terça-feira, 4 de agosto de 2020

Um Lobo Guará na Carteira

Na semana que passou o Banco Central do Brasil anunciou a emissão de uma nova cédula de Real, no valor de R$200,00, ainda neste mês de Agosto entrante. Surpresa para muitos e compreensível para quem lida com Moedas e Bancos. Os comentários gerados no meio específico foram, tanto de cunho técnico, quanto jocosos. A primeira interpretação de um colega de profissão foi arrematada com um sonoro “é o Real descendo a ladeira”. Outro deu explicação fazendo a comparação com o valor que representa a atual cédula de R$ 100,00 em face do valor por ocasião da adoção do Plano Real, em 1994. Pelos cálculos do técnico, a azulzinha – com a imagem do peixe Garoupa – hoje circulando não passa do surpreendente valor real girando ao redor de R$16,00. Acho que isto explica bem, sem precisar desenhar. A nova cédula vem com a imagem de um Lobo Guará, que pode ser uma garantia. Não é toda hora que se tem um lobo de sentinela. Outra coisa lembrada, daquele ano de 1994, foi que US$ 1,00 era comprado pela incrível taxa de R$ 0,85. A nova Nota que vem por aí reflete a desvalorização da nossa moeda, face à inflação que nunca cedeu a contento.

Não faz muito tempo que o atual Governo, numa ideia extrema , levantou a hipótese de modificar todas as cédulas circulantes conferindo tamanhos diferentes, conforme o respectivo valor, além de adotar novas feições gráficas com o objetivo politico claro de, num tempo limitado de troca, obrigar a que muitos corruptos acumuladores de fortunas em espécie, em locais secretos, desovarem o fruto da roubalheira desbragada que se registrou no país, no passado recente. É emblemático e inesquecível o caso do politico baiano, Geddel Vieira, que manteve R$ 51,0 milhões em estoque no apartamento de um amigo, em Salvador da Bahia. Para esses “poupadores” a oportunidade, agora, de necessitar de menor espaço para suas acumulações! Se serão pegos é outra questão.

O curioso, por outro lado, é que o florescente uso do dinheiro de plástico (cartões de crédito) e as transações eletrônicas, nestes tempos de Pandemia, tiveram a oportunidade de se popularizar de modo irreversível. Poucos se aventuravam em manusear as corriqueiras cédulas monetárias temendo a contaminação do vírus da Covid 19. Graças ao vírus, aliás, duas coisas estão sacramentadas: vendas on-line e home-office. Clientes e lojistas estão entusiasmados com essas vendas por via eletrônica, assim como grandes corporações e entes governamentais já estão convencidos de que essa nova “onda” veio pra ficar. Segundo dados publicados na imprensa, estima-se que as vendas on-line cresceram entre janeiro e maio deste ano a expressiva taxa de 137,35% se comparado com o mesmo período do ano passado. Antes eram produtos de menor importância no dia-a-dia, que hoje são substituídos por produtos eletrônicos, roupas, sapatos e remédios. Surpreendentemente, produtos alimentares e de limpeza – demandados normalmente nos supermercados – passaram a ser comercializados pela internet e entregues em domicílios. É, de fato, um novo tempo.  

Dias recentes, andei lendo, num jornal espanhol (20 Minutos de 30.07.20), uma matéria intitulada: O Virus Acelera o Ocaso do Dinheiro em Efetivo. O repórter Pablo Segarra assegura que ”o Coronavirus está provocando [na zona do Euro] uma redução do uso de dinheiro em espécie, que já estava minguando antes da Covid-19 em favor dos Cartões de Crédito, os pagamentos [por aproximação] com telefones celulares e, em menores casos, pelo reconhecimento facial”. Consequência imediata foi que, na Espanha, a retirada de dinheiro “cash” em Caixa Eletrônicos caiu em 70%. Provavelmente o mesmo no restante da Zona do Euro. Verdade que o afastamento social obrigava a reclusão em casa, porém, todos tiveram que abastecer suas despensas, usar produtos de higiene e limpeza e medicamentos. A solução foi o uso das transações eletrônicas. O Banco Central Europeu, porém, descarta o desaparecimento dos efetivos em Euros.

A verdade é que as transações eletrônicas estão em uso cada vez maior, tanto nas negociações dos grandes bancos e corporações, quanto no circulo do cidadão comum. No dia-a-dia. A propósito, já parece claro e sintomático que a Reforma Tributária que o Governo pretende emplacar traz o anúncio da criação de um imposto sobre transações eletrônicas. Coisa do tipo 0,02% sobre cada operação, provando que a coisa vai pegar e Brasilia está antenada. Bom, será uma CPMF renomeada. Olho nisso!

Aqui no Brasil, muitos são aqueles que habitualmente não portam dinheiro em espécie e usam para qualquer transação (combustível, estacionamento, alimentos, restaurantes, cinemas, entre muitos outros itens) do dinheiro de plástico ou por aproximação do aparelho celular. Breve vem pelo reconhecimento facial. Difícil, obviamente, será acabar com a grande circulação do efetivo em Real, haja vistas para a população periférica desprovida, no geral, dos recursos da modernidade digital.

Que venha, pois, a cédula de R$ 200,00 com seu Lobo Guará. Acho que vou manter uma dessas cédulas  na minha carteira para que o Lobo espante os batedores de carteiras.    

NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens. 

 


7 comentários:

Dina Jorge Correa disse...

Se já é difícil trocar uma nota de 50,00, imagina uma de 200,00?!

Kenys Consultoria disse...

Girley, acabei de ler sua matéria! Parabéns, bem apropriada e esclarecedora para o monento atual! Você, sempre nos surpreendendo com seu cabedal de conhecimentos! Forte abraço!

Adolfo Ledebour Filho disse...

Lendo o post do seu Blog sobre o Lobo Guara e a nota de R$200, recordei-me que na transição da URV para o Real, eu ainda estudante de Economia na UFPE, recebi de presente do meu saudoso e amado pai , duas araras , uma garça e algumas cédulas de R$1 com o Beija flor estampado, o presente na totalidade foi algo em torno de R$30 e me recordo que renderam alguns chopps e uma deliciosa picanha no saudoso restaurante , “Picanha do Tio Dada”, lá se vão 26 anos , nossa Moeda perdeu o valor , mas ainda luta! Nosso Real desempenha um grande trabalho, quem se recorda do Dragão inflacionário concordará! Abraço Girley

José Paulo Cavalcanti disse...

Amigo querido. O que quer que faça o governo, a grande midia critica. Se dissesse que não iria lançar, pau nele. Um absurdo. A nota de 100 vale hoje 7 vezes menos e o governo nada faz. Como diz que vai lançar, o absurdo é que Gedel vai precisar de menos espaço . T jeito não. Abraços.

Wirson Santana disse...

Bom dia amigo
Excelente texto parabéns.
Eu acrescentaria o seguinte: o governo está tentando reduzir o custo de emissão de dinheiro; a criação do novo imposto(nova CPMF), com certeza vai aumentar a fuga para dinheiro em espécie.

Ina Mello disse...

Parabéns amigo! E não iam fechar a casa da moeda? Para mim esse lobo é o retrato(assim mesmo, bem antigo) do que estão fazendo com o Brasil, só que agora ninguém escapa! Vão comer todos e tudo!

Aldalucia Borges disse...

Para mim facilita a vida. Hoje, mil reais tem muito volume. Até à carteira reclama. Imagine para altas transações , que exigem em especie. ????

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