Esta semana tive uma experiência interessante ao participar,
em Salvador (BA), de um fórum para discutir a questão regional do Nordeste brasileiro.
Vejam só... Vi-me novamente às voltas com o tema que permeou quase toda minha
vida profissional, enquanto economista da Sudene. Este fórum foi um dos capitulo
de discussões sobre a problemática nordestina, que vem sendo realizado por
iniciativa do Centro das Indústrias do Ceará - CIC, sob o titulo de Integra Brasil, com o apoio das entidades
de classe empresarial do restante do Nordeste brasileiro. O objetivo é produzir
um documento/manifesto a ser levado às autoridades federais, cobrando – pela enésima
vez – medidas políticas cabíveis e eficazes para livrar a Região da renitente situação
de pobreza. Estou careca de tanto lutar por essa causa.
O povo nordestino vem, por pelo menos cem anos, clamando e reclamando da situação de desprezo e abandono das autoridades constituídas. Os recursos destinados são, quase sempre, paliativos e só chegam em doses homeopáticas, depois de muitos esforços, suor e sacrifício. São investimentos pequenos e localizados de forma a não atender o universo.
Durante os debates de Salvador fui me atualizando e conclui que mesmo depois de todos os esforços desenvolvidos pela Sudene, Banco do Nordeste, Dnocs, Chesf, entre outros órgãos de fomento, inclusive os estaduais, a Região continua mostrando índices econômicos e sociais que revelam o profundo fosso que a separa do Brasil Grande, centrado no Sul maravilha. Um dos mais flagrantes é o percentual do PIB regional em relação ao nacional: apenas 13,5%. Ainda! Pois é. E o Sudeste continua ostentando o maior percentual, que é de 55,4%. Este mesmo Sueste, vejam só, continua sendo o melhor agraciada com os maiores volumes de investimentos do Governo Federal. Só para que se faça uma ideia rápida, dados recentes mostram que mais de 50% dos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES são levados para projetos no Sudeste Beleza. Rodovias, portos, projetos do setor privado, escolas, hospitais, mobilidade urbana, eventos culturais e outras miudezas. Para melhor situar o leitor ou leitora, saibam que: o Norte responde por 5,3 % do PIB, o Sul por 16,5 e Centro-Oeste por 9,3.
Outro dado que merece uma reflexão é o das concessões do Programa Bolsa Família. Para onde vai o maior volume de recursos? Para o Nordeste é claro! Quanto? 51%. É ali que reside a pobreza, meus amigos e amigas. Tem prova melhor do que esta para revelar a situação de atraso da Região? Acho que não. A nossa gente ganha, agora, o bolsa, vai ao mercado, adquire alimentos, compra serviços e isso é razoável. Mas, compra, também, bens de consumo duráveis. Dinamiza o mercado local, é verdade. Todavia, ironicamente, na compra dos bens de consumo durável, a renda vaza para o Sudeste porque é de lá que vem a produção desses bens. Não é danado? Fico indignado. Mas chega! Não vou mostrar nenhum número a mais. Tenho vergonha. Trabalhei anos a fio, numa competente equipe técnica, para mudar essa situação e a coisa parece ter sido inútil. Cabe, então, a pergunta: onde erramos?
Não, nós não erramos. Os erros que vêm sendo cometidos ficam por conta dos desmandos políticos e dos políticos incompetentes. Temos uma bancada grande, mas sem condições de levantar a voz. A questão do Nordeste sempre foi e nunca deixará de ser uma questão política. Lembremo-nos que só se consegue alguma coisa quando ocorre a vontade política. E essas, infelizmente são espasmódicas. Foi dessa maneira que instituíram o Dnocs, a SUDENE, o BNB e a Chesf. Estes trabalharam e produziram. Mas, foi insuficiente. Faltou a decisão de investir de forma maciça, no tanto e no como dos projetos apresentados.
Naturalmente que o Nordeste cresceu, porque o Brasil cresceu e arrastou a Região. Mas o crescimento se deu concentrado nas regiões metropolitanas. Recife, Salvador e Fortaleza são provas concretas disso aí. Mas esse não é o Nordeste sobre o qual me refiro. O Nordeste que ronda sobre minha cabeça, neste momento, é aquele mais prá lá das metrópoles e capitais menores, sem rodovias dignas para alcança-lo, castigado pelas secas frequentes, onde o progresso é somente palavra inscrita no auriverde e augusto símbolo da pátria, onde a educação e a saúde inexistem, a moradia é subnormal, o roçado é perdido, onde o gado morre de sede e a fome impera. Falo de um Nordeste que carece de infraestrutura competitiva, de perfeita distribuição de águas (interligação de bacias hidrográficas), investimentos produtivos e de educação, saúde e emprego para sua gente.
Tomara que o Integra Brasil dos cearenses do CIC resulte num forte apelo político junto aos mandatários da Republica e deixemos de ser Pobre Periferia.
NOTAS: 1. Participei do evento em Salvador como representante do Centro das Industrias de Pernambuco - CIEPE e do Sindicato das Industrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE
2. Foto obtida no Google Imagens
O povo nordestino vem, por pelo menos cem anos, clamando e reclamando da situação de desprezo e abandono das autoridades constituídas. Os recursos destinados são, quase sempre, paliativos e só chegam em doses homeopáticas, depois de muitos esforços, suor e sacrifício. São investimentos pequenos e localizados de forma a não atender o universo.
Durante os debates de Salvador fui me atualizando e conclui que mesmo depois de todos os esforços desenvolvidos pela Sudene, Banco do Nordeste, Dnocs, Chesf, entre outros órgãos de fomento, inclusive os estaduais, a Região continua mostrando índices econômicos e sociais que revelam o profundo fosso que a separa do Brasil Grande, centrado no Sul maravilha. Um dos mais flagrantes é o percentual do PIB regional em relação ao nacional: apenas 13,5%. Ainda! Pois é. E o Sudeste continua ostentando o maior percentual, que é de 55,4%. Este mesmo Sueste, vejam só, continua sendo o melhor agraciada com os maiores volumes de investimentos do Governo Federal. Só para que se faça uma ideia rápida, dados recentes mostram que mais de 50% dos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES são levados para projetos no Sudeste Beleza. Rodovias, portos, projetos do setor privado, escolas, hospitais, mobilidade urbana, eventos culturais e outras miudezas. Para melhor situar o leitor ou leitora, saibam que: o Norte responde por 5,3 % do PIB, o Sul por 16,5 e Centro-Oeste por 9,3.
Outro dado que merece uma reflexão é o das concessões do Programa Bolsa Família. Para onde vai o maior volume de recursos? Para o Nordeste é claro! Quanto? 51%. É ali que reside a pobreza, meus amigos e amigas. Tem prova melhor do que esta para revelar a situação de atraso da Região? Acho que não. A nossa gente ganha, agora, o bolsa, vai ao mercado, adquire alimentos, compra serviços e isso é razoável. Mas, compra, também, bens de consumo duráveis. Dinamiza o mercado local, é verdade. Todavia, ironicamente, na compra dos bens de consumo durável, a renda vaza para o Sudeste porque é de lá que vem a produção desses bens. Não é danado? Fico indignado. Mas chega! Não vou mostrar nenhum número a mais. Tenho vergonha. Trabalhei anos a fio, numa competente equipe técnica, para mudar essa situação e a coisa parece ter sido inútil. Cabe, então, a pergunta: onde erramos?
Não, nós não erramos. Os erros que vêm sendo cometidos ficam por conta dos desmandos políticos e dos políticos incompetentes. Temos uma bancada grande, mas sem condições de levantar a voz. A questão do Nordeste sempre foi e nunca deixará de ser uma questão política. Lembremo-nos que só se consegue alguma coisa quando ocorre a vontade política. E essas, infelizmente são espasmódicas. Foi dessa maneira que instituíram o Dnocs, a SUDENE, o BNB e a Chesf. Estes trabalharam e produziram. Mas, foi insuficiente. Faltou a decisão de investir de forma maciça, no tanto e no como dos projetos apresentados.
Naturalmente que o Nordeste cresceu, porque o Brasil cresceu e arrastou a Região. Mas o crescimento se deu concentrado nas regiões metropolitanas. Recife, Salvador e Fortaleza são provas concretas disso aí. Mas esse não é o Nordeste sobre o qual me refiro. O Nordeste que ronda sobre minha cabeça, neste momento, é aquele mais prá lá das metrópoles e capitais menores, sem rodovias dignas para alcança-lo, castigado pelas secas frequentes, onde o progresso é somente palavra inscrita no auriverde e augusto símbolo da pátria, onde a educação e a saúde inexistem, a moradia é subnormal, o roçado é perdido, onde o gado morre de sede e a fome impera. Falo de um Nordeste que carece de infraestrutura competitiva, de perfeita distribuição de águas (interligação de bacias hidrográficas), investimentos produtivos e de educação, saúde e emprego para sua gente.
Tomara que o Integra Brasil dos cearenses do CIC resulte num forte apelo político junto aos mandatários da Republica e deixemos de ser Pobre Periferia.
NOTAS: 1. Participei do evento em Salvador como representante do Centro das Industrias de Pernambuco - CIEPE e do Sindicato das Industrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE
2. Foto obtida no Google Imagens
4 comentários:
Caro Girley, a seca no nordeste não é um problema econômico ou mesmo climático, mas sim, moral. Aliás poderia nem ser problema pois aquele solzão é tanta energia, que seria suficiente para irrigar, transportar barato e tornar independente os sertanejos (das sazonalidades, não do tempo, mas dos governos). Não se pode combater a seca, não se pode implantar um modelo produtivo no sertão seja o mesmo de outras regiões e finalmente não se pode querer ajustar o homem ao sertão sem que não nos indignemos, antes. Abraço, Fernando Buarque
Parabe GIRLEY,
Voce esta certo, todos que nao somos alienados conhecemos esta historia.
Irreparável, como sempre, o Blog do meu amigo Girley Brazileiro em sua análise sobre o Nordeste.
Minha única observação é que, estive recentemente em São Paulo City, nossa maior região metropolitana e Big Apple dos trópicos. Observei que, girando pelos extremos daquela região metropolitana, encontrei os mesmo problemas urbanos e rurais que atingem o Nordeste. Aliás, São Paulo é a maior cidade do Nordeste, sendo dados populacionais do IBGE!!*:) feliz
Amigos(as), a falta de gestão inteligente de recursos atinge todo o Brasil. O que falta aqui, além do que ele brilhantemente colocou, é o que está acontecendo agora: COBRANÇA (accountability and aswerability). Cobrança pela entrega do que foi prometido em campanha aliado ao que é obrigação entregar daqueles que foram eleitos.
Durante anos aceitamos estradas "sonrizal" que se dissolviam à primeira chuva. Quantos não foram os projetos aprovados na Sudene para, depois, ser levado à falência intencionalmente e o meliante escapar através da pleiade de recursos "cabíveis à matéria". Aliás, quantos empresários e funcionários do governo foram presos após a CPI das Obras Inacabadas? NINGUÉM.
E as usinas nucleares compradas nos anos 70? Só tem 2 funcionando e uma terceira com todos os equipamentos deteriorando e em franca obsolescência na caixa ou no pallet em Angra. Quem paga por todos esses desmandos e essa dinheirama jogada fora? NÓS.
Assim sendo, tá faltando cobrança da conta a quem deve e ENTREGA daquilo que é obrigação e para o qual pagamos 40% do PIB em impostos.
Caro Girley:
Como é bom a gente saber e constatar que tem gente como você, muito preocupado com os problemas brasileiros, com foco especial para as questões nordestinas. Ainda, é importante salientar o seu vasto conhecimento sobre tudo que escreve, técnico da maior competência que serviu com dignidade relevantes funções na antiga Sudene que o FHC com uma canetada só destruiu, sem protestos relevantes da classe política nordestina, especialmente de Pernambuco, onde tinha a sua sede.
É certo que as últimas gestões federais, estão canalizando investimentos para a região, com recursos para a transposição das águas do Rio São Francisco,a Ferrovia e Suape e o Porto do Ceará,Construção da Refinaria em Pernambuco e a implantação da montadora Fiat em Goiana, em cuja cidade tem, também, a implantação daquele projeto de alta tecnologia voltado para a área da saúde, viabilizado na gestão do Ministro Humberto Costa, todavia, levando-se em consideração os recursos financiados pelo BNDES para a região Sudoeste, nem pensar.
Um grande abraço - ALMIR REIS (advogado)
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