terça-feira, 30 de setembro de 2008

CINEMA (AINDA) É A MELHOR DIVERSÃO

Outra coisa que observei, nessa minha última ida ao Rio de Janeiro, foi que os cinemas, lá também, foram banidos das praças, ruas e avenidas e estão socados, aos conglomerados, nos Shoppings Centers da vida.
Foi passando na emblemática Cinelândia, que me dei conta dessa moderna estratégia de mercado. Deve ter sentido na cabeça dos especialistas em marketing.
Pois é, já não existe mais os majestosos cinemas cariocas. A Cinelândia já pode até mudar de nome porque lá não tem um cinema sequer! Circulando pela cidade, andei catando os cinemas que freqüentei na minha juventude. Cadê o cinema Metro de Copacabana? E o fantástico Odeon, na Cinelândia? Segundo um motorista de táxi, não sobrou nada. “Na Praça Sanz Peña, na Tijuca, quando eu era rapazola, havia mais de quinze, não resta nada, Doutor” disse o taxista. O imenso Roxy, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ainda está por lá porque, para sobreviver, desmontou sua imensa tela de cinerama e se desdobrou em três, ao estilo dos modernos cinemas.
Era muito bom ir a cinema no Rio de Janeiro da década de 60. Engraçado era que o cidadão assistia aos lançamentos cinematográficos, que só vinham a ser exibidos, no Recife, dois ou três anos depois e, quando isso acontecia, o tal cidadão enchia a boca e dizia que já havia assistido a tal película há muuuiiiito tempo, numa das idas ao Sul. Pense na boçalidade. E tinha gente que “morriiiia” de inveja. O cara, para se mostrar ainda mais, contava para “atentas platéias” detalhes do “velho” lançamento.
Foi-se o tempo em que ir ao cinema era motivo de frisson. Era razão para colocar roupa especial. As salas de exibição de hoje são muito diferentes das dos anos 60,70 e 80. É impressionante como, aqui no Recife, desapareceram nossos cinemas, depois da estratégia dos conglomerados dos Shoppings Centers. O Recife perdeu todas suas salas de cinema comuns nas principais praças e vias da cidade
Sou dos tempos em que assistir a um filme exigia-se estar enfatiotado, metido num terno e “enforcado” por uma gravata. Para entrar nos antigos cinemas do centro da cidade – São Luis, Moderno, Art-Palácio e Trianon – o neguinho tinha que estar elegante. As moças usavam roupas toaletes e não dispensavam um par de luvas. Pensem numa gente alinhada... Nos trinques!
Indumentárias à parte, é de se considerar que sem a forte concorrência da moderna TV por assinatura, dos vídeo-tapes, DVDs e locadores de filmes da vida moderna a coisa se revestia do maior clima. Pré-estréias de gala, sessão da meia-noite e matinais infantis. As matinês eram sensacionais. Acho que a turma de hoje nem sabe o que significam os termos matinal, matinée e soirée, tirados do francês para encantar a sociedade tupiniquim.
Quem vem da juventude dourada dos anos 60, jamais esquecerá as manhãs de sábados com o cinema de arte do São Luis. Era um dos programas mais tchan (ainda se usa esse termo?) da época. Antes da sessão rolava a maior paquera e o filme, propriamente dito, muitas vezes, perdia o encanto diante das emoções que rolavam na platéia.
Hoje a coisa é diferente. O espectador corre num shopping, sofre para estacionar seu veículo, normalmente atravessa longos corredores apinhados de gente, tem dificuldades de escolher o filme que deseja dada a oferta elástica de títulos e gêneros, elege um, compra um quilo de pipocas e um litro de refrigerante, entra, se espalha numa poltrona espaçosa e embarca no mundo da fantasia, enquanto vai sujando o salão. Ao final de cada sessão a turma da limpeza sofre...
Não que isto seja ruim... Nada disso! Até porque as modernas tecnologias – de som e imagem digital, efeitos especiais etc. – transformam a arte cinematográfica em espetáculo de primeira grandeza. Mas, que dá saudade do passado, isso dá.
Mesmo transformado e sofrendo fortes concorrências, cinema é a melhor diversão. Êita, que frase original!

Nota: Foto da belissima sala de exibição cinema São Luiz, no Recife, hoje fechado e entregue às baratas. Obtida no Google Imagens

5 comentários:

Anônimo disse...

Girley:
Parabéns pela análise. A parte do Recife, peguei o finalzinho (década de 70) mas a do Rio peguei toa, fui um grande frequentador do Roxy, mas ia mais aos de Niterói onde morava.
Mas, sabe o que eu acho? Nós estamos é ficando velhos. Minha mãe dizia que a boa novela era a do rádio que usava a imaginação das pessoas, na televisão não tinha graça, já minha avó, achava que ler era muito melhor.
Um grande abraço
Corumbá

Cássio Reis disse...

Com certeza, o que fizeram com que esses cinemas fechassem foi justamente a tecnologia de som e imagem, não investiram, já viu... Além de que os empresários visualizaram uma melhor chance de lucro colocando os cinemas dentro de shoppings, como vocês mesmo citou no texto. Infelizmente, foi o caso do nosso Cinema São Luiz aqui em Recife. Mas, ouvi dizer que ele voltará a funcionar. Espero que este boato seja verdadeiro, pois além de ter sido um grande cinema, o preço do ingresso não era tão abusivo comparado aos cines dos shoppings.

Anônimo disse...

OLá Girley
Você foi provocar lembranças muito boas do COLISEU, principalmente das matines do domingo e do tempo em que foi o distribuidor exclusivo da Metro, a do leão, no Recife. Bons filmes boas paqueras
um abraço Joe

Anônimo disse...

Meu caríssimo Girley,

Lendo suas elucubrações cinematográficas – concordo com todas. Incontáveis vezes saí de Olinda, de ônibus, paletó, gravata e calça curta, para assistir as MATINÊS no São Luiz, Trianon e Art Palácio. Tempos depois, já de calça comprida, saía do cinema, ia tomar um sorvete no Gemba e olhar “extasiado” as belas moiçolas no “Quem me quer” das margens do Capibaribe.
José Artur Paes

Wilma disse...

Primo Girley,

Voce escreve e diz tudo.Como é bom relembrar os bons tempos que não voltam jamais...Tempos de tranquilidade,saíamos sem a preocupação de sofrermos qualquer violencia.Sempre converso com meus filhos e falo dessa saudade.
Grande abraço e parabéns por tudo de bom que voce sempre escreve.
Wilma.

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