segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Mar Negro


Pra inicio de conversa, não me refiro ao Mar Negro existente na Europa, entre a Turquia, a Rússia e outros países menores da região. Falo, sim, de um mar muito próximo e que vem sendo tingido de negro num acidente ambiental sem dimensões definidas e causando transtornos onde somente e sempre se respirou ares de paraíso e com águas verdes e turquesa. 
Praias do Nordeste brasileiro neste mês de Outubro
Parece ironia, mas, depois do alarmante episódio das queimadas – que, segundo monitores, ocorre anualmente, certa época do ano, na Amazônia – eis que uma surpresa desagradável atinge o Brasil, em particular as costas do Nordeste brasileiro: toneladas de petróleo (óleo pesado) foram derramadas ao mar, causando danos inestimáveis à fauna e à flora marinha. Não se sabe, ao certo, a origem desse óleo, embora já se comprove, laboratorialmente, ser óleo de características venezuelanas. O fato é que do Maranhão à Bahia são registradas ocorrências expressivas desse derramamento. Nove estados da região já descobriram os estragos nas suas praias. Animais marinhos já chegam mortos ou cobertos pelo produto nocivo, às areias do litoral. Tartarugas se arrastam cobertas de óleo e, como que, pedem socorro. Peixes bóiam mortos. Um golfinho morto foi encontrado numa praia alagoana, este fim de semana, e já cercado de abutres. 
Golfinho encontrado morto numa praia alagoana
Mais de 160 praias do litoral nordestino registram pontos de manchas desse derrame. As ocorrências acontecem desde os primeiros dias de setembro passado. Correntes marítimas dessa zona do Atlântico trazem com facilidade o óleo derramado de algum ponto ainda não identificado. Nosso plácido mar se tornou um mar negro.
Tartaruga marinha banhada de petróleo bruto. 
Sabe-se que mais de mil navios petroleiros transitaram, nesse período, por este espaço marítimo levando o óleo bruto para diferentes destinos – Europa, África e Oriente – tornando mais complexo identificar o responsável pela tragédia que vem sendo provocada. Várias hipóteses estão sendo levantadas: limpeza do porão de algum desses navios, com descarte de uma carga restante; vazamento por defeito no casco da embarcação; falha no transbordo de óleo navio-navio, em alto mar, e, por fim, a possibilidade de um navio fantasma (não identificado pelos radares de controle terrestre) naufragado. Os navios fantasmas ocorrem quando saídos da Venezuela, escapando do bloqueio norte-americano, desligam os radares e navegam de modo anônimo. Logicamente que, pelo volume da descarga de óleo, fica difícil precisar se se trata de uma ou mais embarcações. Na verdade é um mistério, pelo menos até agora. 
Entidades governamentais (IBAMA, Marinha, Petrobras e Policia Federal) e não governamentais, institutos de pesquisas, ambientalistas, profissionais da área se mobilizam para desvendar o mistério que envolve a situação, realizar a limpeza das praias, manifestar a revolta e identificar a origem do derramamento. Os prejuízos são, até agora, incalculáveis. Além dos malefícios causados às flora e fauna marítimas, já se projetam prejuízos às comunidades litorâneas que vivem da pesca e, também, expressiva queda nas atividades turísticas do litoral nordestino, numa hora de pré-temporada de verão, quando o Nordeste atrai levas de turistas nacionais e estrangeiros.
O mais surpreendente, para muitos, é a relativa passividade da sociedade em geral diante deste fato tangível e preocupante. Aqueles que bradaram aos quatro ventos, aqui e no exterior, suas revoltas pelas recentes queimadas na Amazônia estão calados diante deste outro fato tão alarmante quanto o primeiro. Ora, é um gravíssimo caso de agressão ao meio ambiente, também. Lembrando que estamos numa época em que a mobilização da sociedade tem surtido repercussões políticas positivas, não seria o caso de manifestações especificas? Onde andam os ambientalistas? Os Governos federal e locais têm que se mover com vontade e formas mais enérgicas para que tenhamos este caso elucidado.    

NOTA: As fotos que ilustram foram obtidas no Google Imagens   
 
  

4 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Quando aparecer o primeiro avise, amigo. Belo texto. Abraços lisboetas.

Cenas do Cotidiano disse...

Ainda estávamos ai em Recife e soubemos através
da TV sobre essas horríveis manchas de óleo
Bruto.
Esperamos que as autoridades se movimentem o mais
rápido possível, pois, quanto mais tempo demorar
essa situação, isto poderá ser irremediável....
Se perdermos a visita dos turistas, os prejuizos
serão bem maiores.
Temos que contar com as manifestações já realizadas e
Outras a realizar pois sabemos que muito em breve uma
Plataforma de petróleo da Venezuela está afundando e aí o
Desastre será muito maior de um prejuízo . incalculável.


Júlio Torres disse...

Qué horror!! Como si los incendios en la Amazonia no fuesen suficiente tragedia ahora le toca al mar y a sus playas... y a su fauna tal como le pasó en el interior. Qué le está pasando a Brasil?

Geraldo Magela Pessoa disse...

Bom dia amigo. É de cortar o coração , ver voluntários ,limpando ás praias sem luvas nas mãos. E os responsáveis, fazendo pouco caso da situação. Aguardo o próximo. Como sempre você é muito feliz ,com suas postagens. Obrigado por isso.

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