domingo, 26 de julho de 2020

Boatos Modernos


Ando indisposto para tecer comentários sobre o panorama politico nacional. Na verdade decepcionado com tudo que vem acontecendo. Vejo, a passos largos, a redução dos chamados direitos legais do cidadão comum que, além de ser preocupante, aponta para um esgarçamento do tecido democrático já tão pressionado nos últimos tempos. De todo modo, é a proposito desse assunto, desse pandemônio politico, que trato considerando os recentes episódios de cassação de espaços pessoais ou coletivos nas redes sociais. A primeira indagação é: e a liberdade de expressão onde fica? 
Naturalmente que acredito na proliferação de muitas mentiras e boatos cometidos nesses modernos meios de comunicação, o que considero inteiramente condenável. Interpreto como sendo sinais evidentes de uma sociedade que ainda não sabe diferenciar conceitos básicos de convivência social sadia, como, por exemplo, os da liberdade versus libertinagem, escondidos pelo “biombo” da liberdade de expressão. Faltam duas coisas fundamentais nessa gente: respeito e ética, resultante de uma falha formação cívica e de princípios educacionais.
Desde que me entendo de gente ouço falar de boatos. Parece ser coisa da natureza humana. O hábito de fabular maldades é congênito e o brasileiro é mestre nessa “arte”. E quando se trata de atingir a moral de um terceiro ou tirar o sossego de uma coletividade é verdadeiro fascínio para o agente boateiro(a). Recordo, a propósito, de um caso emblemático: todo pernambucano que viveu a trágica enchente que atingiu o Recife, em 1975, deve lembrar que quando a cidade já se recuperava e tentava voltar à normalidade, um boato foi espalhado na cidade dando conta de que a Barragem de Tapacurá (grande represa situada na área metropolitana da cidade) havia rompido e a capital pernambucana seria destruída por uma gigantesca inundação. Foi um verdadeiro dia de Juízo Final para a população. Dizem que morreu gente ao tomar conhecimento do boato. Passadas algumas horas de verdadeiro “fim-de-mundo” veio a noticia oficial de que se tratava um boato, invenção da mente doentia de um boateiro-master de plantão. A boataria boca-a-boca sempre foi hábito comum e para algumas pessoas é verdadeira compulsão. É sabido que nas pequenas comunidades sempre existe uma ou várias velhotas fofoqueiras fabricantes de boatos, que "animam" a vida pacata de cada local. Há casos fantásticos transcritos em obras literárias de sucesso.
Quem acompanha os avanços tecnológicos da comunicação deve lembrar que “passar trote” por telefone foi, durante muito tempo, passatempo divertido e em muitos casos para espalhar boatos. Ainda existe, certamente, quem se dedique a esse lúdico divertimento transferido agora para o popular WhatsApp.  
É preciso entender que o que ocorre na atualidade é sinal do progresso. Dispondo de recursos ágeis e fáceis, como são as redes sociais da Internet, a prática da boataria se tornou galopante e ganhou a importada denominação de fakenews, rapidamente assimilada pelos colonizados brasileiros sob a desculpa de ter-se que falar a língua oficial da Rede Mundial, o inglês. Em poucos segundos um ardil boato, quer dizer, uma fakenews pode atingir milhares ou milhões de pessoas espalhadas mundo afora e causar um imenso estrago. Tem coisa mais fácil? Por enquanto, não. A consagrada denominação é tamanha que ganha espaço tranquilo inclusive na linguagem do dia-a-dia do Parlamento Nacional, ao aprovarem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito como é o caso da CPI das Fakenews. Os argumentos que justificam a tal Comissão são os mais discutíveis possíveis e, para que seja justa e correta, trazem um evidente viés politico provocando embates acalorados. No meu ver, estão gastando tempo, dinheiro e energia com um tema que dispõe de uma bateria jurídico-legal que pode dissolver dúvidas e pendengas politicas deixando à margem da legislatura discussões por medidas corretivas aos setores da Saúde, Educação e Segurança públicas que clamam por atenção.
Nossos poderes constituídos, que se manifestam prejudicados e temerosos - contra ou a favor da CPI - com a moderna boataria, precisam se ajustar aos novos tempos e saberem administrar boatos (fakenews) que sempre fizeram parte da vida.

6 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

É um tema delicado, amigo. O que está em jogo é a política. Mentira na internet é mais corrosiva, para a democracia, que vícios como corrupção ou utilização de aparato estatal com fins eleitorais? Essa a questão central. E o risco é o da institucionalização da censura. Em curso, no Brasil. Cuidado no tema. Abraços do devoto.

José Otavio de Carvalho disse...

Parabéns amigo. Tema de altíssima relevância e atualidade. Assistimos à lassidão da consciência coletiva que distorce a hierarquização dos valores. Nossa arma é o voto, mas não vemos timoneiro que o mereça.

Severino Luís de Araujo disse...

Como sempre, muito bem escrito e o tema é atual.

Belkis Arreaza disse...

Buenas noches. Gracias por la información. Me parece bien interesante. Mia saludos desde Ciudad Guayana Venezuela. D 4370
Me gustaría continuar recibiendo la publicación. En mi pais tambien esta presente este problema no solo Fake News, la prostitución infantil es terrible.
Exito.

Ina Melo disse...

Concordo contigo sobre este novo mundo de velhas fofocas e mentiras, agora chamadas de Fake News, mas num País que o seu dignatário é o primeiro a espalhar, podemos confiar em quem? Sabes que uma mentira muitas vezes repetidas vira uma verdade e é isso que enche a cabeça do povo crédulo e ignorante. A única coisa que discordei foi das “mulheres velhas fofoqueiras😂😂😂😂” Conheço tantos homens que gostam muito mais,principalmente nas rodas de dominó e nas mesas dos bares! Abraço

Júlio Torres Silva disse...

Querido Girley, como siempre tu columna es muy interesante y en casos como la presente, excede los límites de Pernambuco para convertirse en un problema latinoamericano.
Aquí en Chile al igual que acontece en la Argentina, habitualmente se dan casos equivalentes en que al amparo del anonimato, se difunden ‘fake news’ tan bien articuladas, qué parecen absolutamente verdaderas y que de a poco van socavando las bases de la sociedad y también de la credibilidad de las personas.
Concuerdo con lo que dice uno de tus seguidores cuando señala que tanto o más peligroso que las ‘fake news’ sería el surgimiento de la censura...!
Pienso al igual que tu, que parte del problema radica en la carencia o perdida de los valores esenciales de respeto hacia los demás y a la laxitud con que entre otros muchos factores, se aplican los marcos éticos, junto con la inexistencia de sanciones al difamador, o a quienes intencionadamente emiten mentiras.
En español también se dice algo parecido a lo que señalas “miente, miente que algo queda...”
Así, si reiteradamente se difunde que con razón o sin ella, el dirigente tal o cual es corrupto o ladron, la mayoría termina asumiéndola como verdadera y así la honra de quien es inocente termina siendo destrozada en forma irreparable... y todo por causa de un maldito irresponsable!
Creo que lo que nos falta a los latinoamericanos es “cultura cívica”...
Un gran abrazo!
Julio Silva Torres

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