segunda-feira, 27 de abril de 2020

Obrigado Ricardo

Pernambuco e o Brasil começam esta semana (hoje é 27/04/20) mais pobres empresarial e culturalmente falando. Morreu Ricardo Brennand. Com 92 anos de idade não resistiu ao violento vírus da Covid-19. É certo que, sendo portador de comorbidades sérias, já teria menos resistência. Lamentável forma de partir, mas crível como em todo falecimento. Parte o Homem e fica seu imenso legado: nas atividades industriais, comerciais, sociais e sobremodo no mundo da Cultura. Em 26 de Julho de 2011, este blogueiro após uma das visitas ao Instituto Ricardo Brennand, por ele arquitetado e construído, escreveu um post intitulado Arte, a Essência da Vida cujos insertos, por oportuno, são a seguir destacados:
A arte é a essência da vida... Quanto mais amadureço, mais me conscientizo disso. Um engenheiro, um arquiteto, a costureira suburbana, o músico e o ator, o grafiteiro, a cozinheira, o jardineiro, o engraxate, o pintor e o escultor, entre muitos outros, são todos artistas. Pensando bem, todo ser humano, afinal de contas e numa instancia qualquer da vida, é um artista. No dia a dia estamos habituados a ver os artistas sob uma ótica muito restrita.
 
Mas, é artista também quem lida com a arte de outros e as cultiva com devoção e competência. Explico: neste fim de semana (ontem, 24.07.11) fui ver a exposição temporária da obra de Michelangelo (Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simon 1475-1564), no Castelo de São João da Várzea – Instituto Ricardo Brennand, no Recife.
Causou-me impacto dar de cara, logo na chegada, com uma réplica autenticada da famosa escultura de David, do mestre italiano, aquela cujo original está em Florença e que algumas vezes, por sorte, pude admirar. Aquilo foi incrível, em face do cenário no qual ela foi inserida. Depois daquele primeiro momento impactante, adentrei à nova Galeria do Instituto e, aos poucos, mergulhei num mundo de esculturas clássicas, nem sempre de Michelangelo, minhas velhas conhecidas e por mim visitadas outrora. Com uma feliz diferença de que, agora, elas vieram “visitar-me”. Sim, claro, elas estão com todo esplendor e dispostas com rigorosa curadoria a poucos quilômetros do meu endereço.
Jovens da Periferia observando algo diferente da vida
Quem pensaria numa coisa dessas, no passado, aqui do Recife? É preciso ser artista como Ricardo Brennand – que, sem cinzel ou pincel – pratica a finíssima arte de colecionar obras de arte. Despido de qualquer sintoma egoísta, esse pernambucano transfigurado num mecenas dos tempos modernos, presenteou Pernambuco e o Brasil com uma das mais importantes entidades culturais deste país. Atravessar os portões do Instituto e percorrer a alameda de acesso ao complexo cultural é possível sentir uma gostosa sensação de estar viajando rumo à Idade Média ou a uma praça renascentista da Velha Europa. Nas linhas arquitetônicas ou no entorno de paisagens bucólicas, nas obras de arte espalhadas a céu aberto ou indoor, tudo que se respira é arte. Como não entender que tudo aquilo é a essência do viver de um cidadão que não guardou apenas para si o sabor de colecionador, mas, socializou seu acervo num projeto monumental, raro e invejável.
Naquela visita, do já distante 2011, pude observar pessoas visivelmente mais simples, certamente, moradores da pobre periferia recifense, surpresas com o que viam e atentas às explicações da jovem guia que, didática e pacientemente, descrevia cada obra exposta e a própria vida do escultor italiano, causando certa admiração dos espectadores. Ricardo Brennand repete, em Pernambuco, o que o, também, mecenas, Mauricio de Nassau, operou no Século 16.

Tive o prazer e a honra de ser convidado para a inauguração do Instituto, em 2002, que se revestiu de grande acontecimento sociocultural na cidade, contando, lembro bem, com a presença do Príncipe Frederik, herdeiro da Dinamarca, trazendo as obras do pintor Albert Eckout, do acervo do Museu nacional da Dinamarca, para a especial exposição inaugural do Museu. Eckout viveu em Pernambuco, na época do domínio holandês, trazido por Mauricio de Nassau. Pintou monumentais obras retratando o povo e a vegetação da terra.  
Agora, nosso Ricardo partiu fisicamente, mas sua alma culta está impregnada nas paredes daquele Castelo que construiu nas franjas do Recife.

Obrigado Ricardo Brennand!

Quer saber mais sobre o Instituto Ricardo Brennand? Clique em www.institutoricardobrennand.org.br

NOTA: As fotos da postagem são do blogueiro.

18 comentários:

Rosanilda Lucena disse...

Que o Senhor Ricardo Brennand descanse em paz no rei o de Deus e aos familiares meus sinceros sentimentos

Ricardo Rego Barros disse...

Triste, gostava dele

Wirson Santsna disse...

Obrigado. Já era tempo de parar com esse assunto: política
Uma chatice.

Natália Pilates disse...

Uma pena perder um homem que me ajudou( através das suas obras de arte e esculturas ) a conhecer a arte

José Otávio Carvalho disse...

Caro Girley. Você que é um esteta, não só na escrita, homenageia um homem ímpar que tive a felicidade de conhecer e de conviver em diversas ocasiões. Culto, simples e um gentleman na verdadeira acepção da palavra. Como ele mesmo disse, o monumental Instituto Ricardo Brennand foi um agradecimento por tudo que a vida lhe proporcionou durante a vida. Parabéns.

Antonio Carlos Neves disse...

Muito bom.

José Paulo Cavalcanti disse...

Muito merecida, amigo. Parabéns.

Wadi Mansur disse...

Caro Girley, quando cheguei a Pernambuco em 2003, fui conhecer o Instituto, fiquei encantado com o que vi, e sempre que trazemos alguns visitantes para nossa fábrica o Instituto é o primeiro lugar que levamos nossos convidados a conhecer, pois tenho a certeza que só essa visita já faz valer a pena qualquer viagem. O meu fascínio pela obra de Ricardo Brennand, é tanto que 2006 eu fazia um curso de inglês no Aba de boa viagem, quando a professora solicitou um trabalho sobre alguém que vc considerasse um herói, o meu trabalho foi sobre ele, o Sr. Ricardo Brennand, todos acharam estranho, muitos nem conheciam, a professora perguntou, não seria Francisco, eu disse que não, que este era meramente um artista, mas Ricardo não este conseguiu realizar um sonho, algo tão grandioso que supera a arte, e tive o prazer num almoço de domingo na churrascaria Espettus de conversar com ele e falar da minha admiração, ele ficou muito lisonjeado, visto eu ser paulista e empresário bem sucedido, e me ofereceu ingresso grátis e permanente, para mim e meus convidados, eu agradeci e falei, que pagar era o mínimo que eu poderia fazer, para contribuir com a grandeza daquele feito.
Wadi

Wadi Mansur disse...

Perdemos um grande Brasileiro, um homem com alma e coração.

Dilson Menezes Barreto disse...

Perda irreparavel.

Ataliba Gonçalves disse...

Excelente! Parabéns.

Cristina Carvalho disse...

Excelente o artigo, companheiro Girley. 👏👏👏👏👏👏

Fabiano Toquetão disse...

Ótimo texto. Ótima homenagem

Geraldo Magela Pessoa disse...

A amplitude do teu conhecimento é um orgulho, para quem te conhece.

Marcelo Villocq disse...

Mais do que merecido!! 👏👏

Maria Luísa Targino disse...

Gi amei seu blog. Utilizei o link e visitei o instituto Brennand. Revi e deu vontade de voltar a visitar.

Catarina Brennand Moon disse...


Muito obrigada amigo ! O seu lado artístico está nas belíssimas linhas que escreveu sobre papai !
🙏🏻❤️🙏🏻

Sônia Chalegre disse...

Ótimos textos. Adorei. Como sempre sou fã de acompanhamento do seu blog. Mais uma vez parabéns.

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