segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vozes do Poder

Grandiosidades à parte, dos dois empreendimentos inaugurados no fim de semana passado, em Suape, aqui em Pernambuco, chamou-me a atenção a forte conotação política que caracterizou os dois eventos.
Cortar a primeira chapa de aço para compor uma primeira embarcação a ser produzida no Estaleiro Atlântico Sul – EAS não poderia ter manifestação política maior do que vi, sob os majestosos galpões já construídos e ecoando nos canteiros de obras na Ilha da Tatuoca.
O Presidente Lula fez da oportunidade um verdadeiro happening político, ao desembarcar no estado com um séqüito de ministros e assessores dispostos a transformar a ocasião num grande comício de campanha política, para o momento e para o futuro. Um verdadeiro golpe de mestre. Tudo bem, ele tem lá suas razões e os pernambucanos agradecem. Mas, no afã de dar visibilidade aos seus afetos termina por abusar do direito de fazer campanha política velada e negar, a quem de direito, partes dos louros do sucesso. São as coisas perversas da política partidária.
Administrar oito discursos, a maioria dos quais inflamados e com jargões populistas, dirigidos a uma platéia formada, basicamente, de trabalhadores da planta terminou por transformar a “festa” num festival de aplausos e ovações além das medidas. Para quem foi lá interessado a ver o essencial, como foi meu caso, o momento chegou a ser exaustivo e inoportuno. Paciência. Fui para chuva, tive que me molhar.
O outro empreendimento, inaugurado no sábado, foi o da IMPSA (Wind Power Energy), empresa de capital argentino, que vai produzir, também em Suape, geradores de energia eólica. Dizem ser a maior do gênero na América Latina. Para este evento, quem veio foi a Presidente da Republica Argentina, Cristina Kirchner, voando de Buenos Aires direto para o Recife.
Esta inauguração teve uma dimensão menor, dadas as proporções do empreendimento, mas, igualmente, com importante componente política. A vinda da Senhora Kirchner além de conferir um imenso prestigio aos que fazem a empresa argentina – o Grupo Pescamona – líder no ramo naquele país e maior na América Latina, veio recheada de intenções político-econômicas a serem firmadas entre Brasil e Argentina. Há tempos não se falava tão bem em integração econômica.
Dessa vez, foram poucos e bons discursos. A vaidosa presidente argentina – na minha avaliação, ela faz o tipo mulher sedutora – foi à tribuna e brindou os poucos e seletos convidados com um discurso daqueles que costumo chamar de redondo. Com pé e cabeça. E, não foi nada pré-escrito. Foi um improviso subsidiado pelas falas que a antecederam. De forma sucinta e bem arrumada, a presidente elogiou a atual política industrial brasileira, manifestou compromisso com um intenso programa de integração econômica com o Brasil, alertou para a importância da utilização de processos industriais que agreguem valor aos produtos e, por fim, referindo-se ao discurso do empregado da empresa que, em tom otimista, confessou seu compromisso com a empresa para transformá-la na maior do mundo, porque da América Latina ainda é pouco, La Kirchner elogiou o entusiasmo do brasileiro, pela auto-estima e a vontade de crescer. Justificando, disse do esforço que vem desenvolvendo para recuperar a auto-estima do seu povo, ainda muito sofrido por tantas políticas sócio-econômicas equivocadas praticadas no passado recente do seu país.
Confesso minha surpresa com a fala da presidente e digo isto porque a achei excessivamente preocupada com as madeixas e a maquiagem, antes de usar a tribuna. A propósito, acho que ela não gostou nada da aspersão de água benta, no rosto, feita pelo pároco do Cabo de Santo Agostinho que abençoou as instalações da fábrica. Secou a face com um leque que portava e acionava seguidamente. Ela nem percebeu que o religioso quis apenas agradar a ilustre visitante. Pois é, foram dois momentos importantes para Pernambuco e consagrados com vozes de muito poder.


Nota: Fotos do Blogueiro. Lula admirando a moderna maquina de corte da primeira chapa e a Presidente Cristina Kirchner cheia de dedos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amigo GB,

A política do Presidente Lula sofre de uma doença muito grave, chamada "aminésia paternal". Parece que é endêmico, inclusive - tenha muito cuidado.
Todos nós sabemos que a idéia nasceu nos anos 70, mais precisamente criado em 7 de novembro de 1978, através de uma lei estadual que criou a empresa Complexo Industrial Portuário de Suape. De lá pra cá, entra governo, sai governo e muito se fez parea chegar onde cehgamos. No governo de Jarbas/Mendonça há de ser reconhecido o grande esforço desempenhado naquela administração, inclusive com sua valiosa contribuição. Fica aqui registrada minha homenagem ao seu trabalho à frente da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco. Muitos dos investimentos carreados para Suape passaram pelas suas competentes mãos.

Anônimo disse...

Prezado Girley,Belo artigo.Coincidentemente,também participei de um evento no mês passado aqui no Pará com a presença do Lula.O evento estava marcado para iniciar às 11 horas,começou às 13:30.E o resto foi exatamente como você comentou sobre o evento em Pernambuco.Eles são bom nisso.Um grfande abraço,David Leal

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