APARECER .

valerio guidotti disse...

Amigo Girley , gostaria de saber da sua opinião ,a grande quantidade de policiais na praia de boa viagem ,ou estão fazendo ocupação policial pela votação nas zonas eleitorais ,neste tempo de prisão domiciliar fiz as compras em Casa Amarela ,nunca vi nenhuma barreira policial ,pelo contrário gente demais , nosso Idi Amin ,continuará fazendo das suas até um Zenildo APARECER .

Girley Brazileiro disse...

Eita, Valério! Um Zenildo hoje seria providencial. Mas, ele já partiu para o andar de cima e os que restam estão aí contemplando os desgoverno.

valerio guidotti disse...

Amigo, desgoverno ?Diga uma ? O que vejo é um Supremo fedendo ,o Senado e a Câmara pela quantidade não encontro adjetivo pejorativo .

Izadora Siqueira disse...

Semana triste e pesada.

Manoel Quintas disse...

Excelente como sempre esse seu comentário sobre essa semana negra que passou. Até parece que quanto mais se promove movimentos e ações para acabar esse racismo, especialmente com os seres humanos da raça negra, ele reacende mais vigoroso, como na semana passada, com os acontecimentos terríveis que causaram reações em todo o mundo! Desejo que a sua voz ressoe em muitas outras e novas medidas mais fortes possam surgir e extirpar esse flagelo da humanidade. Em nosso país é primordial investir na Educação, que é a base para tudo que se queira transformar na humanidade. Parabéns caro Girley por sua colaboração para vivermos dias mais civilizados e mais felizes para todos nós. Abraços, Manoel.

Girley Brazileiro disse...

Não obstante, as críticas ácidas à Sra. Sari Corte Real divulgadas amplamente pela imprensa nacional e internacional culpando-a pela morte do garoto Miguel, o Blog tem recebido informações elogiosas quanto a relação do Casal Corte Real tanto com a doméstica Mirtes, mãe do garoto falecido, quanto o próprio menino. Claro que ninguém veio discordar sobre a infeliz falta de zelo da Madame ao deixar o garoto a sós no elevador que o transportou ao fatídico 9o. Andar de onde se atirou para a morte. Contudo, fala-se que o garoto além de ser companhia de brincadeiras com o filho do casal Corte Real, sendo sempre tratado com distinção e respeito. O acidente, então, pode ter sido um infeliz e fatídico episódio. As investigações esclarecerão à contento. O Blogueiro lamenta e deseja paz nessas duas famílias. E que a sociedade tenha uma noção transparente do que ocorreu antes e depois.

Oscar Rache Ferreira disse...

Prezadíssimo Girley,

Sou um leitor assíduo do Blog do GB e me entusiasmo sempre com o que você escreve, não só pelo estilo mas também e sobretudo pelo conteúdo.
Como sei que você é uma pessoa que sempre procura e valoriza a Verdade, hoje preciso fazer algumas observações sobre “ A Semana Negra” que você publicou no ultimo dia 06/)06.
De fato um fato lamentável a morte do pequeno Miguel, de 5 anos, filho de uma empregada doméstica, que caiu do 9º andar de um condomínio de luxo no Recife. O problema é que as noticias que estão sendo divulgadas pela mídia , como infelizmente acontece com frequência, não correspondem à verdade e me parece, são dadas para piorar mais a situação e quem sabe, vender mais. Parece que o que vende é noticia ruim. Vamos aos fatos.
Em primeiro lugar, Sergio Hacker, Prefeito de Tamandaré onde tenho casa e sua esposa Sari não são propriamente meus amigos. São com certeza conhecidos. Pessoas boas e dedicadas. Digo isto para que não se diga que estou defendendo amigos.
O pequeno Miguel, filho da doméstica sempre foi muito bem acolhido por eles em casa. Para que tenha ideia, o menino, com frequência, brincava com o filho do casal que tem 6 anos, como amigos, quando estava na casa deles, seja em Recife e sobretudo em Tamandaré onde eles também tem casa. Com frequência, quando iam à praia, levavam o Miguel junto com seu filho.
No dia de acidente, estavam em Recife quando a mãe saiu para passear com o cachorro e deixou o Miguel com a patroa, Sari. Quando saiu, mesmo recomendada, a empregada esqueceu de fechar a porta. O menino quis procurar a mãe e procurou o elevador. A Sari tentou impedir mas o Miguel gritou e então, erradamente, ela não impediu.
Por razões que não se sabe, o Miguel foi ao 9º andar, abriu a porta do elevador, passou por uma porta Quebra -Fogo , entrou em um corredor de serviço, que tem uma paredinha de 1,20m e, não se sabe como, caiu.
Os patrões, que eu saiba, deram toda a assistência após o acidente. Na primeira entrevista que a domestica deu, saindo da delegacia no mesmo dia, fez palavras elogiosas à Sari.
Com toda certeza, a Sari errou quando não foi firme com o Miguel e não o impediu de entrar no elevador. Foi a responsável? Talvez. Com certeza no entanto o acontecimento não tem absolutamente nada a ver com Racismo ou com qualquer tipo de descaso ou preconceito com empregados ou filhos de empregados. Tenho a convicção que o Miguel sempre foi muito bem acolhido pelos patrões da Mirtes, sua mãe.
Girley, imagino que você vai perceber que as razão de minhas observações são porque conhecendo você sei que você está sempre e permanentemente procurando e relatando a VERDADE,

Um abraço muito grande,

Oscar Rache Ferreira

Girley Brazileiro disse...

Obrigado Oscar Rache pela sua intervenção para o bem da verdade. Sim, procuro sempre estar ao lado da verdade. Agradeço seu depoimento. Lamento uma tragédia dessa natureza. Outras pessoas já me deram boas informações sobre o casal e a maneira que tratava o garoto e a família dele. Que a paz reine entre essas pessoas envolvidas nessa tragédia.

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