domingo, 28 de junho de 2020

Junho Nostálgico

O tempo vai correndo e mais uma semana termina sem que a pandemia dê a trégua que todos desejam. Esta que hoje termina deixa, certamente, sabor diferente das antecedentes pelo clima nostálgico que imprimiu, aqui nas bandas do nordeste. Junho vai acabando e levando, sem festejos, um tempo irrecuperável dos tradicionais folguedos em homenagens aos santos Antônio, João e Pedro. A crise sanitária impediu que acendêssemos nossas fogueiras, espocássemos nossos fogos e soltássemos nossos balões como dantes sempre fizemos.
Viva São João - Nordeste 
Se não festejamos devido ao cansativo e necessário afastamento social imposto pela Covid-19, restaram-nos as lembranças dos tempos passados e, nessas circunstancias, a oportunidade de avaliarmos e melhor valorizarmos algo cultural que imaginávamos nunca cessar. Coisas da vida e da história que segue.   
Sempre fui muito ligado às tradições culturais e fiz questão de comemorar ao tempo e a cada hora. Carnaval, páscoa, natal e os festejos juninos. Estes com direito às manifestações tradicionais trazidas pelos portugueses e adaptadas aos trópicos com fogueiras, danças da quadrilha e comidas da época. Acrescidas com o passar dos tempos de xaxados, baião e forrós. Coisa que trago da infância e do seio familiar. Lembro que a cozinha da minha casa, na véspera do dia de São João, era invadida pela cor e o aroma das  reluzentes espigas de milho tiradas das palhas e transformadas em cangicas (curau da região sudeste), pamonhas, cozidos simplesmente e do inesquecível bolo de milho verde, receita de família, que compunham a mesa das noites de folguedos. Ainda sou capaz de sentir a sensação e os aromas desses sabores produzidos sob a batuta da minha mãe. Outra coisa inesquecível era a antecipada compra de fogos, providenciada pelo meu pai e mantido, num grande pacote, por dias, sobre o guarda-roupa no quarto dele e da minha mãe. Era um clima de verdadeiro frisson para mim e meus irmãos que admirávamos curiosos aquele volume de onde sairiam luzes e “explosões” na grande noite. Naturalmente que uma fogueira, precisamente diante da porta de entrada da casa, era acessa às 6 da noite para dar sorte e animar a todos. Belas noites juninas que foram se perdendo, como fumaças das lenhas queimadas, com a transformação do Recife na Metrópole de hoje.
Com o avanço do progresso, na cidade grande, fomos tangidos para o interior e é por lá que tentamos repetir as noites do passado. Mas, nem isto neste ano de pandemia. O mundo parou e se fez silêncio nas noites de junho deste ano. O Nordeste mergulhou num retiro inesperado e sem precedentes. Não houve fogueiras nem fogos. Ninguém dançou a tradicional quadrilha. Tempo estranho. 
Tomando uma taça de vinho, esses dias, pus-me a lembrar de que, no passado, fui um exímio mestre de quadrilhas. Gritei (era assim que se denominava o comando da dança) muitas dessas. Houve um ano em que fui mobilizado para gritar seis quadrilhas, entre os dias 13 (Santo Antônio) e 28 (São Pedro). Terminei sem voz por dias porque a coisa era na base do grito, mesmo. Não havia as facilidades de equipamentos de som como nos dias de hoje. Éramos felizes e nunca imaginamos viver um tempo de pandemia, sem fogueira e sem balões. Sem chuveiro de prata, sem “peidos-de-veia” e “bichas-de-rodeio”.  Sem estrelinhas. E sem busca-pé! Lembrei ainda que, anos recentes, comemorei os períodos juninos nos nossos interiores: com a família em Fazenda Nova, Bonito e no meu tranquilo refúgio de Gravatá. 
Entre os Bonecos Gigantes de Braga (Portugal)
 
A exceção foi, há dois anos, que tive a curiosidade de conhecer de perto as famosas festas de São João no norte de Portugal. Fui com minha família. Por incrível que pareça, ao contrário do Brasil, os festejos portugueses é quase um carnaval. Escolhemos a cidade de Braga que se enfeita de modo feérico num verdadeiro festival de luzes e cores. Bandas de rock se espalham pela cidade num festival de músicas internacionais, inclusive muitos sucessos brasileiros. Desfiles de grupos, inclusive um de bonecos gigantes! Lembrei-me de Olinda! As pessoas se entregam a noitadas de vinhos, sardinhas na brasa e goles de licor de ginja. A ginja é uma frutinha típica similar a uma cereja. Muito popular em Portugal. E tem bacalhau, claro. Tem também uma grande queima de fogos, a meia-noite, que se assemelha a uma noite de réveillon. Sinceramente, sai surpreso.  Não diria haver sido uma experiência boa. Mas, valeu já que sou da opinião de que na vida há de se conferir de tudo e aproveitar.
Fazendo uma comparação, ainda prefiro nosso estilo. 
Na verdade, apesar das inovações que se observam nas danças modernas de quadrilha, com uniformizadas fantasias, mantivemos boa parte da tradicional cultura. E Viva São João. Ainda que num ambiente nostálgico.
      
NOTA: Foto colhida no Google Imagens e do Arquivo pessoal. 
       

4 comentários:

Claudio Targino disse...

Poe nostalgia nisso, mas não desanime. Mantenha sua voz, que para o ano que vem, você voltará a gritar quadrilhas, quem sabe no Engenhoca Parque.

Ana Miranda disse...

Realmente que clima nostálgico esse , cunhado, ficamos em casa numa rotina terrível dia a dia e esse S. João passou em branco mesmo . Tudo por causa desse vírus 😢

Rosanilda Lucena disse...

São João sem,fogos ,fogueira ,quadrilha e o tradicional forró tivemos direito apenas as tradicionais comidas da época fora isso muita solidão ,distante dos filhos netos e familiares ,na esperança que essa pandemia passe e nos deixe com vida amém.Parabens pela sua elogiável descrição 🙏🏻👏👏👏👏

Vanja Nunes disse...

👏👏👏👏👏👏
Saudades boas !!! Mas que venha 2021 para comemorar

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