sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Assim falou Janot

Não demorou muito e, logo na segunda feira desta semana que finda, recebi uma versão virtual do livro de Rodrigo Janot, segundo a Editora, vazada pelo Whatsapp. Prova, mais uma vez, de que não escapa nada das chamadas Redes Sociais. Fiquei surpreso, naturalmente, mas, meti as caras e devorei a lavra do ex-Procurador Geral da Republica em duas investidas. O livro é instigante para quem, como este Blogueiro, vive antenado na “chafurdação” política deste nosso país. Não se trata de nenhuma obra especial de literatura. É praticamente um relatório de trabalho na gestão da PGR, durante dois períodos, entremeado levemente de passagens da vida pessoal, algumas interessantes como os dotes culinários e que exerceram momentos hilários na vida profissional do Procurador mineiro. Coisa típica de mineiro bom de manejar panelas e temperos.
A primeira coisa que percebi, no decorrer da leitura, foi entender melhor até onde vai o poder de um Procurador Geral da Republica. Tanto para fazer o certo ou o errado. Nos países de língua espanhola o cargo tem uma denominação mais enfática: Fiscal Geral da Republica. Pense nisto!
Lendo os relatos de Janot me pareceu haver sido ele um fiel cumpridor do papel que lhe foi confiado. Claro que não sou ingênuo e me precavi na leitura, tendo sempre em mente que se tratava de um relato longo e conduzido sempre na primeira pessoa, com forte dose de vaidade pelos próprios feitos. Não vejo nisto, aliás, um pecado capital. Quem escreveu como ele, pode se garantir. Mas, fui cuidadoso ao interpretar cada posicionamento. Dessa maneira vi que se trata de um patriota que se revelou firme nos propósitos que são atribuídos a um procurador comum e muito mais a um Procurador Geral. Confesso que senti um rasgo de esperança no futuro deste país pensando na possibilidade de termos pessoas sérias e dignas ao papel.
Por feliz coincidência Janot foi protagonista nos andamentos iniciais de processos e investigações da Operação Lava Jato e autor de requerimentos de prisão a muitos corruptos tidos como luminares da Republica. A ele pode se dever muito pelo sucesso da Operação. Na época foi impressionante a parceria com Teóri Zavascki, relator da operação no STF. Pensando bem, aquela morte de Zavascki num acidente aéreo... Sei não... Foi uma lástima. Parecia que tudo iria d´água abaixo. Mas, a Nação saiu vitoriosa.
Zavascki, morte em acidente aéreo duvidoso.
Foram muitas passagens sórdidas e repugnantes relatadas ao longo de cada capitulo do livro/relatório. Vai causar muitos estragos, ainda.
Ah! É preciso ler este livro para entender melhor a rede de corrupção internacional que foi tecida por tantos corruptos e por empresas - como a Construtora Odebrecht - centrada no Brasil.
Concordei de cara com Janot quando, no livro, classificou a situação política brasileira como sendo "um teatro de horrores onde se encena a luta pelo poder". Coisa esta que lhe dava calafrios a todo instante à frente da PGR. De fato, acredito que o sujeito que entra numa missão dessas paga caro e fica marcado para o resto da vida. Num país como o nosso ser o “fiscal geral da Republica” é preciso ter sangue de barata e vez por outra provar de um bom tranqüilizante. Segundo ele, manteve sempre no anexo do Gabinete da PGR um frigobar com toda sorte de “tranqüilizantes”, entre os quais: vinho, cerveja, whisky, cachaça e similares. Quando o clima pressionava na Equipe, nas altas horas da noite, ele fazia um pitstop nos trabalhos e convocava para uma distensão. Não foi à toa que denominou a tal geladeirinha de farmacinha. Gostei. Taí, um cara bem humorado nas horas de aperto. 
Janot com ideias pouco dignas para um Procurador Geral. Matava e me suicidava em seguida. 
Como qualquer outra pessoa, esperei ansioso encontrar o registro da bombástica confissão da semana passada no livro. Em nenhuma página ele mencionou haver ido armado ao plenário do Supremo para matar o Ministro Gilmar Mendes e se suicidar em seguida. Depois de tantas fantásticas histórias vividas seria, até mesmo, ato de covardia. Isto, aliás, me pareceu haver sido uma propaganda enganosa para detonar a venda do livro. Porém, disse, sim, que foi armado e que uma força divina o segurou na hora que teve ganas de acionar o gatilho. Tampouco falou a quem poderia direcionar o projétil. A revista Veja da semana deu uma senhora alavancada na divulgação da obra. Mas, infelizmente (ou felizmente) a edição vazou, pelas torneiras das redes sociais. Quem terá sido o autor do vazamento? Eis um novo desafio para o ex-fiscal-mor da República!  
No final das contas, em meio a descrições sórdidas de investigações, entrevistas, audiências, prisões e procedimentos correlatos, Janot deixa claro que todos os políticos graduados da Nação, incluindo presidentes da Republica, comungam de um único desejo: acabar com a Lava Jato! É uma vergonha.
O livro é encerrado com uma predição de que, daqui pra frente, nada será como antes. Nada menos que tudo! Interpretemos como possível.

NOTA: Fotos colhidas no Google Imagens 


NOTA: Chafurdação significa chiqueiro, em português claro.     

7 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Nosso Janot não é mesmo grande coisa. Mas tem muita gente lamentando que tenha recuado no seu intento. Abraços vaticanos, do leitor e amigo de sempre,

Wirson Santana disse...

Excelente postagem amigo. Obrigado por ter lido o livro é por fazer uma síntese do mesmo.
Nosso país tem muito a aprender com você.

Ana Inês disse...

De cara, pensei em ação pra alavancar a venda do livro e pelo visto, foi isso mesmo. Gostei do seu resumo. Gde abraço

Sérgio Fonseca Filho disse...

Amigo Girley que bacana sua publicação. Poderia me enviar o livro digital de Janot que vc recebeu ? Será que a fonte que te mandou é segura ?

Corumbah Guimarães disse...

Muito bom! Acho que o Janot está sendo crucificado pelo que não fez. E ele não fez porque, na minha opinião, não é um homicida. E ponto.

Silvio Leimig disse...

Muito bom o artigo, Girley. Abraço forte

Geraldo Magela Pessoa disse...

Pela síntese do livro, nesta postagem, para mim FGR JANOT cumpriu muito a sua função. Ainda estamos na America,seguido seu conselho de obserar tudo,sem o seu magnífico poder, de reter e distribuir conhecimento adquirido em suas vagens . Abraços.

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